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2.2 4 WAGNER PEREIRA DE CARVALHO

2.2.6. VALDETE DA SILVA CORDEIRO

Meninas de Sinhá, minha vida. Gil Amâncio, minha paixão

Trajetória inicial

Eu sou Valdete da Silva Cordeiro, tenho 67 anos, moro no Alto Vera Cruz146, há 37 anos. Vinda da Bahia para Belo Horizonte com a idade de 5 anos, eu fui criada por uma família de classe média. Um casal branco de classe média. Morei no bairro Funcionários até 22 anos, quando me casei. Daí, eu fui para cidade do interior. Depois nos separamos, eu voltei para Belo Horizonte. Como a minha mãe de coração já tinha falecido, eu fiquei sem espaço para onde ir, vim parar no Alto Vera Cruz. Aqui comecei a minha vida de novo. Achei aqui no Alto uma pessoa que me amparasse e eu comecei a refazer a minha vida. De patroa eu passei a ser empregada, ironia da vida. Eu quando mudei para aqui não tinha água, não tinha luz, tinham poucas casas, não tinha quase nada. Nós usávamos um córrego. A água lá era limpa. Era lá que a gente lavava roupa, pegava água. Eu comecei a me incomodar Eneida, pelo seguinte... Eu fui criada em um bairro nobre. Eu pensava comigo, se lá eles têm de tudo, porque aqui nós não podemos ter, se somos cidadãos, seres humanos? Com isto, eu comecei a pensar como é que eu vou fazer para lutar pela melhoria de nosso bairro? Eu comecei um trabalho pela melhoria do bairro! Com o passar do tempo, eu fui convidada para fazer parte de uma associação, que é o Centro de Ação Comunitária Vera Cruz. No Conselho, eu fui a tesoureira até chegar agora a Presidente.

O Alto Vera Cruz – articulações para conquistas básicas

Eu comecei a convidar as mulheres que eu conhecia para vir aqui para casa para conversarmos. Eu dizia que a gente precisava melhorar aqui. Nós não tínhamos creche, não tinha escola. Era urgente. A gente precisava melhorar o nosso bairro! Teve uma menina, ela se chamava Sônia, já faleceu, nova! Ela disse para a gente fazer um teatro. Eu perguntei como, se a gente não era artista?! Que a gente não sabia nem peça, nem nada! Ela falou que nós é quem iríamos escrever a peça. Eu falei, então, para a gente fazer um teatro conscientizando a comunidade da necessidade por lutar pela melhoria do bairro. Aí nós fizemos. Começamos a montagem de uma peça de teatro. Sentamos aqui e montamos a peça. Começamos com uma que era: “Sônia Maria, cadê o feijão?” Era na época em que feijão era muito caro e que a gente comprava feijão de bandinha. Decidimos convidar, então, o irmão da Sônia, o Paulão. Hoje ele é vereador (do PC do B). Ele veio. Ele era do Grupo de Jovem da Igreja. Ele veio jantar com a gente. Fizemos a peça e nos perguntamos onde iríamos apresentar? Aí, resolvemos pedir ao dono do depósito, o caminhão dele emprestado. A gente ia para as esquinas. Em cada fim de semana a gente estava em uma esquina. O seu João chegava com a marmita e falava que já estava

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cansado de levar arroz e chuchu na marmita! A mulher falava que ele, também, não brigava pelos direitos dele. Não brigava pelo salário que recebia. Que ele e todo mundo não reclamavam de nada. Que no nosso bairro a gente não tinha escola. A gente falava o que não tínhamos. A mulher começou a falar que a gente precisava lutar para conseguir as coisas. E nisto ia juntando gente, foi aparecendo jovem, criança querendo entrar também no nosso teatro. E o negócio foi, então, aumentando. Porque no início eram Ivone, Irene, Sônia, eu, Paulão e Vânia. Éramos seis pessoas e foi aumentando. Com o teatro, então, a gente fazia uma peça e isto já era o início da luta pela melhoria.

Associação comunitária

No bairro, tinha uma associação, mas parece que o responsável não fazia no tanto que a gente via que precisava. E, assim, começou a minha luta pela melhoria do Alto Vera Cruz. Eu não parei mais. Depois fui convidada a entrar nesta associação que é o Centro de Ação Comunitária do Alto Vera Cruz. Aí a minha luta foi crescendo porque eu comecei a participar das coisas. Tudo o que tinha eu ia. Eu passei a aprender a lidar com os órgãos públicos. Começou com a água. Como quem tinha água aqui era um senhor. A gente comprava água na mão dele. Depois colocaram um chafariz, mas aí a fila era muito grande. E, na medida em que fomos lutando, foi chegando água, esgoto. Ônibus demorou, mas veio até aqui em cima. Era muito sacrifício. Era muita luta. E aí hoje o nosso bairro está como está. Nós temos de tudo: asfalto, rede de esgoto, temos escola, creche, centro de saúde. O centro de saúde também foi uma luta porque a gente tinha um centro de saúde estadual. A casa estava mofada. Eles decidiram (a Secretaria) que não podia mais continuar. Houve denúncia, veio a televisão por causa do estado da casa. Ficamos preocupados. Como a gente iria fazer se o centro de saúde fosse embora do Alto Vera Cruz? Como a Associação era proprietária de uma casa que foi comprada pelo fundo cristão, nós cedemos a casa para construir o centro de saúde. Fomos à Secretaria, eu e o Paulão, porque ele já era o presidente da Associação. Nós fomos à Secretaria de Saúde. Oferecemos a casa por comodato por 20 anos. Um tempo, então, para construir o centro de saúde. A Secretaria passou a verba para a associação e mantivemos o centro de saúde. Com isto, ele não foi embora daqui. Nós ficamos um tempo sem sede. Fazíamos reunião na rua, mas contando que o centro de saúde estava aí. E agora com o orçamento participativo, a gente conseguiu um centro de saúde novo. Temos o espaço da Associação de novo em que temos um trabalho com os jovens e onde as Meninas de Sinhá usam também.

A comunidade vai junto

O bairro foi melhorando na medida em que ele foi conscientizando de que quem tinha de se mobilizar era a própria comunidade. E o nosso trabalho da Associação, o importante foi a gente conscientizar a comunidade de que tinha de correr atrás do que ela necessitava para ela. Não é o presidente, os membros da Associação para ir na Prefeitura pedir o que precisa. Até hoje trabalhamos assim. A

Ela define e vamos todos. Nós falamos que o líder comunitário é quem abre a porta para a comunidade entrar. Então, até hoje é assim. A pessoa liga e fala: “Oh Dona Valdete, a minha rede de esgoto, eu

estou precisando...” O que eu faço? Eu ligo para a COPASA, a pessoa vem, eu levo lá e a comunidade

senta com a COPASA e vai falar o que estão precisando. E, daí por diante, a comunidade caminha com a COPASA. A gente só abre o caminho para a comunidade trabalhar. Eu acho que é por isto que a nossa comunidade é dita por aí como a mais organizada. Eu não entendia porque o pessoal da Prefeitura sempre falava isto. Aí quando fui fazer um curso de cooperativismo lá, eu perguntei à professora o que era ser uma comunidade organizada? Ela explicou que era porque a gente conseguia uma melhoria em um dia e no outro já conseguia outra. “Vocês estão sempre conseguindo o que

precisam, se articulam entre vocês e conseguem”.

Estratégia de mobilização comunitária

Semana que vem, por exemplo, a gente vai articular a comunidade para debater sobre a crise política que está aí. A gente vai em uma rua, procura uma pessoa conhecida daquela rua e pede aquela pessoa para que a reunião seja na casa dela. Aí convidamos os vizinhos dela. Vamos lá, fazemos a reunião. Acabou a reunião ali, vamos em outra. Porque, se você chamar para reunião na Associação não vai. Agora, se é para ir à casa da vizinha ela vai. Aí agora vamos começar a trabalhar a crise política. Conversar sobre este absurdo que está aí. Esta corrupção que não queremos, mas nos perguntamos como mudar e não ficar pior? Então, estamos marcando reunião nas casas para ir conscientizando sobre a crise política.

Eneida: E quem deu a idéia de fazer assim, através desta estratégia?

Valdete: Veio da minha cabeça. Eu penso e aí… Igual as Meninas de Sinhá, me veio, vou formar um

grupo para a gente fazer brincadeiras de roda. Aí, eu ponho em prática o que penso. Eu faço assim com a comunidade, porque se você quer que eles participem, é só quando é uma coisa que querem muito. Mas assim, para bater papo não vão. E aí a gente vai nas casas, em todas as ruas.

As Meninas de Sinhá, o começo, a minha paixão

Neste caminhar, há quinze anos atrás, eu comecei a me preocupar com as mulheres que tomavam muito antidepressivo. Elas saíam do Centro de Saúde com sacolas de remédio, naquela tristeza! Eu, conversando com elas, notei que elas não precisavam de antidepressivo, mas sim de uma auto-estima! Comecei a chamar estas mulheres para bater papo, depois nós fomos fazer trabalhos manuais, depois eu fiz expressão corporal. Com isto foram surgindo as brincadeiras antigas, até que chegava a brincadeira de roda! Hoje são as Meninas de Sinhá que estão aí, outras mulheres. Elas se transformaram e transformaram a vida familiar. Apesar de que, no início, houve muita reclamação dos maridos comigo porque as mulheres mudaram os seus hábitos. Elas eram mulheres que davam o prato de comida na mão, a toalhinha no banheiro! Elas não deixaram de fazer o trabalho delas, mas no horário delas, elas falavam: “A comida está no fogão, na hora que vocês quiserem comer esquentem

apresentando em creche, nas ruas, nas escolas, nos hospitais psiquiátricos, penitenciárias. Nós fomos caminhando, até recebermos o convite para fazer um trabalho junto com os meninos do NUC, gravar com eles um CD, que é o Manifesto Primeiro Passo. Quando a gente saía para apresentar e tinha pessoa de fora do Estado, eles perguntavam se não tínhamos fita gravada ou CD? Aí foi para nossa cabeça a necessidade de gravar o nosso CD.

O primeiro CD

Nós, então, fomos à luta para conseguir este CD. O Gil, já era conhecido aqui no Alto Vera Cruz, há 30 anos. Ele trabalhou no CIAME147 e a gente foi se conhecendo. Então, nós temos afinidade com ele. Como ele trabalhou com os meninos no Manifesto Primeiro Passo, a gente o convidou para ele ficar com a gente no nosso CD. Gravamos o nosso CD. Estamos esperando que ele saia até outubro, feliz da vida!

Uma família

Meninas de Sinhá para mim é como se eu tivesse criado uma outra família. Não sei se são filhas, se são irmãs. Hoje em dia é a paixão de minha vida! Porque eu não vou dizer que foi bom só para elas, foi também para mim. Porque a mulher quando chega a certa idade, ela se sente só. Mesmo com a casa cheia de filhos e de netos, ela se sente só. Daí, os encontros, as atividades que nós participamos nos dão nova vida, mais entusiasmo. Nós estamos felizes e esperando que cresça cada vez mais. Hoje, nós estamos com agenda lotada. As pessoas quando ligam, nós não temos mais dia livre.

Para gerar mundo melhor Valdete: Agora, com as Meninas de Sinhá, eu não sei nem como dizer, mas é um trabalho que a gente

quer que não seja só cantar e dançar. Queremos um mundo melhor para os nossos netos, para os filhos das outras pessoas. E eu acho que nós levamos é esta alegria. É esta abertura na cabeça das pessoas, de que para brincar não tem idade. E que é a cultura e a educação o que vai revolucionar o nosso país. E é o que as Meninas de Sinhá estão fazendo. Elas estão entrando na escola. Aquelas que não sabem ler agora estão entrando na escola para aprender. E, assim, vamos dando exemplos. Se tem que estudar, vamos estudar! No Natal nós corremos atrás de cesta. Fazemos uma festa, pedimos para quem pode doar cesta e depois distribuímos. Visitamos pessoas doentes. Elas mesmas falam, combinam entre si para visitar quem está doente. Agora também, nós, há dois anos, fizemos um grupo que são as Netinhas de Sinhá. Porque as netas, quando vamos ao Parque Municipal e outros lugares, pedem para também ser Menina de Sinhá! Um dia chegou uma e pediu se podia vestir e cantar como a avó dela e aí ser Menina de Sinhá. Eu, então, formei um grupo, são cerca de 30 meninas de 6 a 10 anos. Elas cantam, já estão indo nas creches apresentar. E agora estamos fazendo um projeto junto ao grupo Ziriguidum para lei de incentivo, para a gente trabalhar com essas meninas. Trabalhar a voz. Percussão é com os meninos. Aí formamos o de netinhos. Nós entendemos que o mundo todo está com baixa

estima e apostamos que é com a cultura e com a alegria é que podemos levar esta meninada. Há três anos, nós voltamos o Maculelê. Porque ele tinha acabado e eu fiquei em cima do Quinzinho para voltar o Maculelê. Aí, ele voltou. Maculelê é uma dança. Quando os meus meninos eram pequenos existia esta dança. Tinha os “Meninos de Sinhá” e acabou. Resolvemos pegar o nome do grupo para nós. Eu acho que este trabalho das Meninas de Sinhá está mudando as cabeças das crianças. Hoje você passa e vê as crianças cantando os cantos de roda. Outro dia, eu passei na praça e ouvi um grupo de crianças cantando um dos nossos cantos. Isto para mim é uma glória! Ver as crianças cantando o que a gente canta.

O repertório, a dinâmica de trabalho

O trabalho com as Meninas de Sinhá começou assim, toda sexta-feira, porque nós nos encontramos segunda, quarta e sexta. Segunda e quarta era expressão corporal, a sexta-feira eu tirava para brincadeiras: chicotinho queimado, barra manteiga. As nossas brincadeiras antigas. Tinha gente até de 90 anos. A gente brincava de animal macaco, a cobra rolando no chão. E ali era uma turma de criança. Você não via pessoa de idade, eram crianças mesmo. E nestas brincadeiras toda vez que a gente terminava elas diziam para brincarmos de roda. Aí fechava com a brincadeira de roda. Surgiu, então, a idéia de formar um grupo para sair por aí para brincar de roda. Sentei com elas e falei que nós iríamos formar um grupo de brincadeira de roda para ir às escolas, na rua ou por aí resgatando estas brincadeiras. Elas gostaram da idéia. Falei que, então, a partir daquele dia, toda sexta-feira elas teriam que trazer um canto de criança que lembrassem. Nesta época, tinha um rapaz da secretaria de cultura, o Roquinho. Ele estava sempre comigo. Ele falou que iria me ajudar. Toda sexta-feira uma trazia e cantava. Nós fomos juntando as músicas e cantando. Teve um dia que uma falou para procurarmos a tia da Luíza, já com seus oitenta e tantos anos, para ela ensinar algum canto. Nós fomos. O Roquinho foi também. Começamos a pesquisar com as pessoas mais idosas. E com isto formamos uma apostila e começamos o ensaio. Cada dia, uma cantava, ensinava para outra. Estava perto da inauguração do Centro Cultural. Quando a gente já tinha ensaiado a roda, escolhido as músicas, feito as apostilas, nós falamos que podíamos sair por aí cantando. Uma falou comigo que o grupo precisava ter uma roupa própria. Não tínhamos dinheiro para comprar roupa. O Roquinho, então, falou que iria conseguir para nós. E ele conseguiu o tecido. Uma das meninas fez a roupa e um amigo dele chamado Tião não sei de quê fez o modelo. Que era uma blusa branca de manguinha fofa e uma saia estampada. Fizemos a roupa e eu falei que a gente iria cantar na inauguração do Centro Cultural. Isto tem uns oito anos. Fizemos a roda e apresentamos. Agora Eneida, se você me perguntar como nós chegamos até aqui? Eu não sei explicar. Desde este dia do Centro Cultural, o pessoal começou a chamar. Foi nas escolas, em outras cidades. Eu só sei que foi uma idéia boa e que agradou a todo mundo. Foi bom para as mulheres, porque hoje elas são outras pessoas, felizes. Também, o número de mulheres foi crescendo. Eu sempre vou ao Centro de Saúde e chamo para vir.

Sinhá é a vida. É esta senhora que nós obedecemos

Depois, uma chegou para mim e disse que aquele nome não era bom. Resolvemos mudar, lembramos do grupo de meninos há tempos atrás, como já falei e mudamos. Tem gente que nos pergunta se sabemos o que é Sinhá. Nós falamos que para nós Sinhá é a vida. E é esta senhora que nós obedecemos. Por quem nós devemos cultivar a alegria. E, assim, vamos fazendo.

Ia pondo a voz da gente no lugar Eneida: Então, dos encontros em que se brincava, vocês começaram também a cantar. Das músicas

que iam cantando foram formando um repertório, divulgando, produzindo CD. Agora, vão cuidando do repertório que organizaram.

Valdete: E aparecendo mais porque entrou uma menina para o nosso grupo que, por coincidência, ela

foi minha amiga de infância. Ela morava perto da gente. Eu morava na Bernardo Monteiro e ela na Timbiras148. Agora nós nos vimos e ela está no Meninas de Sinhá! E trazendo músicas novas para gente. Aí estamos variando de música. Agora, nós gravamos o nosso lindo CD e temos músicas para gravar muito mais CDs que vem por aí. Porque, quanto mais vai chegando gente, cada uma traz a música que lembra e aí o repertório vai crescendo.

Eneida: E a senhora falou que em dado momento da organização do grupo, o Gil passou a participar.

Como foi isto? O encontro, a presença dele e o que se deu a partir daí?

Valdete: É que o Gil, ele fez a gravação do Multiculturalismo, em que nós fizemos parte com os

meninos. O Gil trabalhou com os meninos. E no nosso CD nós escolhemos também o Gil para estar junto no decorrer do tempo. Ele participa na hora da escolha das músicas, nos ensaios, ele está com a gente. Em tudo, na produção toda do CD, ele está presente.

Eneida: E o que o Gil faz? Qual é a ação dele no trabalho que vocês estão fazendo e que faz sentido

mantê-lo? O que faz vocês, profissionais, chamar um outro profissional?

Valdete: Olha, eu não acho que nós somos profissionais. Eu acho que para gravar um CD tem de ter

um profissional com a gente, para organizar a nossa voz no lugar. O repertório fomos nós mesmos que escolhemos, ele não se intrometeu. Porque o Gil é o seguinte: a única coisa que ele fez foi pôr a nossa voz em ordem, organizar o CD. Porque nós cantamos, de qualquer jeito. E o Gil, ele nunca falou para a gente cantar esta ou aquela, isto está certo ou está errado. Tinha hora que eu pensava: “como ele não

dá um palpite!” Eu nunca falei, mas eu via. E ele não falava, mas só ia pondo a voz da gente no lugar.

Às vezes a gente errava, ele voltava, acertava. Eu tenho certeza de que nós demos um trabalho, mas ele nunca falou! Porque nós estamos acostumadas a cantar pela rua afora de qualquer jeito! E não estamos nem aí. E ele foi organizando a nossa voz ali, no tempo certo. E foi isto para gravar um CD, ele nos ajudou muito. Ele foi levando todo mundo do grupo. A paciência que o Gil teve com a gente,

meu Deus! E ele é assim, ele não é de falar que a gente errou. Isto não. Ele vai devagar levando. Não sei se pela idade da gente, mas ele leva a coisa numa calma! Tinha hora que eu me irritava, perdia a paciência e ele não.

Eneida: E todos aceitaram, concordaram com a presença do Gil?

Valdete: Sim! Porque eu já conhecia o Gil, já tem 30 anos, mas elas conheceram quando fizemos o

CD, com o Manifesto Primeiro Passo. Todas viram o caminho, a capacidade de organizar o trabalho da gente. E foram concordando, todas.

Eneida: Como foi isto de chegar nas escolas, em vários lugares que vocês vão?

Valdete: As escolas chamavam por causa da brincadeira de roda. A gente não só canta, mas brinca

também. Porque o nosso maior prazer é brincar de roda. Não tem nada melhor do que isto. Brincadeira de roda que tanta gente brinca nas escolas, na rua. Porque a gente, no palco, só cantar, fica faltando alguma coisa. Aqui, a diretora nos chamou. Ela nem é daqui do bairro. Eu nem sei como ela soube. Alguém deve ter comentado. Depois um pessoal do MUSA – Mulher e Saúde nos chamou para ir à penitenciária de mulher. Nós fomos. E aí fomos por aqui mesmo. Nós começamos nossa vida, por aqui próximo mesmo: escola, hospital psiquiátrico, creche, penitenciária, sempre levando a alegria. E daí fomos pelo mundo afora e a gente nem sabe como. Vamos agora por estes lugares levando a alegria. E