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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.2. ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL

2.2.2. Princípios que Informam o Acesso à Justiça

2.2.2.3. Da utilidade

Esse princípio possui o ideal de Justiça instantânea, ou seja, assegurar ao vencedor tudo aquilo que tem direito a receber, de forma célere e vantajosa possível, com o menor sacrifício para o vencido. Seria a possibilidade simultânea à violação de conceder a quem tem razão o direito material.

Na prática, esse ideal de Justiça é impossível de acontecer, tendo em vista que é necessário tempo para as partes postularem seus direitos, bem como tempo para que o Juiz possa decidir. É um dilema entre a segurança e a celeridade.

Antigamente, o legislador privilegiava o aspecto segurança em detrimento da celeridade; assim, quanto mais longo o procedimento, possivelmente seria mais justa a decisão final. Contudo, atualmente, com o avanço de vários meios, a exemplo do campo tecnológico, fez com que essa idéia de dilema seja falsa. Devendo, deste modo, priorizar a celeridade com o menor sacrifício da segurança dos julgados. Para tanto, é necessário que os operadores do Direito, especialmente

o Juiz, utilizem os instrumentos que priorizam a celeridade, pois o maior vilão da efetividade é o tempo. Quanto mais demorado for o processo, com menos utilidade o vencedor poderá usufruir o bem da vida.

Ressaltem-se os institutos que asseguram o bem da vida na defesa dos interesses difusos e coletivos, o da tutela antecipada, que pode ser concedida nas hipóteses de detrimento irreparável para uma das partes, e diante do abuso de defesa de uma das partes, ou o propósito protelatório do réu. Além disso, serve para preencher as lacunas presentes nestas situações. Todavia, a excessiva prudência do legislador não permitiu a concessão da tutela antecipada quando ocorrer perigo de irreversibilidade do procedimento antecipado, e neste caso, não pode beneficiar o autor e nem o réu. Logo, é possível a concessão da tutela antecipada para evitar prejuízos irreversíveis e de maior monta para o autor.

O Código de Processo Civil prevê a possibilidade de concessão de tutela liminar nos casos das obrigações de fazer ou não fazer, assim como nos casos de justificado receio de ineficácia do provimento final, desde que seja relevante o fundamento da demanda. Para sua efetividade e garantia do bem da vida, o legislador exige menos o fumus boni iuris do que nos casos de antecipação de tutela. Mas existem casos em que o legislador exige mais para a concessão de medidas liminares, medidas provisórias, como a reintegração de posse.

Assim, é necessário estabelecer uma diretriz que compreenda esses institutos para garantir o bem da vida e, conseqüentemente, a efetividade do processo e a celeridade principalmente, no campo dos direitos difusos e coletivos, que poderia ser consubstanciada na garantia da eficácia do futuro promovido, e os interesses em conflito, pelo seu valor, possa determinar ou não a priorização do direito a ser garantido.

O princípio da utilidade é sinônimo do princípio da efetividade; é preciso considerar a denominada execução específica, que permite à pessoa efetivamente alcançar o direito material que o Estado-juiz lhe concedeu. A Lei nº 7.347/85, que regula a Ação Civil Pública, foi modificada pela Lei do Consumidor e pelo Código de Processo Civil através da Lei nº 8.952/94, determinam que o Juiz, nas ações que tenham como objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, conceda a tutela específica da obrigação, ou no caso de procedência do pedido, determine providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do procedimento. Tal resultado prático consiste na concessão de medidas que forem necessárias, por

exemplos, busca e apreensão, remoção de pessoas, etc. Pode ainda o juiz produzir a modificação pretendida na própria sentença.

A fungibilidade da execução, ou fungibilidade do provimento, é um tema admirável no estudo do princípio da utilidade, isto é, a possibilidade de uma eventual execução.

O instituto da coisa julgada, em regra, não era admitido no passado, com exceção dos casos da reparação do dano ex delicto, em sentença penal condenatória. Contudo, no presente o princípio da utilidade autoriza, sempre que possível, que a coisa julgada possa atingir um número maior de pessoas, com um maior limite objetivo prático possível. Essa situação está presente no campo dos interesses difusos e coletivos, e nos casos de direitos individuais homogêneos, em que a lei permite que os limites subjetivos da coisa julgada alcancem todas aquelas pessoas que se encontram na mesma situação.

No campo das ações coletivas, o legislador inovou ao dilatar os limites objetivos da coisa julgada. Assim, a sentença condenatória, transitada em julgado, resultante de Ação Civil Pública que vise a tutelar direito difuso ou coletivo, serve como título executivo judicial para que eventuais vítimas promovam, depois da liquidação, as respectivas execuções individuais. É uma tendência na qual pessoas que não participaram do processo, mas que estejam em situação idêntica, possam se beneficiar com o resultado da decisão.

O sistema de nulidades do ato processual é formidável para o princípio da utilidade, no sentido de salvar o ato processual do vício da nulidade e permitir que este seja sempre que possível eficaz, mesmo que contenha determinados vícios e defeitos. Existe ato jurídico que pode ser passível de nulidade absoluta ou relativa, ou ainda, de anulabilidade, desde que esteja viciado, não-alcance a sua finalidade ou cause prejuízo às partes. O ato processual pode ter vício, pode ser inválido, mas eficaz, produzindo efeitos. O princípio da instrumentalidade das formas permite que o ato praticado seja tido como válido, apesar de praticado de forma diversa da prevista, mas que preencheu a sua finalidade essencial, sem causar prejuízos às partes. Em virtude desta instrumentalidade, o legislador permite que os atos processuais, mesmo com vícios graves que podem determinar a nulidade do ato, em algumas hipóteses, podem produzir efeitos.