• Nenhum resultado encontrado

1 CONTANDO OS FIOS: OS PLANOS E OS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA

1.2 OS PROGRAMAS

1.2.4 O Projeto Folhas: um material para alunos

Em 2004, o então Departamento de Ensino Médio, hoje departamento de Educação Básica24, na ação de oferecer espaço e propostas de formação continuada (definida por este departamento como uma forma de oportunizar “ao profissional da educação a reflexão sobre a concepção de ciência, educação, conhecimento e disciplina”, categorias que influenciam, segundo a SEED, diretamente a prática docente” (PARANÁ,

23 Nos anos de 2003 e 2004, orientamos e revisamos, como membro externo, os conteúdos produzidos e

publicados no Portal. De outubro de 2004 a março de 2006, compusemos a equipe de orientadores do Portal Dia-a-dia Educação. Nesse período, estivemos envolvidos diretamente nas atividades (cursos de formação continuada, orientação, revisão dos conteúdos) desenvolvidas pelos professores para esse ambiente virtual.

24 Até 2007, os departamentos de ensino regular eram divididos em Departamento de Ensino Fundamental

(DEF) e Departamento de Ensino Médio (DEM), depois houve a junção dos dois departamentos em um único e este passou a se chamar Departamento de Educação Básica (DEB).

2003b, p. 3)), lançou o Folhas. Este é um projeto que implementou meios para que os professores da Rede Pública do Estado pesquisassem e aprimorassem seus conhecimentos por meio da produção, de forma colaborativa, de textos com conteúdo pedagógico e com caráter didático destinado ao uso em salas de aula da educação básica. O Folhas deveria ser produzido a partir dos encaminhamentos teóricos e metodológicos propostos pelas DCE e calcados no conteúdo estruturante das disciplinas de cada nível de ensino oferecido à educação básica.25

Diferentemente do OAC, que é um conteúdo produzido para ser disponibilizado no Portal e que dialoga com o professor, o Folhas é um texto didático produzido com característica de diálogo com o aluno e que é destinado ao uso em sala de aula. Nesse sentido, pode-se dizer que ambos os projetos têm objetivos semelhantes e diferentes. Semelhantes no modelo de processo de formação continuada, em que os professores pesquisam, leem e produzem textos com características pedagógicas e didáticas; diferentes no emprego da linguagem, no formato e no estilo dos textos, pois os dois projetos têm interlocutores diferentes (o primeiro é de professor para professor e o segundo é de professor para aluno). E por isso, eles apresentam estrutura, forma de produção, de validação e de circulação diferentes.

O Folhas apresenta em seu formato algumas características peculiares e, em muitos casos, difere dos materiais didáticos com os quais os professores e alunos estão, tradicionalmente, acostumados a trabalhar nas escolas. Por esse motivo, consideramos interessante apresentar e comentar, como fizemos com o OAC, rapidamente seu formato. O texto do Folhas, segundo o seu manual de produção (PARANÁ, 2003b, pp. 6 – 9), deve, obrigatoriamente, seguir as seguintes especificidades:

i) Problema inicial: uma questão provocadora, um desafio, uma situação problema, que relacione o conteúdo a ser trabalhado, o cotidiano do aluno e o nível de ensino a que se destina. Este problema inicial deve ser formulado de maneira a despertar a curiosidade e provocar no estudante o desejo de pesquisa,

25

de estudo, de investigação do conteúdo pertinente e/ou necessário a sua resolução. Nesta parte, a linguagem utilizada pode ser diversificada (verbal e/ou não-verbal) e a critério da criatividade de cada autor.

ii) Desenvolvimento teórico disciplinar e contemporâneo: esta parte do texto, remetendo-se ao problema inicial, deve ser desenvolvido de forma a abordar o conteúdo proposto para estudo no Folhas, permitindo, por meio do grau de complexidade desejado aos alunos e ao nível a que se destina, a construção do conhecimento por parte dos estudantes. Os autores dos textos devem fazer uso de imagens de forma a facilitar a compreensão do conteúdo; o desenvolvimento teórico deve ser isento de erros conceituais, apresentar linguagem clara, precisa e estar adequado às normas gramaticais e estruturais (coesão, coerência, sequenciação, etc.) no desenvolvimento das ideias. No que se refere ao desenvolvimento contemporâneo, o autor deve esmerar-se para relacionar o conteúdo proposto e mostrar abordagens atuais deste acontecimento.

iii) Desenvolvimento teórico interdisciplinar: ao desenvolver um determinado conteúdo, o autor deverá levantar hipóteses e descobrir que abordagens do conteúdo são possíveis de serem relacionadas a outras, pelo menos explicitamente, duas disciplinas.26

iv) Propostas de atividades (distribuídas ao longo de todo o desenvolvimento): as atividades devem permitir com que os alunos aprofundem os conhecimentos do conteúdo desenvolvido no Folhas. Por isso, devem ser provocativas, instigantes, reflexivas, mobilizadoras e estarem sempre relacionadas ao problema inicial, indicando e encaminhando os alunos à pesquisa.

26 Em relação ao relacionamento interdisciplinar, o manual de produção do Folhas apenas apresenta as

seguintes informações: “(...) além de tratar o conteúdo na ótica da sua disciplina, o autor deve tratá-lo, ainda, na ótica de outras duas disciplinas. Frisamos a necessidade do autor, ao desenvolver o conteúdo, explicitar como outras disciplinas tratam o objeto de estudo contemplado. Relacionar o conteúdo a outras disciplinas não significa apenas mencioná-las ou remeter para que os alunos consultem a Internet, livros, ou determinado professor. Elas devem ser realmente contempladas no desenvolvimento do texto” (PARANÁ, 2004a, p. 9).

v) Referências: os professores-autores devem, cuidadosamente, fazer as referências e dar créditos às citações, às imagens, aos textos e/ou fragmentos de textos utilizados no Folhas, respeitando a lei de direitos autorais e propriedade intelectual.

A produção do Folhas se caracteriza, segundo Nery (2008), como um espaço de formação continuada permanente e não pontual, tanto do professor que produz o texto, quanto dos colaboradores (professores da mesma disciplina em que o Folhas foi produzido, professores das outras disciplinas contempladas nas discussões interdisciplinares e professores que fazem, por ventura, a utilização desse material em sala de aula). Outro ponto interessante do projeto é que o professor que desejar participar poderá, a qualquer momento e quando julgar mais apropriado, se inscrever no programa e iniciar a escrita do texto didático. As informações e orientações de como proceder para a construção do Folhas poderão ser obtidas no Portal Dia-a-dia Educação, no link específico sobre o projeto, na própria escola (tomando ciência do manual de produção ou com os diretores e coordenadores, que, em tese, estão preparados para informar sobre como escrever o material, ou com outros professores que já produziram Folhas); com a equipe pedagógica que coordena o projeto nos NRE; com os Assessores Pedagógicos do DEB- SEED/PR.

A exemplo do OAC, o Folhas também passa por um processo de validação. Do início da produção até a finalização do trabalho para ser disponibilizado para o uso em sala de aula – publicado no portal para ser impresso –, o material passa por três etapas, a saber: i) no interior da escola, onde o Folhas é produzido e envolve outros três professores (um da disciplina a que o texto didático se destina e outros dois das disciplinas relacionadas nas discussões interdisciplinares); ii) no NRE, uma equipe formada por professores (todas as disciplinas do currículos têm representantes nesta equipe); iii) no Departamento de Educação Básica - SEED/PR, envolvendo os Assessores Pedagógicos. Em todas essas etapas, o Folhas poderá voltar ao seu autor para que faça as adequações sugeridas pelos avaliadores/colaboradores. Poderíamos dizer que estas etapas de produção, correção,

validação e publicação do conteúdo tornam, por meio do processo de “autoria coletiva”, o Folhas um dispositivo que tenta estabelecer a coesão do grupo dos professores.

A validação do Folhas acontece de forma circular, primeiramente, no interior da própria escola, onde o autor do texto trabalha. Ou seja, um professor ao produzir seu Folhas estará criando uma rede de discussão e de produção colaborativa, à medida que chama outros professores para o debate, para a colaboração e envolve os colegas no processo de validação27 (revisão, correção, modificação e complementação, resultando num texto com correções conceitual e gramatical, linguagem e grau de complexidade adequados aos alunos da Educação Básica) do seu trabalho, especialmente. Nessa dinâmica, o professor-produtor, no interior da escola, apresenta para os três professores uma cópia de seu Folhas. A partir das orientações de validação, presentes no Manual do Folhas, os validadores fazem a leitura do conteúdo, atentando-se principalmente para os conceitos de sua disciplina que são priorizados e desenvolvidos no texto e também procuram analisar o material, o conteúdo, as atividades na perspectiva (linguagem adequada, grau de complexidade) do aluno. Cada validador emite um parecer descritivo, no qual registra, argumentando, todos os comentários e apontamentos feitos para mudanças e melhorias no Folhas.

O autor do texto recebe esses comentários em arquivo eletrônico e procede à revisão e ajustes do seu trabalho. Depois disso, o autor do texto anexa seu Folhas, acompanhado dos pareceres de validação, no Portal Dia-a-dia Educação, no Sistema Folhas. A partir disso, os trabalhos ficam, ainda em processo de validação, a disposição da equipe do Folhas28 dos NRE, ao qual a escola está vinculada. No NRE, o trabalho passa por mais uma avaliação: é lido, revisado, observando, principalmente, se o autor fez as modificações e adequações sugeridas pelos validadores da primeira etapa. Além disso, é verificado se ainda restam problemas a serem resolvidos, caso haja, o Folhas volta ao autor

27 Hoje, o DEB, responsável pelo projeto, não usa mais as expressões “validação”, “validador”, mas

“colaboração”, “colaborador” por entender que a participação dos colegas é a de colaboração. Isto é, há uma espécie de parceria entre os pares envolvidos na produção do Folhas. Mas, nesse trabalho, optamos por continuar usando as expressões “validar”, “validador”, porque estes são os termos que constavam dos documentos que consultamos.

28

para ser revisado, caso não haja, o Folhas segue o processo e é encaminhado para o DEB (tudo isso acompanhado de parecer descritivo da equipe do NRE). Ao DEB cabe a finalização do processo. Os assessores procedem a uma leitura cuidadosa, verificando a pertinência do trabalho e a adequação às normas estabelecidas pelo manual. Se o material é considerado adequado, este é validado e publicado no Portal e fica a disposição para o uso. Mas, se é detectada a necessidade de adequações, o trabalho é devolvido ao professor que o produziu para realizar as alterações e dar início a um novo processo.