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O Município na Constituição de 1946

2.2 O MUNICÍPIO

2.2.3 A Evolução do Município no Brasil

2.2.3.6 O Município na Constituição de 1946

Em 1945 encerrou-se a era Vargas, com a deposição do ditador Getúlio Vargas pelas forças armadas brasileiras, fato esse que permitiu o renascimento do movimento democrático, e que levou à promulgação de uma nova constituição em 18 de setembro de 1946.

No que diz respeito a essa Constituição, Birkholz (1979, apud FÁVERO, 2004), assinala que os Constituintes promoveram a equitativa distribuição dos poderes, descentralizaram a administração, repartindo-a entre a União, os Estados-Membros e os Municípios. Idêntico critério foi adotado quanto à repartição das rendas públicas, que foram discriminadas na Constituição para que o legislador

ordinário não modificasse seu destino. No âmbito político, integrou o município ao sistema eleitoral do país e dispôs os seus órgãos (legislativo e executivo) em simetria com os Poderes da nação. Além das rendas exclusivas do município, a Constituição de 1946 lhe deu participação em alguns tributos arrecadados pelo estado e pela União. A Constituição de 1946, na distribuição da competência administrativa, manteve o princípio dos poderes enumerados, delineando o que compete e o que é vedado à União, ao estado e ao município na órbita governamental.

Sobre esse assunto, Celso Ribeiro Bastos (apud MARCO, 2005) cita que

"o período róseo do municipalismo brasileiro é vivido por ocasião do texto constitucional de 1946." O mesmo autor ainda noticia que nessa Constituinte, a corrente municipalista foi forte, revivescendo o tradicional conceito de peculiar interesse. E prossegue, destacando que o peculiar interesse municipal, por força de uma interpretação jurisprudencial encampada na década de 30, deixa de ser a expressão de uma ideia vaga e imprecisa, para significar tudo aquilo que fosse de interesse predominante do município.

No que se relaciona à questão tributária, Mello (2001), destaca que os tributos municipais foram ampliados, compreendendo os seguintes impostos: predial e territorial urbano; de indústrias e profissões; de licença; sobre atos de sua economia e assuntos de sua competência. Quanto às taxas, os municípios poderiam cobrá-las pelo exercício de seu poder regulamentar ou pela prestação de certos serviços. Foi também introduzida a contribuição de melhoria, de competência dos três níveis de governo.

Todavia, em 31 de março de 1964 eclode a revolução que colocou um término a esse período democrático, e que veio a implantar, consequentemente, um regime de exceção que perduraria até uma nova redemocratização, ocorrida em 1986. A respeito desse assunto, Marco (2005) registra que:

Em 1964, a revolução armada lançou por terra grande parte dessas conquistas municipais. As ditaduras sempre tiveram como destaque a centralização do poder e, consequentemente, o enfraquecimento dos poderes locais.

Primeiro foi "a criação de municípios tidos por relevantes para a segurança nacional e a proliferação daqueles considerados estâncias hidrominerais", como artifícios – segundo Celso Bastos – para infirmar a locução peculiar interesse, visto que os interesses passavam a ser nacionais e não mais locais, sonegando assim a autonomia aos Municípios. (1993, p. 217)

Posteriormente, o governo central retirou dos Municípios os meios financeiros de que dispunham. Através da Emenda Constitucional n.º 18, de 1.12.1965, foi revogado o artigo 29 da Constituição de 1946, o qual previa a participação dos Municípios na receita Estadual e da União.

Informa Celso Ribeiro Bastos que "do total da arrecadação tributária brasileira, apenas 7% era atribuído ao Município. Mais de 60% destinava-se aos cofres da União" (BASTOS, 1993, p. 217).

Assim, a expectativa em torno da municipalização ficou afetada pelo total desrespeito às normas constitucionais, bem como pela facilidade com que as vantagens eram oferecidas e seguidamente retiradas das comunidades locais.

Em vista desse novo regime de exceção, a Constituição de 1946 não atendia ao ponto de vista dos novos governantes, motivo pelo qual foi elaborada uma nova Carta Magna, que passou a vigorar a partir de 1967.

2.2.3.7 O Município na Constituição de 1967 e na Emenda Constitucional nº 1 /1969 Durante o período do regime militar entrou em vigência uma nova Carta Magna, que foi promulgada em 24.01.1967, e que veio a sofrer alterações por meio da Emenda Constitucional nº 1, de 17.11.1969. Cabe ressaltar que foi na vigência dessa Constituição que se alterou o nome do Brasil de “Estados Unidos do Brasil”

para “República Federativa do Brasil”.

Fávero (2004) destaca que essa Constituição limitou liberdades municipais nos aspectos político, administrativo e financeiro. Desde a criação de municípios até as atividades rotineiras de administração local, dependia-se de legislação federal, além de se sujeitar os municípios à fiscalização e controle de órgãos centrais da União e Estados, tais como Tribunal de Contas, Ministérios e Secretarias.

A autonomia municipal foi mantida, entretanto tornou obrigatória a nomeação dos prefeitos das capitais e dos municípios declarados de interesse da segurança nacional; sujeitou a remuneração dos vereadores a limites e critérios estabelecidos em Lei Complementar Federal; limitou o número de vereadores a 21, na proporção do eleitorado local; ampliou os casos de intervenção do Estado no Município; impôs a fiscalização financeira e orçamentária, mediante o controle interno da Prefeitura e o controle externo da Câmara Municipal e limitou a criação de Tribunais de Contas nos Municípios (FÁVERO, 2004)

No que se refere à receita tributária, Mello (2001), destaca que os municípios tiveram seus impostos reduzidos a três: sobre propriedade predial e territorial urbana, sobre a propriedade territorial rural, e sobre serviços de qualquer natureza, não compreendidos na competência tributária da União ou dos estados. Quanto à participação em impostos federais e estaduais, houve inovações, inicialmente importantes para a receita municipal, como a distribuição de 10% do imposto federal sobre a renda e proventos de qualquer natureza e produtos industrializados (o Fundo de Participação dos Municípios — FPM) de acordo com o nível de população do município, dando-se às capitais um tratamento diferenciado, para compensar as dos estados mais pobres pela eliminação do imposto estadual sobre indústrias e profissões. Além dessa participação, os municípios e os estados, tinham direito ao imposto de renda, cobrado na fonte, dos seus funcionários.

2.2.4 A Situação Atual do Município Brasileiro Conforme a Constituição de 1988