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4.3 COMUNICAÇÃO/EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A EMERGÊNCIA DE

4.3.1 Práticas pelo meio ambiente: um terreno a ser percorrido

Não são comuns investigações acadêmicas descrevendo iniciativas no campo da interface entre educação e comunicação exclusivamente de foco ambiental no Brasil e tampouco avaliando os resultados destas, sob critérios científicos.

O Departamento de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo disponibiliza, em seu portal, um nicho específico sobre "Educomunicação Socioambiental", agregando artigos acadêmicos – porém quase todos voltados ao conceito de forma ampla – e notícias sobre eventos na área ou sobre iniciativas em curso, na esfera pública e na do terceiro setor.

O projeto "Nossa Mídia", desenvolvido pelo Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná com financiamento do Programa Universidade Sem Fronteiras da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), atuou em oito escolas de níveis fundamental e médio, distribuídas por Curitiba e por cidades do litoral paranaense nos anos de 2009 e 2010. Uma espécie de guia concebido a partir desse trabalho se propõe a oferecer apoio a educomunicadores ao sistematizar "o que é a Educomunicação e como podemos aplicá-la nas salas de aula, produzindo mais participação, conhecimento e cidadania" (SETI; UFPR, 2010, p.1). A publicação apresenta um elenco de ações levadas à prática em vários estados, sob o título "o que é feito em Educomunicação no Brasil", entretanto, também neste caso, não se registra nenhuma especificidade no que concerne à questão ambiental.

Colocada essa escassez de fontes científicas, dentro do Programa de Educomunicação Socioambiental, já citado anteriormente, um olhar empírico destaca o Projeto Tela Verde, promovido pelo Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, em parceria com a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, com o objetivo de estimular a produção audiovisual independente sobre a temática ambiental.

O projeto inclui a realização da Mostra Nacional de Produções Audiovisuais Independentes com Temática Socioambiental, o chamado Circuito Tela Verde, com uma perspectiva de participação social basilar nos propósitos da iniciativa, expostos no portal do Ministério do Meio Ambiente, no campo de ações e projetos da alçada de sua Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental:

O Circuito tem como objetivo promover a sensibilização e reflexão dos públicos sobre o meio em que vivem; levar filmes sobre a temática a setores excluídos dos circuitos dos festivais de vídeos ambientais, produções premiadas e/ou de reconhecida importância para conscientização socioambiental; e estimular a produção de materiais pelas próprias comunidades, sendo eles jovens, crianças e adultos, que conseguem olhar seu meio e traduzir, em processo educomunicativo, em linguagem de áudio e vídeo. Dessa forma, busca-se conscientizar as pessoas da importância de suas ações nos processos de gestão ambiental. A comunidade não só pode, como deve participar dos processos de gestão ambiental local (MMA, 2011).

O terceiro setor abriga práticas em comunicação/educação de foco ambiental, nem sempre claramente posicionadas desta forma, o que não impede uma apropriação de seus elementos inclusive por esferas do poder público. Um exemplo está no

"Manual de Educomunicação – Apoio às atividades da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente20", editado pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação (2006), cuja metodologia se baseia na do "Projeto Cala-Boca já morreu", associação sem fins lucrativos constituída em 2004, depois de nove anos como uma ação – também sem fins lucrativos – do Instituto Gens de Educação e Cultura, empresa com sede em São Paulo (SP). Resumidamente, a metodologia do projeto prevê quatro etapas no processo educomunicativo: levantamento e definição da pauta;

produção; apresentação e, por fim, avaliação.

20 A Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente é promovida conjuntamente entre Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Educação (MEC). A primeira versão, em 2003, envolveu 16 mil escolas de todo o país, mobilizando quase seis milhões de pessoas em 4.067 municípios. O processo desencadeou o Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, voltado à formação de professores e estudantes dos estabelecimentos de ensino participantes.

A II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente foi precedida por conferências locais, realizadas em 11.475 escolas públicas e privadas, urbanas e rurais de 5.a a 8.a séries do ensino fundamental e, também, em comunidades indígenas, quilombolas, assentamentos rurais e em grupos de meninos e meninas em situação de rua, sem acesso ao estudo formal. Ao todo, esse "amplo processo de aprendizagem voltado para a cidadania ambiental mobilizou 3.801.055 participantes". (II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente – Processo e Produtos.

Brasília: Ministério da Educação e Ministério do Meio Ambiente, 2005/2006).

Assim, aprofundando essas etapas, o "Manual de Educomunicação" estimula as delegações à II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, realizada em abril de 2006 na cidade goiana de Luziânia, a "contar um pouco do que aconteceu para seus professores e amigos de uma maneira mais detalhada". E convida:

"Partilhe este manual com muitas pessoas – seus professores, amigos – e produzam juntos sua própria comunicação!" (MMA; MEC, 2006, p.3).

Voltando ao "Projeto Cala-Boca já morreu", com sede em São Paulo, a associação mantém uma rádio web homônima que veicula programas feitos por crianças e adolescentes ligados diretamente à iniciativa ou no bojo de séries de ações como as efetivadas num passado recente, envolvendo estudantes do ensino fundamental no Município de Sorocaba (SP).

Em suas atividades na interface comunicação/educação, com o uso do rádio e também de outros meios, foi adotada uma metodologia que, conforme expõe o

"Projeto Cala-Boca já morreu", se fundamenta no direito humano à comunicação e em princípios da co-gestão, caminhos para que se possa aprender um tipo de convivência social pautada no envolvimento das pessoas em processos de construção coletiva de autoria.

Essa construção coletiva de autoria ganhou o formato final de poemas, num trabalho interdisciplinar sobre as questões ambientais desenvolvido durante três meses com estudantes de quarta série da rede estadual de ensino em São José dos Campos (SP). Ao apresentar o processo, Carvalho (2000, p.109) aponta que:

Estudando temas ambientais, os alunos tiveram a oportunidade de ler diversos textos, assistir a filmes, analisar poemas e letras de músicas, fazer visitas e entrevistas referentes ao assunto. Discutiram conceitos das várias disciplinas do currículo e vivenciaram atividades de leitura e produção de texto que culminaram com a organização e a publicação de um livro de poemas intitulado Planeta Terra sua poesia não pode acabar.

Já Martirani (2009, p.89) mostra como um blog tornou-se ferramenta para o

"desenvolvimento de metodologia para a educação e a comunicação ambiental no contexto de uma bacia hidrográfica, com enfoque na temática da conservação dos recursos hídricos". Conforme a autora, as atividades fazem parte do projeto de pesquisa "Novas tecnologias da comunicação e educação ambiental na bacia hidrográfica do rio Corumbataí", cujo objetivo é "desenvolver – propor, aplicar,

avaliar e aprimorar – metodologia para o fortalecimento e enraizamento da educação ambiental por meio da comunicação".

Assim, o blog "Educorumbatai" foi criado em 15 de fevereiro de 2009, como

"canal de experimentação para conjunto de atividades de iniciação à prática jornalística, envolvendo a produção de material textual, visual e/ou audiovisual", que a equipe do projeto desenvolve na perspectiva de "contribuir para a formação e fortalecimento da identidade e percepção socioambiental dos moradores dessa bacia hidrográfica"

(MARTIRANI, 2009, p.95).

Sob esse prisma, entre as atividades do projeto, foram promovidas "oficinas de educomunicação", para trabalhar habilidades de leitura e escrita, tendo como público, em 2009, alunos de sexta série de escolas públicas de cidades por onde passa o rio Corumbataí: Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba.

Verifica-se a mediação dialógica, cuja qualidade depende do "cuidado de instrumentalização interativa", que "significa mediar, documentar e amplificar o intercâmbio de valores", como preconiza o Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (2005, p.10), para quem esse cuidado "confere ao processo educativo a qualidade indispensável do testemunho das experiências humanas".