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O educador na sociedade contemporânea: reflexões de Gadott

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 163-169)

Destacaremos breves considerações relacionadas ao educador no mundo contemporâneo, de maneira a atentar para alguns prín- cipios que norteiam os conhecimentos, os saberes hegemônicos e os desafios do educador na sociedade contemporânea. Trabalharemos a partir das reflexões de Moacir Gadotti (2005) sobre educação popular, educação social e educação comunitária.

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Gadotti (2005) pensa a educação como um fenômeno complexo, ramificada em diversas filosofias, tendências, vertentes, e enraizada em diferentes culturas. O autor aponta para a necessidade de en- tender a educação a partir do seu contexto histórico e de maneira a buscar compreender de qual educação estamos falando.

O autor apresenta ainda a pedagogia como teoria da educação; traz as pedagogias intituladas como puramente científicas, com uma pseudo-neutralidade, indo de encontro com os interesses hegemônicos da sociedade e o pensamento de educação autoritária e domesticadora. (GADOTTI, 2005)

Contrapondo esse pensamento, o autor apresenta as pedagogias críticas, trazendo a educação popular, a educação social e a educação comunitária, com o interesse de afirmar seus princípios e valores e a politicidade da educação.

O autor faz provocações sobre uma possível educação emancipa- dora, dentro das particularidades e no campo de atuação, contribuindo com a mesma causa e também com a evolução particular, se transfor- mando ao longo da história.

Gadotti aponta para uma educação utópica, quando pensada no educador popular, social e comunitário. Para que seja feita alguma intervenção, é necessário o conhecimento da realidade onde atua, procurando enxergar de longe:

Entendo que, mesmo quando essas educações procuram integrar os sujeitos à sociedade, não o fazem mecanicamente: integram para transformar a sociedade na qual são integrados. Integrar e incluir para emancipar. (GADOTTI, 2005, p. 3)

O autor provoca ainda para a necessidade de politizar mais os ar- gumentos e polemizar menos, atentar para os pontos que unem e os pontos complementares da educação. Elementos esses inerentes de uma nova cultura política, denotam para um ponto em comum nas expe- riências e práticas dos “educadores populares, sociais e comunitários”, experiências de muito aprendizado através de muitas lutas ao longo da história e não apenas caráter interdisciplinar.

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Sob essa ótica, Gadotti (2005, p. 8) aborda a educação formal, representada pelas escolas e universidades, que depende de uma diretriz educacional, tendo como base o currículo, estruturas hierár- quicas e burocráticas predefinidas e norteadas por órgãos fisca- lizadores do ministério da educação e aborda também a educação não formal, menos hierárquica, menos burocratica, fortemente ligada à aprendizagem política, dos direitos dos indivíduos.

No texto, o autor faz provocações quanto ao campo de atuação da educação social, o seu desenvolvimento e o crescente debate em torno da pedagogia social. Enfatiza sobre o princípio de que toda educação é, ou deve ser, social, não podendo discriminar sociedade da comunidade, do contexto familiar, social e político de onde vivemos. (GADOTTI, 2005, p. 9)

Nesse contexto, a “educação comunitária”, ou “educação socio- comunitária”, entra em discussão como uma das demonstrações da educação popular, meio pelo qual se busca a melhoria da qualidade de vida dos “setores excluídos”. (GADOTTI, 2005, p. 13)

Nessa perspectiva, entende-se que a educação vem permeando um próprio campo de atuação e contribuindo para uma recon- ceituação da educação popular comunitária sendo ela formal ou não-formal:

A educação popular comunitária deve possibilitar aos educan- dos o acesso a um saber mais geral exigido para o acesso a outros níveis de escolaridade e de trabalho. Aprender a partir da ativi- dade produtiva tem implicações na teoria educacional, no curri- culum escolar e na política educacional. (GADOTTI, 2005, p. 16)

As implicações a partir da atividade produtiva abordada por Gadotti trazem como princípios educativos a educação popular comunitária, o trabalho e a produção, incorporados ao campo da educação popular transformadora. (GADOTTI, 2005, p. 16)

Nesse prisma, a pedagogia social abordada no texto de Gadotti (2005), defende a ideia do professor como um ser problematizador, e um sistema educacional que precisa ser educado socialmente,

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uma vez que o atual modelo escolar tem feito uma troca de papéis, concebendo a escola como único espaço educativo crescente, o que o autor chama de “crise da educação” e uma “crise da relação pro- fessor-aluno”, reproduzindo as relações dominantes da sociedade.

Considerações finais

Diante das reflexões acima, podemos perceber que a educação encontra-se em um processo de mudança constante e também de interferências, semelhante ao neoliberalismo, que consegue impor mudanças na reconstrução da sociedade como um projeto hegemônico e perpassando por um discurso persuasivo. As novas circunstâncias apontam para o mercado, caracterizado e reproduzido através da exclusão e da desigualdade.

As finalidades educativas contemporâneas abarcam aspectos te- óricos referentes a sentido e valor, o que está diretamente ligado ao caráter político-ideológico capaz de nortear as políticas e as decisões da escola. Políticas essas, influenciadas por capitais financeiros na- cionais e internacionais.

Essas influências atingem diretamente o processo de ensino-apren- dizagem por meios culturais, por meio da globalização econômica e pelo sistema capitalista, buscando sempre alcançar a consonância entre os diversos grupos e classes sociais.

Percebe-se que as interferências sofridas pela educação chegam gradativamente ao trabalho do docente, que, por sua vez, vai perdendo a liberdade, de maneira que as funções de planejar, de organizar e também de avaliar, passam a ser realizadas por outros setores, que não necessariamente estão diretamente em sala de aula, afetando assim abertamente o trabalho do docente. O professor passa a ser contro- lado através de avaliações externas, como um executor de projetos, seguindo então os interesses empresariais.

Entretanto, as influências sofridas pelo o professor são caracte- rísticas de um novo padrão de poder mundial, ou seja, o controle

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do trabalho. Esse controle evidencia a elaboração intelectual do processo de modernidade e, portanto, atende a uma perspectiva eurocêntrica.

Nessa perspectiva, a educação contemporânea, submetida aos diversos fatores e influências, necessita de uma profunda mudança, não apenas interna, mas também por parte de toda sociedade.

Referências

BAPTISTA, I. Ética e educação social interpelações de contemporaneidade.

Pedagogía Social, Sevilla, n. 19, p. 37-49, 2012.

GADOTTI, M. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Ática, 1987. GADOTTI, M.; GUTIÉRREZ, F. Educação comunitária e economia popular. São Paulo: Cortez, 2005.

GENTILI, P. Neoliberalismo e educação: manual do usuário. In: SILVA, T. T.; GENTILI, P. (org.). Escola SA:quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo. Brasília, DF: CNTE, 1996. p. 9-49.

LIBÂNEO, J. C.; FREITAS, R. A. M. (org.). Políticas educacionais neoliberais

e escola pública: uma qualidade restrita de educação escolar. Goiânia:

Editora Espaço Acadêmico, 2018.

PINO, A. Violência, educação e sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo. Educação & Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 763-785, 2007. SARAIVA, K.; VEIGA-NETO, A. Modernidade líquida, capitalismo cognitivo e educação contemporânea. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 187-201, 2009.

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