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As exclusões dos deficientes no contexto social: percurso histórico

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 63-66)

A Idade Antiga trouxe diversos legados para a sociedade contem- porânea. Considerado o berço das grandes civilizações, esse período é marcado com muitas exclusões, principalmente, da pessoa com deficiência. Nesse período, a propriedade privada é supervalorizada, assim como o surgimento do Estado e as divisões de classes. É percep- tível a “exploração, a escravidão e a exclusão de uns pelos outros”. (SANTIAGO, 2011, p. 24) Sendo assim, percebe-se a influência da religião na forma de se enxergar o deficiente, dentro das várias civilizações.

A civilização Egípcia, segundo Silva (2009), utilizava dos médi- cos-sacerdotes como aqueles especialistas em diagnosticar e curar os deficientes. Com isso, viam-se as doenças como manifestações demoníacas, maus espíritos e pecado, fazendo exorcismos, preces e encantamentos para reverter o quadro. Da mesma forma, a civili- zação Romana via a pessoa com deficiência como fora da sociedade, sujeitas a extermínio. Segundo Silva (2009), aconteciam muitos infan- ticídios e abandonos de crianças, resultado de um ódio por aqueles que nasciam com algum tipo de necessidade especial. Nas civilizações Gregas, a imagem do corpo perfeito é bem presente. Devido a isso, as pessoas com deficiências se tornaram motivos de discriminação e morte. Buscava-se na mitologia a explicação para os nascidos com alguma deficiência. Santiago (2011, p.78) afirma:

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Portanto a partir das ideias mitológicas difundidas entre os gregos é possível se perceber que na civilização grega, as de- ficiências eram vistas como deformações, comprometimentos que não só prejudicam o desenvolvimento físico, mas afetam a harmonia corpo e mente, a perfeição da raça e a beleza. Assim, pessoas com deficiências eram banidas do convívio com as fa- mílias, mas se sobrevivessem deviriam recorrer a locais dis- tantes da cidade

Ainda conforme os escritos de Santiago (2011), na Idade Média, a Igreja possuía um grande poder de dominação que influenciava diretamente na sociedade. No período do fim do Império Romano no Oriente, vivia-se o feudalismo e a sociedade se dividia em classes, mantendo-se o poder nas mãos dos Senhores Feudais e da Igreja. Sendo assim, quando se tratavam de questões pertinentes à educação, as instituições religiosas tinham o poder legitimado pelo Estado, capaz de produzir na sociedade valores e fundamentos cristãos. Ou seja, a classe social definia qual educação os indivíduos poderiam e de- veriam receber por isso, muitos escolhiam a vida religiosa como fuga da situação social.

A partir disso, o ensinamento religioso começou a compreender que os deficientes possuem, como todos, alma, devendo ser tratado como qualquer ser humano.

Assim a custódia e o cuidado destas crianças ou até mesmo adultos deficientes passam a serem assumidas pelas famílias e pela Igreja, apesar de não terem nenhuma organização na pro- visão do acolhimento, proteção, treinamento e ou tratamento destas pessoas. (NOGUEIRA, 2008, p. 3)

Pessotti (1984) afirma que foi a religião cristã, a partir dessa nova concepção, que tirou os deficientes do abandono e trouxe cuidado e acolhimento a eles. Conforme Santiago (2011), os deficientes pobres eram os mais excluídos e não recebiam educação e passavam por várias dificuldades, diferente dos deficientes nobres filhos da elite. Foi a partir disso que os abrigos começaram a acolhê-los, oferecendo condições necessárias para sobrevivência dos excluídos.

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Na modernidade, as transformações sociais fazem parte da construção de uma sociedade diferenciada, marcada por avanços, competitividade e exclusão. No campo religioso, a intolerância é um dos fatores marcantes, em todos os aspectos. A liberdade reli- giosa possibilitou uma grande abertura para novas crenças, porém, aumentou-se o fundamentalismo, causando violência, grandes sepa- rações e terrorismos, ou seja, não vista mais como promotora da paz.

No Brasil, a situação vivida pelas pessoas com deficiências não foi diferente das outras civilizações. Na época do Brasil Colonial, as pessoas que nasciam com algum tipo de anormalidade eram tidas como marginalizadas, não pertencentes à sociedade e não dignas de cuidados básicos da humanidade. Segundo Silva (1987, p. 191, grifo do autor), “Na verdade, também no Brasil a pessoa com deficiência foi considerada por vários séculos dentro da categoria mais ampla dos ‘miseráveis’, talvez a categoria mais pobre dos pobres”. Afirmando que os primeiros hospitais do Brasil foram importantíssimos ao aten- dimento dos portugueses e povos negros que chegavam ao Brasil e eram atingidos por mosquitos, desenvolvendo doenças, pois tinham seus corpos desacostumados ao ambiente. Chamados Santa Casa de Misericórdia, esses hospitais atendiam e acolhiam pessoas com deficiências, as mães deixavam as crianças nascidas com alguma anormalidade e elas eram criadas em orfanatos e conventos. Com isso, eram escondidos e separados da sociedade.

Na contemporaneidade, o mundo é marcado por diversas transfor- mações, sejam elas no campo político, social, econômico ou religioso. A evolução da tecnologia trouxe uma mudança nas relações humanas, com impacto direto na inclusão. As pessoas com deficiências passam a ser vistas e defenderem seus direitos, garantindo políticas públicas de inclusão nas diversas áreas da sociedade, como discorreremos logo abaixo. Na religião, por um lado nos permite ver a manifestação de uma liberdade religiosa que acolhe a todos. Por outro lado, um funda- mentalismo religioso excludente e causador de caos social.

Em todas as sociedades e tempos históricos percebemos a mu- dança a partir do pensamento, ou seja, na evolução da educação

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nos diferentes contextos. É nesse sentido que compreender o pro- cesso de aprendizagem e conhecimento, transmitido em diversos lugares educativos, como escola, família e Igreja, é entender como esse fenômeno social acontece. Por isso, os conceitos de educação inclusiva e religião estão diretamente ligados com o poder da ação desses dois elementos na sociedade.

Educação inclusiva e religião na atualidade:

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 63-66)

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