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Os desafios da educação sob a perspectiva da modernidade

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 103-107)

Na sociedade contemporânea, a educação se apresenta como algo de extrema relevância, segundo Pimenta e Anastasiou (2014), vive-se em uma sociedade em que a busca pelo emprego impõe aos trabalhadores uma constante exigência de qualificação.

Para as autoras, a educação seria um bem de consumo respon- sável pela sobrevivência social e financeira, mas não se resumiria apenas a isso, pois também é responsável pelo desenvolvimento do ser humano, no que diz respeito à busca pela igualdade social, pelo desenvolvimento econômico, humano, científico, cultural, político e tecnológico.

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Desse modo, a educação teria como tarefa

[...] garantir que se apropriem do instrumental científico, téc- nico, tecnológico, de pensamento, político, social e econômico, de desenvolvimentos cultural, para que sejam capazes de pensar e gestar soluções. Apropria-se dessa riqueza da civili- zação e dos problemas que essa mesma civilização produziu. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2014, p. 97)

De acordo com Gadotti (2012), quando pensamos em educação, torna-se necessário questionar que educação e a partir de qual pris- ma podemos analisá-la. Segundo o autor, é preciso indicar de que lugar, de qual território estamos falando, uma vez que, toda educação, necessariamente, é situada historicamente. Paulo Freire (2006, p. 23) afirma que a “história é possibilidade” e não determinação.

Não podemos renunciar à luta pelo exercício de nossa capa- cidade e de nosso direito de decidir e de romper, sem o que não reinventamos o mundo. Neste sentido insisto em que a História é possibilidade e não determinismo. Somos seres con- dicionados, mas não determinados. É impossível entender a História como tempo de possibilidade se não reconhecermos o ser humano como ser da decisão, da ruptura. Sem esse exer- cício não há como falarmos em ética.

Ainda segundo Gadotti (2012), visualiza-se que o processo edu- cativo se apresenta de forma contraditória. Para ele, educadores podem interferir sobre as realidades históricas, desde que reali- zem uma inserção sobre essas contradições, acirrando-as.

Os desafios para educação no contexto da modernidade são muitos e um dos pontos que precisa ser compreendido é a questão do pensamento eurocêntrico, que coloca a Europa como modelo principal a ser seguido e os demais países, principalmente os ditos em desenvolvimento, em uma posição de subalternos oriundos de uma periferia.

Buscando uma melhor visualização de como o pensamento eurocêntrico influencia e dita como a educação deve ser, torna-se

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necessário compreender a explicação do que seria a ideologia euro- cêntrica, e essa compreensão, segundo Dussel (2005), torna-se evidente a partir do momento em que se traz o “deslizamento semântico” do conceito de Europa.

Esse continente foi um dos principais protagonistas da política, da cultura e da economia do mundo moderno. A partir de uma perspec- tiva política, seu pensamento pretende desconstruir alguns marcos que limitam a análise da filosofia política e, dessa forma, inspira os povos desde as origens da humanidade.

Para Dussel (2005), a visão eurocêntrica tem como ponto de início a modernidade – fenômeno intraeuropeu que se pauta ex- clusivamente na Europa como berço da humanidade. A cultura europeia é posta como paradigma, modelo histórico e, por isso, pre- ferência mundial para todas as nações.

Segundo Freire (1989), o eurocentrismo também faz parte da forma de pensar, introjetado no dominado pelo discurso e pela prá- tica do dominador, e isto constitui o imaginário social que modela uma ideologia e a naturaliza, por isso, instaura-se como pensamen- to hegemônico.

De acordo com Dussel (2005), existe na visão eurocêntrica uma exaltação do pensamento europeu e uma extrema desvalorização dos demais conhecimentos, a interpretação do mundo é vista de forma dicotômica, sendo a modernidade compreendida como uma baliza de racionalização que inferioriza aqueles que estão na periferia, pois não compõem este centro, chamado Europa.

O pensamento da colonialidade propagado em narrativas histo- ricamente normatizadas é denunciado, sendo assim, tem-se, então, uma desconstrução de temas até então apresentados na perspecti- va da visão hegemônica da Europa sobre o mundo.

De acordo com Dussel (2005), pode-se afirmar que o pensamento da Europa como centro do mundo foi forjado a partir do século XVIII, fundado no Romantismo alemão e, por meio dos conceitos de Europa. Visualiza-se que a influência dos gregos foi diretamente criada para fortalecer o pensamento do centro e colocar os países em desenvol- vimento na periferia.

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Esse pensamento eurocêntrico perpassa pela educação, prin- cipalmente, a educação da América Latina, considerada, ainda na atualidade, como periférica. O percurso a ser seguido pelo processo educativo deve ser o mesmo seguido pela Europa, pois este está im- pregnado da concepção de que o espaço de desenvolvimento se dá a partir do “centro” e não da “periferia”.

Santos (2008) apresenta as crises vivenciadas pela universidade no século XX e discute como essa situação foi nociva. O autor se refere, primeiramente, a uma crise relacionada à hegemonia, podendo ser observada nas contradições entre a funções tradicionais e as que passaram a ser atribuídas à universidade, a partir do século XX. Segundo o autor, a universidade não se mantem como único agente de formação de mão de obra no atendimento às demandas do site- ma capitalista e, dessa forma, o Estado e instituições econômicas passaram a buscar esse formação em outros espaços.

Ainda segundo Santos (2008, p.14), a segunda crise estava re- lacionada à legitimitade, a universidade não tem consenso no que diz respeito à hierarquização dos saberes especializados. Assim, de um lado tem-se: “exigências sociais e políticas da democratiza- ção da universidade” e do outro: a “reivindicação da igualdade de oportunidades para os filhos das classes populares”.

A terceira crise, segundo Santos (2008), denomidada institucional, surge da contradição de reivindicação da autonomia, na perspec- tiva da universidade poder definir seus valores e objetivos e na constante pressão para que seja submetida aos critérios de eficácia e produtividade, impostos pelas questões empresariais e de respon- sabilidade social.

Santos (2008, p. 15-16) coloca que a crise institucional compro- meteu a sobrevivência da universidade:

A concentração na crise institucional foi fatal para a universida- de e deveu-se a uma pluralidade de factores, alguns já evidentes no início da década de noventa, outros que ganharam um peso enorme no decorrer da década. A crise institucional era e é des- de há pelo menos dois séculos, o elo mais fraco da universidade

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pública porque a autonomia científica e pedagógica da universi- dade assenta na dependência financeira do Estado.

Essa crise enfraqueceu por demais a universidade pública, o Estado, que até então era responsável pelo provimento financeiro das universi- dades, deixa isto de lado, reduz seu compromisso com as universidades e com a educação em geral, e, a partir desse momento, a educação por ser um bem público, não mais deveria ser financiada pelo Estado. Segundo o autor, a perda de prioridade, como bem público nas políticas públicas e a escassez de recursos, trouxeram a descapitalização e isso comprometeu a autonomia científica e pedagógica das universidades.

Pimenta e Anastasiou (2014, p. 168) afirmam que

No contexto atual, a universidade vem perdendo essa caracte- ristica secular de instituição social e tornando-se uma entidade administrativa; ou seja atuando segundo um conjunto de regras e normas desprovidas de conteúdos particulares, formalmente aplicados a todas as manifestações sociais. Transmudou-se em uma entidade isolada cujo sucesso e eficácia são medidos em referência a gestão de recursos e estratégias de desempenho, relacionando-se com as demais por meio da competição.

A perda pela universidade da característica de instituição so- cial vem contribuindo de forma negativa com a sua configuração. A perspectiva administrativa impõe uma visão de entidade que pa- ra ter sucesso tem que ser eficaz e eficiente em sua gestão. A perda desse objetivo social também pode ser relacionado aos encontros e desencontros entre e educação superior e educação básica.

Educação superior e educação básica

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 103-107)

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