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Projeto Expressões Artísticas: abordagens educativas na Escola Ruy de Lima Maltez (turma do 1º ano)

Criado com o objetivo de nortear as atividades do primeiro semestre de 2011, o projeto Expressões artísticas: abordagens educativas na Escola Ruy de Lima Maltez foi integrado ao projeto anual da escola, que aborda a evidente necessidade de discussão da problemática ambiental na sociedade contemporânea. Valorizando a ludicidade, este projeto utilizou a abordagem arte-educadora, buscando assim desenvolver “[...] experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimentos e produção artísti- ca pessoal e grupal”. (BRASIL. Ministério da Educação, 1997a, p. 45) A partir destes dois projetos, na turma do 1º ano, o tema gerador foi “água: um recurso natural precioso”. Com base neste tema, durante as aulas, foram construídas formas de articular todos os projetos e proporcionar um ambiente alfabetizador repleto de possibilidades.

As intervenções em sala de aula, baseadas nos projetos, foram iniciadas no dia 24 de março, semana do dia mundial da água, tendo como tema a preservação da água. A aula foi iniciada com o momento da roda dialógica e a leitura do livro infantil Lá Lá a latinha de lixo, de Socorro Miranda. Após esta leitura, interpretamos e discutimos, juntamente com as crianças, as mensagens transmitidas no livro, tais como preservação ambiental, reciclagem e o cuidado com os rios. No decorrer do diálogo, um dos educandos observou que próximo

de sua casa tinha um rio que virou esgoto porque as pessoas jogaram lixo. Aproveitando este relato, provocamos uma reflexão crítica sobre o tema.

Desde o início de nossas atividades, reservamos o momento da roda dialógica no plane- jamento. A roda geralmente ocorreu no início das aulas de forma proposital, já que a partir dela pudemos nos aproximar dos educandos, aproveitando suas falas para conhecê-los, veri- ficar seus conhecimentos prévios, que, trazidos para o cotidiano escolar, deram suporte para investigarmos atividades de acordo com os seus gostos e saberes.

As rodas de conversas, também círculos de cultura ou rodas dialógicas, fazem parte da prática pedagógica cotidiana das bolsistas junto aos sujeitos da aprendizagem. Acredita-se que a roda de conversa proporciona aos seus participantes a visualização de todos os outros, ocorrendo também a interação visual entre eles. Mais que isso, no processo de alfabetização no 1º ano do ensino fundamental, onde muitas crianças, principalmente as da rede pública, têm seu primeiro acesso à escola, o desenvolvimento da oralidade é essencial, pois ocasiona a inter-relação entre a linguagem e o pensamento.

Neste mesmo dia, 24 de março, ocorreu a exposição dialógica que sistematizou a dis- cussão ocorrida. Assim, propomos para a turma a construção coletiva de cartazes, sobre o dia da água. Neste momento, pudemos perceber que as crianças interagiam entre si, procu- rando imagens que representassem a beleza da água e sua importância. Para finalizar, todas as crianças identificaram os cartazes com seus nomes.

Figura 1 - Atividade escrita/dia da água Fonte: Elaboração própria. Projeto PIBID - Pedagogia.

Em nossa proposta de alfabetização, valorizamos também a utilização da leitura de diversos gêneros e tipos textuais, inserindo desta forma as crianças no mundo da escrita. Acreditamos que a escola é um dos espaços que deve favorecer as práticas de letramento e contribuir para a percepção dos alunos, no que tange à diferença entre a linguagem oral e a escrita, além da variedade de textos. Realizamos debates sobre os textos lidos para aguçar o poder da oralidade, a interpretação e o senso crítico das crianças.

Já na quinta aula, escolhemos a poesia como fonte inspiradora e, como de costume, sentamos em uma roda para declamar a obra Em Família, de Luiz Camargo. As crianças ficaram encantadas com a poesia, principalmente com a parte em que o autor descreveu o som da água plim plim! Após a leitura, provocamos os educandos a interpretar a poesia. Eles colocaram suas impressões sobre o texto e enriqueceram a discussão, articulando o cotidiano vivenciado fora da escola com a obra lida, sendo isto imprescindível ao processo de alfabetização e letramento. Nesse sentido, nossa intervenção enfatizou a leitura como

instrumento didático indispensável, que desperta a imaginação, a criatividade e a ludicidade nos pequenos leitores.

Prosseguimos a intervenção com a divisão da turma em dois grupos, que foram convida- dos a construir três palavras que lhes chamaram a atenção no texto. As crianças utilizaram o alfabeto móvel para a formação das palavras. Quando os grupos finalizaram a tarefa, colamos no quadro as palavras da forma como as crianças as construíram, respeitando as hipóteses de cada grupo, para que todos pudessem visualizar e analisar o que foi produzido, possibi- litando a compreensão dos diversos aspectos da língua escrita. Neste momento, as próprias crianças perceberam que uma só palavra foi escrita de diferentes formas, a exemplo disto, temos a palavra família que foi produzida das seguintes formas:

FA-MI-LA FA-MI-LHA

No processo de aquisição de leitura e escrita, o aprendiz “[...] deve ter a consciência dos pedacinhos que compõem a corrente da fala e perceber as diferenças de som pertinentes à diferença de letras”. (LEMLE, 2007, p. 9) Esta fase de aprendizado é bem explícita neste exemplo, pois as crianças não conseguiram representar o som da letra I com a grafia adequada dentro da palavra, assim, de acordo com o que já dominavam na língua escrita, associaram o som da letra I, com o encontro vocálico LH ou simplesmente suprimiram a letra I. Podemos analisar que, pelo grau de dificuldade da palavra escolhida, as crianças tiveram um bom resultado em sua construção. Os estudiosos em linguística afirmam que a sílaba composta por consoante-semivogal-vogal é considerada uma sílaba pesada (SANTOS, 2010), portanto não são indicadas para o processo inicial de alfabetização. Lembramos que esta palavra foi escolhida pelas próprias crianças e o processo de construção representou um passo impor- tante para a sua aprendizagem.

Caminhando para os momentos finais da execução dos projetos, partimos para a utili- zação da leitura fílmica, um recurso didático que proporciona uma diversificada forma de interação. As imagens, os sons, as músicas e falas, o cenário, enfim, os contextos de um filme trazem uma percepção auditiva e visual muito grande para o desenvolvimento cognitivo das crianças. No dia da reprodução do filme Procurando Nemo, dirigido por Andrew Stanton, as

crianças aguardavam ansiosas, pois esta atividade culminaria na releitura do filme para a produção teatral. De início, perguntamos previamente quem já tinha assistido ao filme e algu- mas crianças responderam positivamente, mas desejaram assistir novamente. Quando o filme acabou, perguntamos o que eles mais gostaram na história, os aspectos positivos e negativos. Eles lembraram muito dos personagens, e à medida que falavam o nome dos personagens escrevíamos no quadro, para que eles pudessem visualizar a forma escrita desses nomes. Foi a partir deste momento que eles começaram a escolher, por afinidade, os personagens que iriam interpretar, antes mesmo de criar a nova história.

Nas aulas seguintes, tratamos de iniciar a produção da peça, com a mediação das bolsistas-pesquisadoras, construção que foi realizada pelas crianças. Seguindo o exemplo do filme, elas decidiram que o personagem Nemo nessa nova história também seria roubado de sua família e, diferente do filme, a mãe de Nemo não morreria, isso por que as crianças não gostaram da morte da personagem, fazendo questão de que esta se fizesse presente du- rante todo o período da encenação. Como já tinham escolhido as personagens e o enredo da história, passamos para a construção das falas e as crianças começaram a decidir o que iam falar. A construção desta releitura do filme foi processual, pois a cada ensaio surgiam novas ideias que ocorriam articuladamente com as práticas de alfabetização, com a produção escrita das falas e a construção em imagem, do aprendizado. As crianças também participaram da confecção de suas fantasias, pois no decorrer das aulas era visível o interesse de todos, que faziam questão de ensaiar para que nada desse errado no dia da apresentação. Durante este processo, fazíamos questão de enfatizar o papel da água e sua preservação, já que o lugar onde se passou a peça foi o mar, e, para que os animais aquáticos pudessem sobreviver, seria necessário um ambiente limpo e conservado.

Finalmente, numa bela tarde ensolarada e com o céu azul, ocorreu o dia tão esperado por todos. Logo após o horário da merenda, começamos a arrumar as crianças. A apresentação deles foi linda, estavam muito seguros, por se tratar de uma produção deles. Ficaram muito felizes com a apresentação, comemoravam abraçando as bolsistas pesquisadoras, avaliando a apresentação – “pró eu adorei, eu falei muito baixo?” – indagou uma aluna, demonstrando sua preocupação e interesse por todo o trabalho desenvolvido.

Projeto Expressões Artísticas: abordagens educativas na Escola Ruy de