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Tecnologia assistiva e educação

Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis.

Radabaugh, 1993. Tecnologia Assistiva (TA) ainda é um termo novo que vem sendo empregado no sentido de denominar o acervo com o qual a tecnologia pode contribuir também para a autonomia e independência da pessoa com deficiência. Todos os recursos, equipamentos e produtos, que podem potencializar as capacidades funcionais dessas pessoas, estão no âmbito da Tec- nologia Assistiva.

Historicamente, as pessoas com deficiência foram exterminadas, abandonadas, segrega- das ou tidas como incapazes e inaptas para a convivência social e, obviamente, não tinham

o direito de ingressar na escola regular. É somente a partir da Política de Educação Inclusiva (2008), que as crianças com deficiência tiveram o direito de frequentar as escolas de Ensino Regular no Brasil, não ficando mais restritas às classes de Educação Especial. O objetivo precípuo da referida política é:

[...] o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais [...]. (BRASIL, 2008) A política supracitada representou um grande avanço para as crianças com deficiência, visto que elas tiveram assegurado o direito de compartilhar do espaço de aprendizagem na escola. Considerando que este é um espaço privilegiado de interações, extremamente relevante para a formação global da criança, mas que, historicamente, foi um espaço seleto, onde ape- nas os eleitos como aptos poderiam desfrutar, percebe-se que através desta política, enfim, inicia-se um processo de mudanças significativas, no que tange às práticas pedagógicas nas escolas brasileiras.

Em concordância com as demandas da política da inclusão, foi definida a oferta do Aten- dimento Educacional Especializado, no contraturno escolar regular das pessoas com deficiên- cia, e não, como antes, com um caráter substitutivo, mas agora caminhando paralelamente ao ensino regular. As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva explicitam que:

O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar re- cursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. (BRASIL, 2011)

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é oferecido preferencialmente em Salas de Recursos Multifuncionais, que serão agregadas à própria escola, ou em Centros Especiali- zados. As Salas de Recursos Multifuncionais ou os Centros Especializados são espaços apro-

priados para desenvolver atividades, tais como Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS e LIBRAS tátil); Alfabeto digital; Tadoma; Língua Portuguesa na modalidade escrita; Sistema Braille; Orientação e mobilidade; Sorobã (ábaco); Estimulação visual; Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA); Desenvolvimento de processos educativos que favoreçam a atividade cognitiva e Informática Fácil com um conjunto de hardware e software especial.

O professor responsável pelo Atendimento Educacional Especializado deve ter uma rela- ção estreita com o professor do ensino regular para, juntos, traçarem um trabalho conjunto e paralelo, no intuito do crescimento e da aprendizagem do aluno. O professor do ensino regular também pode ser instrumentalizado, através de cursos de Libras, Braille, Informática Fácil e oficinas de Adaptação de Materiais Didáticos. Como exemplo de articulação entre o AEE e o ensino regular podem-se citar os cursos de formação de professores, os quais ocorrem no Instituto de Cegos da Bahia e tratam da adaptação de material didático. Participaram desses cursos professoras da Escola Ruy de Lima Maltez, situada no bairro de Brotas, em Salvador, e credenciada ao PIBID – Pedagogia, com vistas à inclusão e aprendizagem de duas crianças deficientes visuais, as quais ingressaram na referida escola.

O AEE destina-se a alunos com deficiência física, intelectual ou sensorial, com transtornos globais e alunos com altas habilidades. Nessa perspectiva, as Tecnologias Assistivas podem ser um canal essencial de comunicação e interação das pessoas com necessidades especiais com o mundo. Hoje, existe uma gama imensa de recursos e equipamentos que podem contribuir para a autonomia e a qualidade de vida dessas pessoas. Porém, é relevante considerar que todo esse acervo tecnológico de ponta não está ao alcance de todos os deficientes, pois seu valor de consumo é bastante elevado. O suporte ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não atende a todos os que precisam de algum auxílio das TA’s, nem tampouco às especifici- dades de algumas deficiências. A maior parte dos deficientes somente tem contato com tais tecnologias nas Salas de Recursos Multifuncionais ou nos Centros Especializados.

O decreto nº 2011 afirma, ainda, a necessidade de formação continuada para os pro- fissionais do AEE, pois estes devem adequar tais recursos com vistas às especificidades de cada aluno. E faz um alerta para os educadores, com relação à aquisição de conhecimentos tecnológicos, pois estes, no mundo atual, são indispensáveis a uma prática educativa que

oportunize aos estudantes acesso a informações, ao conhecimento e participação social pelos inúmeros canais existentes. Contudo, no caso de um estudante deficiente, o acesso à informática pode criar possibilidades, antes sequer admitidas, de interação com os outros e com o mundo.

Por fim, vale enfatizar que as TA’s não se restringem ao ambiente escolar, mas atentam para uma equipe interdisciplinar maior, com profissionais diversificados, tais como fonoau- diólogos, médicos, assistentes sociais, psicólogos, engenheiros, designers e terapeutas ocu- pacionais, pois, com certeza, estes profissionais, em ação conjunta, farão um trabalho muito mais satisfatório e atento às especificidades da TA que será adequada a cada caso.

As tecnologias no cotidiano escolar: vivências nas escolas