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3 TRANÇAR AS LINHAS E CRUZAR OS FIOS: O TRATAMENTO DIDÁTICO

4.3 ESCOLHENDO OS FIOS: A GERAÇÃO DOS DADOS

4.3.1 As produções de Língua Portuguesa do PDE 2007/2008

Ao iniciarmos o levantamento dos dados, via sistema informatizado do PDE, verificamos que havia 216 professores cadastrados como participantes na disciplina de LP e não 200 como fora anunciado pelos documentos e relatórios da SEED/PR. Como não encontramos nos documentos nenhuma informação a respeito dessa diferença nos números, resolvemos consultar a coordenação do programa que, via telefone, nos explicou, extraoficialmente, que em algumas disciplinas não houve número suficiente de professores aprovados no processo de seleção, ficando as vagas em aberto. Diante disso, a coordenação abriu a possibilidade de aumentar o número de participantes nas disciplinas em que houvesse professores aprovados, mas não classificados no número de vagas ofertadas nos editais de chamamento do curso. Nesse caso, a disciplina de LP contou, nesta primeira edição do PDE, não com 200, mas com a participação de 216 professores.

Diante dessas informações, iniciamos o processo de catalogação dos materiais produzidos pelos professores ao longo do curso e, assim, podermos dar início à constituição do corpus para as nossas análises. A primeira providência tomada foi classificar e catalogar os materiais e construirmos, numericamente, o universo das produções realizadas na disciplina de LP. Essas produções são apresentadas e explicadas na Tabela 05, a seguir:

Tabela 05: Catalogação dos materiais produzidos em LP

Tipo de Material Descrição Números

Caderno Pedagógico (CP)

Material didático com sugestões de atividades e que se organiza em várias unidades e/ou capítulos.

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Unidades didáticas destinadas ao uso em sala de aula (alguns desses materiais apresentam em seus títulos a definição de Folhas, outros

Folhas (FO) de “Unidade Didática”)97.

Objeto de Aprendizagem Colaborativo (OAC)

Sugestões de aulas e atividades sobre um tema/conteúdo específico.

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Outros (OU) Monografias propositivas e/ou sugestões de trabalho.

05 Total de produções 207

Nesta primeira etapa de classificação e catalogação identificamos três questões importantes e que mereceram nossa atenção. A primeira se refere ao número efetivo de produções em LP (216 professores de LP inscritos no programa, mas encontramos 207 produções efetivamente concluídas e disponíveis no Portal Educacional); a segunda se refere a variação no formato dos materiais produzidos (CP, Folhas, OAC, outros), conforme foi apresentado na Tabela 05; a terceira questão se refere à metodologia de entrada para a abordagem dos temas/conteúdos de língua/linguagem utilizada pelos professores para produzirem seus materiais. Nesta última questão, chamou-nos a atenção variação na organização dos MD. Entre eles encontramos: i) 44 MD que estudam um gênero específico (exploram desde a leitura até a produção de texto escrito); ii) 83 que se organizam pelo estudo de temáticas (estes exploram com grande ênfase a leitura e a intertextualidade via temática presente nos textos utilizados nas atividades e que encaminham os alunos para a produção de um texto, geralmente, argumentativo); iii) 61 que se organizam por eixo de ensino (35 exploram a leitura (L), 10 a escrita (E), 6 os conhecimentos linguísticos (CL) e 10 exploram a leitura e a escrita (LE) simultaneamente); iv) 19 MD são organizados por meio do estudo de um determinado gênero, mas se dedicam a explorá-lo somente pela leitura98.

97 Optamos em chamar estes materiais somente de Folhas, pois os documentos do programa não se referiam, à

época, a “Unidade Didática” como uma denominação possível de material a ser produzido.

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Essa categorização levou em consideração a maneira como os professores articularam as atividades nos MD. Ou seja, as categorias procuraram agrupar materiais que seguiam estratégias semelhantes de construção das atividades de ensino: algumas explorando o conhecimento de um determinado gênero, outras as temáticas suscitadas pelos textos utilizados para leitura, outros organizaram atividades só de leitura, ou só de escrita, ou só de conhecimentos linguísticos, ou aqueles que articularam atividades de estudo da leitura e da escrita.

Vejamos como esses números podem ser representados pela Tabela 06 e pelo Gráfico 01 que seguem:

Tabela 06: Abordagem de ensino – números gerais.

ABORDAGEM NÚMERO % Eixo de Ensino L E CL LE Total L E CL LE Total 35 10 6 10 61 16,90 4,83 2,89 4,83 29,46 Gênero 44 22,26 Tema 83 40,10 Gênero-Leitura 19 9,47 Total 207 100

Estes números podem ser melhor visualizados no Gráfico 01 abaixo:

Gráfico 1: Estrutura e organização do conjunto dos MD produzidos em 2007/2008.

17% 5% 3% 5% 21% 40% 9% L E CL LE Gênero Tema Gênero-Leitura

Estes dados nos chamaram a atenção e nos pareceram interessantes para entendermos o que motivou os professores de LP a procederem de forma tão diversa na organização de seus materiais, priorizando o estudo de temáticas e dos eixos de ensino com grande ênfase, quando os documentos do PDE especificam que o material didático deveria seguir as orientações das DCELP que encaminham o processo de ensino e aprendizagem a partir do trabalho com “gêneros”. Dessa forma, é importante tentarmos compreender por que quase 80% das produções seguem orientações diferentes daquelas explícitas das DCELP.

A Tabela 07, a seguir, mostra, em números, a abordagem dos temas/conteúdos em cada um dos tipos de material produzido. Acompanhemos:

Tabela 07: Abordagem dos materiais produzidos TIPO DE MATERIAL ABORDAGEM TOTAL G T EIXO G-L L E CL L-E CP 3 2 6 0 0 0 0 11 FO 30 46 11 6 3 6 18 120 OAC 11 30 18 4 3 4 1 71 OU 0 5 0 0 0 0 0 5 TOTAL 44 83 35 10 6 10 19 207

Para finalizar essa etapa de contato, classificação e catalogação das produções na área de LP, apresentaremos a seguir a descrição das produções, com seus tipos, quantidades e abordagens, realizadas em cada uma das IPES do Paraná responsáveis por acolher os professores PDE nesta edição do Programa, oferecerem-lhes os cursos e orientá- los em suas produções. Quando observamos a Tabela 08, abaixo, podemos visualizar que, no universo das produções didáticas, o número de MD que se organiza por gênero é inferior

às outras estratégias e abordagens de ensino (temáticas, eixos de ensino). Acompanhemos a descrição dessas produções, na Tabela 08:

Tabela 08: Tipo, estrutura e organização dos MD produzidos em 2007/2008, em cada IPES.

IPES TIPO/QNT. DE MD ABORDAGEM Total

CP FO AOC OU Gênero Tema Eixo de Ensino Gên-Lei Obs. %

Obs. % Obs. % Leitura Escrita Lei-Esc Conh. Lin Obs. % Obs. % Obs. % Obs. % Obs. %

UEL 0 18 10 0 6 2,89 7 3,38 5 2,41 1 0,48 2 0,96 1 0,48 6 2,89 28 13,52 UEM 3 30 14 3 24 11,59 16 7,72 5 2,41 0 0 1 0,48 0 0 4 1,93 50 24,15 UEPG 0 15 6 2 4 1,93 12 5,79 2 0,96 1 0,48 2 0,96 2 0,96 0 0 23 11,11 UFPR 5 15 9 0 4 1,93 10 4,83 9 4,34 3 1,44 1 0,48 1 0,48 1 0,48 30 14,49 UNICENTRO 0 15 9 0 2 0,96 12 5,79 2 0,96 2 0,96 4 1,93 1 0,48 3 1,44 24 11,59 UNIOESTE 1 26 11 0 2 0,96 20 9,66 7 3,38 2 0,96 1 0,48 1 0,48 5 2,41 38 18,35 UTFPR 2 1 12 0 6 2,89 4 1,93 3 1,44 1 0,48 1 0,48 0 0 0 0 15 7,24 TOTAL 11 120 72 5 48 23,2 81 39,1 33 15,9 10 4,83 12 5,79 6 2,89 19 9,17 207 100

A análise dos números apresentados na Tabela 08 nos mostra que o enfoque e a organização do tema/conteúdo de língua/linguagem nos MD variou de uma IPES para outra. Isso nos leva a inferir que a depender da IPES e, provavelmente, das linhas de pesquisas dos professores orientadores, os cursos oferecidos cooperaram para que os professores escolhessem um enfoque e não outro para ditatizar o conteúdo em seu MD. Por exemplo, se considerarmos a representatividade de pesquisa em gêneros da UEM, vamos entender porque quase 50% do total dos MD produzidos sob a orientação dessa instituição foi organizado por gênero. Nessa mesma linha, poderíamos analisar os enfoques dos MD produzidos sob a orientação dos professores da UNIOESTE, onde é muito significativa a área da literatura e da análise do Discurso de Linha Francesa. Nesta instituição, inversamente proporcional às produções da UEM, sobressaíram-se os MD organizados por temáticas, os quais representam 52% da produção total orientada pela UNIOESTE. E se fossemos continuar analisando esses números em comparação com os grupos e linhas de pesquisa das outras 5 IPES, verificaríamos uma situação muito semelhante aos que identificamos na UEM e na UNIOESTE, por exemplo.

Para clarificar essa discussão e os números apresentados na Tabela 08, observemos o Gráfico 2. Nele, as barras nos mostram as diferenças de enfoque entre uma IPES e outra.

Gráfico 2: Estrutura e organização dos MD produzidos em 2007/2008, em cada IPES.

1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Leitura Escrita Lei-Es Conh. Lin

Gênero Tema Eixo de Ensino Gênero-Leitura UEL UEM UEPG UFPR UNICENTRO UNIOESTE UTFPR

Diante desses números, podemos dizer que o universo das produções se mostra, além de relativamente grande, rico em suas constituições e diferenças de enfoques. Com esta constatação, fizemos uma incursão nessas produções e resolvemos analisar o trabalho de sete professores99. Esse percurso é o que passamos a discutir no próximo item.