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1 CONTANDO OS FIOS: OS PLANOS E OS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA

1.1 OS PLANOS

Em relação à formação continuada dos professores do Paraná, esta era feita até o ano de 2003 por cursos presenciais ou semipresenciais organizados pela própria SEED/PR e/ou em parceria com outras instituições de formação docente. Esses cursos consistiam em palestras e discussões teóricas realizadas por/com professores, pesquisadores de universidades (especialmente os encontros que aconteceram, de maneira centralizada, na Universidade do Professor14, em Faxinal do Céu, ou de maneira descentralizados nos

14 Centro de formação dos professores da rede estadual de ensino localizado no munícipio de Faxinal do Céu,

região central do estado. A Universidade do Professor, coordenada pela SEED/PR, ofereceu, entre os anos de 1995 e 2002, cursos de formação continuada que congregava grande número de professores em cada etapa de formação. Segundo a filosofia da SEED/PR na época, essa foi uma das formas encontradas para proporcionar a um número maior de professores a formação continuada. Os cursos aconteciam em grandes eventos que reunia de 1500 a 2000 professores por etapa, ofertados nas áreas específicas do currículo e também em eventos multidisciplinares, colocando os professores em contatos com discussões sobre currículo, desenvolvimento profissional, cultural e pessoal dos professores. Esse modelo de capacitação foi e é muito

diferentes Núcleo Regional de Educação15), nos quais os profissionais da educação participavam como ouvintes. Nesses encontros, os palestrantes apresentavam novos pressupostos teóricos sobre a educação, ensino e aprendizagem e cabia ao professor/participante apreender as novas discussões e executá-las em sala de aula, transformando suas práticas e, consequentemente, provocando mudanças na aprendizagem de seus alunos. Ou seja, essa seria uma forma verticalizada de formação, reduzida à recepção dos conhecimentos produzidos por instâncias de formação - oficiais e acadêmicas -, como apontam Andrade (2004) e Tardif (2000) e que não problematizaria as complexidades das diferentes realidades dos professores nas escolas.

Esses encontros (cursos de formação continuada), geralmente e em grande parte, eram frequentados pelos professores do Quadro Próprio do Magistério (QPM), os quais recebiam certificação (com carga horária, frequência e aproveitamento) de participação e utilizavam esses certificados16, juntamente com documentação comprobatória de assiduidade17, avaliação de desempenho profissional18, para terem o direito de progredir na carreira.

A partir de 2003, com a nova política de educação do Estado, o novo plano de carreira para os professores e com as mudanças instituídas na SEED/PR, a formação criticado, tanto por professores, quanto pela gestão que assumiu a administração do estado a partir de 2003. Dentre as críticas, alega-se que os cursos que aconteciam na Universidade do Professor apresentavam-se sem rigor teórico e metodológico e que utilizavam de “práticas místicas (...) ou, ainda, receitas tecnocráticas de Gestão que, nada auxiliaram os professores no enfrentamento da realidade das escolas e na melhoria de suas práticas pedagógicas (...)” (PARANÁ, 2005, p. 71).

15 A SEED/PR conta com 32 Núcleos Regionais de Educação distribuídos em diferentes regiões do estado.

Cada um desses Núcleos se encontra em uma cidade pólo que congrega e coordenam o desenvolvimento das atividades educativas na região.

16 A participação em cursos estava e está atrelada ao Setor de Capacitação da SEED/PR, responsável pelo

planejamento e execuções das ações de formação continuada para os profissionais da educação básica do Paraná. Os professores também poderiam participar de eventos na categoria de seminários e congressos promovidos por entidades autorizadas pela Secretaria de Educação.

17 A assiduidade está relacionada à frequência ao trabalho. O professor não pode ter falta sem justificativas,

conforme disposto nas leis trabalhistas.

18 Em relação ao desempenho profissional, a SEED entrega às instituições (escolas) ou aos departamentos, no

caso dos assessores pedagógicos na SEED ou nos NRE, em que os professores trabalham uma ficha de avaliação contendo três quisitos a serem avaliados: produtividade, pontualidade e participação dos professores nas atividades escolares. Estes itens são avaliados pelo grupo gestor da instituição de ensino ou pelas chefias de departamento. Utilizamos os verbos no presente porque estas ações, mesmo com o novo Plano de Carreira, continuam acontecendo.

continuada dos professores também ganha maior atenção, especialmente, no que se refere às formas de oferecimento de cursos de formação e há avanços significativos na carreira do magistério. Nessa direção, tornou-se corrente nos debates a ideia de que a formação continuada dos professores estaria em paralelo com o desenvolvimento profissional. Assim, atrelam-se a valorização profissional, por meio de incentivos à carreira e à melhor remuneração salarial, com o desenvolvimento dos conhecimentos teóricos e práticos dos professores, por meio do incentivo à produção de material didático e pedagógico.

Desse período para cá, a reflexão, o incentivo à pesquisa, descoberta, revisão, construção teórica, produção e publicação de material didático e pedagógico (PARANÁ, 2005) passaram a ser o cerne da formação continuada dos professores, como já se anunciou na introdução deste texto. Nesta linha de intenções colaborativa, participativa e produtiva de conhecimentos, o novo plano de carreira para os professores da Rede Pública Estadual é instituído em 1º de Julho de 2004 sob a rubrica de proporcionar aos professores o aperfeiçoamento profissional contínuo e a valorização, por meio de melhorias na carreira e na remuneração, objetivando também o desempenho e a qualidade dos serviços prestados à população estudantil do Estado (Cf. Lei Complementar nº 103 – 15/03/2004, Art. 3º, Capítulo II). Neste capítulo da Lei nº 103 destacam-se os seguintes princípios:

V – liberdade de ensinar, aprender, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, dentro dos ideais da democracia; (...)

VII – valorização do desempenho, da qualificação e do conhecimento; VIII – avanço na Carreira, através da promoção nos Níveis e da progressão nas Classes; (...)19

XI – períodos reservados ao Professor, incluído em sua carga horária, a estudos, planejamento e avaliação do trabalho discente (PARANÁ, 2004). Nesse sentido, além da possibilidade de estudos e dos avanços, proporcionados aos professores na carreira, esta Lei prevê a melhoria da qualidade da educação no Estado. Podemos dizer, então, que os incentivos à formação continuada, além de serem perpassados pela possibilidade de construção do conhecimento e atrelada aos incentivos financeiros,

19 No Anexo 2, é possível visualizarmos um quadro e sua explicação que demonstram as mudanças ocorridas

na carreira dos professores no Paraná a partir da instituição, em 2004, do novo Plano de Cargos e Salários dos profissionais do ensino na Educação Básica.

sugerem um conjunto de ações voltadas à valorização profissional e pessoal do professor. Essas iniciativas, segundo Imbernón (2005), são fatores importantes para o desenvolvimento dos professores. Ou seja, para este autor, o conhecimento teórico, as capacidades práticas e a produção intelectual do professor são tão importantes quanto à existência de políticas de incentivo à carreira, ao salário, à promoção na profissão, ao ambiente agradável de trabalho nas escolas, entre outras. Isto é, nas palavras de Imbernón (2005, p. 45), “a formação será legítima então quando contribuir para o desenvolvimento profissional do professor no âmbito de trabalho e de melhoria das aprendizagens profissionais”.

No bojo dessas mudanças, a formação continuada dos professores deixa de ser desenvolvida única e exclusivamente por meio de cursos e palestras presenciais ou semipresenciais e passa para um formato que assume a “autocapacitação” (letramento do professor (KLEIMAN, 2001)), por meio do estudo, pesquisa e produção, de forma colaborativa, de materiais didáticos, tais como: i) Grupo de estudos; ii) o Portal Dia-a-dia Educação com o Ambiente Pedagógico Colaborativo; iii) o Projeto Folhas; iv) o Livro Didático Público20; v) o Programa de Desenvolvimento da Educação que, no seu desenvolvimento, traz atrelado a si a produção de material didático e pedagógico típico dos projetos ii, iii e iv.