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Projeto Brincando e Cantando

Quando pensamos em brincadeira, na maioria das vezes, pensamos em diversão, algazarra, falta de seriedade, tanto que, quando não acreditamos em algo que alguém nos diz, é comum falarmos: “Deixa de brincadeira fulano”. Outra premissa que é muito comum entre os adultos é dizer que as crianças só fazem brincar, como se brincar fosse nada, ou algo muito irrelevante. Porém, o conceito de brincar, segundo Luckesi (2005), contradiz todas essas visões: brincar aqui significa agir lúdica e criativamente, de tal forma que vamos constituindo nossa passagem de um estado funcional com a mãe para um estado de independência, no espaço paterno.

O ato de brincar, segundo Luckesi (2005), possibilita que o ser humano transite entre a subjetividade, “lei da mãe”, e a objetividade, “lei do pai”. Essa transição, além de nos apro- ximar da realidade, impulsiona os processos criativos, já que, para se criar algo, é necessário imaginar. O imaginário está no campo da subjetividade, e para que o imaginado tome forma é necessário nos aportarmos da objetividade.

Com essas explanações, é possível caracterizar o brincar como tudo o que nos permite transitar da objetividade para a subjetividade, de forma lúdica e criativa. Para termos uma ideia completa do que é brincar, é preciso compreender o que é ludicidade, segundo Luckesi (2005), uma experiência plena, e não necessariamente divertida.

Na visão de Luckesi (2005), o que determina uma atividade lúdica não é o teor da atividade, mas a relação que o participante da atividade tem com ela. Para ele, uma pessoa vivencia a ludicidade, ou como ele mesmo diz a “plenitude” que uma atividade proporciona, quando ela mesma se entrega totalmente à atividade.

Agora que já foi explicitado e discutido o sentido de brincar, não esquecendo que o mesmo engloba também a ludicidade, será abordada a concepção freudiana de como a brincadeira age no inconsciente, permitindo que sejam expressas externamente as sensações do interior. Para Freud, existem duas forças fundamentais: as regressivas e as progressivas, a primeira está relacionada ao passado e a segunda ao presente. A ação de brincar, inconscientemente, revela o que está relacionado a essas forças, situações, traumas, medos e perspectivas.

A psicanálise compreende o brincar como uma forma de desvendar os mistérios do in- consciente, libertação, e cooperador na construção da identidade. Através da brincadeira, é

possível identificar se a criança está passando por problemas, bloqueios ou dificuldades. Os jogos cooperam diretamente no desenvolvimento da inteligência e no respeito e compreensão das regras. A aprendizagem dá-se por meio de dois processos: acomodação e assimilação. Luckesi (2005) assim os conceitua: assimilação é o processo de reconhecimento do que já tenho familiaridade, e acomodação é a apropriação do que ainda não tenho conhecimento. Esses fenômenos tornam possível entender como a inteligência se desenvolve:

A inteligência começa, pois, pela interação entre sujeito e meio. É assim que a inteligência se organiza ao mesmo tempo a si própria, progredindo paulatinamente no duplo sentido da acomo- dação ao objeto (processo de exteriorização) e assimilação do sujeito (processo de interiorização). (POKER, 2008, p. 65)

A aprendizagem acontece desde o nascimento da criança, e, segundo Piaget, se desen- volve com jogos em três estágios diferentes: jogos de exercício, jogos simbólicos e jogos de regras. No primeiro estágio, que vai do nascimento até os 3 anos, as crianças descobrem seu corpo e a relação do mesmo com o mundo, tomando consciência das regras no jogo em si. O jogo, nesse período, é motor e individual, e prevalece a acomodação, conceito piagetiano muito difundido. A criança apreende o mundo ao seu redor.

As crianças iniciam os jogos simbólicos, entre 4 e 6 anos. Esse é o momento do imaginá- rio, do faz de conta, da imitação, pois é quando a criança fantasia a realidade. Nesse período, uma caneta pode se tornar um avião na mente de uma criança, e o indivíduo assimila o que acomodou da fase anterior, tentando tornar natural aquilo que foi acomodado, prevalecen- do a assimilação. As regras do jogo já são consideradas, porém modificadas pelas próprias crianças, quando necessário, em seu benefício.

Os jogos de regras, a partir dos 6/7 anos de idade, é o momento da aproximação com a realidade, conforme Luckesi (2005). As regras passam a ser vistas como norteadoras do jogo, elas são discutidas e definidas pelo grupo, o que contribui para a relação futura que essas crianças terão com as regras da sociedade. Nessa etapa, as crianças, segundo Piaget, passam a ter consciência das regras.

A escola tradicional constitui-se pela transmissão de conteúdos e vê a ludicidade, não como uma forma de trabalhar esses conteúdos de um modo mais prazeroso, mas apenas para

preencher o tempo livre das crianças, fazendo com que o trabalho com o lúdico seja mini- mizado ou negado nas práticas pedagógicas. Quando é cultivada, a criatividade possibilita a formação de uma geração com a capacidade de sonhar, inovar, imaginar e buscar novas possibilidades de resolver problemas. A maioria dos educadores, porém, prefere continuar no método tradicional, pois acredita que é o correto, ou o mais fácil, e, com isso, não possibilita espaço para que o novo se instale. Educar é muito mais do que a mera transmissão de co- nhecimento.

As atividades lúdicas, que propiciam que trabalhemos aspectos tão significativos para a huma- nidade e para o mundo de hoje, solidariedade, a autonomia e auto-expressão, se mostram como um caminho viável, exeqüível, enfim, algo que não se demonstra apenas em teorias mentais e livrescas, mas na realidade que já estamos construindo e vivenciando em nossas salas de aulas. (PEREIRA, 2004, p. 95)

De acordo com Pereira (2004), as atividades lúdicas possibilitam uma convivência har- moniosa, e também contribuem para a diversidade da educação, a compreensão do outro, o respeito e as relações intra e transpessoais. As mudanças pedagógicas têm que passar por um processo de mudança interna da pessoa, ou seja, do educador, de superar os padrões criados e estabelecidos e ter a consciência de que “qualquer mudança é possível se começar em nós”, e que não podemos mudar o que está fora, sem partir de nós mesmos essa transformação.

O brincar, nas classes de alfabetização, proporciona não só aquisição da leitura e da escrita, mas contextualiza conteúdos que antes estavam dissociados do mundo do educando e é por meio das fantasias, hipóteses, criatividade que as habilidades a serem desenvolvidas são mais facilmente alcançadas. O mais importante no brincar é que as crianças o fazem tão somente por prazer, sem medos, culpas e castigos, apenas brincam. Todavia, é ingênuo pensar que o brincar está dissociado do aprender; toda e qualquer atividade prazerosa puramente por desejos e vontades fornece ao educando possibilidades ainda maiores de assimilar saberes que são propostos nas escolas e no mundo.

O jogo é muito importante, pois ele desempenha uma grande influência na construção do homem, em todo o seu comportamento e na sua capacidade de se adaptar à sociedade. A

oportunidade de jogar constitui ganho e desenvolvimento, já a falta do jogo pode significar uma parte de si mesmo permanentemente perdida.

Essas formas de aprendizagem e uso da língua oral, como conteúdo escolar, nos leva- ram a refletir sobre um projeto que trabalhasse concomitantemente o texto oral e escrito, com o uso do gênero discursivo, adequado à faixa etária, em canções. O Projeto Cantando e Brincando, tinha como objetivo geral o de proporcionar, por meio de jogos e musicalidade, habilidades fonológicas, interpretativas e a escrita dos alunos. Esta fusão das canções às brincadeiras favoreceu a concentração, a capacidade de análise visual e o desenvolvimento do raciocínio lógico e a atenção.

[...] não é qualquer texto que, além de permitir este tipo de “leitura”, garante que o esforço de atribuir significado às partes escritas coloque problemas que ajudem o aluno a refletir e a aprender. No primeiro caso, os textos mais adequados são as quadrinhas, parlendas e canções que, em geral, se sabe de cor. (BRASIL, 1997, p. 56)

A proposta presente no Projeto Cantando e Brincando desprende-se da ideia, ainda aceita e praticada por muitos educadores, de que o domínio do bê-á-bá, separado das práticas orais, é um caminho para o ensino da língua. Mito! Palavras, sílabas e letras descontextualizadas não garantirão o futuro gosto dos educandos pela leitura.

Trabalhar com música na educação possibilita ao aluno desenvolver habilidades ainda não adquiridas, assim como também ajuda a aprimorar seus conhecimentos. Portanto, a linguagem musical estimula a oralidade, melhora a expressão corporal, auxilia no desenvol- vimento cognitivo, funciona como um ótimo fator para a integração social do indivíduo junto a seu grupo. De acordo com os Referenciais para a Educação Infantil, o trabalho com música oferece subsídios para que a criança desenvolva as seguintes capacidades:

Explorar e identificar elementos da música para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo; perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e interpretações musicais. (BRASIL, 1998, p. 55)

Assim, analisando a importância que a música tem no desenvolvimento infantil, busca- mos, em nossas ações, integrar as atividades escritas à música, construindo um projeto com o

intuito de trabalhar as habilidades cognitivas dos alunos, como também resgatar as cantigas de rodas que muitos deles ainda não conheciam. Com isso, possibilitamos maior integração na turma, o aprimoramento da oralidade e da coordenação corporal, trabalhando, ainda, a lateralidade que muitos deles não tinham noção de como se organizar no espaço.

Figura 16 - Oficina Aprendendo, Brincando e Criando Fonte: Produção das autoras/bolsistas PIBID - Pedagogia.

Procedimentos do projeto

Objetivo: Possibilitar aos educandos, por meio de jogos contextualizados com músicas infantis, o desenvolvimento das habilidades cognitivas, interpretativas, além de auxiliar na oralidade.

1º Momento: Apresentação da temática em sala com perguntas Qual a música que eles aprenderam na escola?

Quais as músicas que sabem cantar? Que música ouve quando estão em casa? Sabem cantar alguma música infantil?

Quais os jogos que sabem jogar?

2º Momento: Escolha das músicas e dos jogos - A Barata Bingo de palavras

- A canoa virou Quebra-cabeça - Borboletinha Jogo da memória

- Meu boneco de lata Jogo da Amarelinha - O cravo e a rosa Dominó

- Se essa rua fosse minha Jogo da Rima 3º Momento: Realização das atividades

- Primeiramente, apresentação [cantada] da música, reflexão sobre a mesma; - Apresentação do jogo, suas regras e combinados;

- Jogando o jogo com base na letra da música;

- Realização de uma atividade escrita, como uma forma de avaliar o aluno; - Por fim, um momento de brincar livre com a música.

Materiais: CD com as músicas, o jogo construído, atividade escrita; rádio. Culminância do Projeto

As bolsistas de Pedagogia pertencentes ao grupo da Escola Municipal Vivaldo da Costa Lima apresentaram, na Faculdade de Educação/UFBA, uma Oficina sobre a temática, no Seminário PIBID Pedagogia e Dança.

Figura 17 - Praticando!

Fonte: Produção das autoras/bolsistas PIBID - Pedagogia.

Figura 18 - Construindo!

Fonte: Produção das autoras/bolsistas PIBID - Pedagogia.

Figura 19 - Criando!

Fonte: Produção das autoras/bolsistas PIBID - Pedagogia.