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6.2 OS INFORMATIVOS QUANTO ÀS CATEGORIAS DE ANÁLISE

6.2.1 Cientificidade da informação

6.2.1.6 Oportunidades não aproveitadas

Neste ponto da dissertação apresentam-se alguns exemplos de notícias, publicadas nos informativos, nas quais não constaram as unidades de registro determinadas metodologicamente para esta categoria, mas em cujo teor se vislumbrou significativo potencial de capitalizar a base científica dos argumentos da mobilização.

No informativo número 2, por exemplo, dentre as quatro notícias da seção

"Atividades da Campanha TicTacTicTac", duas, em tese, poderiam conferir à iniciativa valiosas doses de legitimidade científica, já que registram a aprovação de instituições da esfera acadêmica a sua plataforma de reivindicações. Na prática, porém, isto não ocorreu.

A primeira notícia informa que a "TicTacTicTac foi apresentada com destaque e teve grande receptividade durante o lançamento do Programa EPC (Empresas Pelo Clima), um programa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP (GVces) voltado ao desenvolvimento de propostas e ao compartilhamento de melhores práticas relacionadas à redução de emissões e outras formas de combate às mudanças climáticas".

39 Disponível em: <http://www.tictactictac.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=

228:-cientistas-dao-alerta-sobre-ritmo-do-aquecimento-global&catid=38:noticias&Itemid=54>.

Acesso em: 14 jan. 2012.

Observa-se a perda de uma oportunidade justa e concreta de qualificar didaticamente os argumentos da campanha pelo referendo do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, o que se agrava pelo fato do GVces integrar o quadro de parceiros nacionais da TicTacTicTac, conforme já exposto aqui.

A outra notícia registra que foi firmada parceria entre a campanha e a Universidade Metodista, pela qual a instituição de ensino passou a divulgá-la "entre seus 18.000 alunos, e também incluindo-a na programação de seus eventos e congressos". Embora, como dito, o informativo não tenha capitalizado a parceria em foco, no sentido de revestir a campanha de qualidade científica, tornou-se claro que este valor não passava despercebido a sua cúpula. Essa assertiva se baseia na circunstância de, transcorridos 13 dias da distribuição do informativo, uma notícia40 no portal da Universidade Metodista trazer a seguinte avaliação do coordenador executivo da TicTacTicTac, Aron Belinky: "Além de mobilizar seu grande quadro de alunos, professores e funcionários, dando um efeito multiplicador para a causa, a Universidade agrega credibilidade à Campanha".

Ainda no informativo de número 2, a seção "Atividades de parceiros/sobre mudanças climáticas no Brasil" resume dados sobre três eventos, todos promovidos por entidades do terceiro setor, apenas o primeiro deles sem um link respectivo para a obtenção de informações adicionais. Justamente este, situado no informativo como

"um encontro informal para analisar as diversas propostas em formulação ou negociação para gerar mecanismos, no regime multilateral de mudança de clima, que incentivem a conservação florestal e a diminuição do desmatamento", teve a participação – ainda conforme a notícia – de "especialistas de órgãos de governo e da Universidade". Outra vez, perdeu-se uma oportunidade de associar, na prática, enunciados do terceiro setor ao critério científico, o que, com uma apropriação sagaz, poderia contribuir para qualificar os discursos mobilizadores da Campanha TicTacTicTac.

40 Disponível em: <http://www.metodista.br/noticias/2009/outubro/metodista-e-unica-universidade-do-pais-a-aderir-a-campanha-tic-tac-tic-tac-1/?searchterm=TicTacTicTac>. Acesso em: 10 dez. 2011.

A seção "Atividades de parceiros/sobre mudanças climáticas no Brasil", no informativo de número 3, também registra a promoção de um evento potencialmente capaz de subsidiar, sob o critério científico, os debates levantados pela campanha.

Em São Paulo, segundo a notícia, "a revista Carta Capital e a Envolverde realizaram o evento 'Diálogos Capitais - Na Rota de Copenhague', com o objetivo de "conversar sobre o Brasil e os compromissos para uma economia de baixo carbono que vão ser decididos durante a COP-15". Entre os participantes, ainda conforme a notícia, estava "José Goldenberg, Doutor em Ciências Físicas, ex-reitor da USP e ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo" – em tese, uma contribuição científica a qualificar os debates sobre o tema, porém não esmiuçada no informativo e tampouco associada a um link por intermédio do qual se poderia acessar o saldo dessa participação.

Por fim, o informativo de número 8 apresenta o título de uma notícia – "Brasil poderá perder R$ 3,6 trilhões até 2050 por causa das mudanças climáticas" – já como link para ela, esse inativo no momento da presente análise. Porém, colocando-se estes termos exatos em mecanismo de busca na internet, surgiram várias notícias da alçada da indústria midiática, atestando o interesse na repercussão desse impacto econômico ao desenvolvimento do país. Ao se recorrer a apenas uma delas41, se constata que o estudo a subsidiar tal hipótese – Economia das Mudanças do Clima no Brasil (EMCB) – derivou de tratamento científico, a cargo de um consórcio de instituições públicas e privadas42, entre elas as universidades federais de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

Mais uma vez, se pode inferir a falta de percepção quanto a uma oportunidade estratégica na comunicação da Campanha TicTacTicTac, no sentido de imprimir capilaridade aos alertas de um trabalho científico feito por pesquisadores brasileiros que aventam prejuízos severos impostos pelas mudanças climáticas à qualidade de

41 Disponível em: <http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2009/11/25/internas_

economia,156867/index.shtml>. Acesso em: 12 jan. 2012.

42 Participaram ainda do consórcio a Universidade de Campinas (Unicamp), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). (Correio Braziliense. Disponível em:

<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2009/11/25/internas_economia, 156867/index.shtml>. Acesso em: 12 jan. 2012).

vida brasileira, sob o viés econômico. Dito de outro modo, o estudo "Economia das Mudanças do Clima no Brasil" guardava o potencial de aproximar o público brasileiro da compreensão relativa à importância de cobrar posicionamentos e compromissos do poder público frente ao problema das mudanças climáticas – justamente o que se pretendeu com as mobilizações levadas a termo no decorrer de toda a campanha.