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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.3. DIREITO AMBIENTAL

2.3.2. Classificação do Meio Ambiente

Como visto, o meio ambiente não é somente o ambiente natural. De acordo com a doutrina jurídica ambiental dominante, classifica-se em: meio ambiente natural ou físico, meio ambiente cultural, meio ambiente artificial e meio ambiente do trabalho. Passa-se, neste momento, à análise de cada um desses aspectos.

Nos termos do inciso V do artigo 3º da Lei nº 6.938/81, os recursos naturais compreendem, a saber: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”. Tratam de recursos que são colocados à disposição do homem.

A tutela jurídica do meio ambiental natural concentra-se no artigo 225 da

Constituição Federal, bem como na Lei de Política Ambiental, na Lei dos Crimes

Ambientais, na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e na Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Aquele composto dos elementos existentes na natureza, para cuja criação não concorreu o homem. Assim, resumem-se esses elementos ao ar, a água, ao solo, á fauna e á flora. E é o conjunto desses elementos que proporciona vida ao homem; o conjunto desses elementos, mantidos em equilíbrio, proporciona sadia qualidade de vida ao homem.

Beltrão (2008, p. 21) diz que o meio ambiente natural ou físico constitui: “ar, atmosfera, água, solo, subsolo, fauna, flora e biodiversidade. Corresponde, portanto, aos elementos naturais que são tradicionalmente associados ao meio ambiente”.

Sobre este aspecto do meio ambiente Séguin (2006, p. 20) escreve:

Inicialmente, só se cogitava no Meio Ambiente Natural, que independia da atuação humana, apenas sofrendo as repercussões de suas atividades poluidoras. Composto pela fauna, flora, águas, biosfera, solo, ar atmosférico, com a interação dos seres vivos e de seu meio formando a Biota.

Outro conceito de meio ambiente natural é o apresentado por Barbosa (2007, p. 51), ex vi:

O meio ambiente natural pode ser compreendido como um meio ambiente que se formou, ao longo dos tempos histórico-geológico e biológico, independente da ação do homem, isto é, foi gerado pela natureza. Este meio ambiente é constituído de água, flora, fauna, solo, biosfera, ar, bem como por meio da atuação de outros seres vivos, além do homem, formando a biota.

Em arremate a estes ensinamentos, Fiorillo (2005, p. 20) menciona que o meio ambiente natural ou físico é constituído por: “solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. Concentra o fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e meio em que vivem”.

Com relação ao meio ambiente cultural, seu conceito é previsto no artigo 216 da Constituição Federal, que o delimita da seguinte forma:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Barbosa (2007, p. 51) conceitua o meio ambiente cultural como:

Aqueles que constituem patrimônio cultural, isto é, os bens da natureza (materiais como imateriais), tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referencia à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticos-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

No dizer de Beltrão (2008, p. 22) o meio ambiente cultural consiste nas:

Intervenções humanas, materiais ou imateriais, que possuem um especial valor cultural, referente à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da nacionalidade ou sociedade brasileiras. Abrange, portanto, o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, arqueológico, ecológico, etc.

Outro conceito de meio ambiente cultural é o apresentado por Marques (2005, p. 49):

O meio ambiente cultural pode estar representado por uma edificação isolada ou pelo conjunto de edificações de uma cidade, um monumento, uma obra de arte e até mesmo por um sentimento que reflita as origens, a formação ou os costumes de um povo.

A proteção do patrimônio cultural brasileiro cabe ao Poder Público com a participação da sociedade, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação, conforme preceitua o § 1º, do artigo 216 da Constituição Federal.

Outro aspecto do meio ambiente é o artificial ou construído, que está diretamente relacionado ao conceito de cidade. Sua natureza jurídica ambiental é estabelecida pela Constituição Federal, e principalmente pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001).

Fiorillo (2005, p. 259) compreende que o meio ambiente artificial é o:

Espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto). Dessa forma, todo o espaço construído, bem como todos os espaços habitáveis pelo homem compõem o meio ambiente artificial.

Barbosa (2007, p. 51) também conceitua meio ambiente construído ou artificial como:

O meio ambiente construído ou artificial pode ser conceituado como aquele que sofreu alteração por intermédio da ação humana, com o fito de atender aos seus anseios sociais. O meio ambiente construído ou artificial é, então, todo o espaço físico construído pelo homem, tais como edifícios e demais formas de assentamento humano que modifiquem os espaços urbanos.

A proteção geral do meio ambiente artificial ou construído de forma mediata encontra-se determinada no artigo 225 da Constituição Federal, e de forma imediata no artigo 182 do mesmo diploma:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

O primeiro objetivo da política urbana é a realização do pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade. Diz que a função social da cidade ocorre quando proporciona aos seus habitantes os direitos fundamentais, por exemplo, o direito à vida, bem como garante os direitos sociais, como a educação, dentre outros direitos. Para tanto, é necessária a participação do Município nos termos do Artigo 30, inciso VIII, da Constituição Federal. Por conseguinte, as principais funções sociais da sociedade são: habitação, circulação, lazer e trabalho.

O segundo objetivo desta política é a garantia do bem-estar dos seus habitantes. Significa que, além da execução dos direitos previstos no objetivo anterior, estes devem proporcionar aos habitantes da cidade e dos indivíduos que estejam naquele território a sensação de bem-estar.

Compete à União fixar as diretrizes gerais dos objetivos de desenvolvimento da política urbana, que os Estados e Municípios deverão adotar. Ressalte-se que os Municípios possuem autonomia para a organização dos serviços públicos de interesse local; contudo, aqueles com mais de 20 (vinte) mil habitantes são obrigados a ter o Plano Diretor.

Por último, o aspecto do meio ambiente do trabalho, que se originou conforme Barbosa (2007, p. 52) com:

A exploração do capitalismo e o crescimento do Estado. Tempos após a revolução industrial se consolidar, as conseqüências da degradação ambiental começaram a aparecer no cenário mundial, principalmente, no tocante à qualidade de vida.

Segundo Rocha (2002, p. 132-133), o meio ambiente do trabalho constitui-se em:

Espaço de concretização das relações de trabalho. Na realidade, a noção de um locus onde presta o trabalho humano requer uma necessária correlação sobre a atividade desempenhada, condições e performance do trabalho, bem como, sobre os riscos que podem ocasionar efeitos físicos, psíquicos e sociais sobre o ser humano.

Outra concepção de meio ambiente do trabalho é o apresentado por Belfort (2003, p. 54), a saber:

Pode-se traduzir o meio ambiente do trabalho como sendo o local onde se desenvolve a prestação dos serviços, quer interna ou externamente, e também o ambiente reservado pelo empregador para o descanso do trabalhador, dotado de condições higiênicas básicas, regras de segurança capazes de preservar a integridade física e a saúde das pessoas envolvidas no labor, com o domínio, o controle, o reconhecimento e a avaliação dos riscos concretos ou potenciais existentes, assim considerados agentes químicos, físicos e biológicos, no objetivo primacial de propiciar qualidade de vida satisfatória e a proteção secundária do conjunto de bens móveis e imóveis utilizados na atividade produtiva.

De conformidade com que vem estabelecido na Constituição Federal nos incisos XXII, XXIII e XXVIII, do artigo 7º:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

[...]

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.

A Constituição Federal ainda prevê, nos artigos 196 e 200, incisos II e VIII, o seguinte:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

[...]

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;

[...]

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Portanto, a proteção do meio ambiente do trabalho abrange os trabalhadores, os vizinhos e os transeuntes, em suas proximidades. Ainda existem meios ambientes que não se englobam nas classes já citadas, por conterem, em seu bojo, características mistas, derivadas do meio ambiental natural, meio ambiente artificial e meio ambiente cultural; é o denominado meio ambiente misto.