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As Finanças Públicas na Mesopotâmia e no Antigo Egito

2.1 TEORIA DAS FINANÇAS PÚBLICAS

2.1.1 Origem e Evolução das Finanças Públicas

2.1.1.1 As Finanças Públicas na Mesopotâmia e no Antigo Egito

A falta de registros e estudos a respeito de finanças públicas poderia ser explicada, presumivelmente, pelo fato de que nos antigos impérios da Mesopotâmia e do Egito eram desconhecidos os princípios da democracia e da separação dos poderes, e que o poder então exercido o era na forma autocrática, onde, não raras vezes, o soberano era considerado como um mandatário dos deuses, como no caso dos impérios da Mesopotâmia, ou, até mesmo, um deus vivente, como no caso dos faraós do Egito. Tal situação pode ser explicada em virtude da importância da religião na vida daquelas antigas civilizações, onde comumente se confundiam as finanças públicas com as finanças do governante, sendo tudo administrado pelo tesoureiro real, sem que o imperador se obrigasse a prestar contas ao povo.

De acordo com Silva (2004-b, p. 195), nas sociedades antigas, o patrimônio público era considerado propriedade exclusiva de quem detinha o poder político e, por conseguinte, o príncipe podia dispor livremente dos bens da comunidade que se confundiam com seus próprios bens. Não existia orçamento público nos moldes atuais, já que não havia limites para gastar e as contribuições dos súditos eram determinadas pela vontade soberana do príncipe. Em decorrência dessa situação, as poucas normas de controle que foram adotadas nas sociedades antigas como Egito, Grécia e Roma obedeciam tão-somente ao interesse do monarca e tinham por objetivo muito mais assegurar a fidelidade dos administradores do que o controle das mutações ocorridas no patrimônio público.

A propósito da religião nos impérios da antiguidade, os estudos de Perry (2002, p. 8) destacam que:

A religião foi a força central nessas civilizações. Ela oferecia explicações satisfatórias para os fenômenos da natureza, contribuía para reduzir o medo da morte e justificava as regras tradicionais da moral. A lei era considerada sagrada, um mandamento dos deuses. A religião unia as pessoas nas tarefas comuns necessárias à sobrevivência – por exemplo, a construção e manutenção de obras de irrigação e o armazenamento de alimentos. A religião também promovia atividades criativas na arte, literatura e ciência. Além disso, o poder dos governantes, considerados como deuses ou agentes dos deuses, vinha da religião.

Discorrendo a respeito do assunto, Gastaldi (1999. P. 40) considera que na Antiguidade clássica, abrangendo as civilizações mais antigas como as da Babilônia, China, Assíria, Mesopotâmia, Egito e outras, desde o ano 4.000 até o ano 1.000 a.C., os fatos e os fenômenos econômicos não mereceram especial atenção, dadas as condições próprias dessas sociedades ainda primitivas, subjugadas por governos teocráticos e com seus povos em regime de escravidão. A atividade econômica ainda não dispunha dos necessários instrumentos e instituições, desenvolvendo-se de forma embrionária, em compartimentos sociais geralmente estanques, com a predominância de uma economia de autossubsistência em agrupamentos isolados, com mercados restritos e desprovidos de meios de transporte terrestres e com navegação costeira, ainda não se aventurando ao mar aberto.

De qualquer forma, não se pode descartar a eventual possibilidade de que, já naqueles remotos tempos, esses antigos impérios poderiam sentir a necessidade, no tocante ao aspecto militar, da instituição de tributos para serem cobrados das populações dos territórios conquistados para, dessa forma, poder fazer frente aos gastos com a manutenção de seus numerosos exércitos.

Cabe lembrar, ainda, que nos impérios daqueles tempos, devido à religião ser a força central daquelas civilizações, conforme ressaltado acima, a maior parte desses reinos contava com um panteão de deuses, dentre os quais se sobressaía a figura de seu deus patrono, sendo que o papel de pontífice máximo das religiões de então era comumente exercido pelo próprio imperador ou faraó.

Em decorrência da situação acima descrita, pode-se então presumir que os assuntos relativos ao ofício religioso poderiam resultar na emergência de problemas

os mais variados, dentre os quais alguns poderiam até mesmo demandar a necessidade de uma tomada de decisão por parte do próprio governante.

Dessa forma, não se pode descartar que questões pertinentes à instituição de contribuições ou dízimos (cobrados dos súditos para os serviços dos templos como forma de se angariar recursos para suportar as despesas com a manutenção da casta sacerdotal), ao planejamento e construção de edifícios para os templos, bem como à edificação de estátuas, pirâmides e demais monumentos, seriam considerados assuntos de tal relevância, que poderiam vir a demandar até mesmo a interveniência e opinião do soberano, como se infere que tenha ocorrido no Antigo Egito.

Além da religião, também a irrigação era uma questão importante para os impérios antigos. A respeito do assunto, Perry (2002, p. 9) ensina que no processo de se construir e manter redes de irrigação, o homem aprendeu a formular e a obedecer às regras e desenvolveu sua capacidade administrativa, matemática e de engenharia, do que resultava a necessidade da manutenção de registros, que teriam estimulado a invenção da escrita. Em decorrência dessas respostas criativas aos desafios criados pela natureza, os antigos habitantes da Suméria e do Egito deram o salto para a civilização, alterando com isso o curso do destino humano.

Ainda no tocante à questão da irrigação, também Aydon (2011, p. 63) ao abordar o mesmo assunto, ensina que muito já se debateu sobre o que surgiu primeiro: Estados organizados ou irrigação em larga escala. Segundo opina aquele autor, é uma discussão inútil, pois está baseada na pressuposição de que um fator deve ter sido a causa de outro. E conclui com a ideia de que a única resposta sensata é que a irrigação em larga escala e Estados organizados evoluíram juntos, e foram mutuamente significativos na evolução do outro.

Relativamente à invenção da escrita, também opina Aydon (2011, p. 64), no sentido de que o desenvolvimento desse grupo de cidades-Estado na região da Mesopotâmia meridional, conhecida como Suméria, foi acelerado pela invenção da escrita, em vista de ser impossível organizar grandes projetos utilizando apenas a palavra falada. Em vista da invenção da escrita, estima-se que em torno de 3.500 a.C. moedas de argila passaram a ser usadas como formas de autorização para o fornecimento de bens, e que informações contábeis foram registradas pela primeira vez, em tabuletas de argila.