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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.2. ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL

2.2.1. Evolução Histórica da Década de 80 até 1995

As lutas dos movimentos sociais em busca da igualdade social e da cidadania plena fizeram com que a partir da década de 80 houvesse uma revolução no cotidiano. Nessa época foi praticamente consolidada a reabertura política com a Lei de Anistia, bem como a Nova Lei Orgânica dos Partidos ensejou a criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Nasceu também a Central Única dos Trabalhadores, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, Movimentos Ecológicos e diversas ONGs, cobrando a efetivação de direitos fundamentais e sociais, ou seja, da Justiça em sentido amplo.

Os cientistas políticos com uma visão interdisciplinar passaram a publicar vários temas ligados aos direitos fundamentais e sociais, principalmente no que se refere ao acesso à Justiça de forma igualitária e eficiente, a fim da consolidação de um sistema jurídico mais atuante, moderno e participativo.

Também foram realizados muitos congressos nacionais e internacionais, preocupados com o efetivo acesso à Justiça, por exemplo, em 1983, na Alemanha, “Proteção Judicial Efetiva e ordem constitucional”.

Os resultados desses movimentos para democratização do acesso à Justiça começaram a produzir efeito no campo legislativo. Merece destaque na defesa dos direitos individuais a Lei nº 7.019, de 31 de agosto de 1982, que criou o procedimento de arrolamento de bens em caso de partilha amigável, evitando o inventário tradicional.

Outro resultado foi a vinda da Lei nº 7.244, de 07 de novembro de 1984, que criou o Juizado de Pequenas Causas, com diversas finalidades, dentre elas destaque-se: a descentralizar a Justiça, tornando-a mais próxima das classes menos favorecidas; privilegiar a conciliação extrajudicial, como forma de pacificação e de resolução de conflitos; resolver causas de pequena monta, que normalmente não eram levadas à Justiça tradicional, e assim, evitar a criação de justiças paralelas e não oficiais; incentivar a participação da população na administração da Justiça, através dos representantes do bairro para resoluções de conflito; servir de referência para informar as pessoas seu direitos em geral, e como, torná-los efetivos; ser gratuita e célere, desburocratizada, informal, equânime e efetiva; e desafogar a Justiça tradicional.

Surgiu ainda a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, legitimando o Ministério Público para promover no Juízo Cível ação de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente, sem refletir na figura da tutela preventiva e da Ação Civil Pública nos moldes atuais.

O campo doutrinário durante essa fase discutia muito sobre a legitimação para a defesa de interesses difusos e coletivos, inclusive seus instrumentos processuais adequados, que garantissem, dentre outras, as seguintes metas: uma legitimação mais adequada que permitisse a efetiva defesa dos direitos coletivos em discussão; mecanismos que garantam na prática uma tutela preventiva dos direitos coletivos, que assegure sua existência e efetividade até o resultado final, sob pena da inutilidade do processo; instrumentos adequados para apuração e investigação dos fatos que violaram estes direitos, e ainda para a composição dos conflitos no campo extrajudicial; adequação dos institutos processuais existentes, especialmente da coisa julgada, em virtude da natureza dos direitos em discussão; e previsão de um processo de execução eficiente, que garanta na prática o bem da vida coletivamente considerado.

Em 1985 foi promulgada a Lei nº 7.347 que disciplina a Ação Civil Pública para proteger o meio ambiente, o consumidor, os bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, os direitos fundamentais, individuais e sociais foram amplamente consagrados, prevendo a criação de mecanismos adequados para garanti-los, principalmente sobre o acesso à Justiça. Destaque-se, dentre outros: a consagração do princípio da igualdade material; a ampliação do direito à assistência judiciária aos necessitados; a previsão para criação de Juizados especiais para causas de pequena monta e menor poder ofensivo; previsão para a criação de uma Justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos, com mandatos de quatro anos, e dá outras providências; tratamento constitucional da Ação Civil Pública como instrumento hábil para a defesa de todo e qualquer direito difuso e coletivo; criação de novos instrumentos destinados à defesa coletiva de direitos, por exemplos, o mandado de segurança coletivo e o mandado de injunção; reestruturação e fortalecimento do Ministério Público, como órgão essencial à função jurisdicional do Estado, com total independência funcional e administrativa, e garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios; e elevação da Defensoria Pública

como instituição essencial à função jurisdicional do Estado, para orientar e defender juridicamente aos necessitados.

No decorrer do tempo surgiram outros diplomas legais no âmbito da defesa coletiva, tais como: a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que disciplina a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiências.

A Lei nº 7.913, de 07 de dezembro de 1989, que dispõe sobre a Ação Civil Pública de responsabilidade por danos causados aos investidores no mercado de valores imobiliários, foi o primeiro diploma legal a prevê a defesa coletiva de direitos individuais homogêneos.

Em 1990, entrou em vigor a Lei nº 8.069, que trata do Estatuto da Criança e

do Adolescente; no mesmo ano, a Lei nº 8.078 instituiu o Código de Defesa do Consumidor, trazendo notáveis modificações à lei que regula a Ação Civil Pública.

Visando à efetividade do processo, várias modificações foram introduzidas no Código de Processo Civil, realce a Lei nº 8.710, de 24 de setembro de 1993, que amplia os casos de citação postal e trata da intimação postal; a Lei nº 8.952, de 13 de dezembro de 1994, que trata da tutela antecipada e da conciliação para desburocratização do processo, e a Lei nº 9.139, de 30 de novembro de 1995, que modifica o procedimento de agravo.

É bom saber se estas reformas legislativas foram leais às premissas, e se atenderam aos anseios dos cidadãos. A resposta enseja necessariamente o exame individualizado da legislação específica, e sua atuação na prática. A proposta aqui desenvolvida é a instituição da Ação Civil Pública.