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As relações ensino-pesquisa no PIBID – Pedagogia

Ainda que o PIBID, como Programa, priorize a docência como processo formativo dos licenciandos, o projeto do curso de Pedagogia da FACED-UFBA considerou de fundamental importância garantir, na formação dos bolsistas, a articulação entre ensino e pesquisa. Tema atualmente muito debatido e valorizado na formação de professores, seja da educação básica, seja no ensino superior, conforme revela André (2001, p. 56):

O movimento que valoriza a pesquisa na formação do professor é bastante recente. Ganha força no final da década de 80 e cresce substancialmente na década de 1990, acompanhando os avanços que a pesquisa do tipo etnográfico e a investigação-ação tiveram nesse mesmo período. No Brasil, assim como no exterior, esse movimento caminhou em múltiplas direções: Demo (1994) defende a pesquisa como princípio científico e educativo; Lüdke (1993) argumenta em favor da combinação de pesquisa e prática no trabalho e na formação de professores; André (1994) discute o papel didático que pode ter a pesquisa na articulação entre saber e prática docente; Geraldi, Fiorentini e Pereira (1998) enfatizam a importância da pesquisa como instrumento de reflexão coletiva sobre a prática; Passos (1997) e Garrido (2000) mostram evidências, resultantes de seus trabalhos [...] Sobre as possibilidades de trabalho conjunto da universidade com as escolas públicas, por meio da pesquisa colaborativa.

No âmbito da graduação, adotamos a pesquisa como princípio educativo, a partir da visão de Pedro Demo (2007), de modo que essa fosse, de fato, formativa e útil para a ação nas escolas conveniadas, garantindo a articulação teoria-prática na construção de conhecimentos.

Como princípio educativo, a pesquisa colabora com uma formação para a autonomia intelectual, para a ação nos espaços cotidianos e para a formação da consciência crítica.

Segundo Feiberger e outros (2009, p. 6),

[...] Demo e Veiga mencionam a pesquisa como caminho didático e investigativo, por meio do qual a aprendizagem é orientada para a autonomia do aluno. [...] os sujeitos quando percorrem este caminho, atingem certa independência intelectual, porque aprendem a pensar por si, a (re) construir conhecimentos, saem da condição de objeto para atuar na condição de sujeito [...] a pesquisa se configura como experiência educativa e de emancipação.

Nesse sentido, a pesquisa integrada à formação dos educadores possibilita a autofor- mação, no que se refere à construção da autonomia intelectual, a passagem da condição de objeto a sujeito do conhecimento e assim viabiliza a formação dos educandos, garantindo a instrumentalização para a cidadania.

O conhecimento assim produzido e (re)construído garante, como considera Demo (2007), interpretação própria e apropriada, elaboração e produção pessoal, crítica e reflexiva, além de favorecer a educandos e educadores o aprender a aprender e o aprender a pensar.

Fazer pesquisa enquanto ensina é assumir a condição de sujeito ativo, inquieto, de inicia- tiva e produtor de conhecimento, superando a perspectiva da reprodução passiva, ajudando os educadores a refletirem sobre a natureza da epistemologia que produzem ao educarem. Epistemologia pode ser, conforme Santos (2006b, p. 97),

1. [...] considerada sinônimo de Teoria do conhecimento. Ela se ocupava da natureza e do alcance do conhecimento científico. Suas questões eram: como se pode conhecer o mundo cientificamente? Em que se distingue o conhecimento obtido por um cientista do conhecimento de um leigo? Nesta perspec- tiva, se considerava que a maneira de conhecer cientificamente o objeto estava condicionada à concep- ção que se tinha do mesmo objeto, então, nesse sentido, admitia-se que subjacente à Epistemologia estava a ontologia que se ocupava dos estudos sobre a natureza ou a essência do ser a ser conhecido. 2. No segundo momento, o conceito de epistemologia ficou reduzido à análise da linguagem da ciência e estava associado ao Círculo de Viena, reunião de importantes filósofos e es- tudiosos do início do século XX, os quais consideravam que as proposições científicas refletiam de maneira especular o mundo. Tal campo ficou conhecido como Filosofia Analí- tica que deveria indicar como alcançar as proposições verdadeiras sobre o mundo natural. 3. Finalmente, com a evolução do conceito, há um renascimento da Epistemologia como Fi- losofia da Ciência. Ela passa a propor vários problemas ou aspectos da ciência e passa a ter diversos ramos: teoria do conhecimento, metodologia da ciência, semântica da ciência, lógica da ciência, ontologia da ciência, axiologia (estudo dos valores) da ciência, ética da ciência. 4. [...] então, destacam-se, principalmente, a epistemologia como teoria do conhecimento, ética e ontologia na ciência da educação, ou seja, na Pedagogia, referente aos modos de produção de conhecimento do educador na relação efetiva com o educado.

Sendo assim, ao incorporar à sua prática docente a pesquisa, o educador vai também refletir sobre a natureza do seu modo de produzir conhecimento, junto aos educandos, e buscar a ampliação crítica da realidade educativa, de forma ativa e reflexiva.

Articular teoria-prática e ensino-pesquisa é proporcionar aos educandos, neste caso os bolsistas PIBID – Pedagogia, estudo, reflexão e elaboração própria de conhecimento, deixan- do de lado a necessidade de “receitas prontas” e a simples reprodução de conhecimento. Criando concepções epistemológicas próprias sobre aquilo que ensinam no cotidiano da sala de aula e da escola; sendo críticos e criativos na produção de conhecimento, os educadores habilitam-se a “[...] criar situações por meio das quais os alunos aprendam a gerenciar, a selecionar e a tratar as informações e os conhecimentos de forma competente e com signifi- cado”. (FEIBERGER, 2009, p. 7)

Além disso, a pesquisa como princípio da formação docente possibilita a capacidade de propor e de se fazer perguntas cotidianamente, tal qual a natureza da criança, segundo Demo [2011?]. Saber problematizar, para saber pensar e depois saber intervir no espaço da sala de aula e na educação, de forma geral. Pensar e intervir colaboram com a integração teoria-prática.

A proposta de integrar teoria e de educar pela pesquisa, segundo Demo (2007, p. 5), tem pelo menos quatro pressupostos:

- a convicção de que a educação pela pesquisa é a especificidade mais própria da educação es- colar e acadêmica,

- o reconhecimento de que o questionamento reconstrutivo com qualidade formal e política é o cerne do processo de pesquisa,

- a necessidade de fazer da pesquisa atitude cotidiana no professor e no aluno,

- e a definição de educação como processo de formação da competência histórica humana. É tomar a vida e o espaço escolar como ambientes educativos e de pesquisa, colaborando para que educadores e educandos se façam e se refaçam cotidianamente, garantindo-lhes a condição emancipatória de sujeitos do conhecimento. Ainda segundo Demo (2007), ambas, educação e pesquisa, juntas, coincidem porque são contra a “ignorância”; valorizam o ques- tionamento, em especial aquele que ajuda na reconstrução do conhecimento; valorizam a

articulação teoria-prática; determinam a condição de sujeito para educadores e educandos; valorizam um ambiente de criatividade, de liberdade de expressão e de crítica; condenam a cópia e destacam a importância do saber pensar e intervir, aprendendo a aprender. Educar e pesquisar são processos relacionais e interdependentes, por isso tão valorizados no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência do curso de Pedagogia da UFBA.