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teórico-conceituais da pesquisa Primeiramente, apresento dados relativos ao Jazz (3.1) e, no capítulo seguinte (3.2) exponho dados relativos ao conceito de Cuidado de si, como

2.1. HISTÓRIA DE VIDA DE GIL AMÂNCIO

2.1.10. Artista e Educador em Cena

Implicações em processos educativos - Ah, a palavra!

Dias atrás (maio de 2005), eu acabei um curso para atores, sobre “o som, na cena contemporânea”. Foi no Cine-Horto, do Grupo Galpão. Neste trabalho, eu enfatizei sobre a importância do cuidado com a palavra, o gostar da palavra, procurar bem explorá-la. Estou encantado com isto. Buscar descobrir de

onde que ela veio, o que está por trás. Não só enquanto texto, mas também quanto ao som. É uma coisa impressionante, como o ator, aquele que deveria ter um cuidado com o dito, mostra que não tem a menor consciência sobre a palavra! Para ele, é só uma seqüência de coisas que tem a dizer. Ele não mostra que tem a preocupação com a sonoridade daquilo. O como aquilo é dito. E aí eu comecei a viajar na coisa. Como fazer bom uso deste patrimônio tão bacana relacionado à palavra? Nesta oficina, à medida que as pessoas iam se desprendendo da lógica da frase, do texto enquanto escrita e começavam a viajar na sonoridade, elas iam descolando. Neste momento, se começa a ter prazer com uma palavra só. E aí se repete, repete... Começa a ter prazer em repetir alguma coisa. Repetir, repetir... E começa a se preocupar com a coisa do tempo... A se preocupar, a preocupar, começa a preocupar, começa a preocupar... Você começa a ter prazer com aquilo ali, porque vai descolando. E, se torna um brinquedo. Às vezes, tem uns que dizem: “Nossa, mas o texto é grande, não dá para fazer com tudo!” Acabam fazendo de forma superficial. Ficam perguntando: “Para que este tanto de palavra?” Então, esta é uma discussão que comecei.

A formação do ator

O tom como algo é pronunciado, o gesto somado ao dito, estas coisas interferem no sentido das palavras. Isto não é muito trabalhado com os atores. Pensar a linguagem em termos desta síntese de outras coisas que interferem dentro dela ainda está longe da formação dos atores ou de quem escreve para o teatro. É comum a presença de discurso longo que não abre chance para a exploração das emoções. Não dá tempo porque é uma palavra atrás da outra, uma palavra atrás da outra. E o entendimento vai estar no encadeamento desta palavra com outra. Você não pode perder tempo. Qualquer coisa sonora, gestual, de imagem que entrar vai tirar atenção daquilo que está acontecendo.

Um texto se completa com o movimento

Eu fui assistir ao espetáculo “Por Elise”95 ontem lá no Galpão (Cine Horto). A diretora é a Grace Passô. Acho que ela é a primeira diretora de teatro negra de Belo Horizonte. É muito bacana como ela traz, incorpora, no texto dela, estes elementos. Então, por exemplo, tem um ator e uma atriz. Eles chegam, entram e dizem, vamos supor: “Ah, você viu aquele filme do...” E saem. Quando eles voltam, eles dizem: “Mas aquela taça de chocolate com morango que...” Você tem, então, um texto que eles começam e eles somem e que deixa para a platéia completar o que é. Quando eles voltam, eles já estão em outro tempo, já é outra parte da conversa. É como se eles saíssem e voltassem. Isto, se você estivesse escrevendo um roteiro é inconcebível porque vai estar, assim: “Você viu o filme?” Aí entra outra fala que não tem nada a ver com a primeira frase dita. Daí surge uma questão sobre: como o pessoal vai entender que uma coisa não tem nada a ver com a outra? Que um texto não está ligado com outro. A solução é a presença. Um texto se completa com o movimento. O tempo do ator sair de

95

O Espanca!, grupo formado por cinco atores da nova geração teatral de Belo Horizonte, foi um dos destaques no 14º Festival de Teatro de Curitiba. (...) Com texto original de Grace Passô, também atriz e diretora da peça, ‘Por Elise’ é uma

cena. A volta dele, que ele sai por uma coxia, volta por outra, lá já deu noção de espaço, de tempo que ele… Quer dizer, o público vai organizando o seu pensamento em função do acontecimento.

Eneida: Esse tempo de silêncio aí não deixa de ser palavras também. Gil: É.

Eneida: E também o público vai colocando fala, completando aquilo que não acontece. Eu fico

pensando que este é o verdadeiro convite de participação do público. Porque como nunca ele, aí é impelido a produzir texto, enquanto a peça se desenrola.

Gil: É. Isto é muito bacana... Tem outro texto que eu estou pirando agora. Achei muito legal este

texto: “O prazer do texto”, do Barthes96. Ele fala muito disto. O prazer do leitor é diferente do escritor. Ele distingue o prazer e a fruição. Ele fala que o prazer é você ouvir, por exemplo, uma canção do Roberto Carlos. Você põe ali, escuta: “Ah, que lindo!” Aí teve um prazer com a música. Outra coisa, ele fala em relação à fruição que é eu parar no meio do texto, levantar a cabeça e digo:

“Putz”. Eu, aí, vou para outro rumo! Então, ele fala que isto é que ele gosta. Ele fala uma coisa legal

que é: “Você está lendo aquele texto ali e é remetido a outro e a outro e a outro. É aquela coisa da fidelidade. Eu não tenho que ficar o tempo todo só com o que está ali no texto.

Eneida: Eu tenho que ir negociando com as lembranças e com aquilo que está ali.

Gil: Com o que está ali. Então, o silêncio é importante. Ele me permite ir para fora, para outro lugar.

Romper com a… Então, eu gostei da dramaturgia da Grace. Eu me lembrei que ela foi minha aluna no Palácio. Ela era muito resistente. Era um momento em que eu estava no auge do teatro físico, da coisa da performance e ela não se envolvia muito. Ela formou, virou uma grande atriz! Está ficando cada vez melhor... E agora diretora! Propondo o novo, algo totalmente fora do padrão, da linguagem que está sendo produzida.

Teatro para jovens do Alto Vera Cruz - questões

Hoje a minha crise lá no Alto está sendo esta. É que eu vou dar um curso de teatro97 e estou me perguntando sobre que teatro eu vou fazer lá? Eu sei que tem uma demanda dos meninos de lá para fazer prova no Palácio das Artes, para se tornarem atores. Atualmente também há uma demanda de ator de cinema no mercado! Algo que é bacana construirmos com eles, uma formação para o lado de cá. Acontece que esta formação de cá, ao mesmo tempo que abre porta para ele entrar ela exclui. Porque é uma formação para aquele que tem um corpo e mais um conjunto de pré-requisitos para estar nesta área. Outro elemento que me deixa balançado é que a minha experiência lá no Alto me leva a ter vontade de fazer um teatro em que uma Menina de Sinhá esteja no palco, no meio de um menino jovem ou com um músico.