Capítulo IV – METODOLOGIA 63
4.4 Construção dos instrumentos de observação e recolha de dados 77
4.4.1 Grelhas de observação quantitativa 77
4.4.1.1 Grelhas de observação qualitativa 79
No que diz respeito à análise qualitativa das participações – a partir da qual se procuraram encontrar as evidências de colaboração e dar resposta a algumas das questões de investigação – esta incidiu na classificação das participações de acordo com a sua relevância para a construção da comunidade, tendo sido utilizado o modelo de colaboração de Murphy (2004) para a elaboração da grelha de análise das participações.
Ao contrário da análise quantitativa – em que se contabilizaram as participações de cada indivíduo em cada um dos tópicos criados – definiu-se uma estratégia de recolha que reflectisse menos a presença individual de cada elemento e que incidisse, de forma mais vincada, na dimensão da presença do grupo e na evolução das participações ao longo da disciplina. Nesse sentido, para além das categorias principais definidas pelo modelo, acrescentou-se uma outra categoria na análise dos fóruns de grupo e geral – participações em nome do grupo – e duas outras na análise dos blogs de grupo – participações de grupo e intervenções de elementos de outros grupos.
A inclusão destas últimas categorias, posterior à recolha baseada no modelo de Murphy (2004), possibilitou uma análise mais detalhada que contemplou não só os posts publicados em nome do grupo (sem identificação do autor e utilizando verbos na primeira pessoa do plural) possíveis de traduzir um trabalho de coordenação de perspectivas e análise da informação, como também posts publicados por elementos de outros grupos, reveladores de interacção e discussão.
4.4.1.1.1 Parâmetros observados
O modelo de colaboração de Murphy (2004) apresenta a construção colaborativa do conhecimento como um processo que se articula em cinco fases ou níveis: presença social; articulação de perspectivas individuais; acolhimento ou reflexão das perspectivas do outro; co- construção de perspectivas e significados partilhados; construção de objectivos e propósitos partilhados; e produção de artefactos partilhados.
De acordo com Murphy (2004), “Collaboration begins with interaction – participants show awareness of each other’s presence and begin to relate as a group” (Murphy, 2004:422). Nesse sentido, são definidos seis indicadores passíveis de serem utilizados na aferição da existência de
Metodologia
presença social: a partilha de dados pessoais, o reconhecimento da presença do grupo e a expressão de apreciação pelos outros participantes, a expressão de sentimentos e emoções, a definição de objectivos relacionados com a participação e a expressão de motivação relativamente ao projecto.
Surgindo como manifestações concretas da personalidade dos elementos do grupo, estes indicadores permitem o desenvolvimento do sentido de comunidade e possibilitam a passagem para o segundo nível, designado pela autora (2004) como o de articulação de perspectivas individuais. Mesmo não existindo referência explícita das perspectivas do outro ou solicitação de feedback, os indivíduos progridem no processo de interacção pela partilha de opiniões pessoais ou articulando perspectivas individuais. Assemelhando-se por vezes a um conjunto de monólogos (Henri, 1995, apud Murphy, 2004), concretizam-se quer em manifestações de opiniões quer na referência ou sumarização de conteúdos, sem que exista, contudo, referência a participações ou comentários anteriores.
No terceiro patamar, definido por Murphy (2004:423) como “a prerequisite towards building knowledge and constructing new meanings”, e existindo já a percepção e reconhecimento da presença de outros elementos do grupo, os elementos da comunidade envolvem-se na articulação de pontos de vista e na reflexão do pensamento do outro. Deste processo resultará a identificação de áreas de concordância ou discordância, essenciais para o surgimento e reestruturação de pensamento – a quarta fase do processo.
O quinto nível caracteriza-se pelo trabalho conjunto em direcção a objectivos comuns e partilhados, conducentes à produção de um conhecimento ou produto partilhado65 que concretiza o processo de colaboração.
Tomando como ponto de partida o modelo apresentado por Murphy (2004), procedeu-se de seguida à definição dos parâmetros e indicadores a serem observados e identificados na análise das participações. Algumas das evidências recolhidas são apresentadas no quadro que se segue.
Parâmetro | Presença Social [S]
Cód. Indicador Evidências detectadas
SP
Partilha de informação pessoal "O meu nome é [x] e sou a mais recente aluna O meu nome é [x] e sou licenciada
Chamo-me [x] e tenho 26 anos
SR Reconhecimento da presença do grupo Olá professor. Boa tarde, Viva! Olá! SC Cumprimentar / expressar
apreciação pelos outros
Sim, Marco... acabei de ver, parece-me muito boa ideia
65
Murphy (2004) refere-se a este objecto como “artifact”, algo de valor que surge como resultado do processo de colaboração.
participantes Acho fantástica a sua abertura
Muito obrigada Isabel, o teu print screen não podia ser mais claro
SF
Expressão de sentimentos e emoções
Peço desculpa pela minha "falta de atenção"... Ainda é tudo muito novo, mas não é tão complicado como pensava.
Gostaria apenas de lhe fazer um desabafo…
SG
Afirmação de objectivos ou propósitos relacionados com a participação
Este ano inscrevi-me no mestrado em Multimédia em Educação, para ver se os horizontes se abrem um pouco mais! Espero, sinceramente daqui a um mês poder dizer, sei o que são e como funcionam!!! :-))
SM
Expressão de motivação relativamente ao projecto ou à participação
Respostas sinceras..que me deixaram com vontade de pesquisar...
Amanhã lá estarei para ouvi-lo com toda a atenção
Parâmetro | Articulação de perspectivas individuais [I]
Cód. Indicador Evidências detectadas
IO
Afirmação de opinião pessoal ou crenças sem fazer referência às perspectivas do outro
A nível de desvantagem, penso que se prende com o facto eventual de…
Penso destacarem-se a facilidade de troca de informação…
IS
Sumarização ou referência a conteúdo sem fazer referência às perspectivas do outro
Segundo a Wikipédia: O termo Web 2.0 refere- se…
O texto sobre a Web 2.0 como leitura introdutória situou inúmeras questões…
Parâmetro | Acolhimento ou reflexão das perspectivas do outro [P] Cód. Indicador Evidências detectadas
PD
Discordância directa / desafio às afirmações avançadas por outro participante
Lamento discordar no que diz respeito à falta de condições materiais nas escolas...
PI
Discordância indirecta / desafio às afirmações avançadas por outro participante
Compreendo a diferença entre um e outro. A minha questão (mas nem sei se faz muito sentido!!) é, se é correcto falar
Gostei de ler a tua opinião, acho-a interessante (…). Mas, o processo de utilização de blogs…
PN
Introdução de novas perspectivas Verifiquei hoje uma desvantagem, mas que não é muito generalizável
Concordo com o que disseste, no entanto há outra questão que coloco: e a questão da polissemia das palavras?
PC
Coordenação de perspectivas Parece-me que o relatório está de acordo com o solicitado (talvez um pouco extenso). Tem os aspectos que fomos conseguindo…
Parâmetro | Co-construção de perspectivas e significados partilhados [C] Cód. Indicador Evidências detectadas
CI
Partilha de informação e recursos Encontrei um link com informações importantes…
Hoje, encontrei uma plataforma muito interessante.
CA
Solicitação de classificação/ elaboração
Eles respondem onde e como? Têm que enviar ao professor? Isso não está indicado ou eu não vi?
CQ Colocação de questões retóricas Estarei enganado? Mas mesmo que aquilo que descrevi não esteja de todo correcto, só tenho
Metodologia
a dizer que é pena.
CF
Solicitação de feedback Mas gostaria de mais informações precisas, please.
Estou a pensar correctamente sobre a abordagem a esta alínea?
Venham esses comentários!
CP
Provocação de pensamento e discussão
Depois desta investigação toda sobre pacotes SCORM, chego à conclusão que possuem uma estrutura comportamentalista. Mas o e- Learning deveria ter uma filosofia construtivista. Estarei errado?
CR Resposta a questões Quanto à caracterização dos casos de estudo, eu julgo que deve antes passar
CS
Aconselhamento não se esqueçam que antes de gravarem
qualquer coisa lá, é sempre possível fazer um “mostrar previsão” primeiro
é importante testar os objectos que se estão a fazer, continuar a passá-los…
Parâmetro | Construção de objectivos e propósitos partilhados [B] Cód. Indicador Evidências detectadas
BP Proposta de objectivo ou propósito partilhado
Será que conseguiremos… em conjunto?
BW
Trabalho conjunto em direcção a um objectivo partilhado
Já foram criadas as WIKIS para cada grupo poder ir elaborando o seu relatório.
Após alguns atrasos e contratempos, surge esta proposta para a “rede” do CAEDA
O quintrilho concorda c as soluções apresentadas pelo @aveiroconnections em relação à aquisição…
Parâmetro | Produção de artefactos partilhados [A]
Cód. Indicador Evidências detectadas
AD
Documentos ou outros artefactos produzidos pelo trabalho conjunto de elementos do grupo
Ainda que sem medidas (com tanta tecnologia e vamos ter que a medir à régua…lol)… já temos planta do CAEDA
Wiki MMEd e blogs de grupo
Parâmetro | Posts publicados pelo Grupo [G]
Cód. Indicador Evidências detectadas
PG
Posts ou comentários publicados pelos alunos em nome do grupo, sem identificação do autor
Vamos corrigir o problema. Obrigado. Cumprimentos DOT.COM
É óptimo receber este tipo de feedback. Obrigado, Reset
Boa noite! O quintrilho concorda c as soluções apresentadas
Parâmetro | Posts publicados por alunos de outros Grupos [OG] Cód. Indicador Evidências detectadas
POG
Posts ou comentários publicados pelos alunos nos blogs de outros grupos
Viva,
Parece que a aquisição do bastidor será da vossa responsabilidade mesmo!
Desculpem, pode ter-me escapado alguma coisa, mas tinha percebido que o vosso grupo estava a tratar do bastidor para a sala de informática
As duas últimas categorias adicionadas poderão ser definidas como dois níveis caracterizados pela diluição do papel individual e o assumir da pertença ao grupo (PG) e pela afirmação da colaboração inter-grupos (POG), concretizada na troca de opiniões e na intervenção do espaço de publicação de outro grupo.
A análise e classificação das participações incidiram na mensagem como um todo (Gunawardena, 1997; Murphy, 2004) e não em segmentos de mensagem ou mesmo expressões, o que justifica a inclusão de uma mesma participação em múltiplas categorias. De referir ainda que as mensagens foram classificadas de acordo com o contexto em que surgiram, no decorrer da discussão, e não de forma independente e descontextualizada, o que possibilitou uma análise mais segura do conteúdo das mensagens.
As mensagens recolhidas e classificadas de acordo com os parâmetros definidos foram, de seguida, objecto de análise e descrição. O capítulo que se segue procura apresentar, para além de um breve enquadramento e contextualização, a análise dos dados e da informação recolhidos ao longo do estudo.
Estudo de caso
ferramentas Web 2.0 e Comunidades de Aprendizagem no Mestrado em Multimédia em Educação