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1 CONTANDO OS FIOS: OS PLANOS E OS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA

1.3 O PDE: ESTUDO, PESQUISA E PRODUÇÃO

1.3.1 O PDE: concepção, objetivos e filosofia

O PDE é um programa de formação continuada que busca, por meio de “um conjunto de atividades organicamente articuladas, definidas a partir da necessidade da educação básica”, aproximar este nível de educação do ensino superior, estabelecendo parcerias na busca pela formação, valorização dos professores e pela melhoria da qualidade do ensino público do estado (PARANÁ, 2007, p. 7).

Para atender a esse dispositivo, este programa tem em seu bojo os seguintes pressupostos: a) reconhecimento dos professores como produtores de objetos de ensino e de aprendizagem; b) organização de um programa de formação continuada que atenda às reais necessidades da educação básica; c) superação do modelo de formação continuada que acontece de forma verticalizada, homogênea, fragmentada e descontínua; d) integração entre educação básica e a educação superior; e) estabelecimento de condições efetivas para a criação de espaços, no interior da escola, para o debate e a construção coletiva de conhecimentos; f) consolidação de espaços, sustentados por suportes tecnológicos, para a consolidação das discussões teóricas e práticas entre os professores-PDE34 e os demais professores da rede de ensino (PARANÁ, 2007).

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Ao analisarmos esses pressupostos, percebemos que o PDE é um programa que pretende, por um lado, proporcionar aos professores um processo de formação continuada que seja mais sólido (proporciona ao professor o estudo, a pesquisa e a produção de material didático) e mais coerente com as reais necessidades da educação básica (o professor tem a oportunidade de relacionar a sua prática de sala de aula com as discussões teóricas desenvolvidas na academia) e, por outro, fortalecer a faceta integradora entre os diferentes níveis de ensino, como também o estabelecimento de comunidades de discussão e de trocas de experiências.

O PDE, nesse sentido, é avaliado pela própria gestora (SEED/PR), pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI, pelas Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES)35 do Estado – parceiras no desenvolvimento do programa – e pelos professores como uma política educacional inovadora. Esta avaliação demonstra que

ao optar pela implantação do (...) PDE, um Programa de Formação Continuada que não encontra modelos públicos similares, a educação paranaense, mais uma vez, mostra-se inovadora, coerente na perseguição à utopia da educação de fato universal, democrática, transformadora e de qualidade. A parceria com as Instituições Públicas de Ensino Superior do Paraná decorre da percepção de que a essência do Programa encontra ressonância na reflexão pedagógica crítica nelas produzida. Dessa forma, acreditamos que estamos construindo um Programa que ultrapassa os limites da ação proposta, pois viabiliza uma real integração entre a formação inicial e a formação continuada dos egressos da graduação, que poderá resultar em outras parcerias ainda mais promissoras (PARANÁ, 2007, p. 8).

35 A primeira edição do PDE teve a parceria das duas universidades federais (Universidade Federal do Paraná

– UFPR, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR) e das cinco universidades estaduais (Universidade Estadual de Londrina – UEL, Universidade Estadual de Maringá – UEM, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG e Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná – UNICENTRO. A partir da segunda edição do programa, 2008, outras sete instituições públicas de ensino superior firmaram parceria com a SEED/PR e passaram também a fazer parte do PDE. Elas são: Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, Escola de Música e Belas Artes do Paraná – EMBAP, Faculdade de Artes do Paraná – FAP, Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM, Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR, Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí – FAFIPA, Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória – FAFIUV.

Para atender a estes propósitos, o programa, segundo os documentos que o constitui, tem como principal objetivo proporcionar condições necessárias (subsídios teórico-práticos) aos professores para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas. Para isso, estão em foco outros objetivos que podem ser sistematizados da seguinte maneira: i) proporcionar e estimular a formação continuada ao longo da carreira; ii) articular e nortear as políticas e as diferentes formas de formação continuada; iii) proporcionar mecanismos para que as escolas sejam referências das e nas reflexões e ações educativas (PARANÁ, 2007).

Nesta direção, esse conjunto de objetivos demonstra que este Programa visa à formação permanente dos educadores e, principalmente, está preocupado com o real aprendizado dos estudantes em sala de aula, direitos assegurados por lei, mas que, em muitos casos, se “perdem em atividades isoladas e fragmentadas, conduzidas por interesses imediatos e apenas como respostas às demandas do mercado” (PARANÁ, 2007, p. 7). Para isso, o PDE se propõe a fortalecer a relação entre a teoria e a prática no exercício das atividades docentes. Assim, essa proposta busca respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n. 6394/96. O Art. 67 da LDB aponta para a necessidade da associação entre a teoria e prática e também para a formação do professor em serviço. A Lei prevê, também, que os profissionais da educação devem ter garantido espaço, na carga horária, para estudos, para planejamento e para avaliação, além, é claro, de serem valorizados pelos sistemas de ensino.

Estar de acordo com a Lei é um desafio para os sistemas educacionais, pois tão importante quanto oferecer o acesso democrático à educação pública, é oferecê-la com qualidade (PARANÁ, 2007). O PDE, nessa direção, pretende ser um programa de formação que supera as ações isoladas, fragmentadas, desarticuladas, descontínuas e desvinculadas da prática dos professores e, consequentemente, da escola, como vinham acontecendo nas décadas de 80 e de 90 do século passado (PARANÁ, 2007). Para isso, assume-se que o Programa vê o professor produtor de MD como um elemento que busca contribuir para o seu processo formativo a partir das experiências teóricas e práticas com as quais teve contato ao longo de sua carreira.

Para atender a essa ideologia, o PDE se constitui em um modelo de formação continuada que se organiza por meio de atividades presenciais nas universidades parceiras do Programa e por atividades semipresenciais mediadas por suportes tecnológicos. Nesse conjunto de atividades, o professor tem oportunidade de retomar as atividades acadêmicas de sua formação inicial (fazer pesquisas e produzir material didático), estar, também, em constante contato com seus pares, contribuindo para que a discussão, no interior das escolas, fortaleça a construção do conhecimento por meio de atividades colaborativas. Esta inter-relação (professor-PDE orientadores das IPES professores da rede) é concebida a partir da ideia de “Formação Continuada em Rede”. Sobre isso, o documento síntese (PARANÁ, 2007, p. 13) diz que

no âmbito desse Programa, compreende-se como Rede o movimento permanente e sistemático de aperfeiçoamento dos professores da rede de ensino estadual. Seu objetivo é instituir uma dinâmica permanente de reflexão, discussão e construção do conhecimento. Nesse processo, o professor é um sujeito que aprende e ensina na relação com o mundo e na relação com outros homens, portanto, num processo de Formação Continuada construída socialmente. Objetiva-se que essa inter-relação provoque efeitos tanto na Educação Básica como no Ensino Superior, tais como: redimensionamento das práticas educativas, reflexão sobre os currículos das Licenciaturas e sua avaliação e demais discussões pertinentes. Esse novo modelo de Formação Continuada também objetiva fortalecer a articulação entre os dois níveis educacionais, ou seja, entre a Educação Básica e o Ensino Superior, tais como: redimensionamento das práticas educativas, reflexão sobre os currículos das Licenciaturas e sua avaliação e demais discussões pertinentes. Esse novo modelo de Formação Continuada também objetiva fortalecer a articulação entre os dois níveis educacionais (...). (ênfase no documento).

Para que isso se efetive, o professor-PDE cumpre uma grade de atividades que compreende um programa de estudos (participação em cursos, seminários e simpósios oferecidos pelas IPES, encontros, eventos e cursos oferecidos pela SEED/PR) e de elaboração de ações interventivas na realidade escolar36. Os fundamentos político- pedagógicos do programa que sustentam essas atividades estão sob a ótica da proposta das

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Diretrizes Curriculares para a Educação Básica da SEED/PR. A saber, estes fundamentos são:

a) compromisso com a diminuição das desigualdades sociais; b) articulação das propostas educacionais com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural da sociedade; c) defesa da educação básica e da escola pública, gratuita de qualidade, como direito fundamental do cidadão; d) articulação de todos os níveis e modalidades de ensino; e) compreensão dos profissionais da educação como sujeitos epistêmicos; f) estímulo ao acesso, à permanência e ao sucesso de todos os alunos na escola; g) valorização do professor e dos demais profissionais da educação; h) promoção do trabalho coletivo e da gestão democrática em todos os níveis institucionais; i) atendimento e respeito à diversidade cultural (PARANÁ, 2007, p. 15).

Esta proposta de formação, com base nesses pressupostos, procura assumir o desejo de encaminhar, a partir da educação de qualidade, a verdadeira prática da cidadania, vendo o cidadão (professor e o aluno em sala de aula) não como mero participante da sociedade de seu tempo, mas como um sujeito capaz de pensar e construir “a sua própria formação e participar ativa e criticamente de um projeto de interesse coletivo” (PARANÁ, 2007, p. 16). Para isso, a organização do Programa prevê o afastamento do trabalho (sala de aula) para que o professor-PDE se dedique aos estudos.

1.3.2 O PDE: estrutura e organização