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Capítulo VI – REFLEXÕES FINAIS 121

6.1.   As ferramentas Web 2.0 no Mestrado em Multimédia em Educação 121

6.1.1. Utilização das ferramentas Web 2.0 pelos alunos

Ao longo da componente curricular do Mestrado em Multimédia em Educação, edição 2006/2007, foram várias as ferramentas utilizadas pelos alunos para o desenvolvimento e articulação do trabalho desenvolvido à distância. No contexto específico da disciplina de Tecnologias da Comunicação em Educação, onde o projecto apresentado tornava imperativa a articulação e comunicação entre os diferentes grupos de trabalho, a adopção de ferramentas que ultrapassassem a fronteira da plataforma e permitissem uma maior abertura e comunicação entre os grupos tornou-se essencial.

Orientados para trabalhar com um conjunto de ferramentas-base – blogs, wiki e social bookmarking – os alunos não só adoptaram essas ferramentas como desenvolveram estratégias e sistemas de comunicação e troca de informação que lhes permitiram, em tempo útil, solucionar os diferentes problemas e questões decorrentes do trabalho.

Numa primeira análise à utilização das ferramentas Web 2.0 durante uma das disciplinas da componente curricular do Mestrado, verificou-se – pela observação dos níveis de utilização em

Reflexões finais

cada uma das ferramentas – que o blog foi aquela que registou uma utilização mais intensiva e regular, com um total de 358 participações registadas.

Nesta disciplina, a utilização dos blogs surge em segundo lugar na análise quantitativa, quando comparada com a utilização dos fóruns disponibilizados pela plataforma LMS da instituição (358 contra 482 mensagens publicadas). No entanto, a análise de conteúdo efectuada (baseada no modelo de colaboração apresentado por Murphy, 2004) permite observar que, enquanto as mensagens publicadas nos fóruns traduzem de certa forma os níveis mais básicos da colaboração – presença social, perspectivas individuais e acolhimento de perspectivas do outro –, as mensagens publicadas nos blogs de grupo reflectem a dimensão colaborativa do trabalho, desde a construção de significados até à produção de artefactos partilhados.

Comparando a observação da utilização da ferramenta em TCEd com as respostas aos questionários e focus group – onde a questão da utilização era alargada a toda a componente curricular do mestrado –, e embora referenciado por um dos entrevistados como não tendo sido muito utilizado pelo grupo de trabalho, o blog é referido por 40% dos respondentes ao questionário como sendo a ferramenta mais utilizada pelo grupo, e por 20% como a segunda mais utilizada.

A associação de termos como “partilha”, “discussão” e “participação” a esta ferramenta poderá traduzir a sua dimensão colaborativa e justificar a sua importância para o desenvolvimento do trabalho colaborativo.

No que diz respeito à wiki, verificou-se que em TCEd, apesar de se ter registado um total de 1173 edições entre os dias 9 e 23 de Novembro, a utilização mais intensa corresponde às datas dos momentos de avaliação: 13 de Novembro e 22 de Novembro.

Conforme referido em 5.2.1.2, o facto de a análise ser meramente quantitativa (não se distinguindo entre edições simples ou mais complexas) não permite reflectir sobre a qualidade das intervenções e, por esse mesmo motivo, aferir – pela observação – se a ferramenta terá sido utilizada para o desenvolvimento do trabalho ou apenas para a publicação dos relatórios.

No entanto, e estendendo a análise à restante componente curricular, no focus group realizado quatro dos seis participantes (representantes de quatro grupos diferentes) referiram que o desenvolvimento dos trabalhos do grupo se terá processado através da utilização de outras ferramentas que não a wiki – nomeadamente ficheiros Word com registo de alterações e ficheiros GoogleDocs. O trabalho final teria sido posteriormente publicado nas wikis das disciplinas, que funcionariam, desse modo, mais como um repositório do trabalho construído do que como uma plataforma colaborativa.

Embora associada a “partilha” e “colaboração” – informação recolhida no questionário – a pouca utilização da wiki poderá ser justificada pelo seu carácter pouco amigável e intuitivo (motivo apresentado quer no focus group quer nas respostas aos questionários), pelo incremento da probabilidade da ocorrência de edições por elementos externos aos grupos (edições acidentais) e

pela dificuldade em seguir o registo das alterações efectuadas pelos diferentes elementos (motivos apresentados durante o focus group).

Por fim, e relativamente à última ferramenta da Web 2.0 analisada em maior profundidade neste estudo – o social bookmarking – o reduzido número de bookmarks adicionados no grupo do Mag.nolia poderá ser revelador de que a adesão à ferramenta não foi uma realidade. Com um total de 17 bookmarks registados, a utilização do Mag.nolia ocorreu apenas no período compreendido entre os dias 1 e 13 de Novembro.

Como justificação para a reduzida utilização da ferramenta ao longo da componente curricular do mestrado, e embora seja associada ao termo “partilha” por 40% dos respondentes ao questionário, poderá ser avançado o seu carácter pouco intuitivo e relativamente confuso (opinião de dois participantes do focus group). Apesar de cerca de 73% dos respondentes ao questionário concordarem quando se afirma que estas ferramentas capitalizam o trabalho realizado pela comunidade, quando questionados sobre quais as ferramentas mais utilizadas pelo grupo de trabalho o social bookmarking é referenciado apenas em quinto lugar.

Relativamente às ferramentas de comunicação síncrona, a análise das respostas dos questionários revelou ainda que o Messenger e o Skype, seguidos pelo google talk, terão sido as mais utilizadas nos diversos grupos de trabalho.

6.1.2. Razões para adopção e resistência

Para além das razões acima referidas, a análise das respostas ao questionário e focus group permitiu o levantamento de um conjunto de motivos mais abrangentes que poderão estar na origem da adopção das (ou resistência às) ferramentas Web 2.0 no Mestrado em Multimédia em Educação.

Assim, o espírito de partilha, o trabalho colaborativo e a possibilidade de interacção com o grupo são apontadas como as principais razões para justificar a utilização das ferramentas (respostas obtidas pelo questionário), aliadas à imediaticidade da comunicação e à necessidade de articulação com diferentes grupos (respostas obtidas no focus group). No que diz respeito aos motivos para a resistência, a problemática da propriedade intelectual surge como um condicionante para a sua não utilização. O desconhecimento da tecnologia e a falta de formação inicial são apontados pelos respondentes ao questionário como as principais razões para a resistência à utilização das ferramentas Web 2.0 no Mestrado.

Reflexões finais

6.1.1. A componente avaliação e a utilização das ferramentas

A aferição da influência da avaliação na maior ou menor utilização das ferramentas Web 2.0 será, de todas as questões definidas, aquela mais difícil de responder através da observação das participações tomando como referência as datas de entrega dos relatórios. Se, por um lado, se observa uma utilização regular das ferramentas de discussão (blogs e mesmo fóruns) ao longo de toda a disciplina, por outro, no que diz respeito à ferramenta de edição colaborativa wiki – e conforme referido em 6.1.1 – registou-se um maior número de intervenções nas datas correspondentes aos momentos de avaliação.

Mesmo considerando as respostas dos entrevistados no focus group, verifica-se que a opinião também não é unânime. De facto, enquanto dois participantes (pertencentes ao mesmo grupo) associam o envolvimento e a utilização das ferramentas ao conhecimento prévio de que seriam parte integrante da avaliação, um outro elemento dissocia a participação da avaliação ao referir que esta (participação) terá ocorrido independentemente da avaliação e apenas quando justificado. Recorrendo às respostas obtidas pela aplicação dos questionários, observa-se que 67% dos respondentes (10 em 15) concorda quando se afirma que a componente avaliação – ou seja, o facto de se estar a ser avaliado – influencia o grau de utilização das ferramentas.

Os dados recolhidos não permitem aferir, pela simples observação e análise, a influência da componente avaliação na maior ou menor utilização das ferramentas. Contudo, e partindo de uma intervenção do docente de TCEd, Carlos Santos, avançada na entrevista exploratória, algumas ferramentas terão continuado a ser utilizadas em outras disciplinas da componente curricular, mesmo quando não faziam parte do plano de avaliação.

Assim, a “Wiki do MMEd80” continuou a ser editada e compilada durante as três disciplinas que se seguiram, funcionando como ferramenta de edição colaborativa para a elaboração dos relatórios. Uma vez que a análise das edições se confinou à disciplina inicial (TCEd), não é possível efectuar uma análise comparativa entre o grau de utilização desta ferramenta em TCEd e nas restantes disciplinas.

6.1.2. O papel do docente

De acordo com o que foi definido na introdução do capítulo IV, pretendia-se ainda com o presente estudo a análise da influência do docente, enquanto utilizador das ferramentas, na maior ou menor utilização pelos alunos.

Tomando como ponto de partida os quadros comparativos apresentados em 5.2.1.1.2 – “análise quantitativa: distribuição de respostas” –, verifica-se que enquanto as intervenções dos

80

alunos no fórum geral consistem sobretudo em respostas a questões colocadas pelo docente, no fórum gestão existe quer uma predominância de tópicos quer de respostas publicadas pelos alunos.

Não tendo sido efectuada a mesma análise aos blogs – o facto de a autoria dos posts nessa ferramenta ser sempre dos grupos responsáveis invalidava essa análise – a aferição do papel do docente enquanto elemento motivador da utilização das ferramentas resultou da análise das respostas obtidas durante o focus group.

Assim, e de acordo com os comentários dos participantes, poder-se-á afirmar que o professor actuou como agente de motivação na exploração das ferramentas: o entusiasmo do docente na apresentação e demonstração das ferramentas Web 2.0 e a própria experiência de utilização actuaram como prescritores das vantagens da tecnologia, incentivando a sua adopção e exploração.