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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.3. DIREITO AMBIENTAL

2.3.1. Conceito de Meio Ambiente e de Direito Ambiental

No Brasil, as expressões “meio” e “ambiente” são utilizadas de forma redundante, com o mesmo significado, pois designam o âmbito que nos cerca, o nosso entorno, onde estamos inseridos e vivemos. Para Beltrão (2008, p. 20), estas expressões apresentam a seguinte acepção:

De fato, „meio‟ significa, entre outras acepções, „conjunto de elementos materiais e circunstanciais que influenciam um organismo vivo‟. „Ambiente‟, por sua vez consiste no „que rodeia ou envolve por todos os lados e constitui o meio em que se vive; tudo que rodeia ou envolve os seres vivos e/ou as coisas; recinto, espaço, ambiente em que está ou vive‟.

Aulete (apud SÉGUIN, 2006, p. 17) define ambiente como: “o que anda à roda de, que cerca ou envolve os corpos de todos os lados: Aristóteles, definindo o lugar, diz que é a superfície ambiente, do que está n‟elle”. É uma definição que abrange uma diversidade de significados.

A definição legal de meio ambiente surgiu com o legislador infraconstitucional nos termos do inciso I do artigo 3º da Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, ex vi:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Este conceito foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, no Artigo 225, ao tutelar sobre a qualidade do meio ambiente, o bem-estar e a segurança da população, que denota a qualidade de vida. Dessa forma, para o direito positivo o meio ambiente abrange a vida em geral, não só a humana, mas todas as espécies, sejam vegetais ou animais e é, portanto, biocêntrica, uma análise mais extensiva da expressão meio ambiente.

Para Limeira (2008, p. 49), natureza e meio ambiente “constituem um campo de confusões e disputas relacionadas à maneira de qualificá-los, ao modo de avaliá- los e aos instrumentos de ação a serem implementados, visando a fazer valer o interesse superior eventual que eles representam”.

Segundo Santos (2007, p. 17), o meio ambiente está vinculado “ao espaço em que o homem está inserido nas suas relações sociais. Esse aspecto social do espaço é caracterizado pelas modificações que o homem imprime à natureza em função do seu trabalho ou da produção”.

O meio ambiente como variável sociológica, conforme Jordão (2007, p. 35), enquadra-se:

Num contexto em que o estudo da sociedade contemporânea não deve seguir considerando o meio ambiente como um fundo inalterável pelas ações sociais, e que não altera o curso destas. Deve-se selecionar os valores das variáveis ambientais a partir da melhor informação disponível, segundo a perspectiva científica relevante, e assim, examinar como essas variáveis influem e são influenciadas nos processos sociais que estão conectadas.

A definição de meio ambiente ecologicamente equilibrado, para alguns doutrinadores, representa uma utopia, contudo, o presente estudo discorda desta posição e acredita na possibilidade de sua existência, em longo prazo, mesmo que para isso seja necessário determinar parâmetros de uma sadia qualidade de vida, que por sua vez depende de paradigmas socioculturais e do avanço do conhecimento científico-tecnológico.

Existe uma interação entre o homem e o meio ambiente através da biosfera, que é a prevalência dos condicionantes naturais sobre o desenvolvimento humano; e da sociosfera, ou meio social, que se caracteriza pelos valores e pelas normas de um grupo e tempo, e possui um apelo cultural.

O meio ambiente compreende todos os aspectos físicos, químicos e biológicos que envolvem a vida. A legislação, ao estabelecer padrões de qualidade para os recursos naturais, por exemplo, a água, não pode analisar somente os efeitos químicos e físicos, mas também os efeitos biológicos no ambiente.

Meirelles (1999, p. 152) entende que meio ambiente é “o conjunto de elementos da natureza – terra, água, ar, flora e fauna – ou criações humanas essenciais à vida de todos os seres e ao bem-estar do homem na comunidade”.

Bens ambientais, materiais ou corpóreos, tais como o solo, e também pelos processos ecológicos que devem ser considerados não em sua individualidade específica, mas como componentes – elementos suporte do equilíbrio ambiental, ou da qualidade do meio ambiente, objeto da tutela legal.

Com relação ao Direito Ambiental, este é um ramo do direito que surgiu em meados do século XX, em virtude das atividades humanas ao longo do tempo que apontaram a necessidade de uma mudança no paradigma vigente à época, pois se percebeu a incidência de poluição e degradação ambiental na mais variada forma e intensidade nunca antes vistas, por exemplos, a chuva ácida e a diminuição dos recursos pesqueiros em diversas partes do Planeta.

Acerca do assunto, Vulcanis (2008, p. 19) ensina:

O Direito Ambiental surgiu da necessidade de proporcionar ao homem seu pleno desenvolvimento e como pressuposto do exercício, e, principalmente, como fruição de todos os demais direitos fundamentais, o que somente pode se dar num ambiente natural, cultural e artificial que lhe proporcione condições mínimas para tanto.

O conceito de Direito Ambiental não é pacífico entre a doutrina jurídica, logo, existem várias denominações quanto ao seu uso terminológico. Séguin (2006, p. 19) diz que “é um conjunto de regras, princípios e políticas públicas que busca a harmonização do homem com o Meio Ambiente. Envolve aspectos naturais,

culturais, artificiais e do trabalho”.

Beltrão (2008, p. 25) define Direito Ambiental como o “conjunto de princípios e normas jurídicas que buscam regular os efeitos diretos e indiretos da ação humana no meio, no intuito de garantir à humanidade, presente e futura, o direito fundamental a um ambiente sadio”.

A partir deste conceito percebe-se que o objetivo do direito ambiental é o desenvolvimento sustentável, por meio da administração racional dos recursos naturais e dos sistemas ecológicos. Segundo a Comissão Brudtland (1998) “satisfaz as necessidades do presente sem pôr em risco a capacidade das gerações futuras de terem suas próprias necessidades satisfeitas”.

O Direito Ambiental, no sentido de direito dos recursos naturais, Barbosa (2007, p. 21) assim o define como sendo: “um conceito limitado, porque não integra o meio ambiente cultural nem o ambiente construído ou artificial”, e conclui o conceito como:

Um complexo de normas e princípios, tendo por propósito a preservação do meio ambiente natural, cultural, construído ou artificial e do trabalho; a viabilização harmonizada do socialmente justo, economicamente eficaz e ecologicamente correto, utilizando-se coercitivamente das medidas administrativas e/ou jurídicas cabíveis no iminente ou concreto dano ambiental, ocorrentes nos mais diversos ecossistemas.

Antunes (2006, p. 9) entende que Direito Ambiental pode ser definido como:

Um direito que tem por finalidade regular a apropriação econômica dos bens ambientais, de forma que ela se faça levando em consideração a sustentabilidade dos recursos, o desenvolvimento econômico e social, assegurando aos interessados a participação nas diretrizes a serem adotadas, bem como padrões adequados de saúde e renda.

Antunes (2006, p. 3) ainda define o Direito Ambiental como:

O ramo do direito positivo que regula as relações entre os indivíduos, os governos e as empresas com o meio ambiente, disciplinando a forma pela qual os recursos ambientais serão apropriados economicamente, com vistas a assegurar a conciliação dos aspectos econômicos, sociais e ecológicos, com a melhoria das condições ambientais e de bem-estar da população.

Reis (2008, p. 13-14) apresenta a seguinte definição de Direito Ambiental:

É a ciência que estuda os problemas ambientais e suas interligações com o homem, visando a proteção do meio ambiente para a melhoria das condições de vida como um todo [...] É a especialização do direito público que estuda as normas que tratam das relações do homem com o espaço que o envolve, ou o conjunto de normas que regulam as relações humanas com o meio ambiente.

Granziera (2009, p. 6) conceitua o Direito Ambiental nestes termos:

O conjunto de regras jurídicas de direito público que norteiam as atividades humanas, ora impondo limites, ora induzindo comportamentos por meio de instrumentos econômicos, com o objetivo de garantir que essas atividades não causem danos ao meio ambiente, impondo-se a responsabilização e as conseqüentes penalidades aos transgressores dessas normas.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento recomenda que os países adotem no seu direito interno normas de Direito Ambiental, conforme preceitua o princípio nº 11 da Rio 92 (2006):

Os estados devem adotar legislação ambiental eficaz. Padrões ambientais e objetivos e prioridades em matéria de ordenação do meio ambiente devem refletir o contexto ambiental e de desenvolvimento a que se aplicam. Padrões utilizados por alguns países podem resultar inadequados para outros, em especial países em desenvolvimento, acarretando custos sociais e econômicos injustificados.

Pode-se dizer que o Direito Ambiental possui três vertentes; são elas: direito ao meio ambiente; direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente. Logo, o Direito Ambiental abrange dimensões humanas, ecológicas e econômicas. Enquanto dimensão humana é um processo que amplia os direitos sociais e humanos, e está previsto nos artigos 225 e 5º, inciso LXXIII da Constituição Federal, que assim expõe:

Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Quanto à dimensão ecológica no Direito Ambiental, o núcleo do sujeito do direito é a proteção dos bens ambientais, a fim de garantir aos seres humanos um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como existe uma obrigação para o Estado na proteção da fauna e da flora.

Para Cavalcante (2008, p. 55) o meio ambiente se configura como:

Um bem difuso que precisa ser protegido. Sob esta concepção, a Lei (Constitucional e Infraconstitucional) é tida como um Escudo Protetor, usado como um instrumento de defesa em relação aos agentes econômicos. Neste diapasão, e exercendo a função de guardiã, a Constituição Federal vigente amparou abertamente o Meio Ambiente com o artigo 225, todavia, não se pode deixar de considerar que meio ambiente e atividade econômica estão intrinsecamente relacionados, visto que toda atividade econômica depende do uso direto ou indireto dos recursos naturais.

Por fim, no que se refere à dimensão econômica no Direito Ambiental, o artigo 170, inciso VI, da Constituição Federal traz expressa menção ao meio ambiente:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

[...]

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.

Dessa forma, a atividade econômica deve ser exercida com respeito ao ambiente. E o desenvolvimento sustentável objetiva conciliar a conservação dos recursos ambientais e o desenvolvimento econômico, para garantir condição de vida mais digna e humana para as pessoas, eliminando condições que atualmente são inaceitáveis e, simultaneamente, manter um nível adequado de recursos ambientais relevantes.

Portanto, o Direito Ambiental é constituído por normas e princípios destinado à preservação do meio ambiente, que é bem de uso com e deve ser protegido por toda a sociedade e pelo Poder Público.