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Compromisso arbitral

No documento Ana Luiza Barreto de Andrade Fernandes Nery (páginas 79-85)

CAPÍTULO I – A NATUREZA JURISDICIONAL DA ARBITRAGEM E A

I.6 A consensualidade como mecanismo que atribui poder decisório ao árbitro

I.6.1.2 Compromisso arbitral

De acordo com o que dispõe a LArb 4.º, o compromisso arbitral é a convenção pela qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas.

A LArb 9.º caput estabelece que “O compromisso arbitral é a

convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial”.

Assim, o compromisso arbitral pode assumir a forma judicial, hipótese em que deverá ser celebrado por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal onde tem curso a demanda, segundo o LArb 9.º § 1.º.

Se o compromisso arbitral for extrajudicial, estabelece a LArb 9.º § 2.º, será celebrado por escrito por instrumento particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.

Afora a forma judicial ou extrajudicial que pode assumir o compromisso arbitral, a LArb 10 e 11 dispôs sobre os elementos obrigatórios e os elementos facultativos do compromisso arbitral.

Muito embora a lei tenha detalhado o conteúdo do compromisso arbitral, é lícito às partes acordar sobre outros elementos do compromisso.

Consoante o LArb 10, são elementos obrigatórios do compromisso arbitral:

a) o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;

b) o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;

c) a matéria que será objeto da arbitragem; e

d) o lugar em que será proferida a sentença arbitral.

A qualificação das partes (LArb 10 I), tão completa quanto possível, tem como objetivo esclarecer quem são as partes contratantes que escolheram a arbitragem como forma de solução de conflitos.

Uma importante questão a respeito da qualificação das partes é relativa ao estado civil. O estado civil de solteiro, depois do reconhecimento dos efeitos civis da união estável, a partir do advento da CF, passou a representar uma situação bem definida. Isto porque haverá consequências diferentes para as partes que são efetivamente solteiras e aquelas que vivem em união estável, razão pela qual deve a parte declinar exatamente qual seu estado civil para que os árbitros examinem se é imprescindível ou não a presença do companheiro na relação arbitral.146

O domicílio das partes é igualmente importante, uma vez que compõe a qualificação das partes e, além disso, ainda pode ser relevante para orientar os árbitros a respeito do juiz estatal competente para tomar alguma medida coercitiva durante a arbitragem.

A indicação dos árbitros (LArb 10 II) pode ser feita pelas partes, que podem, ainda, optar por apontar a entidade que os nomeará.

Afigura-se essencial que, quando da indicação dos árbitros, as partes informem no compromisso arbitral especificamente os dados dos árbitros, para que não haja dúvida sobre suas identidades.

A matéria que será objeto da arbitragem (LArb 10 III) não origina grandes problemas.

146 Carlos Alberto CARMONA. Arbitragem e Processo – um comentário à Lei n. 9307/1996, 3.ª ed., São Paulo: Atlas, 2009, coment. LArb 10, n. 2, p. 199.

Isso porque o LArb 19 estabelece que os árbitros podem suprir eventuais lacunas do compromisso arbitral, não havendo, portanto, necessidade de as partes procederem à descrição detalhada tampouco que esgote inteiramente a questão da matéria objeto da arbitragem.147

Quando há indicação direta do árbitro, prudente é a enumeração de outros em substituição ao primeiro escolhido para a hipótese de impedimento, recusa ou qualquer outro fator que impeça a participação do eleito. Também por essa razão, é interessante que o compromisso arbitral também seja assinado pelos árbitros indicados, manifestando, já nessa oportunidade, a aceitação do encargo.148

O lugar em que será proferida a sentença arbitral (LArb 10 IV) tem grande importância na medida em que trará consequências na eventual necessidade de efetivação coercitiva da sentença arbitral, caso a sentença precise ser executada no Brasil, consoante prevê o LArb 34.149

No sistema brasileiro, a sentença será nacional se proferida em nosso território. Assim, é essencial que as partes tenham ciência do local de prolação da sentença arbitral posto que, se for proferida no exterior, de rigor é a sua homologação, conforme dispõe o LArb 33.

A ausência de um dos elementos obrigatórios do compromisso arbitral não levará necessariamente à nulidade do compromisso de plano, mas pode gerar impedimento à instauração da arbitragem. Contudo, permite- se que os árbitros e as partes elaborem adendos ao compromisso quando da instituição da arbitragem, consoante reza o LArb 19 parágrafo único.150

147 Luis Fernando GUERRERO. Convenção de Arbitragem e Processo Arbitral, São Paulo: Atlas, 2009, n. 1.3.2.1, p. 24.

148 Francisco José Cahali. Curso de Arbitragem, 3.ª ed., São Paulo: RT, 2013, n. 6.4, pp. 143/144. 149 Luis Fernando Guerrero, Convenção de Arbitragem e Processo Arbitral, São Paulo: Atlas, 2009, n. 1.3.2.1, p. 25.

150 Luis Fernando Guerrero, Convenção de Arbitragem e Processo Arbitral, São Paulo: Atlas, 2009, n. 1.3.2.1, p. 22.

Conforme o LArb 11, são elementos facultativos do compromisso arbitral:

a) local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem;

b) a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por eqüidade, se assim for convencionado pelas partes;

c) o prazo para apresentação da sentença arbitral;

d) a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, quando assim convencionarem as partes;

e) a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas com a arbitragem; e

f) a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros.

Sobre a sede da arbitragem (LArb 11 I), podem as partes convencionar que os atos da arbitragem sejam realizados em um ou mais lugares. Essa é uma opção legislativa que prima pela celeridade e pela desformalização do processo e que, portanto, não observa as regras dispostas no CPC/1973 sobre local da propositura da demanda.

Assim, à luz do princípio da autonomia privada das partes, podem elas dispor sobre qual a sede da arbitragem.

Note-se, no entanto, que a LArb ancorou a nacionalidade da arbitragem ao local em que a sentença arbitral será proferida, e não ao local em que os atos da arbitragem serão praticados.151

O prazo para prolação da sentença da arbitragem (LArb 11 III) poderá ser convencionado pelas partes no compromisso arbitral. Se não for convencionado, será o de seis meses, consoante dispõe o LArb 23, contados do início da instituição da arbitragem.

151 Carlos Alberto CARMONA. Arbitragem e Processo – um comentário à Lei n. 9307/1996, 3.ª ed., São Paulo: Atlas, 2009, coment. LArb 11, n. 1, p. 209.

O prazo acordado pelas partes para a prolação da sentença arbitral poderá surgir da adoção das regras de algum órgão arbitral, e dependerá, nesse caso, dos regramentos institucionais desse órgão perante o qual a arbitragem será processada.

Amiúde, se nota que há certo grau de flexibilidade com relação ao cumprimento do prazo para a prolação da sentença arbitral: pode haver a prorrogação do prazo para tanto, desde que as partes assim se manifestem no compromisso arbitral.

Sobre a indicação das leis que regerão a arbitragem (LArb 11 IV), a autonomia privada das partes lhes permite que escolham a lei (processual e material) que querem ver aplicadas na arbitragem, podendo utilizar, ainda, regras corporativas, ou seja, o conjunto de normas que disciplinam uma atividade ou profissão, que podem ter caráter nacional ou internacional.152

Sobre a fixação da responsabilidade pelo pagamento das despesas e honorários dos árbitros e sobre os próprios honorários (LArb 11 V e VI), a instituição escolhida pelas partes para processar a arbitragem controlará a questão da cobrança das despesas e dos honorários dos árbitros.

O que ocorre com frequência é o adiantamento de tais verbas (despesas e honorários), podendo as partes acordar das mais diferentes formas sobre quem arcará com a responsabilidade por tais custos: se as partes compartilharão os custos, arcando cada parte com os ônus de sua defesa, se o pagamento da integralidade dos valores caberá à parte perdedora etc.

Também nesse particular, o princípio da autonomia privada permite às partes que convencionem a seu modo, no compromisso arbitral, a responsabilidade pelos custos do processo arbitral.

152 Carlos Alberto CARMONA. Arbitragem e Processo – um comentário à Lei n. 9307/1996, 3.ª ed., São Paulo: Atlas, 2009, coment. LArb 11, n. 4, p. 212.

O LArb 11 parágrafo único estabelece que, fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no compromisso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial. Não havendo tal estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente para julgar, originariamente, a causa que os fixe por sentença.

Mas LArb 11 parágrafo único apenas apresenta um rol exemplificativo a respeito do que podem as partes dispor no compromisso arbitral. Há, ainda, diversas outras possibilidades atribuídas às partes sobre o que acordar a respeito do processamento da arbitragem que visam instaurar.

Uma dessas outras possibilidades é a escolha do idioma em que se processará a arbitragem. Essa pode ser uma questão fulcral para o processo, relevante inclusive para a indicação dos árbitros a participar do painel arbitral.

CAPÍTULO II – A ARBITRABILIDADE OBJETIVA DO LITÍGIO E OS CRITÉRIOS PARA A SUA DETERMINAÇÃO

No documento Ana Luiza Barreto de Andrade Fernandes Nery (páginas 79-85)