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CAPÍTULO 1 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

3.1 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E A RESPONSABILIDADE

Adentrando ao âmbito da responsabilidade internacional, pode ser deduzido claramente que, sendo as organizações internacionais sujeitos secundários de Direito Internacional, implicam-se a elas certos direitos e obrigações que, caso venham a serem descumpridas, incorrem em responsabilidades internacionais de tais instituições.

Esquematiza-se que as organizações internacionais respondem pelo exercício irregular de suas competências, tendo em vista sua personalidade jurídica internacional, de tal forma que a expansão dessa personalidade além dos Estados resultou, igualmente, na expansão da própria responsabilidade internacional, como bem se analisa:

64 CRETELLA NETO, José. Teoria geral das organizações internacionais, p.135.

65 A expulsão, de maneira geral, será necessária quando um dos membros da organização internacional

vier a violar normas fundamentais da própria organização ou infringir normas e princípios do Direito Internacional geral.

A expansão da personalidade jurídica internacional, abarcando a das organizações internacionais, faz-se hoje inelutavelmente acompanhar a expansão da responsabilidade internacional, incluída igualmente a das organizações internacionais. Enquanto o domínio do direito da responsabilidade internacional concentrava-se, até recentemente, sobretudo na responsabilidade internacional dos Estados, em nada surpreende que, em nossos dias, nesta primeira década do século XXI, passe a voltar suas atenções também à responsabilidade internacional das organizações internacionais. Estas últimas, ao superar, em seu labor, a antiga objeção do "domínio reservado" do Estado (compétence

nationale exclusive), contribuíram, elas próprias, à notável expansão de

outros capítulos do Direito Internacional, como, e.g., os atinentes à jurisdição, e à responsabilidade internacional.66

O principal instituto que cuidou de delimitar a responsabilidade internacional das organizações internacionais fora a Comissão de Direito Internacional (CDI)67 das

Organizações das Nações Unidas que, em 2003, emitiu um primeiro relatório acerca do tema, quando determinou que uma organização internacional estaria incorrendo em um ilícito internacional quando, em face de sua ação ou omissão, descumprisse uma obrigação internacional vinculante a ela.

Em seu segundo relatório, entendeu-se que a "conduta de um órgão ou funcionário de uma organização internacional, no exercício das funções desta última, deve ser considerado como ato da própria organização (para efeitos de configuração de sua responsabilidade)"68.

Já no seu terceiro relatório, a Comissão entendeu que a própria organização, em suas regras, pode vir a tratar das violações e, no quarto e quinto relatórios, fora entendido que as normas de jus cogens de Direito Internacional que vinculam os Estados, fazem-no, igualmente, às organizações internacionais, como bem analisa Cançado Trindade:

Significativamente – e como não poderia deixar de ser – o quarto relatório reconhece que as normas peremptórias do direito internacional (jus cogens) vinculam as organizações internacionais da mesma forma que os Estados. Segundo o projeto de artigo 23, nenhuma das circunstâncias eximentes de responsabilidade aqui contempladas terá validade se o ilícito perpetrado

66 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto, Direito das organizações internacionais, p.612. 67 Examina-se que, já em 1980, quando então a CDI veio a emitir um Parecer, sobre a Interpretação

do Acordo de 1951 entre a OMS e o Egito, previu, de maneira indireta, a responsabilidade

internacional das organizações internacionais, determinando que "as organizações internacionais são sujeitos de Direito Internacional e, como tais, estão vinculadas por quaisquer obrigações que lhe imponham as regras gerais do Direito Internacional, suas cartas constitutivas ou os acordos internacionais em que sejam partes".

violar uma norma peremptória do Direito Internacional. Em suma, o jus

cogens vincula todos os sujeitos do Direito Internacional, sejam eles os

Estados, ou as organizações internacionais, ou outros.69

Discute-se que, apesar de todos os esforços na busca de uma coesão e regras eficazes e claras acerca da responsabilidade internacional, seja dos Estados – quando então do contencioso em tribunais internacionais –, seja das organizações internacionais, pode ser entendido que os trabalhos nesse âmbito encontram-se em fases primárias, necessitando de mais estudos e empenhos, como assim transcreve-se:

Ademais, o contencioso diante dos tribunais internacionais contemporâneos revela que ainda há muito o que avançar, por parte destes últimos, na aplicação do direito da responsabilidade internacional dos Estados. Já no Direito das Organizações Internacionais encontra-se ainda, neste particular, em sua infância, com o trabalho em curso da CDI. Na medida em que os trabalhos da CDI avancem, se estará buscando suprir uma lacuna no Direito das Organizações Internacionais, e no Direito Internacional Público em geral.70

Apesar desse entendimento, deve-se deixar claro, desde logo, que a responsabilidade internacional do Estado, no que tange aos direitos humanos, difere-se de todas as suas outras responsabilidades internacionais advindas de outros documentos legais, justamente pelo fato da valorização intrinsecamente ressaltada – já consolidada e aceita – dos instrumentos que tratam sobre o tema dos direitos humanos. Nessa linha de raciocínio, combina-se o entendimento de André de Carvalho Ramos:

[...] esses tratados de direitos humanos são diferentes dos tratados que normatizam vantagens mútuas aos Estados contratantes. Com efeito, o objetivo dos tratados de direitos humanos é a proteção de direitos de seres humanos diante do Estado de origem ou diante de outro Estado contratante, sem levar em consideração a nacionalidade do indivíduo-tema. Assim, um Estado, frente a um tratado multilateral de direitos humanos, assume várias obrigações para com os indivíduos sob sua jurisdição, independentemente da nacionalidade, e não para com outro Estado contratante, criando o chamado regime objetivo das normas de direitos humanos. Esse regime objetivo é o conjunto de normas protelaras de um interesse coletivo dos Estados, em contraposição aos regimes de reciprocidade, nos quais impera o caráter quid pró nas relações entre os Estados. Logo, os tratados de direitos humanos estabelecem obrigações objetivas, entendendo estas como obrigações cujo objeto e fim são a proteção de direitos fundamentais da pessoa humana.71

69 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto, Direito das organizações internacionais, p.615. 70 Ibid., p.619.

71 RAMOS, André de Carvalho. Processo internacional de direitos humanos. Rio de Janeiro:

3.2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS INTERGOVERNAMENTAIS E