• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 DIREITOS HUMANOS

4.1 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO

As origens do sistema interamericano retrocedem-se ao ano de 1826, na realização do Congresso do Panamá, quando Simon Bolívar propôs a realização de conferências de Estados Americanos. Tal proposta trouxe resultados e precedeu uma séria de reuniões regionais que visaram formas de cooperação entre os Estados da região em questão.256

Acontece que, antes de 1890, tais reuniões eram convocadas apenas para a solução a problemas ou necessidades específicas, sendo que fora entre os anos de 1889 e 1890 que ocorrera a institucionalização desses encontros, objetivando a criação de um sistema compartilhado de normas e instituições.

Assim sendo, a Primeira Conferência Internacional Americana257 contou com

a presença de 18 Estados e veio a realizar-se em Washington D.C., entre os meses de outubro de 1889 e abril de 1890, segundo os termos da própria Conferência.258

com o objetivo de discutir e recomendar para adoção dos respectivos governos um plano de arbitragem para a solução de controvérsias e disputas que possam surgir entre eles, para considerar questões relativas ao melhoramento do intercâmbio comercial e dos meios de comunicação direta entre esses países, e incentivar relações comerciais recíprocas que sejam benéficas para todos e assegurem mercados mais amplos para os produtos de cada um desses países.

Além disso, fora neste momento que ocorrera a aprovação do estabelecimento da União Internacional das Repúblicas Americanas, que, mais tarde, veio a transformar-se na União Pan-Americana e, devido à expansão de suas funções, tornou-se a Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos.

Acontece que não fora apenas a referida União Pan-Americana, em seu momento histórico, que facilitou a cooperação entre os Estados Americanos. Houve muitas instituições que colaboraram ao desenvolvimento do sistema interamericano até

256BUERGENTHAL, Thomas. La Proteccion Internacional de los Derechos Humanos en las

Americas. Costa Rica: Editorial Juricentro, 1983. p.27.

257Segundo os termos da própria OEA, fora esta Conferência que assentou as bases do que depois

se tornaria o Sistema Interamericano.

258HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Disponível em:

se chegar como hoje se concebe, podendo ser citadas: Organização Pan-Americana da Saúde (1902); Comissão Jurídica Interamericana (1906); Instituto Interamericano da Criança (1927); Comissão Interamericana da Mulher (1928); Instituto Pan-Americano de Geografia e História (1928); Instituto Indigenista Interamericano (1940); Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (1942); e a Junta Interamericana de Defesa (1942).

Acontece que nenhum desses esforços trouxe, efetivamente, uma perspectiva completa acerca dos direitos humanos nesse âmbito territorial. Só apenas no ano de 1948, em Bogotá, em razão da Nona Conferência Internacional Americana, contando com a participação de 21 Estados, é que os direitos humanos contaram com uma maior representatividade, uma vez que, neste momento, foram adotados: a Carta da Organização dos Estados Americanos, o Tratado Americano sobre Soluções Pacíficas (Pacto de Bogotá) e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.259

Importante lembrar que o Pacto de Bogotá impõe aos Estados que venham a resolver suas controvérsias por intermédio de meios pacíficos, indicando certos procedimentos: mediação, conciliação, arbitragem, investigação, bons ofícios e a possibilidade de recursos à Corte Internacional de Justiça (Haia).260

Como bem se deduz, a cláusula pétrea do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos261 materializou-se na Declaração Americana dos Direitos

e Deveres do Homem262, lembrando que esta viera a anteceder em sete meses

a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda, deve ser dito que tal Declaração263 tornou possível a adoção, mais tarde (1969, entrando em vigor

em 1978), da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).

259BUERGENTHAL, Thomas. La Proteccion Internacional de los Derechos Humanos en las

Americas, p.27.

260HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Disponível em:

<http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em: 11 abr. 2011.

261A referida Declaração vem a proteger, especialmente, o direito à vida, à segurança, à liberdade, à

integridade, à igualdade, ao sufrágio, à participação no Governo, à justiça, à proteção contra prisão arbitrária e a livre associação e reunião.

262Não se deve perder de vista que, neste momento, a Declaração era uma simples resolução. 263A referida Declaração teve seu projeto preparado pela Comissão Jurídica Interamericana.

Adentrando à Carta da Organização dos Estados Americanos, pode-se entender, como a própria Organização sublinha, que "foi o resultado de um longo processo de negociação iniciado em 1945" e trouxe, consigo, uma série de disposições sobre direitos humanos, inclusive aquela que consta em seu artigo 3.o, "l", que diz que "os

Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo"264.

Acontece que, apesar dos esforços na promoção e proteção dos direitos humanos no âmbito da Organização, estes se mostraram infrutíferos até 1959, quando então, em decorrência da Quinta Reunião de Consultas de Ministros de Relações Exteriores, ocorrida em Santiago, no Chile, adotou-se uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Tal Comissão seria composta por sete membros eleitos, a título individual, pelo Conselho da OEA.

Ainda, este Conselho, já em 1960, veio a promulgar o Estatuto da Comissão, descrevendo este órgão como uma entidade autônoma da OEA265, com função de

promover o respeito aos direitos humanos (art. 1.o do Estatuto).

Acontece que, mesmo com um arcabouço já estabelecido, a OEA carecia, de fato, de uma autoridade codificada e de uma base constitucional sólida, uma vez que seu sistema era articulado, especialmente, segundo termos de declarações, resoluções e pronunciamentos, sem uma força vinculante fática. Além, o órgão que tratava especificamente sobre os direitos humanos era considerado como entidade autônoma de sua estrutura.

Nesse quadro caótico, já em 1967, imprescindível se demonstrou a reforma da própria Carta da OEA de 1948. A reforma em questão veio a tornar-se realidade no ano de 1970, com a entrada em vigor do Protocolo de Reforma de Buenos Aires.266

264CARTA DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Disponível em: <http://www.oas.org/

juridico/portuguese/carta.htm>. Acesso em: 13 mar. 2011.

265Como bem se refere Thomas Buergenthal sobre este fato, a Comissão Interamericana de Direitos

Humanos era definida como entidade autônoma da OEA uma vez que não estava prevista nem na Carta da OEA de 1948 e nem qualquer outro tratado, tendo sido estabelecida por uma simples resolução da Conferência, sem qualquer semelhança com os órgãos do Conselho da OEA e nem com os seus organismos especializados.

266PROTOCOLO DE BUENOS AIRES. Disponível em: <http://www.oas.org/dil/ treaties_B-

Este documento tratou, em seu artigo 51, de transpor a Comissão de Direitos Humanos à qualidade de um dos órgãos principais da Organização, tendo suas funções descritas no artigo 112267 do referido Protocolo.

Além disso, como consequência da transposição do status legal da Comissão e de seu Estatuto, a Carta Reformadora de 1970 também fortaleceu, significativamente, o caráter normativo da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem.268

A Carta da OEA ainda veio a sofrer mais três modificações, mediante Protocolos de Reforma, sendo eles: Cartagena das Índias (1985), Washington (1992) e Manágua (1993).