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CAPÍTULO 2 DIREITOS HUMANOS

3.2 A PROTEÇÃO REGIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

3.2.1 O Sistema Regional Europeu

3.2.1.3 O Tribunal Europeu de Direitos Humanos

Especialmente para garantir a eficácia da proteção dos diretos humanos reconhecidos pela Convenção, criou-se o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Previsto no título II da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, o Tribunal iniciou seus trabalhos no ano de 1991, atuando de forma permanente, na cidade de Estrasburgo, na França, compondo-se de juízes dos Estados partes.

Frisa-se que, diferentemente do que ocorre no sistema interamericano – onde a assinatura da Convenção não necessariamente reflete na aceitação da jurisdição de sua Corte –, quando o Estado ratifica a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, necessariamente está, também, reconhecendo a jurisdição do referido Tribunal.

Adentrando à história, antes do ano de 1998, existia uma Comissão no âmbito europeu, que analisava previamente as demandas, dependendo de seu crivo a atuação da Corte. Após, com a implementação do Protocolo n.o 11, o Tribunal

começou a receber demandas de violações dos direitos humanos diretamente dos cidadãos dos Estados partes.

Assim, avalia-se que a nova estrutura do Tribunal Europeu de Direitos Humanos iniciou seus trabalhos em primeiro de novembro de 1998 e, de acordo com a sua organização, é composto por um número de juízes igual ao dos Estados contratantes, sendo eleitos por um período de nove anos, renováveis por mais nove.239

Documenta-se que os referidos juízes são eleitos pela Assembleia Parlamentar de cada Estado, por maioria dos votos expressos, recaindo numa lista de três candidatos por Estado. Tais juízes têm o dever de exercerem suas funções a título individual e não podem realizar qualquer atividade incompatível com o dever de independência e imparcialidade exigida para desempenho da função.

Entre esses juízes, o Tribunal, em assembleia plenária, elege seu presidente, dois vice-presidentes e dois presidentes da câmara, todos por um período de três anos.

As formações do Tribunal podem ser: juízes singulares; comitês de três juízes, seções de sete juízes; e grande câmara de dezessete juízes.

Adentrando à possibilidade de apresentação de petições, traça-se que qualquer Estado contratante ou qualquer particular (pessoa singular, organização não governamental ou grupo de particulares) que se considere vítima de violação de um dos direitos previstos na Convenção, poderá dirigir, diretamente ao Tribunal, uma queixa, alegando que a violação se deu por intermédio de um ato ou inação de um outro Estado igualmente contratante.240

Sublinha-se que o Tribunal é competente para conhecer de todas as questões relativas à interpretação e à aplicação da Convenção Europeia e dos seus respectivos protocolos. Ademais, o órgão só poderá conhecer uma causa caso ocorra o esgotamento dos recursos internos. Pode, igualmente, emitir pareceres sobre questões jurídicas,

239DIRECÇÃO-GERAL DA POLÍTICA DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA DE PORTUGAL.

Disponível em: <http://www.dgpj.mj.pt/sections/relacoes-internacionais/copy_of_anexos/tribunal- europeu-dos_1/>. Acesso em: 30 maio 2011.

240GABINETE DE DOCUMENTAÇÃO E DIREITO COMPARADO DE PORTUGAL. Disponível em:

<http://www.gddc.pt/direitos-humanos/sist-europeu-dh/cons-europa-tedh.html>. Acesso em: 30 maio 2011.

levantadas pelo Comitê de Ministros, relativamente à interpretação da Convenção e seus protocolos.

O processamento no Tribunal é público, exceto se a seção ou o tribunal pleno decidir de maneira diferente, levando em consideração excepcionalidades. Também, os requerentes individuais, após terem sua queixa admitida, devem ser representados por advogados.

Quanto às queixas, essas podem ser apresentadas não apenas no inglês e no francês – que são as línguas oficiais do Tribunal –, mas também em uma das línguas oficiais dos Estados contratantes.

Quanto à admissibilidade, um único juiz do órgão pode declarar a petição inadmissível ou arquivá-la, sendo a decisão definitiva. Caso entenda passível de julgamento, então esta será transmitida a um comitê ou seção para exame complementar que fará, novamente, uma análise e poderá declará-la inadmissível. Se admiti-la – e tratando-se de um caso simples, com jurisprudência anterior –, poderá proferir, de plano, sentença acerca da admissibilidade. Por fim, caso a questão verse sobre delicados pontos de interpretação da Convenção, será remetida à grande câmara.241

No que tange ao mérito, as partes têm a liberalidade de apresentarem provas e observações suplementares, podendo ser autorizada, também, a apresentação de observações por parte de terceiros, inclusive de outros Estados contratantes. Há a possibilidade de serem desenvolvidas negociações confidenciais por intermédio do secretário.

Por fim, o acórdão será decidido por maioria, sendo que, até três meses após a data de sua prolação, as partes podem requerer que a questão seja enviada ao tribunal pleno – apenas casos que envolvam graves interpretações ou violações da Convenção. Caso as partes não requeiram o envio da questão ao tribunal pleno, o acórdão torna-se definitivo em três meses após sua prolação, tornando-se vinculante ao Estado demandado.242

Esquematiza-se que caberá ao Comitê de Ministros do Conselho da Europa a verificação da execução dos acórdãos.

241GABINETE DE DOCUMENTAÇÃO E DIREITO COMPARADO DE PORTUGAL. Disponível em:

<http://www.gddc.pt/direitos-humanos/sist-europeu-dh/cons-europa-tedh.html>. Acesso em: 30 maio 2011.

Investiga-se que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos possui uma estrutura muito avançada em comparação aos outros sistemas regionais de proteção dos referidos direitos, uma vez que prevê o sistema de petições diretamente ao indivíduo, não necessitando da passagem por qualquer outro órgão que faça uma análise prévia de sua admissibilidade.

Sem questionamentos plausíveis, a Europa desenvolveu sobremaneira o seu sistema de proteção com a referida previsão, mas, infelizmente, todo esse desenvolvimento trouxe prejuízos à eficácia e à celeridade das decisões, uma vez que os cidadãos dos Estados contratantes da Convenção acabam por demandar o Tribunal antes mesmo de refletirem se realmente incorreram em uma violação de seus direitos previstos na Convenção.

De tal forma, pode-se dizer que a alta demanda no Tribunal Europeu é um desafio que, hoje, vislumbra o sistema europeu de proteção dos direitos humanos.