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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.2. ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL

2.2.4. As Soluções Práticas para os Problemas de Acesso à Justiça

Diante de óbices econômicos a Constituição Federal prevê, em seu Artigo 5º, LXXIV, a assistência jurídica, social e gratuita àqueles que possuam insuficiência de recursos financeiros. Logo, o Estado é obrigado a fornecer orientação jurídica e defesa em todos os graus da jurisdição do Estado, através da Defensoria Pública, que é uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado.

A assistência judiciária gratuita aos necessitados foi a primeira solução que surgiu para solucionar o acesso à Justiça. Trata-se da assistência que proporciona serviços aos pobres, e abrange além das despesas com advogado, os honorários do perito, das custas processuais, bem como pagamento a serventuários da Justiça, a publicação de atos oficiais, dentro outros. A despesa gratuita incluída mais recente foi com a realização do exame DNA - ácido desoxirribonucleico, muito presente nas ações de investigação de paternidade ou maternidade, desde que a autoridade judiciária a requisite.

Como na maioria das demandas há necessidade dos serviços do advogado, é essencial um método que proporcione a assistência jurídica àqueles que não podem pagar contraprestação aos advogados particulares. Normalmente, estes advogados são mais experientes e competentes, e tendem a trabalhar com remuneração. Entretanto, para evitar o excesso de caridade, se impôs aos adeptos da assistência judiciária gratuita limites de habilitação.

O sistema judicare estabelece a assistência judiciária como um direito para todas as pessoas que se encontram nos termos da lei. Trata os pobres como indivíduos e superam principalmente a barreira do custo, contudo, não ataca outras barreiras, tais como: a identificação pelos pobres das causas pretendidas. Ainda que o pobre identifique sua pretensão, pode sentir-se intimidado para comparecer a um escritório de advocacia particular para discuti-la. No entanto, este sistema não está aparelhado para ultrapassar os remédios individuais.

Diferente deste sistema é o modelo da assistência judiciária com advogados remunerados pelos cofres públicos. É uma forma de combater a pobreza e promover os interesses dos pobres enquanto classe, de conscientizá-los dos seus direitos e despertar o desejo de valer-se do advogado. Ainda, ataca outras barreiras ao acesso individual, como os custos e a desinformação jurídica pessoal dos pobres, além apoiar os interesses difusos. Contudo, os advogados nesses casos podem negligenciar ao escolher entre casos importantes somente para alguns indivíduos, e casos importantes numa perspectiva social. Ou ainda, tratar os pobres como incapazes de perseguir seus próprios interesses, quando deveriam tratá-los como indivíduos comuns, com menos dinheiro. Além disso, os advogados podem obter conhecimento e experiência dos problemas típicos do pobre, o que pode tornar-se um perigo para assegurar vantagens aos litigantes organizacionais. Existe também a dependência do apoio governamental, que pressupõe uma iniciativa jurídica da sociedade para ajudar os pobres. Esta solução é limitada por não garantir o auxílio jurídico como um direito, pois não existem advogados suficientes para dar atendimento individual a todos os pobres com problemas jurídicos, como não há advogados suficientes para prestar assistência judiciária à classe média.

Para que a assistência judiciária seja eficiente é necessário um grande número de advogados no país, disponíveis para auxiliar àqueles que não podem pagar por seus serviços. Para tanto, isto requer grandes dotações orçamentárias, o que representa um problema ao esquema da assistência judiciária. É preciso pagar caro, caso contrário poucos advogados se interessam em assumir os serviços jurídicos aos pobres, e os que aceitam tendem a desempenhá-los em níveis menos rigorosos. Diante deste alto custo, o país pouco tentou alcançar a meta de prover um profissional para todas as pessoas para quem essa despesa represente um peso econômico excessivo. Além disso, a assistência judiciária não pode solucionar o problema das pequenas causas individuais, pois os advogados pagos pelo governo

não levam adiante tais casos; nestes casos, exige-se atenção especial. Contudo, este modelo de advogados aponta-se a reivindicar os interesses difusos dos pobres, enquanto classe; no entanto, os outros interesses difusos, como dos consumidores ou dos defensores do meio ambiente, são ignorados.

A segunda solução para o acesso à Justiça foi a representação dos interesses difusos, isto é, a representação jurídica compeliu a reflexão sobre noções tradicionais básicas do processo civil que não abria espaço para a proteção dos direitos difusos, e o papel dos tribunais. As regras categóricas da legitimidade, as normas de procedimento e a atuação dos juízes não facilitavam as demandas por interesses difusos pretendidas por particulares.

As grandes reformas surgiram inicialmente com relação à legitimação ativa; as mudanças legislativas e as decisões dos tribunais permitiram que indivíduos ou grupos atuassem em representação dos interesses difusos. A proteção destes direitos exigiu a transformação do papel do Juiz e conceitos básicos, como a citação e o direito de ser ouvido. É necessário agir em nome da coletividade, mesmo que os seus membros não sejam citados individualmente. É preciso também mudar a noção tradicional de coisa julgada, que permita a proteção judicial efetiva dos interesses difusos. Assim, a visão individualista do devido processo judicial está cedendo lugar a uma concepção social, coletiva, que assegura a realização dos direitos políticos relativos a interesses difusos.

A ação governamental é o principal método para representação dos interesses difusos, principalmente porque dá legitimação a indivíduos ou grupos em defesa desses interesses. Contudo, são incapazes de proteger o interesse público por inteiro, visto que normalmente é afirmado contra entidades governamentais. A reivindicação dos interesses difusos exige qualificação técnica em áreas não jurídicas; sendo assim, o Ministério Público, na maioria das vezes, não dispõe de treinamento e experiência para ser eficiente.

Outra solução governamental foi a criação de certas agências públicas reguladoras altamente especializadas, para garantir certos direitos do público ou outros interesses difusos, que são muito importantes, porém com ação limitada. O objetivo é fazer com que o departamento governamental represente os interesses difusos, pelo fato dos particulares não disporem de condições econômicas e do poder de barganha necessário. Mesmo que a solução governamental funcione da

melhor forma possível, é indispensável o zelo particular com a máquina burocrática, e evitar a demora na execução de suas tarefas.

A propositura de ações em defesa de interesses públicos ou coletivos por particulares é uma grande reforma, a iniciativa do procurador-geral privado ou demandante ideológico suplementarem a ação do governo, por exemplo, na proteção ambiental. Primeiro deve reconhecer os grupos organizados para a defesa dos interesses difusos, depois a ação delegada é intentada por uma parte que normalmente não teria legitimidade para a causa, mas que possui permissão do procurador-geral para tanto. É importante reconhecer o papel dos grupos privados, no entanto, é um problema sua organização e seu fortalecimento na defesa de interesses difusos. É necessário encontrar soluções que facilitem a criação de eficientes procuradores-gerais organizacionais.

A terceira solução para o acesso à Justiça é o enfoque de acesso à Justiça, que inclui a advocacia judicial ou extrajudicial, através de advogados particulares ou públicos, focalizando o conjunto de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e mesmo prevenir disputas nas sociedades modernas. É um método que possibilita melhorar o acesso; encoraja a exploração de uma ampla variedade de reformas, compreendendo mudanças nas formas de procedimentos, na estrutura dos tribunais ou na criação de novos tribunais; o uso de pessoas leigas, juízes e defensores; alteração no direito substantivo, a fim de evitar litígios ou facilitar sua solução, e a utilização de mecanismos privados ou informais de solução dos litígios. Ainda reconhece a necessidade de adaptar o processo civil ao tipo de litígio. Dependendo da natureza da causa, a solução poderá ser mais rápida ou demorada. Nas disputas, as repercussões são tanto coletivas como individuais. Portanto, o enfoque de acesso à Justiça examina diversos fatores, tais como: o papel e a importância dos vários fatores e barreiras envolvidos, de forma a alargar instituições efetivas para enfrentá-lo.