O uso e a valorização da etnografia e das rodas dialógicas, como perspectiva de concepção e técnica de pesquisa, respectivamente, na prática alfabetizadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência do curso de Pedagogia da UFBA, ao longo dos dois anos de vigência do projeto 2010.1/2012.1, apoiaram-se em fundamentos teóricos, conceitos e argumentos da etnografia que validaram a sua adoção como perspectiva metodológica e de pesquisa na formação dos jovens bolsistas.
A etnografia é um dos caminhos científicos mais significativos para o estudo das culturas e da sociedade, por isso adotada para o estudo e a prática da cultura infantil nas classes de alfabetização. Ela colabora com a análise e a descrição dos valores, hábitos, crenças, práticas e comportamentos do grupo social infantil, em seu processo de alfabetização nas escolas municipais Ruy de Lima Maltez e Vivaldo da Costa Lima, conveniadas ao Programa.
Os bolsistas, através desta perspectiva de pesquisa, puderam ter contato direto com a sala de aula alfabetizadora, permitindo-lhes a reconstrução dos processos e das experiências cotidianas. A etnografia revelou aos bolsistas diferentes e diversas formas de compreensão e interpretação da realidade educativa, da vida e das experiências diárias da escola e da sala de aula, indicando os seus múltiplos significados.
As rodas dialógicas, inspiradas nos conceitos de círculo de cultura (Freire), mediação (Vygotsky) e roda de capoeira (cultura afro-baiana), foi uma das técnicas de destaque, pois viabilizou a ampliação de dinâmicos espaços comunicativos de troca de conhecimentos, sa- beres e novas aprendizagens geradoras de conhecimentos mais significativos e participativos para os sujeitos envolvidos.
No que se refere às relações ensino-pesquisa, o PIBID – Pedagogia defendeu a visão de que para atuar na docência é necessário garantir aos educadores a pesquisa como princípio educativo, esta que garante a emancipação de conhecimento, a autonomia de intelectual e o desenvolvimento da consciência crítica sobre a realidade educativa.
Dessa forma, através da pesquisa como princípio educativo, garante-se a articulação teoria-prática tão necessária à formação docente e se fortalece a formação dos graduandos, como sujeitos ativos do processo de produzir conhecimento, neste caso, do conhecimento que é produzido no campo da alfabetização para a infância.
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