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sobre o estresse na contemporaneidade

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 170-174)

Segundo Ramos (2004), nas últimas décadas foi dada maior im- portância ao mal-estar docente, chegando, inclusive, a Organização Internacional de Trabalho (OIT) reconhecer como profissão de suma importância para a sociedade e seu desenvolvimento. Entretanto, a Organização Internacional de Trabalho (OIT; UNESCO, 1984) destaca que os professores brasileiros enfrentam uma realidade que vai do sentimento de derrotismo ao adoecimento físico e mental que leva, por vezes, à incapacidade laboral e ao adoecimento/estresse. Essa si- tuação vivida pelo docente tem levado à “desistência na escola e da escola”. (PAPARELLI, 2009) Para Andrade e Cardoso (2012) é comum o estresse ocupacional, o descontentamento com o trabalho e altos níveis de fadiga e ansiedade que se apresentam acompanhados de problemas emocionais, podendo contribuir para o desenvolvimento de problemas comportamentais. De acordo com Esteve (1999), já em décadas passadas, percebe-se o aumento das responsabilidades e as exigências que se projetam sobre os docentes perante o novo processo histórico e as transformações que ocorrem no contexto sociocultural, as quais viabilizam a mudança do papel do docente.

Segundo Lipp (2003), a palavra “estresse” vem do latim stringere, que significa “rodear”. O estresse é uma tensão física ou psicológi- ca fora do habitual, que provoca um estado ansioso no organismo. Para Silva (2003), citado por Santos e demais autores (2010), a palavra estresse é derivada do latim, sendo empregada popularmente no sé- culo XVII, significando fadiga, cansaço, também denominado como síndrome da adaptação geral produzida por diversos agentes nocivos.

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Batista e Carneiro (2011) encontraram em sua revisão de litera- tura que níveis elevados de estresse ou de ansiedade podem estar associados a sintomas físicos, como dores de cabeça, diminuição de libido, insônia, fadiga mental, reduções da capacidade de con- centração e preocupação excessiva, sintomas semelhantes àqueles desencadeados pela depressão. Lipp (2001) definiu stress como “[...] uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz [...]”. (LIPP, 2001, p. 477) Assim, cada pessoa tem uma maneira de perceber o mundo e interpretá-lo em função de sua história de vida e suas experiências. Isso tem uma relação direta com a forma com que ele reagirá a uma determinada situação geradora de tensão que pode provocar, ou não, reação de ansiedade. Entretanto, depende da forma pela qual a pessoa interpreta essa situação e das suas habilidades de enfrentamento.

Conforme Arantes e Vieira (2002), a reação do estresse é um sistema unificado mente-corpo, que significa que as respostas orgâ- nicas não são isoladas. Há uma relação entre os diversos sistemas, e a exposição prolongada ao estímulo estressor pode acarretar adoe- cimento e alterações no comportamento, tornando necessário o uso de calmantes e ansiolíticos, recursos mais utilizados na atualidade. Martins (2004) explica que o estressor, fatores, fonte, situação, circuns- tância indutora ou desencadeadora de stress, no mesmo sentido, remete-nos à ideia de que os mecanismos para enfrentar o estresse são definidos como esforços, tanto direcionados à ação como pensamento interno, como para controlar as exigências e os conflitos ambientais.

De acordo com Gasparini (2005), a satisfação no trabalho é um construtor de natureza multifatorial, composto por diferentes fatores que se inter-relacionam. Esses fatores dizem respeito a características intrínsecas ao trabalho – inerentes à execução das tarefas ou a seu ambiente laboral –, e também a características extrínsecas – que não podem ser controlados pelo trabalhador. De acordo com o autor,

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as principais causas de estresse no trabalho são as poucas exigências do cargo em relação à capacidade do trabalhador, os desejos frustrados e a insatisfação com relação a metas positivamente valorizadas.

As características intrínsecas e extrínsecas com relação ao tra- balho e educação são hoje expostas de forma mais ardilosa e sutil, e aparecem como direito dentro de uma igualdade abstrata. O trabalho não é compreendido como única fonte de produção de valor, o que permite, portanto, nas relações de produção capitalistas, a expropriação, a mais-valia, mas como uma atividade que cria riqueza indistinta- mente para todos os homens. No bojo das teorias neocapitalistas, que incluem as perspectivas de cogestão e participação nos lucros, reforça-se a ideia de que a superação das desigualdades entre as classes é possível, sem a supressão da mais-valia, sem uma que- bra ou ruptura da lógica do valor. (FRIGOTTO, 2010) Horney (1984), em seu livro A personalidade neurótica de nosso tempo, apresenta a distinção entre a maneira normal e a neurótica de reação. Para ela, as condições de vida em todas as culturas ocasionam medos de várias origens – perigos externos, relações sociais, oposição a tradições culturais. Nesse novo modelo, “para o indivíduo “ser” necessariamente terá que “fazer”. Sua ação dialética no mundo produz conhecimento (fruto da cultura), que, por sua vez, produz o produtor.

Estamos na época do simultâneo, da justaposição, do próximo e do longínquo, do lado a lado, do disperso, do estado de apatia e do indiferente ao sofrimento humano. Bauman e Donkis (2011) discutem em “Entre o medo e a indiferença: a perda da sensibilidade” sobre uma crise no sistema educacional, no qual é descartada a prepa- ração ao longo prazo, e valorizada a de curto prazo, visando atender as exigências do mercado, podendo ser descartadas facilmente, caso não atinja as metas desejadas. Para Martín-Baró (1989), essa conexão com as necessidades e os interesses de uma classe social e a consciência de pertencer a um grupo passa a ser, para o indivíduo, uma refe- rência para sua própria identidade, criada a partir do sentimento de referência e pertença subjetiva a um grupo.

Ainda segundo Martín-Baró (1997), a importância que o seu tra- balho tem em uma sociedade dependerá do valor atribuído a ele.

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Esse antagonismo das classes sociais, estruturador da sociedade capitalista contemporânea, expressa-se em todo e qualquer grupo, mesmo nos grupos primários, cuja organização se realiza a partir de necessidades pessoais. Esta divisão em classes sociais é de tal profundidade que influi em todas as relações humanas que se pro- duzem no interior da sociedade.

Nesse sentido, a profissão docente, encerrada como modelos de solidez, foi capturada pelas transformações advindas dos acon- tecimentos históricos e sociais que alavancaram e delinearam esses tempos incertos, principalmente, com o advento da internet que, segundo Morin (1997), constrói novos estratos no sistema de desen- volvimento da conduta do homem ao impor os seus modos de divisão, de classificação, exatamente como uma língua, pelas suas rubricas obrigatórias (e não apenas pelas exclusões), obriga a pensar de uma certa maneira.

Segundo Gentili (1998), as reformas educacionais realizadas sob a égide do neoliberalismo como simulacro da democracia conduzem a implantação do corpo doutrinário neoliberal que assume duas modalidades de argumentação, a instrumental e a fundamentalista. Ambas se constituem em crítica ao estado de bem-estar. Com isso, na sociedade capitalista não existe vinculação entre as tarefas efetivas da organização do trabalho do povo e o ensino. Conforme Machado (1991), verifica-se um ensino morto, escolástico, oficial e vi- ciado de influências do capital, que obriga em toda a parte, mesmo nas repúblicas mais democráticas, a eliminar dele tudo o que há de fresco e saudável. Desse modo, o ato pedagógico que advém desse real contexto educativo, social e político revela-se, evidentemente, na identidade pessoal e profissional do docente.

Essa concepção de educação unida ao trabalho, para sua realização, implica a supressão das divisões e desigualdades da sociedade atual, em particular a divisão social do trabalho, de onde emana a distin- ção no exercício do poder entre os que são proprietários e os que não são. Dessa forma, o mercado, que é um regulador, fundamenta- -se na meritocracia.

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As pressões do ambiente de trabalho que podem

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