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Educação popular a partir da emancipação dos sujeitos

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 119-122)

Santos (2010) em seu texto “Além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes” aponta a existência de “Episte- mologias do Sul”, uma linha imaginária que divide o pensamento ocidental dos demais e faz com que esses sejam desvalorizados, negados. Desse modo, o autor questiona a veracidade dos pensa- mentos e pressupostos teóricos não ocidentais. O referido autor defende a necessidade de um pensamento pós-abissal que parta da premissa de que a diversidade é inesgotável, reconhecendo a ne- cessidade de uma epistemologia da diversidade, dos saberes, já que há uma pluralidade de formas de conhecimentos existentes.

Nesse contexto, a educação popular permite questionar, proble- matizar e desconstruir algumas estruturas hegemônicas presentes na ciência, pois, a educação popular parte do princípio da impor- tância da valorização da realidade dos sujeitos, da diversidade de

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experiências e de saberes. A partir de vários aspectos abordados ao longo do Programa, há uma reflexão acerca da necessidade de emer- gir no patamar do sujeito e aceitar a realidade do outro, de trazer o multiculturalismo para o centro do debate, a fim de romper com a lógica da colonização do saber e da ciência eurocêntrica. Singer (2002, p. 8) explica que:

O capitalismo produz desigualdade crescente, verdadeira pola- rização entre ganhadores e perdedores. Enquanto os primeiros acumulam capital, galgam posições e avançam nas carreiras, os últimos acumulam dívidas pelas quais devem pagar juros cada vez maiores, são despedidos ou ficam desempregados até que se tornam inempregáveis, o que significa que as derrotas os marcaram tanto que ninguém mais quer empregá-los.

Alguns estudos investigativos desenvolvidos anteriormente apon- tam que o saber das comunidades não foi levado em consideração, sendo vislumbrado como o saber das frações, da classe subalterna e desigual. Essa invisibilidade dos sujeitos sociais se constitui um dos efeitos do capitalismo, da globalização enquanto uma “fábrica de perversidades”, conforme observou Santos (2001), no processo de construção da tirania do dinheiro, da informação, produzida pela con- centração do capital e do poder.

Conforme observou Paludo (2001), percebe-se, contudo, que os grupos excluídos, os flagelados e seres que estão à margem da socie- dade, continuam apostando na educação popular e na resistência. Conforme ressaltou Paludo (2001, p. 33), estes sujeitos que compõem estas classes populares possuem perfis diversos:

Indivíduos e grupos explorados economicamente, desvaloriza- dos e discriminados culturalmente e dominados politicamente [...] são os sem-teto. Na verdade, historicamente classe popular sempre foi considerada, são os negros sem dinheiro, as mulhe- res pobres, os trabalhadores da indústria, da agricultura e do comercio que não ganham o suficiente para sobreviver, os sa- coleiros, as prostitutas, os velhos desamparados, as crianças e os jovens da rua.

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Assim, conforme observou Paludo (2001), os grupos excluídos constituem-se nos sujeitos que não se encaixam no projeto de modernização, globalização do contexto atual e não participam dos rumos da economia do país. Há muito tempo o popular foi carac- terizado como o atrasado e o projeto de modernização burguês separou a sociedade em duas classes: os cultos e os incultos, o maior exemplo são os analfabetos, os quais só conseguiram o direito ao voto por volta de 1985, conforme frisou Paludo (2001).

Dessa forma, vale ressaltar que a educação popular, historicamente, foi realizada no campo e na cidade; em comunidades indígenas; em associações de bairros; em movimentos de mulheres, de jovens, de negros, capoeiristas, assentados; sem terras, quilombolas, junto aos jovens e adultos etc. Estes sujeitos, oriundos de grupos excluídos, advêm de espaços onde a carência de políticas públicas e de escola- rização remeteram ao desenvolvimento de práticas educativas de cunho popular. Assim, conforme observou Brandão (1985, p. 68), o que justifica a educação popular é o fato que:

O povo, no processo de luta pela transformação popular, social, precisa elaborar o seu próprio saber... A educação é popular quando, enfrentando a distribuição desigual de saberes, incorpo- ra um saber como ferramenta de libertação nas mãos do povo. Pelo que foi exposto antes, o fato é que se a educação popular pode ser entendida como uma atividade especifica (não é toda ação assistencial, de trabalho social ou de política educativa) ela, por outro lado, não requer ser realizada no interior do sis- tema educativo formal, separada do conjunto de práticas so- ciais dos indivíduos.

Na mesma direção do pensamento de Brandão (1985), observou Gadotti (2005) que a educação popular foi, e até hoje é, idealizada para os grupos excluídos, comprometendo-se em atender as neces- sidades dessas classes. A mesma objetiva utilizar os conhecimentos que os grupos excluídos já possuem como objeto para o ensino, valorizando os conhecimentos produzidos, a história de vida e o contexto real, vivenciados pelas diversas classes sociais, bem como,

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contribuir para mudança dessa realidade excludente vivenciada ainda por grande parte da sociedade com modos de produção capitalistas.

No que tange ao princípio da práxis da educação popular, segundo Paludo (2001), este vem referenciado na construção de uma prática educativa baseada na perspectiva de transformação da realidade, com uma dinâmica de ensino/aprendizagem que, simultaneamente, valoriza e provoca o envolvimento dos sujeitos em ações sociais concretas que auxiliam na interpretação crítica e no aprofundamento teórico necessário à atuação transformadora.

No seio da educação popular, conforme observou Freire (2011), o diálogo emana como encontro dos homens para a pronúncia do mundo, ao tempo que parte da perspectiva de valorização dos diferentes saberes, do respeito à cultura do campo e da produção coletiva do conhecimento, como condições fundamentais para a for- mação humana.

Algumas reflexões sobre economia solidária:

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 119-122)

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