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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.4. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL

2.4.3. Natureza Jurídica e Objeto

Quanto à natureza jurídica da Ação Civil Pública Ambiental, seria um direito material ou processual? Mancuso (2006, p. 28) não hesita em afirmar que a lei da Ação Civil Pública é: “de índole predominantemente processual, visto que, basicamente, objetiva oferecer os instrumentos processuais hábeis à efetivação, em juízo, da tutela aos interesses difusos reconhecidos nos textos substantivos”.

Alcântara (2007, p. 121) considera a natureza jurídica da Ação Civil Pública como: “norma de natureza processual, pois ela apenas regulou os aspectos processuais da tutela dos direitos transindividuais, ficando por conta do direito material estabelecer as normas que serão protegidas pela Lei de Ação Civil Pública”. Enfatize o aspecto que os institutos tratados na Lei nº 7.347/85 são tipicamente processuais, de acordo com os seguintes artigos:

Art. 2º. As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer dano, cujo Juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar. Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos demais legitimados.

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Contudo, existem exceções, a exemplo dos artigos 10 e 13, da Lei nº 7.347/85, a saber:

Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

Nestes casos, a questão versa sobre condenação penal e trata de direito material penal, por isso não possue o caráter processual, principalmente os termos do artigo 13 que é uma norma típica do direito material. Apesar destas ressalvas, mesmo assim, a lei de Ação Civil Pública é uma norma de natureza jurídica processual.

Milaré (1995, p. 241) assim escreve sobre a natureza jurídica da Ação Civil Pública:

Quando se fala em ação, visualiza-se, aquele direito que todos têm de pedir ao Poder Judiciário a correção das lesões aos interesses individuais. Sim, pois o regime democrático, que supõe comunidades de seres humanos livres, deixa ao indivíduo, primeira e precipuamente, a resistência na defesa dos seus direitos. Daí a tradicional posição da doutrina ao conceituar a ação como um direito subjetivo, vale dizer, direito para agir em juízo em defesa de interesses próprios. A ação civil pública rompe com esse princípio tradicional, tendo natureza especialíssima: não é direito subjetivo, mas direito atribuído a órgãos públicos e privados para a tutela de interesses não-individuais strito sensu.

Nos termos do artigo 3º da Lei nº 7.347/85: “a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. Significa dizer que o objeto da Ação Civil Pública Ambiental não se limitou apenas na questão econômica da indenização, mas estendeu a condenação à obrigação de fazer ou não-fazer, porque na condenação em dinheiro é difícil quantificar o valor indenizatório com base no valor obtido pelo causador do dano com sua atividade. Quando a condenação recai sobre uma obrigação de fazer, o Juiz determina o cumprimento da prestação da atividade devida, por exemplo, plantar árvores nas áreas de preservação permanente. Por outro lado, quando a obrigação é de não- fazer, o Juiz determina a cessação da atividade nociva, como, por exemplo, no caso de estancar o lançamento de dejetos industriais em um rio.

A condenação em dinheiro que reverte para o fundo de reconstituição de bens lesados, exceto na Lei nº 7.913/89. Ela tem por finalidade a reparação por danos patrimoniais e morais causados: ao Meio Ambiente; ao consumidor; a bens direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico, urbanístico e paisagístico, que constituem os denominados interesses difusos. É meio precioso da comunidade organizada para agir na proteção de bens ambientais.

Não obstante, Mancuso (2006, p. 36) diz que o objeto da Ação Civil Pública é:

O mais amplo possível, graças à (re)inserção da cláusula „qualquer outro interesse difuso ou coletivo‟ (inc. IV do art. 1º da Lei 7.347/85) pelo art. 110 do CDC. Esse elastério veio, na seqüência, potencializado por alguns adendos: a) no caput do art. 1º da Lei 7.347/85 a responsabilidade passou a estender-se aos danos morais (e não somente aos patrimoniais), conforme redação da Lei 8.884/94; b) a ação pode também referir-se à „infração da ordem econômica e da economia popular‟ (inc. V do art. 1º. Da Lei 7.347/85, cf. MP 2.180-35/2001); c) por conta do art. 6º. Da MP 2.180-35/2001, tornou-se possível, via ação civil pública, a defesa da ordem urbanística.

Granziera (2009, p. 654) faz a seguinte observação quanto ao objeto da Ação Civil Pública:

É de se considerar que, antes da indenização, há que se exigir, o quanto possível, o cumprimento das obrigações de fazer e não fazer, pois o interesse existente é que se projeta o meio ambiente. A indenização se aplica quando houver impossibilidade – total ou parcial – da recuperação do ambiente após a ocorrência de dano.

Logo, a princípio o que se busca é a aplicação de uma obrigação de fazer ou não fazer ao degradador ambiental quando ocorre o dano ambiental, e a indenização é aplicada quando não existe possibilidade de recuperar a área degradada ao seu estado anterior, ou seja, antes de ser atingida.

O objeto da Ação Civil Pública se estende no campo do controle das políticas públicas, por exemplos, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.74/2003), o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), a Assistência Social (Lei nº 8.742/1993), a Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997), etc.

Portanto, o objeto da Ação Civil Pública está em princípio aberto a novos e relevantes interesses metaindividuais, porquanto o rol apresentado no Artigo 1º da Lei nº 7.347/85 não é taxativo, considerando ainda a tendência crescente da judicialização das políticas públicas.