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5.2 ADEQUAÇÃO AOS OBJETIVOS

5.2.2 Categorias de análise

5.2.2.1 No primeiro corpus: informativos online

Para cumprir o objetivo referente ao primeiro corpus – os onze informativos online produzidos e distribuídos pela Campanha TicTacTicTac –, foram delimitadas categorias de análise de conteúdo, outra vez em observância aos caminhos apontados por Bardin (1977), que explica as categorias como sendo rubricas ou classes de um grupo de elementos. Determinadas as categorias, o pesquisador pode recorrer ao que a autora chama de unidades de registro – palavras, conjuntos de palavras ou temas – um guia para a busca de informações consoantes a seus objetivos de investigação.

Assim, a primeira categoria de análise dos informativos online da Campanha TicTacTicTac é a cientificidade da informação, ou seja, se os argumentos levantados em seus conteúdos, com vistas à mobilização social, tiveram o amparo, claramente exposto, de subsídios científicos. Para essa verificação, foram estabelecidas as unidades de registro "ciência" e seus termos derivados, como "cientistas", "científico"

e "científica"; e, ainda, "pesquisa", "estudo", "investigação" e "relatório", sem que, no entanto, as deduções sejam rigidamente limitadas ao quantitativo destas ocorrências nos textos. Em suma, ainda que norteiem essa parcela específica da análise de conteúdo, não é possível tê-las como única base para as inferências relativas à cientificidade das informações, sob pena de comprometer seu resultado final, dada a

complexidade do tema. Assim, empreendida uma leitura meticulosa dos onze informativos online da Campanha TicTacTicTac, a presente análise procurou detectar também, em suas unidades noticiosas, enfoques de potencial científico, sem que necessariamente trouxessem unidades de registro dentre as estabelecidas e, mais além, apontar contextos em que se revelou favorecida a associação entre o critério científico e os argumentos da mobilização, porém sem o devido aproveitamento de tais oportunidades.

A segunda categoria de análise deste corpus – "estratégias mobilizadoras da comunicação" – se alicerça no entendimento de Toro e Werneck (1996b, p.31), que apontam quatro dimensões comunicacionais básicas de um processo de mobilização social: o imaginário, o campo de atuação, a coletivização e o acompanhamento, cujos aspectos centrais passam a ser explicados.

Assim, a explicitação de seu propósito, com a "formulação de um imaginário"

surge como o primeiro passo no planejamento de um processo de mobilização social. Essa estratégia deve, segundo eles, estar expressa "sob a forma de um horizonte atrativo, um imaginário 'convocante' que sintetize de uma forma atraente e válida os grandes objetivos que se busca alcançar", recurso em cujo uso os autores sugerem que toque "a emoção das pessoas", sem se limitar à abordagem racional, mas sendo capaz "de despertar a paixão" (TORO; WERNECK, 1996b, p.20).

No que concerne a segunda dimensão exposta pelos autores como determinante para a comunicação de uma iniciativa de mobilização social – o campo de atuação –, os autores apontam a necessidade de que sejam fornecidas aos potenciais participantes "explicações sólidas sobre os problemas a resolver, situações a criar ou modificar, sentido e finalidade das decisões a tomar e das ações a seguir em seu campo diário de trabalho" (TORO; WERNECK, 1996b, p.26). Em outros termos, defendem que o processo de mobilização implica indicar as decisões e ações ao alcance das pessoas, dentro de seu campo de atuação e trabalho, sem prescindir de explicar as maneiras e razões pelas quais devem contribuir ao propósito buscado.

No que chamam de "repertório de sugestões", os autores colocam que ele deve ser suficientemente claro, aberto e estimulante, de modo a que as pessoas possam descobrir novas formas de participar.

Quanto à coletivização, Toro e Werneck (1996b, p.30) a definem como

"o sentimento e a certeza de que aquilo que eu faço, no meu campo de atuação, está sendo feito por outros, da minha mesma categoria". Essa união de propósitos e

sentidos é, segundo os autores, responsável por garantir estabilidade a um processo de mobilização social, sendo a comunicação um importante instrumento para a eficácia desta dimensão, ainda que não a única.

Por fim, o acompanhamento dos resultados de um processo de mobilização, a partir de critérios e indicadores "discutidos e definidos de forma democrática", se mostra fundamental para permitir "a cada pessoa saber se seu entorno e se todo o campo de ação do movimento estão mudando na direção desejada" (TORO;

WERNECK, 1996b, p.30). Na ótica dos autores, dar visibilidade social aos resultados não só contribui para manter aceso o entusiasmo dos participantes do movimento, como também estimula a adesão de outros e subsidia argumentações junto a possíveis financiadores de cada iniciativa.

Essas quatro dimensões devem, conforme Toro e Werneck (1996b, p.31), ser construidas e operadas simultaneamente. Por essa razão, na presente análise de conteúdo, não aparecem sistematizadas numa divisão rigorosa, posto que já se antevia a intercessão entre duas ou mais destas dimensões em alguns enunciados.

Também sob esse entendimento, não foram determinadas unidades de registro para a categoria "estratégias mobilizadoras da comunicação", ficando a análise balizada pela observância dos conteúdos noticiosos dos informativos online ao arcabouço teórico destes autores, no que concerne ao que posicionam como as quatro dimensões básicas de um processo de mobilização social: o imaginário, o campo de atuação, a coletivização e o acompanhamento.

Por fim, se chega à última categoria de análise sobre os informativos online da Campanha TicTacTicTac: o "caráter didático da comunicação", estabelecido por Henriques et al. (2004) como traço distintivo de um processo ético e eficaz para a mobilização social, desenhando um tripé formado ainda pela comunicação dialógica, ou seja, sem imposições unidirecionais e, portanto, essencialmente libertadora. Em resumo, para os autores, "a comunicação adequada à mobilização social é, antes de tudo, dialógica, libertadora e educativa", características "intrinsecamente relacionadas, não existindo isoladamente" (p.25).

Dito de outro modo, a libertação de cada sujeito deriva de um processo dialógico em que a mobilização "tenta, com o outro, problematizar um conhecimento sobre uma realidade concreta, para melhor compreender esta realidade, explicá-la e transformá-la" (HENRIQUES et al., 2004, p.27). Explicar cada realidade seria, desta

forma, o cerne da dimensão pedagógica dos processos comunicativos numa mobilização social.

Também quanto a esta categoria – "caráter didático da comunicação" –, vigorou o entendimento segundo o qual uma submissão rigorosa da análise de conteúdo a unidades de registro previamente estabelecidas poderia não ser suficiente para dar conta de uma avaliação com o máximo de profundidade. Assim, a partir da leitura de todo o corpus plenamente focada neste item, a autora da presente dissertação procurou detectar conteúdos noticiosos no bojo dos quais ficou patente o esforço em expor de maneira didática, acessível a um público receptor leigo no assunto: 1) o que são as mudanças climáticas, suas origens e impactos previstos ou já em curso e 2) as razões pelas quais se justificava a pressão popular em prol de políticas públicas visando o enfrentamento do problema.

No sentido contrário, a análise de conteúdo também buscou detectar unidades noticiosas nos informativos online em cujos enunciados o caráter didático da comunicação não se cumpriu, apesar de verificado potencial para tanto.