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CAPÍTULO 2 DIREITOS HUMANOS

2.1 OS DIREITOS HUMANOS NA ANTIGUIDADE MOMENTOS PRÉ-

Antes de se adentrar, de maneira pontual, à evolução dos direitos humanos em um momento bem anterior ao da história recente, importante se faz frisar as considerações de Vladmir Oliveira da Silveira, quando afirma que "em que pese já existir preocupações com tais direitos, eles não possuíam "garantia legal" e eram bastante precários em sua estrutura política, já que respeitá-los dependia de sabedoria dos governantes"111.

Documentada tal especificidade, passa-se à análise do momento pré-axial112

da história, identificando-se já na Civilização Egeia113 sinais claros de relativa

igualdade social, quando então a mulher cretense desfrutava de uma liberdade única dentre os demais povos daquele momento histórico, registrando-se nesse período, bases concretas, advindas da igualdade, para o desenvolvimento dos direitos humanos.

110COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo:

Saraiva, 1999. p.12.

111SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; ROCASOLANO, Maria Mendez. Direitos humanos..., p.114. 112Utiliza-se neste trabalho o mesmo entendimento e Vladmir Oliveira da Silveira, quando então

classifica o período anterior ao século VIII a. C. como período pré-axial.

113A Civilização Egeia desenvolveu-se a partir da Ilha de Creta, tendo se alastrado por diversos lugares

Mas pode-se constatar que o documento de maior importância, neste momento, fora o Código de Hammurabi (1694 a.C.), o qual comportava 282 cláusulas e fora aplicado, territorialmente, nas regiões da Assíria, Judeia e Grécia. Sublinha-se sua importância no desenvolvimento da igualdade entre os seres humanos, mesmo que ainda precária, e, também, ao prever o salário-mínimo em uma de suas cláusulas, abrindo margens ao nascituro do entendimento acerca da dignidade humana.

Alguns séculos após, em XI e X a.C., há o surgimento do reino Unificado de Israel, cujo qual influiu para o balizamento do poder do Estado por intermédio da lei, sendo que os direitos, neste momento, são determinados aos cidadãos, e não aos súditos, traduzindo-se em direitos de liberdade, estruturando, de maneira ainda embrionária, a primeira fase dos direitos humanos.

Mais tarde, já no momento axial114 da história, em 539 a.C., com a evolução

do pensamento humano sobre este tema e uma decorrente mudança na compreensão da condição humana, organizou-se a primeira declaração dos direitos humanos, chamada de Cilindro de Ciro. Tal declaração fora proposta por Ciro II, então rei da Pérsia, quando de sua conquista da Babilônia, no referido ano.

Tal documento é considerado como a primeira declaração dos direitos humanos por conter a previsão de permitir o regresso às suas terras de origem dos povos exilados da Babilônia, o que fora um grande avanço aos direitos humanos para a época.

Há também que se documentar a importância do Budismo e Confucionismo, nesta época, para o aprimoramento dos direitos humanos.

No que tange ao Budismo115 (fundado na Índia, no século V a.C.), as sementes

dos direitos humanos já aí se encontravam, quando então, numa sociedade de castas, pregava-se a igualdade indispensável aos homens e a prevalência da virtude nas ações humanas.

Além de tais, o Budismo veio a anunciar valores que, em um momento posterior, viriam a incorporar, essencialmente, os direitos humanos, tais como: a supremacia da justiça e do direito; a fraternidade e a generosidade; a equivalência

114O período axial da história, segundo grande parte dos doutrinadores, tais como Fábio Konder

Comparato e Karl Jaspers, compreende o eixo de tempo entre os séculos VIII e II a.C.

115Deve ser pontua que, desde as suas origens, o Budismo condenou veemente o sistema de castas

e, talvez por isso, sua influência na Índia, ao longo dos anos, tenha diminuído. Hoje, apenas 2% da população indiana é adepta do Budismo.

de direitos e deveres entre homens e mulheres; o reconhecimento de direitos do empregado; e a tentativa de uma organização equânime do corpo social116.

Sublinha-se que o Confucionismo, surgindo no mesmo momento histórico que o Budismo, influiu no desenvolvimento dos direitos humanos por ter, em seus preceitos básicos, ensinamentos sobre a fraternidade, o respeito entre as pessoas, o humanismo, a solidariedade, a busca da virtude e da paz.

Outro pensamento de grande importância, neste linear histórico, fora o estóico, quando então, a partir do pensamento de Zenão de Cítio, em Atenas, no ano de 321 a.C., desenvolveram-se princípios fundamentais aos direitos humanos. Segundo Fábio Comparato, a influência de tal pensamento na evolução dos direitos humanos é de tal maneira sintetizada:

Muito embora não se trate de um pensamento sistemático, o estoicismo organizou-se em torno de algumas ideias centrais, como a unidade moral do ser humano e a dignidade do homem, considerado filho de Zeus e possuidor, em consequência, de direitos inatos e iguais em todas as partes do mundo, não obstante as inúmeras diferenças individuais e grupais.117

Ainda neste momento histórico, desenvolvia-se o Direito Romano, que muito veio a contribuir para o direito de uma forma geral e, também, aos direitos humanos, uma vez que incorporou o conceito de dignidade da pessoa humana ao mundo jurídico, a partir das diginitas, podendo assumir tanto o sentido moral, como o sentido jurídico. Tal conceito tem primordial relevância por sua definição ser "essencial para compreender o conceito desses direitos e a luta constante por sua efetivação como forma de limitar o exercício do poder"118.

Além desse caráter, fora no Direito Romano que se encontrou o desenvolvimento de um complexo mecanismo de proteção dos direitos individuais em relação aos árbitros do governo.

116Informações disponíveis em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/herkenhoff/livro1/filos1/

budismo.html>. Acesso em: 17 jan. 2011.

117COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, p.15.

O último aspecto, presente neste momento histórico que merece ser discorrido é o cristianismo. Num primeiro momento, pode-se entender que o preceito básico do cristianismo seria a igualdade, uma vez que todos seriam filhos do mesmo pai, Deus. Acontece que, como bem pontua Fábio Konder Comparato:

essa igualdade universal dos filhos de Deus só valia, efetivamente, no plano sobrenatural, pois o cristianismo continuou admitindo, durante muitos séculos, a legitimidade da escravidão, a submissão doméstica da mulher ao homem e a inferioridade natural dos indígenas americanos.119

Esta época, apesar de não guardar coincidências relevantes com os direitos humanos que hoje se concebem, tem fundamental importância por terem sido, aí, aprimorados diversos conceitos que virão, mais tarde, a se tornar basilares para a própria evolução dos direitos humanos.