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teórico-conceituais da pesquisa Primeiramente, apresento dados relativos ao Jazz (3.1) e, no capítulo seguinte (3.2) exponho dados relativos ao conceito de Cuidado de si, como

2.1. HISTÓRIA DE VIDA DE GIL AMÂNCIO

2.1.6. FAN – Festival de Arte Negra

Idéia do FAN – ponto de partida

A minha viagem para a Alemanha impressionou-me muito, principalmente no campo das políticas públicas. Logo que cheguei, fui conversar com a Antonieta (Cunha) por ter sido comunicado que ela queria conversar comigo. Quando nos encontramos, ela me contou do convite que o Patrus (Ananias), na época eleito prefeito de Belo Horizonte, havia lhe feito para ser a Secretária Municipal de Cultura. Ela me disse, então, que gostaria que eu fizesse parte da sua equipe. Eu já trabalhava com ela antes da viagem. Eu fiquei super feliz com o convite. Ela, uma pessoa que inclusive, muito contribuiu para minha viagem à Alemanha. Conversando sobre a viagem, eu lhe falei sobre as coisas que me despertaram atenção neste país: os Centros Culturais da Juventude, as exposições sobre a África, os espetáculos de arte africana contemporânea. Também expus a idéia de produção de um mapa de Belo Horizonte para que as pessoas pudessem se orientar na cidade. Coisa que aqui ainda não tinha. Além disto, apresentei a idéia sobre a realização de um festival de arte negra e a construção de um centro cultural para criança e adolescente. Ela disse: “Se depender de mim nós vamos fazer.” E, assim, surgiu a idéia do FAN. Quando eu fui para a Secretaria, encontrei com Marcos Cardoso que estava articulando a comemoração dos 300 anos de Zumbi. Era uma idéia que complementava a outra.

Produção cultural negra e contemporaneidade

Em 95, foi feito o primeiro FAN. Uma festa! O sonho de muitos artistas. Um grande festival de Arte Negra envolvendo cinema, artes plásticas, literatura, música, dança, debates. Na época, um dos interesses era trazer para a cidade artistas negros de renome nacional e internacional. Por exemplo, na abertura foi reunido vários tambores do mundo: Munhequitos de Matanza80, de Cuba; os tambores da Venezuela; o Candombe do Uruguai; os tambores de Burquina Fasso81; o Congado de Minas. Foi um

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Munequitos de Matanza, grupo Cubano, da cidade de Matanza, cuja tradição musical é passada de pai para filho. O grupo tem feito magnífico e autêntico trabalho, contribuindo para que esse tipo de gênero musical transcenda sua forma original. (...) A Rumba, uma dança folclórica tradicional, originada dos portos de Cuba usando improvisados instrumentos de percussão, músicas chamadas por um solista e respondida por um coral, textos improvisados que relatam conflitos diários e específicos, e diferentes coreografias, de acordo com o estilo atual. (...) A palavra Rumba evoca o humor, uma atmosfera de barulho e celebração. "Vamos a Rumba" quer dizer "vamos dançar e celebrar a vida em sua plenitude". Disponível em: < http://soulbrasil.com/index.php?lang=br&page=ed-br/12/1.php >. Acesso em: 23 de julho de 2007.

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O Burkina Faso (ou Burkina Fasso, por vezes aportuguesado como Burquina Faso), antigo Alto Volta, é um país africano

festival maravilhoso! Eu, apesar de ter idealizado o festival, entre o lançamento da idéia e a realização, acabei assumindo um outro projeto que também havia proposto à Antonieta e que foi o CRCCA: Centro de Referência Cultural para Criança e o Adolescente. Acabei saindo da equipe de coordenação do Festival. O FAN é o maior evento desta categoria na América Latina! Um marco na história de Belo Horizonte em termos de abertura para a população negra se pensar, se visibilizar. Antes dele, os eventos ligados à cultura negra vinculavam basicamente à religiosidade, à antropologia. Nós não tínhamos nada que ligasse a produção cultural negra à contemporaneidade, a arte. E Minas é um lugar onde existe uma produção cultural de ascendência africana muito grande. Por exemplo, é grande a quantidade e a variedade de grupos que representam o reinado, os terreiros de candomblé, a umbanda, os grupos de capoeira Angola e regional, de dança afro. O diálogo mesmo da cultura negra com a contemporaneidade quem trouxe foi o FAN.

Proposições, desafios, questões geradas

Quando idealizei o Festival, eu pretendia que fosse um festival mais de intercâmbios, de criação de projetos coletivos. Que era um pouco do que eu havia vivido na Alemanha e que tinha sido tão rico. Então, eu pensei em um festival que viabilizasse o intercâmbio entre artistas, grupos de artistas. Assim, para nós não interessava só trazer o artista. A gente queria que junto fosse garantida uma possibilidade de troca. Na prática, este desejo não foi o eixo orientador do primeiro FAN. As trocas que aconteceram durante o festival foram de forma espontânea entre os artistas, as pessoas que freqüentaram o festival. Um dos argumentos para se optar por esse formato de 95 foi que trazer pessoas não conhecidas não atrairia o público. Nele, então, se apresentou: Tim Maia, Martinho da Vila, Jards Macalé, Luiz Melodia, Itamar Assunção, Bete Carvalho e Elza Soares.

Depois da versão em 95, o FAN teve dificuldade de ser assumido pela administração seguinte. Os outros festivais todos aconteceram: o FIT (festival internacional de teatro), o FID (festival internacional de dança), o Festival de Arte de Bonecos. Apesar de sempre contar com a promessa dos prefeitos eleitos, dos secretários que entraram, ninguém assumia a realização da segunda edição do Festival. Somente oito anos depois, em 2003, que a Celina Albano, em sua administração, retomou a idéia de realizar o FAN. Ela convidou o Rui Moreira, o Ricardo Aleixo e eu para sermos os curadores. Não foi nada fácil a retomada do FAN. Havia oito anos sem FAN na cidade e muita expectativa dos artistas e do movimento negro em relação ao FAN. E desta vez nós conseguimos dar um passo na construção do festival, numa perspectiva de promover um intercâmbio maior entre os artistas negros. Também, nós organizamos um espaço, uma espécie de mercado, para trocas, convivência e demos o nome de Ojá, Ele deu muito ibope.

Eneida: O trabalho de divulgação...

Gil: Na verdade, o processo de realização foi muito curto. Em cinco meses, tivemos que organizá-lo.

E só quando ele já estava acontecendo a captação de recursos chegou efetivamente. Então, todas as idéias que tínhamos para valer como estratégia de divulgação pouco exploramos. A idéia era preparar

a cidade para o evento porque, apesar da importância deste festival, ele ainda não tem estrutura suficiente. Também pensamos em passar na televisão pequenas pílulas, em horários diversos, para ir problematizando e anunciando o Festival. Uma veiculação para gerar a discussão na população sobre o que é Arte Negra. Montamos o material, mas não conseguimos jogar na mídia. Também pensamos na circulação de um Black bus. Um ônibus todo preto, grafitado, para circular pela cidade divulgando o FAN. Na correria, quando fomos ver, o ônibus estava todo grafitado, mas branco. Aí, queimou a idéia! Assim, das estratégias boladas, poucas aconteceram. Mesmo assim, o público foi maior do que no primeiro.

O que é esta produção negra?

Então, eu acho que o FAN abre hoje uma série de questões sobre o que é esta produção negra. Há críticas vindas de negros e de brancos. Eu acho bacana estas manifestações, mesmo sendo difícil explicar a cada um a nossa posição de que não tínhamos como, em um formato de festival, atender a todos. Para mim é um sinal de que o FAN vem conseguindo provocar a cidade a pensar a temática da cultura negra, na contemporaneidade. Para nós, seria muito bacana se pudéssemos contemplar a todos, mas não havia e ainda não há estrutura para isto. Também, o que o FAN almeja é instigar as pessoas a avaliarem a consistência de suas propostas artísticas. Recentemente (2005), por exemplo, a Telemig Celular promoveu um Festival de Dança Contemporânea e não tinha um grupo sequer de bailarinos negros apresentando! No caso, a questão gerada é quanto a produção de dança contemporânea negra na cidade que não há.

Por que Festival de Arte Negra?

Um festival de arte negra se justifica por uma série de motivos. Por exemplo, quando se organiza um festival de música instrumental não é cogitada a escolha ou não se busca artistas da África ou do Peru. Lugares em que se tem uma música instrumental feita por músicos negros. No imaginário coletivo é como se não houvesse artistas com este tipo de proposta realizando um trabalho bacana e espalhados em diversas regiões do mundo. Comumente se convida os artistas que já estão aí, subentendendo que todo mundo está incluído neste universo. Você não cria um espaço para músicos que, apesar de terem um trabalho bom, não têm visibilidade. Porque, quando fala: “Festival de música” cabe tudo e a música negra em específico não aparece significativamente. Quando fala: “Festival de teatro” não tem a preocupação específica de trazer os artistas negros para o festival de teatro.

Nesse contexto, a iniciativa do FAN apresenta-se como defesa de um território. Como busca de constituição de um campo político de positividade, ele almeja divulgar trabalhos bons que não alcançaram ainda nível significativo de representatividade. Porque comumente a construção de uma imagem positiva pessoal leva muito em consideração os referenciais que o coletivo apresenta como positivos. Então, quando você só tem o referencial branco como um negro vai construir a sua referência fora deste padrão estético que não diz respeito a ele? Isto me faz lembrar um momento em que participei da produção de um filme. A primeira parte dele era a chegada dos navios negreiros, no

Salvador, porque tinha que encher de crioulo. Na ocasião, eu fiquei responsável por organizar o pessoal de Belo Horizonte. Após chegarmos e nos instalarmos, já no segundo dia o pessoal começou a sair na rua com uns panos amarrados, com os cabelos trançados. Era possível encontrar gente assentada na rua trançando cabelo! Neste momento, só havia negros no set. Muito legal! Parecia outro mundo! Para mim foi impressionante porque eu nunca havia estado em meio a tantos negros juntos. Cada casa só tinha negros. A cidade escureceu! Eu me lembro que em um daqueles dias nós estávamos andando, indo para o almoço e um dos meninos, um rapaz todo entusiasmado falou comigo:

_ Oh Gil, você sabe uma coisa que eu estou descobrindo? _ Não, o que é?

_ Eu sou bonito demais!

_ Por que você está descobrindo isto?

_ Neste lugar que só tem negão, eu estou conseguindo ver que eu sou bonito!

Então, este menino, onde quer que ele more, ele devia se sentir o menino mais feio! Em Parati, as referências que ele começou a ter passaram a ser outras. Quando ele começou a ver aquele grupo de negros, todo mundo trançando cabelo, de roupa a caráter, ele pôde dizer para si que também era bonito! Ele até ali não tinha uma referência que lhe permitia valorizar a ele mesmo. O tempo todo, a referência valorizada era a branca: nariz fino, cabelo liso, lábios finos. Tudo o que é valor, que está na propaganda, que está no material na escola, toma como referência o branco. Eu não consigo ver uma representação positiva relacionada ao negro. Quando aparece família negra, o pai é bêbado, a mãe sofre o tempo todo. Ou então os negros da cena são todos bandidos ou subalternos (a empregada, o motorista, o caseiro e por aí vai)! Quando que a televisão brasileira enche de negros? Em novela, retratando o período da escravidão. Até hoje o imaginário da televisão brasileira considera que só pode ter muito negro quando se trata de escravos! Como é que você constrói uma imagem? Em determinado momento você tem que começar a criar referências segundo outra imagem... de negros, de um grupo... Belo Horizonte é uma cidade de três milhões de habitantes. Há um grupo de teatro negro! Eu fui, durante muito tempo, um dos atores negros desta cidade. Não existia outro. Eu nunca fiz o papel principal porque em todos os papéis, se a princesa é loira, para eu fazer o príncipe... “Não cabe!” Para fazer o pai da princesa. “Não pode!”

Eu tive um impacto assistindo a uma peça de teatro, no FIT de uns anos atrás. Eles trouxeram Peter Brook, com um espetáculo em que ele trabalhou com atores africanos e japoneses. A cena é um ator africano e a mãe dele é uma japonesa. Depois disto, cheguei na sala de aula no Palácio (das Artes), comentei com meus alunos se eles haviam assistido ao espetáculo do Peter Brook. Eles disseram que tinham achado lindo! Eu perguntei se eles viram que a mãe do ator era uma japonesa. E eles: “Não!

Daquele ator africano? Ela era negra!!” Eu insisti na minha afirmação que ela era japonesa. Falei

para eles verificarem no folder do espetáculo. Só, neste momento, que eles admitiram. E eu perguntei- me sobre qual é o argumento cabível nesta alegação de que negro não pode este ou aquele personagem. Isto, se o teatro, a arte ela está ou deveria estar além. A construção, ali, passa por outro

campo. Pegando este exemplo, pelo menos aqui no Brasil, por enquanto, nós ainda estamos longe desta construção de criar este espaço. A Marlene Silva, que trouxe a dança afro para Belo Horizonte, ela nunca conseguiu construir uma escola. Ela batalhou durante todos estes anos. Aí, vem um com poucos anos de trilha e abre academia aqui, outro balé clássico abre ali, outra dança contemporânea, vão abrindo, vão abrindo. Em função destas coisas, neste momento, volto a dizer, precisávamos mostrar para a cidade que há a possibilidade de fazermos dança, teatro, música, proposições de novas linguagens, consistentes, diferentes, com artistas negros. No festival tinha artistas brancos. Nós não fechamos para a participação deles. Por exemplo, tinha um que fazia trabalho maravilhoso com colares do candomblé. Em função da temática e da qualidade sensacional do trabalho dele, nós o trouxemos. Então, hoje, quando eu falo com os meninos do Alto Vera Cruz, eles falam que acharam bacana participar do FAN. Um dos motivos era ter visto, pela primeira vez, tanto negão no palco. E, daí, passar a achar possível também estar lá. A partir do FAN, eu constato que, em Belo Horizonte, surgem vários grupos de artistas negros: Tambolelê, Berimbrown, Arautos do Gueto. Até então, eles podiam alegar: “Ah, isto é difícil, nunca vou conseguir! Isto é só para eles lá. Eu nunca vi esta referência.”

No momento em que é estratégico defender

O FAN, então, foi fundamental para fortalecer um discurso da negritude. Ele trouxe para o centro da cidade a discussão. Deu visibilidade ao que era muito presente na periferia, mas de forma dispersa. Eu considero que afirmamos isto no momento em que é decisivo defender. Você tem que nomear principalmente por estratégia. Porque senão você dilui, cai na música brasileira. O que aconteceu de terrível na música brasileira? Quando entraram as gravadoras no Brasil, elas começaram a definir o processo de composição de samba que sempre foi coletivo. O samba sempre foi criado em um botequim, na roda. E nela o samba não tem dono. A gravadora pergunta sobre a autoria do samba, imprimindo esta idéia de autoria. Daí começa a disputa para ver quem será o dono da obra. Com isto, ninguém vai querer compor junto, se separam. Vem a televisão e fala quem pode ir para a tela? Qual o cara entre os sambistas que pode ir para a tela? Aí, aquele Seu Zezinho que compôs e que tocava, mas que não tem a estética estabelecida pela mídia, vão dizer: “Não, ele é muito feio, ele não pode

aparecer na televisão!” Também, a Dona Maria que canta e tem a voz maravilhosa, vão dizer que não

pode ir para a televisão porque ela é muito gorda. Também porque quando canta, ela sacode demais! Tem algo nela que está fora do equilíbrio estético.

Sobre isto, eu peguei um samba de roda, que é dançado por senhoras do sul da Bahia e coloquei o áudio do Tchan (grupo de dança baiano). É impressionante! Elas estão dançando a mesma coisa! Porque tem uma base rítmica que é de samba de roda. Agora, estas senhoras que dançam o samba de roda apresentam uma outra estética! Elas não podem ir para a televisão! Tem de ir só aquelas mocinhas com aqueles shortinhos. Mas o bacana é que quando as senhoras estão dançando a sensualidade delas passa no ombro, no jeito de pegar a saia! É miudinho, é pequeno, é bonito,

não interessa. E com isto você começa um processo em que aquele que faz, por exemplo, um Cartola82, que era o gênio do samba, morre sem nada porque a gravadora, a televisão, elas não quiseram saber dele. A Clementina de Jesus... Então, você tem que criar um espaço em que você lança para frente estas pessoas. No sentido de possibilitar que elas sejam vistas, inclusive, para que elas se descubram bonitas, capazes, em condições de propor coisas legais. Isto tanto para poder serem absorvidas pelo mercado quanto para valer como referência para a moçada. Se não fizermos, assim, é uma relação totalmente sem equilíbrio.

Proposições e exposições no FAN

A idéia era que este tipo de festival viesse atrair toda a cidade. A aposta é ainda hoje de que o conhecimento a circular nele é válido para a população. Para que as pessoas entendam melhor a vida, se relacionem melhor e não algo para celebrar apenas um grupo étnico ou fazer algo fechado para um grupo. Também, trazendo esta provocação, abertura de campo para se pensar o artista negro e a sua produção artística, nós criamos no FAN um espaço que se chamava “As donas da voz”. Selecionamos algumas cantoras que já tinham um trabalho significativo na cidade e o FAN buscou dar uma estrutura artística: músicos, um espaço etc. para montarem um espetáculo no FAN. O mesmo aconteceu com os músicos eruditos negros que tocam nas orquestras sinfônicas, nos corais! Para estes compositores negros, que não estão tocando as suas próprias composições e que praticamente não aparecem, criamos também um lugar no FAN, chamado Batuque de câmara. A idéia, no caso, foi de criar um diálogo da música erudita com a produção popular brasileira. Também, nós trouxemos uma mulher chamada Ruth Edwards83, com sua exposição genial das invenções feitas pelos negros. Ela investiga invenções patenteadas feitas pelos negros ao longo da história. A cada invenção que ela identifica, ela produz um livro objeto evidenciando o que foi feito. É um trabalho muito bacana! Por exemplo, ela diz que quem inventou a lâmpada foi Tomás Edson, mas quem inventou o filamento de Tungstênio foi um negão. Quem inventou a geladeira foi um negão. Aí, tem uma história interessante, até engraçada porque um rapper, após sair da exposição, entusiasmado, afirmou: “Oh mano, eu odiava este negócio

de geladeira, colonialismo, imperialismo americano, obrigando a gente a ter geladeira. Mas agora, sabendo que foi um negão, eu vou abraçar a minha geladeira quando eu chegar em casa!” Então, são

coisas que começam a mexer com as pessoas e você nem imagina! O trabalho da Ruth tira a idéia de que negro é só samba, futebol e cachaça.

82 Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu em 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete, Rio de Janeiro. Cf.: <

http://almanaque.folha.uol.com.br/cartola.htm; também: Cartola, o trovador de samba. Rede Cultura. <http://www.tvcultura.com.br/aloescola/artes/cartola/>. Acesso em: 16 de julho de 2007.

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Ela faz parte do Center for the Book Arts em NY.

Sutilezas a saber na convivência

No primeiro FAN, cismamos de fazer um Ijexá84. Criou-se um bloco para desfilar na rua. O Djalma Correia, um percussionista, foi quem veio ajudar a arranjar o bloco. Na ocasião, eu ouvi a explicação sobre a diferença entre Ijexá, ritmo africano e o Vira, ritmo de Portugal. Ritmos que se diferenciam em função do tempo de toque. No primeiro, temos três toques: Pá, pum, pá / Pá, pum, pá / Pá, pum, pá. Três batidas simples. No segundo, o Vira, são três, certinho: Tum, tum, tum / Tum, tum, tum / Tum, tum, tum. “Ai chiquita se tu queres ser bonita. / Arrebita, arrebita, arrebita!” Se você atrasa, você passa de um ritmo para outro. Você vai para o Ijexá... (Gil toca o mesmo som, porém, com tempo diferente). Então, uma diferença no tempo do toque me tira da África e me faz atravessar o continente e ir para a Europa. Estes são detalhes sutis que interferem no fazer artístico. A maior briga do Djalma era porque todo mundo tocava... [Gil toca as três batidas, como ele disse, de Portugal e vai cantando a