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5.2 ADEQUAÇÃO AOS OBJETIVOS

5.2.1 As razões do objeto de pesquisa

A seleção deste recorte entre tantas ações empreendidas pelo movimento ambientalista justifica-se por razões bem determinadas: primeiro, o caráter assumidamente mobilizador voltado à pressão cidadã sobre a esfera política da campanha global, reproduzido na TicTacTicTac – como já exposto, a versão brasileira –, o que confere a suas estratégias de comunicação centralidade no processo.

O rol de parceiros empresariais da TicTacTicTac denota o protagonismo da comunicação no bojo das metas mobilizadoras da campanha, haja vista os esforços bem-sucedidos de seus condutores em obter a adesão de grandes representantes da indústria midiática brasileira, como a Rede Globo e o Grupo Abril (Figura 8).

FIGURA 8 - PARCEIROS EMPRESARIAIS DA CAMPANHA TICTACTICTAC NO BRASIL

FONTE: Campanha TicTacTicTac (Disponível em: <http://www.tictactictac.org.br/index.php?option=com_content&view

=category&layout=blog&id=41&Itemid=62>. Acesso em: 18 jun. 2011)

Um segundo ponto a se destacar é o expressivo elenco de entidades associadas aos propósitos da Campanha TicTacTicTac no Brasil. Embora este grupo de parceiros (Figura 9) tenha o predomínio de organizações do terceiro setor24, principalmente daquelas cuja atuação se volta à sustentabilidade ambiental, constavam deste rol também representantes da academia, como o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP)25, a Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por intermédio de seu Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC).26

24 Campanha 350; Instituto Akatu pelo Consumo Consciente; Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan); Avaaz.org; Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea); Ecopolítica (jornal online), Ecopress (idem); Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social; Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Fboms);

Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade; Conselho Brasileiro de Manejo Florestal – FSC Brasil; Greenpeace; Grupo de Trabalho Amazônico (Rede GTA); Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase); Instituto para o Desenvolvimento da Cooperação e Relações Internacionais (Idecri); Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec); Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (Inbrapi); Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc); Instituto Socioambiental (Isa); Juventude Alternativa Terrazul; Nossa São Paulo;

Observatório do Clima; Oxfam International; Pensamento Nacional das Bases Empresariais; Rede Ambiental do Piauí (Reapi); Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (Rejuma);

SOS Mata Atlântica; WWF e Vitae Civilis – esta a entidade de cujos quadros veio o coordenador estratégico da Campanha TicTacTicTac no Brasil, Rubens Harry Born.

25 Em seu portal, o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) é apresentado como "um espaço aberto de estudo, aprendizado, reflexão, inovação e de produção de conhecimento, composto por pessoas de formação multidisciplinar, engajadas e comprometidas, e com genuína vontade de transformar a sociedade". Para tanto, "trabalha no desenvolvimento de estratégias, políticas e ferramentas de gestão públicas e empresariais para a sustentabilidade, no âmbito local, nacional e internacional", em quatro linhas de atuação: (i) formação; (ii) pesquisa e produção de conhecimento; (iii) articulação e intercâmbio; e (iv) mobilização e comunicação". (Disponível em: <http://www.ces.fgvsp.br/index.

php?r=site/conteudo&id=1>. Acesso em: 12 dez. 2011).

26 Programa de ensino, pesquisa e documentação vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura – FCC / UFRJ, o PACC, conforme exposto em seu portal, "abriga contribuições interdisciplinares produzidas nos centros de pesquisa da UFRJ e de outras entidades acadêmicas e culturais bem como de organizações da sociedade civil, no país e no exterior". (Disponível em: <http://www.pacc.ufrj.br/o-pacc/>. Acesso em: 12 dez. 2011).

FIGURA 9 - PARCEIROS NACIONAIS DA CAMPANHA TICTACTICTAC

FONTE: Campanha TicTacTicTac (Disponível em: <http://www.tictactictac.org.br/index.php?option=com_content&view

=category&layout=blog&id=41&Itemid=62>. Acesso em: 18 jun. 2011)

A maior singularidade da TicTacTicTac, entretanto, reside no contexto que deu suporte a seus argumentos: as expectativas mundiais em relação à COP-15, evento cujas origem27 e relevância foram determinadas à época – ainda que sucintamente – no portal da campanha:

Dois anos atrás, durante a conferência climática realizada em Bali, todos os governos que participaram do encontro concordaram com um calendário que garanta um acordo sobre o clima na conferência em Copenhague.

O encontro, que deve contar com a presença de grandes chefes de Estado durante os três últimos dias, tem por objetivo chegar a um acordo sobre a redução maciça das emissões de CO2, proporcionando financiamento para mitigação e adaptação e para a transferência de tecnologia do Norte para o Sul.

Este é um marco importante na história e o momento em que a sociedade civil tem para falar em uma só voz que quer um acordo justo, ambicioso e vinculativo (CAMPANHA TICTACTICTAC, 200928).

27 A COP-15 é a sigla da 15.a Conferência das Partes da Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (CQNUMC). A COP é o organismo supremo da Convenção e se reúne anualmente para avaliar a implementação do tratado. Já foram realizadas 14 COPs desde a adoção da Convenção na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992 (Rio-92). A COP-15 será realizada em Copenhague, capital da Dinamarca entre 7 e 18 de dez de 2009.

28 Disponível em: <http://www.tictactictac.org.br/index.php?option=com_content&view=category&id=

57&layout=blog&Itemid=91>. Acesso em: 12 dez. 2011.

De fato, o chamado Plano de Ação de Bali29, em referência à cidade da Indonésia palco da COP-13, em 2007, decidiu "lançar um processo abrangente que permita a implementação plena, efetiva e sustentada da Convenção, por meio de medidas de cooperação de longo prazo, com início imediato, até 2012 e posteriormente, visando alcançar um resultado por consenso e adotar uma decisão em sua 15.a sessão".

Entre as abordagens que, pelos termos do plano, ficaram compromissadas para definição dos governos na COP-15, se estabeleceu "um ponto de vista comum sobre as medidas de cooperação de longo prazo, inclusive uma meta global de longo prazo para a redução de emissões, a fim de alcançar o objetivo final da Convenção, em conformidade com as suas disposições e princípios, em especial o princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas e respectivas capacidades, levando-se em conta as condições sociais e econômicas e outros fatores pertinentes".

Em outro momento do Plano de Ação de Bali, também fica patente o marco diferencial da COP-15, ao decidir que o processo negociado no documento "deverá ser conduzido no âmbito de um órgão subsidiário da Convenção, que fica aqui estabelecido e denominado como Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Medidas de Cooperação de Longo Prazo no âmbito da Convenção, o qual deverá concluir suas atividades em 2009 e apresentar os resultados do seu trabalho à Conferência das Partes para adoção em sua 15.a sessão".

Transcorrida a COP-15, confirmou-se sua singularidade em termos de relevância, como mostra Abranches (2010, p.121):

A reunião sobre mudança climática, em Copenhague, hospe-dou uma cúpula de lideranças globais sem precedentes na história recente da diplomacia.

A décima quinta conferência das partes da Convenção do Clima foi única na história das COP. Foi a primeira em que estiveram tantos dirigentes globais, mais de cem, depois da Rio 92. O grau de mobilização da sociedade civil nunca foi tão grande. Nunca uma COP foi precedida por tantas manifestações e ações em favor de um acordo sobre mudança climática em sintonia com as principais recomendações da melhor ciência do clima disponível.

Amparava-se na sensatez, portanto, que sobretudo as comunidades ambientalista e científica encarassem a COP-15 sob a perspectiva realista de construção de um novo acordo global para a redução de emissões de gases de efeito estufa,

29 Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0208/208978.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2011.

substituindo ou estendendo os compromissos assumidos no Protocolo de Kyoto, cujo período de esforços nesse sentido finda em 2012.

Deste cenário sobressai a propriedade da Campanha TicTacTicTac como objeto de pesquisa da presente dissertação, propósito no qual foram instituídos dois corpus documentais, intrinsecamente ligados a processos de comunicação e sua vinculação à mídia. O primeiro deles reúne onze informativos online da Campanha TicTacTicTac (os de número 1, 3, 5 e 11 no Anexo 1), incluídos os conteúdos cujo acesso foi disponibilizado nos informativos por intermédio de links, haja vista o pressuposto de que apresentassem subsídios científicos aos argumentos da mobilização. Esse cuidado alinha-se ao objetivo aqui proposto, de dimensionar se a amostra de unidades noticiosas disseminada nos informativos online lançou mão de dados científicos para, sob este critério, legitimar as intenções mobilizadoras da campanha, agregando valor a potenciais investidas práticas sobre o tema mudanças climáticas na interface entre comunicação e educação.

A segunda parte do corpus documental compreende 17 notícias (Anexo 2), sobre as quais se operou uma análise inferencial do conteúdo discursivo, de modo a verificar como transcorreu a apropriação, em matérias de veículos jornalísticos com acesso online, das informações pulverizadas pela comunicação da TicTacTicTac, entre os meses de agosto e dezembro de 2009. Esse clipping foi parcialmente extraído do portal da campanha, inicialmente com 25 notícias, das quais foram excluídas 19, por estarem no âmbito de rádio ou TV ou, ainda, em menor ocorrência, por não fazerem qualquer menção direta à TicTacTicTac ou, no caso de uma delas, se tratar de um artigo de opinião.

O corpus foi posteriormente complementado, por intermédio de um dos profissionais da assessoria de imprensa da campanha, centralizada em São Paulo, o jornalista Efraim Neto, que disponibilizou o clipping oriundo de um levantamento próprio, só sendo possível, entretanto, recuperar a produção noticiosa ainda acessível na internet a partir de meados de 2010, quando foi iniciada a pesquisa para a presente dissertação. Das 22 notícias acessíveis em meio a este clipping complementar, resultaram incorporadas à amostra apenas onze – novamente as disseminadas em texto por veículos midiáticos com acesso online e em cujo teor foi citada diretamente a TicTacTicTac. Assim, após as necessárias adequações aos critérios determinados pela metodologia deste trabalho, se chegou a uma amostra composta por 17

notícias – as seis retiradas do portal da campanha, somadas às onze selecionadas dentre o material enviado pelo jornalista Efraim Neto.

Com a análise deste corpus noticioso, a presente dissertação buscou cumprir o objetivo de classificar tais textos da cobertura jornalística à Campanha TicTacTicTac no que se refere a seu nível de aprofundamento, sob a perspectiva de um potencial pedagógico transformador, passível de exercício prático na educação em âmbito formal ou não. Para tanto, foram estabelecidas duas categorias de análise de conteúdo, esmiuçadas adiante.