2.1 TEORIA DAS FINANÇAS PÚBLICAS
2.1.4 Finanças Públicas Municipais no Brasil
No Brasil, além de não existir um Poder Judiciário em nível municipal, também o ato de legislar sobre assuntos relacionados com orçamento, finanças e tributação se encontra vedado aos municípios, fazendo assim com que as finanças públicas municipais venham a ser regidas pelas normas previstas na legislação federal e, de modo concorrente, também pelas normas da legislação do Estado onde localizado o município, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 24, parcialmente transcrito a seguir:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
. . .
V - produção e consumo;
. . .
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
. . .
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (grifos nossos)
Verifica-se, assim, que em assuntos pertinentes às finanças públicas e seus correlatos, o município se obriga a seguir as normas federais e estaduais, podendo
apenas legislar de forma suplementar, quando cabível, caso venha a se verificar alguma lacuna nas legislações federal ou estadual. Para melhor ilustrar o assunto, segue a transcrição integral do artigo 30 da Constituição Federal de 1988, que normatiza essa questão:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir Distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
Nada obstante as limitações acima listadas, é inegável o fato de que os municípios brasileiros, na atualidade, desfrutam de mais prerrogativas do que em qualquer outro período da história do Brasil, em decorrência do que prevê o novo ordenamento constitucional, assunto esse que será mais detalhado na subseção seguinte, que trata especificamente do Município.
Mesmo não podendo legislar sobre finanças públicas, os municípios detêm a prerrogativa do “poder impositivo”, conforme Meirelles (2001, p. 148), que explica que esse poder advém de sua autonomia financeira, conforme estabelece o item III do artigo 30 da Constituição da República, transcrito acima, que lhe assegura a instituição e arrecadação dos tributos de sua competência e a aplicação das rendas locais. Decorre daí a ampla capacidade impositiva das municipalidades brasileiras no que tange aos tributos que lhe são próprios e à utilização de todos os recursos financeiros provindos de seus bens e serviços privativos.
No uso de seu poder de tributar e da faculdade de aplicar suas rendas, o Município não encontra outras limitações além daquelas que emanam dos princípios tributários adotados pelo Constituição Federal para todas as entidades estatais.
Limitações genéricas, evidentemente, que não constituem restrições à autonomia local, mas tão somente normas constitucionais de direito fiscal destinada a todas as esferas tributárias, federal, estadual e municipal (MEIRELLES, 2001, p. 149).
Destaca ainda Meirelles (2001, p 149) que em face do sistema adotado pela Constituição da República, não é possível ao Estado-membro interferir na autonomia financeira de seus Municípios, quer condicionando a instituição dos tributos locais;
quer restringindo sua majoração; quer concedendo isenções de tributos municipais;
quer impondo condições para a aplicação das rendas próprias do Município. Nesse sentido, é a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) que já sumulou: “A Constituição Estadual não pode estabelecer limite para o aumento dos tributos municipais” (Súmula 69 do STF).
Também os Municípios se sujeitam aos controles interno e externo, pois, conforme Castro (2010, p.305), o Prefeito executa funções de agente político e gestor administrativo ao mesmo tempo. Isso porque perante a Constituição Federal, que definiu níveis de competência e atribuições distintas entre Câmaras Legislativas e Tribunais de Contas, o Prefeito é julgado como político pelo Legislativo e como gestor administrativo pelo Tribunal de Contas. A constituição Federal definiu ainda, em seu artigo 31, abaixo transcrito, que o Município, a exemplo do Governo Federal, deve também instituir o seu controle interno, como órgão de apoio ao controle externo:
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo municipal, na forma da lei.
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente, sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de tribunais, Conselhos ou órgãos de contas municipais.
Uma vez demonstrada a importância das finanças públicas municipais, aqui se interrompe a abordagem desse assunto, para retomá-lo adiante, de forma mais detalhada e em uma subseção específica, onde analisar-se-á a legislação brasileira que trata da regulamentação das finanças públicas municipais. Antes, necessário se faz uma apreciação a respeito do município.