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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.4. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL

2.4.7. Liminar e Tutela Antecipada

Toda ação judicial demanda tempo para ser solucionada, em determinadas circunstâncias; especialmente na esfera ambiental, poderá ser funesto para a satisfação e a resolução da crise estabelecida. Logo, o tempo não pode tornar a prestação jurisdicional em um amontoado de palavras que não importa a qualquer das partes.

Alcântara (2007, p. 144) assevera sobre a demora na prestação jurisdicional da seguinte forma:

A demora na prestação jurisdicional, ainda que justificada tecnicamente – pela busca da certeza jurídica –, não pode mais ser admitida, pois produz efeitos deletérios extremamente negativos aos jurisdicionados, tendo em vista que, além da incerteza com o resultado do provimento que pode ser obtido (procedência ou improcedência), surge, outrossim, a angústia e o receio de que tal resultado, em decorrência de sua demora, seja ineficaz.

Preocupado com os efeitos do tempo, o legislador buscou técnicas para acelerar o processo, a exemplo, a tutela antecipada, bem como em busca de um processo justo e efetivo entrou vigor a Emenda Constitucional nº 45 que acrescentou ao artigo 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal a ulterior redação: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

A partir deste entendimento surgiu na doutrina um grande debate sobre o que seja duração razoável do processo. Alcântara (2007, p. 154), com base na jurisprudência da Corte Européia de Direitos do Homem, estabelece critérios para verificar este prazo razoável:

I – a complexidade do assunto; II - o comportamento dos litigantes e de seus procuradores ou da acusação e da defesa no processo penal; III – a atuação do órgão jurisdicional. É claro que só a análise desses componentes não é suficiente para determinar a razoabilidade do transcurso do tempo numa demanda judicial, contudo são pontos que servem para perquirir o jurista pátrio na busca do prazo estatuído na CF.

Quanto ao conceito de liminar, Milaré (1995, p. 455) assim escreve:

Uma providência de cunho emergencial, expedida também (em convergência às medidas cautelares) com o fundamental propósito de salvaguardar a eficácia da futura decisão definitiva. Mas, apresenta, doutra parte, peculiaridades que a distinguem das provisões cautelares, em senso estrito.

Com relação ao significado e quais os requisitos para concessão da medida liminar, Meirelles (1999, p. 71) esclarece, nestes termos:

A liminar não é uma liberalidade da Justiça; é medida acautelatória do direito da impetrante, que não pode ser negada quando ocorrerem seus pressupostos como, também, não deve ser concedida quando ausentes os requisitos de sua admissibilidade.

Para a concessão da liminar devem concorrer os dois requisitos legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante se vier a ser reconhecido na decisão de mérito - fumus boni iuris e periculum in mora.

Sobre a figura do fumus boni iuris e periculum in mora, Alcântara (2007, p. 159-160) faz a subseqüente observação:

Para a obtenção da tutela em exame, mister se faz a existência do periculum in mora, e tal perigo na demora nada mais é que a demonstração de um fundado receio e temor na entrega da prestação jurisdicional de forma intempestiva, pois o risco a ser combatido pela medida cautelar diz respeito à utilidade que a tutela definitiva representa para o titular do direito. Isso pode ocorrer quando haja risco de perecimento, ou qualquer outra forma de alteração necessária que inutilize a perfeita e eficaz atuação do provimento final do processo principal.

[...]

Além do periculum in mora, um outro requisito é fundamental para a concessão de medidas cautelares: é o consubstanciado no provérbio latino fumus boni iuris, requisito reconhecido pelas doutrinas pátrias e alienígenas, que se propuseram a estudar o tema da tutela cautelar. Importante dizer que, quanto a essa nomenclatura, não há uma uniformidade de entendimento por parte da doutrina, havendo autores que entendem que a expressão deve ser compreendida como „aparência do direito‟. Autores há que preferem a acepção „plausibilidade do direito‟. Uma das referências no estudo das cautelares, o mestre Calamandrei, refere-se a tal expressão como a verossimilhança do direito afirmado pelo autor.

Milaré (1995, p. 455) apresenta quais os efeitos relevantes decorrentes da medida limiar na Ação Civil Pública, a saber:

I – A liminar não é um provimento excepcional, a ser restritivamente examinado e concedido. Ou seja, a liminar não é uma exceção à idéia de due process of law. Pelo contrário: ela constitui uma etapa naturalmente integrante do devido processo legal da ação civil pública;

II – conseqüentemente, é inconstitucional a norma legal ou regulamentar que proíba, transitória ou definitivamente, a concessão de liminar. A tutela liminar é estabelecida na Constituição, inciso XXXV do artigo 5º, preceito no qual alcançada à plataforma das garantias individuais básicas, confiadas ao exame e decisão do Judiciário, não apenas a lesão, mas também a ameaça a direito.

O artigo 12 da Lei nº 7.347/85 prevê a possibilidade de concessão de medida liminar na seara da Ação Civil Pública, ex vi:

Art. 12. Poderá o Juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.

§ 1º. A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do

respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.

§ 2º. A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

Uma peculiaridade deste artigo refere-se ao fato da necessidade de requerimento, de solicitação, para a concessão da medida liminar em qualquer rito processual adotado. O Juiz, ao despachar a petição inicial, analisa a presença dos pressupostos habilitantes da medida para poder concedê-la e, conseqüentemente, suspender o ato que motivou o pedido. Outra peculiaridade trazida à baila é que a liminar pode vir cumulada com apenação pecuniária constritiva de seu acatamento. É uma forma de impor multa ao réu para assegurar o cumprimento da ordem. Todavia, a multa liminar só é exigível a partir do trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, porém devida desde o dia do descumprimento.

A decisão que concede ou denega o pedido de liminar possui natureza interlocutória, e está sujeita a agravo nos prazos previstos no artigo 522 e seguintes do Código de Processo Civil. O prazo será em dobro para o Ministério Público, a Fazenda, suas autarquias e fundações, nos termos do artigo 188 do mesmo diploma legal. Além disso, esta decisão pode ser revista pelo magistrado a qualquer tempo, no caso da revogação da medida pode ocorrer desde que não existam mais os pressupostos que configuraram sua determinação.

Destaque-se ainda que ao recurso de agravo pode ocorrer a concessão de efeito suspensivo, visto que presentes o fumus boni iuris e periculum in mora, todavia, a suspensão da medida liminar carece apenas da verificação do segundo requisito, desde que requerido ao Presidente do Tribunal a que cabe recurso contra a decisão que concedeu a medida liminar.

Nos termos da Lei nº 8.437/92, é proibida a concessão de medida liminar em desfavor do Poder Público, assim dispõe em seu artigo:

Art. 2º No mandado de segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será concedida, quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.

A doutrina dominante entende por inconstitucional tal lei, mas este entendimento não é unânime.

Outra modalidade de provimento antecipatório é a tutela antecipada prevista no artigo 273 do Código de Processo Civil, nos seguintes termos:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.

Mancuso (2006, p. 97) assim discorre sobre a tutela antecipada:

Objetiva impedir que a duração do processo labore contra a parte a quem, aparentemente, assiste o bom direito (a chamada tutela da evidência), percepção essa alcançada numa cognição por verossimilhança, que tanto pode fundar-se na prova inequívoca ofertada pelo autor, acoplada ao seu justo temor do dano (inciso I do art. 273), como pode resultar da resistência inconsistente/protelatória, adotada pelo réu (inciso II do art. 273).

Alcântara (2007, p. 111) destaca que:

A antecipação dos efeitos da sentença de mérito é providência que tem natureza jurídica mandamental e que se efetiva mediante execução lato sensu, com a finalidade de entregar ao autor, total ou parcialmente, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus efeitos. É tutela satisfativa no plano dos fatos, já que realiza o direito pleiteado, dando ao requerente o bem da vida por ele pretendido com a ação de conhecimento e que somente receberia no final da demanda.

Logo, a tutela antecipada evidência duas características, quais sejam: primeiro, é uma providência mais consistente do que a liminar, desde que não se atinja o nível da irreversibilidade; e segundo, não exige caução, o que possibilita a efetivação da medida na Ação Civil Pública Ambiental.

Segundo Miralé (1995, p. 459), a tutela antecipada gera os seguintes efeitos: a) quando o conteúdo da tutela não é delimitado poderá ser concedida de forma parcial ou total, mas ainda, deve observar a natureza, a qualificação e a identidade do que demandado; b) quando a decisão for motivada deverá dar lugar pós a manifestação do réu; c) não se aplica a responsabilização da parte prevista no artigo 811 do Código de Processo Civil; d) a revogação ou modificação da tutela antecipada independe da oitiva do interessado.

Concerne às dificuldades para a efetividade prática da antecipação dos efeitos do julgado no âmbito das ações civis públicas, em virtude dos obstáculos e restrições advindos com a edição da MP 1.570-5/97, depois convertida em na Lei 9.494, de 10.09.1997 (art. 1º), e, ainda, por força da MP 2.180-35/2001, que acresceu o art. 2° - A e parágrafo único e o art. 2° - B à Lei 9.494/97.