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O que dizem as pesquisas sobre cordel?

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 32-36)

Santos (2016) discutiu sobre a história da literatura popular e objetivou compreender, através do olhar de um poeta da literatura popular, o contexto político e social nas décadas de 1970, 1980 e 1990, propondo-se a observar os eventos e figuras políticas que marcaram a sociedade, dentro do período histórico delimitado, discutindo como o cordel influenciou as construções e reafirma- ções de opiniões e escolhas políticas. Destacou-se, ainda, o processo de criação do cordel, o qual envolve várias pessoas, participando e colaborando com a função do outro, mas tendo o cordelista como peça chave, para fazer toda a articulação das informações e para que o produto final tenha coerência. Um dos elementos mais importantes

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do cordel é a capa, pois é a primeira imagem que o leitor tem contato, que em geral são compostas pelo título, nome do autor e imagem.

A autora trouxe, ainda, que a institucionalização da poesia po- pular pela Associação Brasileira de Literatura de Cordel emergiu da necessidade dos poetas que buscavam por espaços públicos para venda e apoio financeiro de patrocinadores para publicação dos folhetos, sem esquecer da preocupação em manter a tradição e a cultura dos folhetos de cordel. Os folhetos/cordéis podem ser de entretenimento ou de acontecimentos, o que modifica o seu tempo de vida, tendo em vista que os folhetos de acontecimentos são destaca- dos como uma das demandas que tem como característica a urgência em compor, publicar e vender o que se passa no presente, enquanto o de entretenimento exige do poeta maior qualidade da narrativa.

A metodologia utilizada consistiu em um estudo de abordagem de pesquisa qualitativa, que apesar da utilização das obras de um único poeta cordelista, o estudo não se constitui como biográfico, tendo como sujeitos Maria José da Silva (sua sobrinha), os cordelistas que tiveram longo tempo de convivência com o poeta, e os próprios folhetos, como instrumentos o registro, catalogação e digitalização do acervo de Apolônio dos Santos. A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Sergipe, na cidade de São Cristóvão, portanto na Região Nordeste no Brasil.

O estudo de Pereira (2018) dissertou sobre a forma que as narrati- vas dos cordéis escritos por Leandro Gomes de Barros (1865-1918, PB) interpretaram e retrataram as modificações sociais, culturais e polí- ticas, advindas com o nascimento da República do Brasil. Tendo como objetivo geral entender a forma com que estas narrativas escritas pelo grande Leandro Gomes de Barros (1865-1918, PB) discorreram sobre as modificações sociais, culturais e políticas, advindas com a nas- cente República do nosso país, com o seguinte problema de pesquisa: como a literatura de cordel ajuda a pensar os procedimentos moder- nos da Primeira República? Levando à conclusão de que os cordéis produzidos por Leandro Gomes de Barros retratam a voz do povo, e os anseios populares: acerca dos elementos econômicos e sobre

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fatores da soberania nacional e políticos e, por fim, mas não menos importante, a presença do calçamento, dos profissionais liberais, dos jornais e do hábito de ler e da leitura. Pereira (2018) aborda que, no início, o cordel, ou literatura popular nordestina, foi marcado pelos folhetos portugueses, tendo o seu início atrelado também ao repente, delimitando seu interesse no cordel, produção escrita.

Tendo como parte do seu público leitores analfabetos, o autor destaca que a capa se constitui como uma isca para os leitores, pois a imagem que antecede ao texto auxiliará no entendimento da história pelo público leitor. Ponto forte e característico do cordel, a melodia indica um recurso facilitador na partilha do pensamento, das histórias e que contribui significativamente para a construção de uma opinião sobre o determinado assunto ou acontecimento tratado na narrativa, contribuindo também para a formação de uma opinião pública. Nesse sentido, o cordelista seria a representação da voz do povo a respeito dos fenômenos e das experiências de vida do nordestino.

A metodologia utilizada consistiu em um estudo de abordagem qualitativa, através da análise de conteúdos, o locus da pesquisa foi o acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, tendo como sujeito da investigação Leandro Gomes de Barros e suas pro- duções, e como instrumentos de coleta das informações o software Atlas Ti. Esta pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA, em Salvador-Bahia.

Dando continuidade, o estudo de Brandão (2017) investigou, com base no acervo da Coleção Literatura Popular da Fundação Rui Barbosa, a invenção e a construção do popular na literatura de cordel, com o objetivo de compreender a literatura de cordel no seu processo de construção histórica, tendo como referência este arquivo, que dispõe de um dos maiores acervos do gênero no país: o da Fundação Casa de Rui Barbosa, buscando entender como um texto que se constituiu na oralidade se fez manuscrito e impresso e agora é amplamente difundido na internet. Concluindo que este trabalho inicial de construir um acervo se deu pela necessidade

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dos intelectuais em estudar, hoje, este rico acervo está disponível para um público diverso, mais difundido, conhecido e consumido.

Brandão (2017) revelou que foram os folcloristas os primeiros estudiosos que despertaram o interesse nas literaturas populares ao ponto de catalogar, estabelecer uma geografia e uma temática. Assim, a construção de um acervo sobre a literatura de cordel possibilitou a ampliação deste gênero como fonte de pesquisa, discutindo questões como a produção, consumo, público leitor. Os anos 1970 e 1980 foram marcados como o período grandioso da literatura popular em verso, pois foi o período em que as universi- dades, instituições de pesquisa e governos, passaram a conter esta literatura em seus acervos. Esta pesquisa foi realizada no estado do Ceará.

Albuquerque, Oliveira e Gaudêncio (2015) abordaram as memó- rias dos poetas populares na internet, pensando as possibilidades de preservar a memória da poesia popular, particularmente a me- mória da vida e da obra de seus autores, por meio da adoção de recursos tecnológicos, concluindo assim que o uso de ferramentas online pode viabilizar a preservação e o acesso aos artefatos da me- mória coletiva da poesia popular e, de algum modo, fazer ecoar as vozes silenciadas por processos coercitivos ou não.

Na pesquisa de Albuquerque, Oliveira e Gaudêncio (2015) ficou evidenciado que a Região do Nordeste brasileiro possui elemen- tos culturais que a caracteriza, a exemplo da literatura de cordel, inserida no Brasil a partir de meados do século XIX, com relevância nesta Região, incorporando a esta literatura os fatos próximos de sua realidade. Os autores disseram que é necessária uma relação sincrônica entre a memória erudita e a memória popular, possibi- litando um diálogo entre as ciências, bem como o entendimento de suas aproximações e seus distanciamentos. Ainda de acordo com os autores, o despertar de outras culturas pela literatura de cordel revela que esta não é uma subliteratura, mas que a falta de infor- mação a seu respeito a deixa à margem.

A metodologia empreendida na pesquisa foi de abordagem qualitativa, desenvolvida em duas fases, a primeira estritamente

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documental e a segunda bibliográfica. Destaca-se que a investigação foi realizada no estado da Paraíba, na Universidade Federal da Paraíba, campus I, em João Pessoa - PB.

No documento EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (páginas 32-36)

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