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7.1 QUANTO À CATEGORIA DE ANÁLISE "ASSOCIAÇÃO ENTRE

7.1.1 Subcategoria "fontes citadas"

7.1.1.3 Celebridade que apóia a campanha

Na notícia "Ambiente é a nova bandeira dos famosos" (jornal O Estado de S.Paulo), duas das fontes entrevistadas são celebridades – o terceiro universo de maior ocorrência no corpus, empatado com "agentes do poder público e institucionais (Brasil e exterior)" –, o que se justifica, na reportagem em análise, pelo enfoque editorial claramente exposto já no título.

Depois de apontar a adesão à causa do combate ao aquecimento global por parte de personalidades internacionais da música e do cinema, a notícia afirma que

"no Brasil, a tendência de engajamento de famosos na questão climática também é observada". Cita os exemplos do ator Cauã Reymond, do vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, e do skatista Bob Burnquist.

Os dois primeiros se expressam como fontes. Tico Santa Cruz surge como responsável por colher a assinatura do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para o manifesto da TicTacTicTac; "Nós entendemos que seria de suma importância o comprometimento não só do ministro, mas de todo o governo Lula. Aquele

abaixo-assinado tem pontos fundamentais negligenciados pelas grandes potências e até mesmo pelo Brasil". Depois, defende a presença do então presidente Lula na COP -15: "Pressionaremos para que o presidente participe e se comprometa. Não é uma questão de esperança, é uma questão de atitude, de compromisso real com algo que precisa ser uma prioridade política". Tico Santa Cruz encerra a matéria, explicando porque "os famosos são importantes para chamar a atenção dos fãs para uma causa, mas não resolvem o problema sozinhos": "Sem dúvida nenhuma sempre será importante a colaboração de quem tem visibilidade. Contudo, para atingirmos mais do que só os fãs desses artistas, precisamos de um comprometimento global sério por parte das celebridades, ambientalistas, empresários e todos os seres humanos".

A participação do ator Cauã Reymond é bem menos expressiva. A notícia informa que ele "está otimista de que o acordo será fechado em Copenhague"; que pela primeira vez ele se engajou em um movimento ambiental "grande" e que "vê com naturalidade o envolvimento de artistas nas mobilizações em prol do ambiente".

Sucede-se então uma fala direta de Reymond: "Acho que figuras públicas têm essa obrigação".

O ator Cauã Reymond (Figura 26) concede entrevista à revista Época, sob o título "Galã engajado"77. Na abertura, é apresentado como "garoto-propaganda da campanha TicTacTicTac, uma iniciativa global por um acordo sobre as mudanças climáticas" e surge a primeira de suas falas: "Eu sofro com o descaso em relação ao meio ambiente. Espero conscientizar uma parcela dos brasileiros". Naturalmente que, em se tratando de uma entrevista, Cauã é a única fonte.

77 Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI95206-15228,00-GALA+

ENGAJADO.html>. Acesso em: 8 jun. 2011.

FIGURA 26 - FOTO DO ATOR CAUÃ REYMOND EM ENTREVISTA FONTE: Revista Época. (Disponível em:

<http://revistaepoca.globo.com/Revist a/Epoca/0,,EMI95206-15228,00-GALA+ENGAJADO.html>. Acesso em: 08 fev. 2012)

No desenrolar do texto, o "galã engajado" contribui para levar ao público exemplos desta conscientização a que se propõe, quando compartilha "ações simples" que passou a fazer em seu dia-a-dia: "Tenho uma cisterna lá em casa para pegar água da chuva, guardo garrafas plásticas pra encher de água, em vez de comprar várias. Do lado da minha cama eu tenho uma garrafinha velha que eu já enchi e esvaziei centenas de vezes. Quando eu viajo de avião, mantenho um copo descartável comigo, em vez de pegar um monte cada vez que quero beber alguma coisa. Estou pensando em comprar um carro elétrico. Claro, se ele atender as minhas necessidades. Mas ouvi falar que estão para chegar ao Brasil uns modelos muito bons".

Frente à pergunta "Você recicla o lixo?", ele de novo exemplifica procedimentos individuais potencialmente capazes de instar o leitor a, também, aplicá-los em seu cotidiano, mesmo que passíveis de adaptações. Respondeu Cauã Reymond: "Sim, tento separar o máximo que posso. Eu leio sempre uma revista americana chamada Surfer, que estimula os surfistas a proteger o mar, as praias, com pequenas ações cotidianas. Dali eu tirei a ideia de todos os dias tirar, além do meu lixo, mais três coisas da praia. Então hoje eu saí de lá com um pacote de

biscoito, um saco plástico velho e um canudo. Fico muito impressionado com as imagens da camada de lixo que existe no Oceano Pacífico. Também gosto da ideia da reciclagem de roupas. Como ator, eu ganho muitas peças e sei que não vou usar todas elas, então eu doo, às vezes para amigos. Isso reduz o consumismo. Além disso, eu tenho comido cada vez mais alimentos orgânicos, porque isso ajuda a reduzir o uso de agrotóxicos".

Em sua última alusão, na entrevista, ao engajamento em uma causa ambiental, Cauã Reymond questiona a negligência da classe média carioca no cuidado com duas praias do Rio de Janeiro. Em resposta à pergunta "Você acha difícil incutir essa consciência ecológica no Brasil?", ele diz: "Acho, porque muita gente não tem condições básicas para viver. Não dá para pensar no meio ambiente se você sobrevive mal, não tem educação. Isso tudo eu compreendo. O que eu não aceito é ir correr na praia do Pepe (Barra da Tijuca) num domingo à tarde e encontrar tanto lixo. Ou ver como as areias do Leblon estão contaminadas. Porque quem frequenta essas praias é a classe média. Aí não é falta de informação, é falta de vergonha".

Na terceira notícia – "Madonna preocupada com o aquecimento global"

(portal da revista Superinteressante) – ainda que a cantora não se manifeste diretamente, essa análise optou por a incluir como fonte, tendo em vista o fato de seu vídeo Get Stupid surgir na matéria como exemplo do papel de celebridades, "não só as campanhas ambientalistas", em reforçar "a ideia de que temos pouco tempo para agir, antes que as mudanças climáticas, que já estão acontecendo, saiam do nosso controle e ameacem a sobrevivência de nossa espécie".

No entanto, se observou um descompasso na concepção do texto, desde o título. A notícia começa informando que "neste sábado, mais de 4 mil eventos em 161 países vão alertar, mais uma vez, sobre a urgência de os governos tomarem decisões acertadas contra o aquecimento global, em Copenhague, no final do ano";

prossegue comentando o abaixo-assinado "para pressionar as negociações internacionais", iniciativa atribuída à parceria "das campanhas TicTacTicTac e 350".

Explicando a falta de pertinência já no título da notícia, em seu decorrer nada indica que Madonna estivesse especificamente "preocupada com o aquecimento global". A cantora aparece no bojo do registro segundo o qual "Até Madonna, em seu vídeo Get Stupid, diz: Acorde, a hora é agora! Com imagens que caracterizam nossa louca sociedade de consumo, a imensa produção de lixo, a obesidade em massa e as

ditaduras, de um lado, e de outro, as consequências de fome, miséria, seca, pobreza e violência, Madonna lembra que a escolha é de cada um de nós".

Neste balaio de mazelas ambientais, sociais e políticas, portanto, não há associação direta com os impactos das mudanças climáticas.