• Nenhum resultado encontrado

Neoliberalismo e educação: considerações a partir de Gentil

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 158-161)

Para Gentili (1996), o campo educacional é espaço para a construção de um pensamento neoliberal, já que os discursos neoliberais unifi- cam as particularidades locais caracterizando os contextos regionais. O autor discute sobre a forma neoliberal de pensar e projetar a edu- cação e as consequências da exclusão promovidas pelas ideias em torno na sociedade.

O autor acredita que explicar o êxito do neoliberalismo é uma ta- refa complexa, oriunda da natureza hegemônica. Pensando nos efeitos, Gentili (1996) argumenta que o neoliberalismo revela uma dupla di- nâmica caracterizada por um processo de construção de hegemonia. Trata-se, também, de uma série de políticas econômicas e jurídicas, combinadas como alternativa de um poder, extremamente vigorosa,

No vas f or mas de subjetiv açã o e or ganiza çã o c omunitár ia 157

orientada a encontrar uma saída dominante para crise capitalista iniciada no final da década de 60 e tendo seu auge na década de 70 do século XX.

O neoliberalismo, então, passa a se transformar em um verdadei- ro projeto hegemônico, impondo uma forte mudança na dinâmica de reconstrução discursivo-ideológica da sociedade, originando um discurso persuasivo de diagnósticos nas políticas educacionais, por meio de estratégias argumentativas e de retórica difundida pe- los seus principais expoentes intelectuais, como pode ser visto pela fala do autor:

Com frequência costumamos enfatizar a capacidade (ou a in- capacidade) que o neoliberalismo possui para impor com êxito seus programas de ajuste, esquecendo a conexão existente entre tais programas e a construção desse novo senso comum a par- tir do qual as maiorias começam aceitar (a defender como pró- prias), as receitas elaboradas pelas tecnocracias neoliberais. O êxito cultural mediante a imposição de um novo discurso que explica a crise e oferece um marco geral de respostas e estraté- gias para sair dela - se expressa na capacidade que os neolibe- rais tiveram de impor suas verdades como aquelas que devem ser defendidas por qualquer pessoa medianamente sensata e responsável. Os governos neoliberais não só transformam ma- terialmente a realidade econômica, política, jurídica e social, como também conseguem que esta transformação seja aceita como a única saída possível (ainda que, às vezes, dolorosa) para a crise. (GENTILI, 1996, p. 2)

O autor acredita que os intelectuais neoliberais reconhecem a construção de um novo senso comum, um dos desafios pensados até então como prioritários, que pudesse garantir êxito na “cons- trução de uma ordem social” acondicionada pelo “livre-mercado”.

A partir das políticas educacionais foi possível permitir e reconhe- cer uma série de regularidades, espeficidades locais, que caracterizam as táticas de reforma escolar pensadas pelos governos. O autor acre- dita que há um consenso entre os conservadores intelectuais sobre

E duca çã o , Socieda de e Int er ven çã o 158

como enfrentar a crise educacional. O consenso provém de uma “formulação de diagnóstico”, que possivelmente explicasse os mo- tivos da crise citada por Gentili (1996, p. 6).

Desse modo, o neoliberalismo estabelece um conceito específico e de qualidade, consequência das práticas empresariais que se deslo- ca para o “campo educacional”. O autor discorre sobre a necessidade das instituições escolares serem pensadas e avaliadas, podendo pro- duzir um tipo específico de mercadoria, e suas práticas submetidas aos mesmos critérios de avaliação, como é feito em toda empresa. (GENTILI, 1996)

No entanto, a reforma educacional assume um cárater de ideali- zação dos currículos nacionais decorrentes de regimes neoliberais, ao mesmo tempo que, nesse ambiente de processos de “moderni- zação conservadora”, se alteram as configurações das políticas de formação dos docentes, “como pacotes fechados de treinamento, pensados de maneira centralizada, sem o envolvimento dos atores envolvidos no processo”. (GENTILI, 1996, p. 10-11)

Contudo, para Gentili (1996), a exclusão derivada do aumento da pobreza leva à acomodação de sociedades divididas estruturalmente, influenciando no acesso às instituições de ensino de qualidade e tam- bém na permanência, transformando em privilégio de uma minoria. A segregação educacional permeia por articulações que marginali- zam as classes de raça e gênero factualmente existentes em nossas sociedades. (GENTILI, 1996, p. 13)

A dinâmica social é assumida por estes processos, caracteriza- dos pelo capitalismo contemporâneo e pelas diferenças regionais manifestadas no contexto amplo do “sistema mundial”, como pode ser visto no seguinte trecho:

Por outro lado, e ao mesmo tempo, a crescente difusão de inten- sas relações de Corrupção - sendo a corrupção política apenas uma das expressões mais eloqüentes deste processo - tende a criar as bases materiais e culturais um tecido social marcado pelo individualismo e pela ausência de mecanismos de solida- riedade coletiva. (GENTILI, 1996, p. 13)

No vas f or mas de subjetiv açã o e or ganiza çã o c omunitár ia 159

A corrupção política é abordada aqui como um problema que per- passa o campo da moral, peculiar das elites políticas e econômicas, como uma lógica cultural e característica de processos de desagrega- ção e desintegração social. (GENTILI, 1996, p. 13) Essa “lógica cultural” adentra por todas instituições e aqui, em particular, nas instituições educacionais que tendem a promover nova forma de individua- lismo acentuado.

O pensamento neoliberal apontado por Gentili (1996) aborda as políticas educacionais como chance de tratado comercial, caracteri- zando o que o autor chama de “raízes da exclusão” e também da desigualdade. Esse modelo se reproduz através da exclusão e da desigualdade, ficando os países periféricos desassistidos e sem res- postas para as influências nas políticas educacionais. O neoliberalismo, segundo o autor, não tem estrutura para atuar contra os motivos es- truturais da pobreza.

Políticas educacionais no mundo

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 158-161)

Documentos relacionados