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fábula contemporânea sobre as contradições dos sentimentos humanos, num jogo de encontros e desencontros Disponível

2.1.12. Last But Not Least

Criar lugares em que outra lógica possa emergir

Há uma singularidade do Brasil. Precisa entender como se dá este processo. Também, quando estou falando do “Espaço de convivência”, quero dizer de você conseguir criar lugares em que outra lógica possa emergir. Porque é muito difícil você pensar de uma outra forma dentro de um modelo contrário. Até porque, o pensamento tem de ficar calcado em uma prática, em um modo de proceder, em uma estrutura. De forma que você veja que há um acompanhamento daquilo que você está falando. Dá sinais que está acompanhando o que você fala. E na realidade estes espaços nossos de convivência da cultura negra sempre ficaram marginalizados e não há por parte da intelectualidade brasileira um olhar mais profundo sobre estes espaços. É sempre visto sob um aspecto. Vem um artista plástico, olha a plasticidade. Vem um músico, olha a música. Vem um outro e olha a religiosidade. E aí em cada campo vai se construindo verdades sobre estes espaços e nunca a totalidade, que ele representa. Uma totalidade, na verdade multifacetada, que não se completa.

O que é, por exemplo, o espaço das irmandades e outros espaços em que os negros tiveram uma ação, uma interferência econômica na construção da cidade? Isto é tratado de forma tão reduzida! Fica parecendo que é um bando de gente boba reunida, fazendo por tanto tempo, algo sem qualquer sentido instigante. Então, acho que tem um fenômeno aí na sociedade brasileira que... Estudar isto a meu ver é fundamental para entendermos o que está acontecendo com o país.

Tem um livro que eu li há muito tempo e que me atiçou a curiosidade. Eu nem tenho este livro mais. Eu não sei onde ele foi parar. É um livro sobre a Inconfidência Mineira. Ele fala que, nesta época, existia só em Minas Gerais, cerca de duzentos quilombos em pé de guerra contra a Coroa. E quando este tema da Inconfidência é tratado você não houve falar, mesmo entre os abolicionistas, de um vínculo com os quilombolas. Porque se eles tivessem feito isto a Inconfidência poderia ter dado certo.

pacto social do Brasil sempre desconhece, desconsidera esta força. Se dá a Independência, mas mantém a escravidão. Se faz a Inconfidência, esquece, ignora os movimentos quilombolas que estavam ali ao mesmo tempo lutando.

Eneida: A questão é se havia o interesse em assumir um compromisso com este tipo de grupo? Porque

se eles ajudam a conquistar algo vão requerer um melhor lugar social.

Gil: É. Então, estas questões são para mim muito importantes para que a gente avance. E elas são

muito pouco investigadas. E o que é pesquisado acaba pouco divulgado.

Pixinguinha - invenção a partir de apropriação do código oficial

Eu tomo Pixinguinha como um caso importante para se pensar como o negro sabe explorar, se apropriar muito bem do código do outro. A partir de mergulho neste conteúdo, ele aprendeu a música e fez coisas que outros não fizeram. Recriou, propôs traduções, segundo estilo próprio. Casos como o dele me faz lançar questão sobre as capacidades que traziam os negros ao chegarem aqui. A história nos fez acreditar que os africanos vieram para cá somente como mão de obra barata. Foi lendo um livro sobre a Transferência de Tecnologia da África para as Diásporas que me dei conta de que os Africanos eram escolhidos segundo os conhecimentos que tinham sobre agricultura, mineração... E, neste novo mundo, eles se articularam, negociaram saberes que traziam com os adquiridos na convivência com os outros povos que aqui habitavam. Isso me faz ver como reducionistas as iniciativas, do poder público, de oferecer, quase como única opção, aulas de capoeira e dança afro. Como se esta meninada negra, pobre não tivesse outra coisa nela a ser explorada. Como se não houvesse nada mais a esperar deles além de saber dançar e praticar capoeira. Isto é o fim! É não acreditar no potencial que eles podem desenvolver a partir do acesso a outros bens culturais. Para a valorização da cultura negra, o processo de formação de negros não pode ser limitado ao acesso ao que está próximo da comunidade. E há pouca mobilização por algo além disto. E quando se caminha nesta direção escuta-se absurdos, de que a produção cultural do outro é burguesa. As pessoas devem ter o direito, o incentivo de fazer uso da produção cultural produzida por negros, brancos, índios. O discurso de valorização, que sustenta essas iniciativas, na verdade, acaba por indicar que o negro produz segundo um determinado limite previsível. Ainda não vêem que se o Pixinguinha dominou o código europeu é porque ele aprendeu o código, a escrita musical. Ele teve acesso, se lançou a aprender e foi inventando um jeito de se colocar aí.

Eneida: Isto me faz lembrar a história que você contou, do Carlão insistir para você ler o Guimarães

Rosa. Um livro que você acabou lendo mais de uma vez e que deste investimento você veio a receber um prêmio de trilha sonora da peça “Grande Sertão”.

Gil: É. E o Guimarães já foi acusado de ser racista pela maneira como se refere aos negros. Imagina se

trabalho dele. Eu posso recriar a partir dele. Coloco o meu tom, o meu estilo, a minha maneira de ver. É importante que a negrada, a partir de qualificação não padronizada, se aproprie dos espaços, dos bens culturais que a humanidade coloca, porque os nossos ancestrais já fizeram e fazem isto muito bem. A maravilha que foi o trabalho de Aleijadinho que aprendeu arquitetura e fez as igrejas mais malucas do mundo!

Saberes locais: como garantir permanência?

Eu estive em Montes Claros poucos dias atrás e, na viagem, encontrei com um velhinho. Ele tocava um pandeiro, mas parecia que tocava um piano! Era um dedilhado que produzia um som muito bacana! O que ele faz, eu nunca vi sendo feito do mesmo jeito. E é algo que vai se perder porque ninguém vai filmar aquilo. Ele não tem lugar de reconhecimento na comunidade onde este seu saber vai ser repassado, transformado em conhecimento. É uma técnica totalmente diferente de tocar o pandeiro. Outra coisa que eu vi foi uma Orquestra de Rabeca. Os velhinhos que tocam rabeca nas Folias de Reis, eles resolveram fazer uma orquestra recentemente. Eles agora procuram um maestro. Isto porque eles trazem a imagem de uma orquestra sinfônica. Eu ouvi aquilo e fiquei pensando que nós não temos um maestro hoje capaz de escutá-los e criar obras para um grupo como o deles. Alguém que se disponha a identificar uma forma de participar deste grupo sem fazer perder o que há de próprio nele. O que pode vir a acontecer é o maestro ficar tentando afinar a rabeca deles, qualificando de feio o que fazem ou os impedindo de tocar o que querem, por julgar que não vai ficar bom. É certo que tem maestro que pode se posicionar diferente, mas naquelas circunstâncias eu acho difícil. Neste caso, ele não estará lá apenas para ensinar. Ele deve saber dialogar e explorar o potencial deles. Se não tiver tática, eles podem até ser abafados porque o encantamento deles pela orquestra pode levá-los a se deixar abafar. Aonde eles querem chegar precisa de alguém que tenha um conhecimento musical de orquestração de alto nível, com uma formação popular. Um profissional, assim, não se acha fácil. Não está sendo formado porque a universidade não tem o contato e nem o olhar que precisa sobre este universo, comumente qualificado de popular, rústico, cascudo. Quando eu falo da universidade, eu falo no todo e naquilo que está chegando. Eu sei que tem música popular na universidade. O Paulinho, amigo meu, é o responsável pela área, mas lá é uma música popular refinada!

Eneida: Desde que não atrapalhe...

Gil: Mas o que nós queremos é uma que atrapalhe mesmo porque nós viemos aqui foi para

atrapalhar!!!

Potenciais sem referencial e autoridade de sustentação

Lá também, eu vi algo que vejo muito. As pessoas tendo algo delas, que é bacana, por exemplo, o batuque. Sabem que aquilo é legal, mas por ser muito desacreditado no entorno e receberem um modelo estético, via a televisão e/ou o rádio, quem chega com outra mentalidade neste território se

artista por lá. Caso aconteça, estamos perdidos. Tem umas senhoras lá que estão bravas, mas vão perdendo a força. A maioria é desqualificada, acaba não sendo ouvidas, sendo vistas como pessoas estranhas, sistemáticas e não como defensoras de saberes da comunidade. A pressão é muito forte. Eles vão duvidando daquilo que sabem, do valor que aquilo tem mesmo. E aí os que cantam, tocam, as raizeiras, as parteiras vão abandonando...

Firmar um território, lutar por isto

Esta questão do poder é que ainda não temos... Aliás, precisamos brigar por uma série de coisas. Uma é defender o acesso ao bem produzido por todos. Outra coisa é ter força para não aceitar o que outros, que pouco sabem da vida em dado lugar, querem impor como sendo o que é o mais adequado para atender as demandas dali. E, finalmente, defender espaços independentes como é o caso do Alto Vera Cruz. Como montar um curso, contando com aqueles que dominam um saber de interesse da comunidade e que têm sintonia com o lugar? É necessário conseguir alcançar este tipo de poder.

“Eu vou montar aqui um espaço de confirmação dessas coisas, em que o seu Zé vai poder vir com os negócios dele”. Ele vai ter com quem conversar, com quem tocar. Eles vão ter a possibilidade de

gravar, transformar isto em produto. Então, aí é um território. E firmar um território é importantíssimo. Nós temos que lutar por isto. Para não ficar como é hoje. Nós temos hoje o Tambolelê, o Arautos do Gueto, o Quilombola, do Negativo, tem o Tambor Mineiro, do Tizumba, tem o NUC, mas eles ainda, pelo que sei, estão restritos a oficinas de percussão, cabelo afro, identidade negra. Não pode ser restrito, assim! Geralmente a comunidade vai para uma escola que não tem qualidade nenhuma. E este território, ele não tem força para requerer o que acha devido.

Eneida: Nestes espaços, muitas vezes, fica com o incômodo, mas não se consegue formalizar o que a

escola pode valer para eles.

Benguelê Gil: Nós vamos ao Rio (maio/2005) a convite da Helena Rocha, para filmar a participação em um

filme, Benguelê106. Ela conhece o Rui e ele me convidou para fazermos uma performance e ela gravar107. Ele dançando e eu tocando. Aí nós vamos lá.

106 BENGUELÊ (Dir. Helena M. Rocha, Brasil, 2006, 80’), em DVD. Sinopse: Benguelê traça panorama das origens negras

da cultura brasileira. Em especial, da influência musical. Para isto, percorre caminhos como o da criação do samba. Homenageando, entre outros, Clementina de Jesus, que, em 1964, canta a música de Pixinguinha e Gastão Viana, de 1946, que nomeia o documentário. Sinônimo também de ‘saudades de Benguela’, porto angolano de onde saíram os escravos trazidos ao Brasil. Disponível em: <http://www.agenciaminas.mg.gov.br/detalhe_noticia.php?cod_noticia=10393 >. Acesso em: 13 de julho de 2007.

107

Performance que veio compor o filme Benguelê, exibido no mês de dezembro de 2006 em Belo Horizonte, Sala Humberto Mauro, Palácio das Artes.

Se eu trabalho com estes campos fixos, eu não consigo gerar coisas novas

Absorvido em Berlim pelos dotes artísticos Eneida: Você disse que ter ido para Berlim contribuiu para lidar com a sua cor de outra maneira.

Passou a ser um elemento valorizado. Também, já tinha falado que os encontros com a Marlene Silva e Roland Schaffner lhe instigaram a tomar a cultura negra como campo privilegiado de pesquisa. Você avalia que há algo em comum nestes dois momentos? Posso associá-los a momentos de ruptura?

Gil: Sim, são semelhantes e se diferem. Conhecer a Marlene e um grupo de negros, no final da década

de 70 e Roland Schaffner, em 82, eu considero estes encontros como experiências que me despertaram para este universo afro-brasileiro. A tomá-lo como campo de interesse de pesquisa. Se eu não tivesse passado por eles, eu estaria aí nos Brechts ou caminhando igual aos meus amigos que não tiveram esta mesma experiência e foram para outro rumo. Agora, Berlim foi mais importante no campo social, no campo da imagem. Isto porque antes de ir a minha convivência aceitação pelo branco ainda era complicada, não tinha muito esta convivência intensa com o branco. Quando fui, pensei que seria mais excluído ainda. Lá seria uma sociedade em que eu não entraria mesmo. Só que, pelo contrário, foi onde eu fui absorvido.

Eu posso viver em qualquer lugar com aquilo que eu faço

Como já falei, existem dois níveis possíveis disto acontecer. Por você ser exótico ou pelo reconhecimento pelo trabalho proposto. O que foi bacana lá foi o reconhecimento que eu tive neste sentido. Pessoas que não tinham nenhuma relação comigo, nem porque ficar em meu espetáculo (conversar, jantar comigo, apresentar-me a outros artistas, outros amigos), me convidavam para tocar em outros lugares. Eu compreendia como uma demonstração de reconhecimento do valor de meu trabalho. Porque, aqui, por mais que eu fosse aceito, era tudo muito entre amigos, entre pessoas que eu conhecia. Elas me viam trabalhando ali. Em Berlim, não. Ninguém sabia quem era Gil Amâncio.

Eneida: Não era o caso de companheirismo...

Gil: É. Inclusive, porque eu não era o único que estava ali. Tinham muitas coisas acontecendo! Então,

se as pessoas foram naquele espetáculo… E, uma coisa bacana que eu vivi em Berlim, é que lá ninguém fala o que não quer. Eles são francos. Gosta, gosta. Não gosta, não gosta. Eu presenciava e morria de vergonha. Eu tinha lá alguns amigos e amigas, um dia, eles me convidaram para ver o espetáculo de um deles. Assistimos. Após apresentação, ele veio e perguntou o que tinham achado? Um alemão disse: “Muito ruim! Seu espetáculo parecia mal ensaiado, as coisas mal arrumadas.

Muito ruim!” Eu me assustei com o tratamento tão duro, ríspido. Outra coisa é que eles perguntam

tudo. Isto, também, era muito bacana. Diziam: “Ah, o seu espetáculo era afro-brasileiro? Ah, mas o

especializada. Eles são muito exigentes. Uma vez, eu dando um curso, uma menina chegou para mim e falou que ela iria sair do curso porque ela não tinha nenhum conhecimento sobre aquilo que tratava o curso. Ela tinha decidido que não era momento dela fazer. Eu falei para ela ficar para experimentar! Ela não aceitou. Disse que não podia ficar experimentando. Eles são muito determinados. Se for para fazer, tem que ser para fazer bem. Vendo como eles eram, eu sentia que quando falavam de meu trabalho, tinham gostado, viram algo que para eles era de interesse, tinha fundamento. Então, este reconhecimento foi um marco para mim. Eu passei a pensar que eu tinha, então, algo em mãos que deveria acreditar. Uma moeda de troca. Algo que me permitiria viver em qualquer lugar fazendo aquilo. Eu cheguei em Berlim com uma quantia. Eu trabalhei só com arte, paguei as minhas contas e, com os trabalhos realizados eu ainda voltei com grana. Foi uma trajetória positiva. Isto me mudou muito. Acreditar no trabalho, levantar a cabeça. Estas duas coisas, que têm relação entre elas, foram experiências muito fortes.

Modo de criar

Este rumo que dei a minha vida hoje é como se estivesse colado em mim. É como se eu tivesse encontrado a via que expressa o que quero. O que eu consegui e estou conseguindo cada vez mais é ser eu! Eu uso cada vez mais aquilo que faz parte de mim. Por exemplo, a dança que desde menino eu dançava com minha mãe hoje eu quero dançar, cada vez mais, em todo lugar. Uma dança do jeito que era quando aprendi a dançar com a minha mãe. Uma dança que me fazia sentir bem, que me preparava para o baile à noite. Era uma dança que tinha uma relação corpo e som muito grande. Dançava bolero! Aquela coisa! Joga para lá, vem para cá! Então, eu não sou fiel à dança, mas a esta maneira como eu vivi eu estou sendo. A maneira como eu toquei violão com o meu pai. Eu aprendi a tocar violão com o meu pai, com o meu tio. Este universo que vivi, cada vez mais eu estou procurando trazer para as relações. Tem a ver com um modo de fazer, de ficar, de estar no mundo. Um modo de ser. Isto é que me interessa. Eu, por exemplo, em um encontro promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, estava ali incomodado de ver as crianças presentes tão imobilizadas, só perguntas e respostas. Elas tendo que ficar paradinhas, quietinhas. Eu resolvi pegar a meninada. Perguntei se gostavam de brincar? Elas disseram que sim. Nós fizemos uma roda, brincamos. Ficamos em um maior pique de entrosamento, coisa gostosa. Então, se eu não trouxesse o meu lado que gosta de brincar para aquele lugar, se eu fosse estar ali com as regras, só com as dinâmicas que eles tinham preparado, eu não teria carregado o Gil para aquele lugar, o meu companheiro.

Então, hoje, é esse universo que quero trazer. Porque eu convivi... A minha educação social foi muito formal (o ambiente da faculdade, de palestras, de posturas). Muito distanciada disto que eu vivi em casa. Quando eu comecei a freqüentar a Marlene, a conviver com um grupo interessado com a cultura negra, eu via outros modos de estar, de relacionar… Também depois, o trabalho no Centro de Referência Cultural da Criança e do Adolescente... Lá foi um lugar que me possibilitou mergulhar no universo dos meninos: ver, brincar, aprender com eles. Eu fui aprendendo uma outra forma de estar no

mundo, que tinha muito a ver com o universo de criar, de experimentar. Certamente com presença de desafios, mas a diferença é a aceitação... Então, hoje o que eu tento fazer, como tento me colocar mais é de tal forma como quando eu estava nesses lugares do campo familiar. Porque a educação social, os espaços em que vivi, me deixaram com muita insegurança! Porque era todo um universo de domínio, em que eu sempre estava em falta com ele. Quando eu ia para um seminário na Universidade, eu não tinha lido tudo o que os caras tinham lido, então, era constrangedor ficar ali, querer falar de alguma coisa que eu não tinha bagagem! E o que eu sabia não tinha qualquer importância. Vou para um seminário de teatro, também a mesma coisa. Tinha uma história que não era minha, que eu pudesse me… E este outro lado não. Este lado é onde a minha experiência tinha lugar e a partir dela eu fui andando, mas ela é uma base na qual… Ela é uma base não, ela tem um lugar ali. Então, o que eu procuro é que a base na qual cada um se sustenta possa emergir. Cada trabalho que eu faço, eu procuro criar este universo em que eu me sinta à vontade e onde as pessoas que estão ali comigo não vão se sentir no lugar apenas da falta. Elas vão estar...

Eneida: A falta sentida, que seja a comum a todos. O que você está falando é porque fica parecendo

que uns têm tudo e outros nada têm...

Gil: É, nada têm. Este tipo de relação hierárquica... Quando eu fui para Berlim e lá fui aceito, avaliei

que eu não era “um zero à esquerda!” Eu entendi que não estava faltando tanta coisa para eu poder chegar a um lugar e discordar se fosse o caso. Por que antes, eu ficava com receio de falar, da reprovação com olhares ou questões como: “ Mas você já leu fulano? Se não leu, como quer falar?” Daí, eu ficava quieto.

Sentir à vontade para me expor

Hoje, então, o que eu procuro fazer é sentir-me à vontade para me expor, abrir o canal de comunicação. E a coisa que mais me fascina é isto, quando eu estou no lugar e consigo criar o canal. Para mim, se criou, valeu. Não tem barreira. Então, é isto que tento recuperar. Eu estou mergulhado neste lugar onde se dão estas trocas.

O terreiro reproduzido eletronicamente

Eu estava escutando (2005) umas bases com o meu filho, o Mateus. (...) Tem uma entrevista de um músico inglês que faz um estilo dub. Dub é você pegar uma música normal vai destruindo, remexendo com outros sons ali. Por exemplo, “Se não tivesse... Se não... se... se... se... não... ti... ti... tivesse”...