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teórico-conceituais da pesquisa Primeiramente, apresento dados relativos ao Jazz (3.1) e, no capítulo seguinte (3.2) exponho dados relativos ao conceito de Cuidado de si, como

2.1. HISTÓRIA DE VIDA DE GIL AMÂNCIO

2.1.7. Assessor de Cultura de Belo Horizonte

Eu fui convidado pela Antonieta (Cunha) para trabalhar na biblioteca pública municipal infanto- juvenil. Depois, ela convidou-me para trabalhar na Secretaria Municipal de Cultura. Os convites dela foram importantes. Daí, eu pude conhecer, inserir-me no serviço público. Neste lugar, eu pude propor o Centro de Referência para a Criança e o Adolescente, organizar o FAN e dar aula no PREPES86! São espaços importantes na minha formação, em que eu fui podendo mostrar os meus trabalhos.

Centro de Referência

O Centro de Referência, a idéia era propor um lugar em que fosse realçado o papel do brincar na vida da criança. Neste espaço, nós buscamos identificar e registrar diversos tipos brincadeiras, brinquedos tanto quanto um modo de viver a partir da criança. O seu olhar sobre o mundo e como isso entra na escola. Na época, eu já trabalhava com arte e educação e a questão do material para disponibilizar para os arte-educadores, quando eu dava cursos, era sempre um problema. Eu dava uma aula, terminava a aula e os alunos: “Nossa, que legal esta música, este vídeo. Copia para mim?” Eu dizia que era impossível, que não tinha tempo para copiar. Daí, foi crescendo a vontade de criar um espaço para acesso a material deste tipo para quem tivesse interesse. Foi daí que partiu a idéia de criação deste espaço. Ao propor isto para a Antonieta, ela disse que achava a minha idéia bacana, porém, eu deveria

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criar um debate na cidade para mostrar a importância da proposta. Com isto, eu resolvi convidar uma musicista, a Lídia Ortélio. Ela é de Salvador, tem um trabalho de pesquisa e de brincadeiras com as crianças.

Interesse em investigar brincadeiras de criança

Na palestra, ela mostrou slides de quadros antigos (pintura em quadro de Brueghel, pintor holandês87 e também de pintor inglês do século XIX), louça milenar (vaso grego de quatro séculos antes de Cristo) apresentando um mesmo motivo: crianças brincando de “cinco marias” (cinco pedrinhas). Isto ela mostrou também através de ilustração de crianças na África e fotos de crianças, no Brasil, em Salvador, cidade em que mora. Com esta introdução, ela propôs a idéia da cultura da criança. Que as crianças do mundo inteiro, de tempos diversos, brincavam e brincam com as mesmas coisas. Sendo esta a forma delas conhecerem o mundo. Isto me fascinou. Também, quando ela comentou sobre algo que acontece muito e que nem damos tanto valor: o menino chega em casa cantando e a mãe pergunta onde foi que ele aprendeu aquilo? Ele vai e responde: “Ninguém me ensinou não, eu é que inventei.” Na realidade, ele aprendeu com o colega, mas a maneira como se dá a transmissão do conhecimento entre as crianças é de uma forma tão despreocupada que não existe: “Eu aprendi.” Parece que vem de você. Isto é seu. Eu tomo isto como algo que caracteriza a cultura africana, do negro. Então, como havendo uma outra maneira de se passar o conhecimento. De forma espontânea, como se estivesse brincado, a ponto de achar que veio de você mesmo.

Concepção de brincar

Eu tomo o brincar na vida da criança não como algo de caráter utilitário, como a escola acaba reduzindo a questão da brincadeira na vida dela. Eu vejo como um fazer que lhe permite explorar as suas possibilidades, conhecer o mundo. Eu sempre me incomodei quanto à maneira que a escola trabalha com a questão da arte: teatro, música, brincadeiras, de modo geral. Tudo é reduzido. Trata-se somente de um caminho “mais prazeroso” para aprender. Isto é uma apropriação indébita! Além disto, o padrão que é imposto não é brasileiro. No sentido de incluir e valorizar as brincadeiras ligadas aos africanos, aos indígenas. Se por acaso entra este tipo de música, nunca vai ser segundo a metodologia que eu aprendi com o Seu Raimundo Nonato. Vai ser via a partitura e tal. O samba, o maracatu, os cantos, a dança do Congado, o frevo não encontram espaço. O interessante é que com estas experiências, como as que conheci neste encontro com a Lídia, em mim foi se consolidando um modo de pensar a partir do que passei a chamar de cultura da criança e de cultura do africano. Modos de viver que me ajudam a ler o mundo, a pensar os meus trabalhos.

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Peter Brueghel (1525-1569) Pintor flamengo. Conhecido como Brueghel, o Velho, para o distinguir do seu filho, também pintor. Cria um estilo próprio caracterizado pela abundância de colorido. Os seus quadros, de costumes na sua maioria, refletem a vida quotidiana da sua época e, ao mesmo tempo, pretendem interpretar a realidade, umas vezes com profundidade e outras de maneira anedótica. As suas obras estão repletas de pequenos pormenores reais e oníricos. (...) o conjunto da sua produção reflete as atribulações de uma época de confusão e de mudanças marcada pelas guerras de religião. (...) iniciador da escola flamenga, que domina o mundo da pintura européia durante parte do século XVI e no XVII. Entre as suas obras há que

Conheci a cidade

Estas atividades que propus no âmbito do poder público provocaram em mim a elaboração de um pensar sobre este lugar e também o acesso à informação. Neste sentido, foi muito importante o convite da Secretaria. Através deste trabalho, eu conheci a cidade! A minha entrada na Secretaria foi para trabalhar... Foi no início da política do Patrus e era necessário o reconhecimento da cidade para se estabelecer as políticas públicas. Eu saí circulando. Fui para encontros nas regionais. Estive em locais que eu jamais podia imaginar e que eu jamais iria se não fosse nestas condições, pelo poder público! Isto foi uma coisa muito bacana. Então, além de conhecer a cidade, na medida em que eu entrei como diretor de um departamento, eu criei uma inter-relação com outras secretarias. Quer dizer, a Secretaria do desenvolvimento social e a da educação. Principalmente, através destas duas secretarias com as quais eu me envolvia, trabalhei mais diretamente, eu passei a conhecer o poder público. Passei a participar de reuniões das secretarias. Por exemplo, as de planejamento da prefeitura. Então, foi valioso conhecer o funcionamento da máquina pública e oportunidade de formação! Desde como se faz um empenho para pagar uma pessoa, como saber fazer uma licitação para contratação. Ou ainda um plano inter-secretarias de atuação de determinado setor, na cidade.