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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.3. DIREITO AMBIENTAL

2.3.4. Bens Ambientais

Os bens de natureza difusa passaram a ser objeto de maior preocupação do legislador a partir de meados do século XX, com a formação da sociedade de massa. Com o advento da Constituição Federal de 1988, começou uma nova categoria de bens.

Conceituar bens remete ao conhecimento da doutrina civil que, segundo Gonçalves (2009, p. 240), significa:

Bem, em sentido filosófico, é tudo o que satisfaz uma necessidade humana. Juridicamente falando, o conceito de coisas corresponde ao de bens, mas nem sempre há perfeita sincronização entre as duas expressões. Às vezes, coisas são o gênero e bens, a espécie; outras vezes, estes são o gênero e aquelas, a espécie; outras, finalmente, são os dois termos usados como sinônimos, havendo então eles coincidência de significação.

Gonçalves conclui que são bens as: “coisas materiais, concretas, úteis aos homens e de expressão econômica, suscetíveis de apropriação, bem como as de existência imaterial economicamente apreciáveis”.

No dizer de Venosa (2006, p. 304), bens significa:

Tudo o que pode proporcionar utilidade aos homens. Não deve ser confundido com coisas, embora a doutrina longe está de ser uníssona. Bem, numa concepção ampla, é tudo que corresponde a nossos desejos, nosso afeto em uma visão não jurídica. No campo jurídico, bem deve ser considerado aquilo que tem valor, abstraindo-se daí a noção pecuniária do termo. Para o direito, bem é uma utilidade econômica ou não econômica.

Para Nader (2003, p. 294) as noções ética e econômica de bem são estas:

Sob o aspecto ético bem é tudo aquilo que promove a pessoa de uma forma integral e interada. Se algo é prazeroso, mas ao mesmo tempo aniquila o moral ou o físico, não constitui um bem, igualmente se proporciona satisfação individual, mas em detrimento do semelhante. Ainda sob a conotação ética, tem-se que o bem corresponde a uma sintonia com a natureza das coisas ou, mais precisamente, com a justiça. O bem, de acordo com esta dimensão, não pode estar presente se a justiça estiver ausente. Em economia, a noção de bem corresponde às coisas que satisfazem necessidades humanas e são suscetíveis de avaliação em dinheiro. Para alcançar qualificação econômica é necessário que as coisas, além de úteis, se caracterizem pela raridade.

Fiuza (2003, p. 146) ensina os requisitos necessários para que um bem seja objeto de uma relação jurídica, ex vi:

1º) interesse econômico: o bem deve representar interesse de ordem econômica. Uma folha seca não será bem nem coisa para o Direito;

2º) gestão econômica: deve ser possível individualizar e valorar o bem. A luz do sol, por exemplo, não possui gestão econômica. Portanto, não será bem nem coisa para o Direito;

3º) subordinação jurídica: o bem deve ser passível de subordinação a uma pessoa. Tampouco deste ângulo a luz do sol seria bem ou coisa.

Com base nas noções de bens percebe-se que estes são os objetos da relação jurídica, que consistem, segundo Gonçalves (2009, p. 239-240), em:

Coisas (relações reais), em ações humanas (nas relações obrigacionais) e também em certos atributos da personalidade, como o direito à imagem, bem como em determinados direitos, como o usufruto de crédito, a cessão de crédito, o poder familiar, a tutela etc.

Quanto à classificação dos bens, Diniz (2003) apresenta a seguinte classificação: a) bens considerados em si mesmos, podem ser: corpóreos e incorpóreos, imóveis e móveis, fungíveis e infungíveis, consumíveis e inconsumíveis, divisíveis e indivisíveis, singulares e coletivos; b) bens reciprocamente considerados, são: a coisa principal e a acessória, que por sua vez subdivide em: frutos, produtos, rendimentos, benfeitorias, acessão, pertença e partes integrantes; c) bens considerados em relação ao titular do domínio, são: públicos e privados; e d) bens fora do comércio, são os alienáveis e inalienáveis.

Passe-se agora a detalhar sobre a titularidade do bem público e do bem particular. Desde o Código Civil de 1916 já existia a distinção entre estes bens, conforme prevê o Artigo 65: “São públicos os bens de domínio nacional pertencentes à União, aos Estados, ou aos Municípios. Todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”. Esta concepção ideológica não foi alterada e está prevista atualmente no Artigo 98 do “novo” Código Civil.

Os bens públicos são aqueles que têm por seu domínio a pessoa jurídica de direito público interno, que pode ser a União, os Estados e os Municípios. Enquanto que os bens privados são aqueles pertencentes à pessoa natural ou jurídica de direito privado.

De acordo com o artigo 99 do Código Civil, os bens públicos classificam-se em:

I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;

II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;

III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.

O artigo 225 do texto constitucional estabelece a existência jurídica de um bem com estrutura de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, o que caracteriza uma inovação jurídica disciplinando bem que não é público e nem privado. Essa vinculação da norma ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ratifica que todos são titulares de um direito difuso, pois transcende a individualidade e reporta à coletividade de pessoas indefinidas.

Desse modo, Fiorillo (2005, p. 63) conceitua bem ambiental como:

Um bem de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por toda e qualquer pessoa dentro dos limites constitucionais, e, ainda, um bem essencial à qualidade de vida. Devemos frisar que uma vida saudável reclama a satisfação dos fundamentos democráticos de nossa Constituição Federal, entre eles, o da dignidade da pessoa humana, conforme dispõe o art. 1º, III.

Serpa (2008, p. 46), ao discorrer sobre a aplicabilidade das normas ambientais, diz que: “o bem ambiental pode ser tutelado pelo Poder Público, como também é de responsabilidade de toda a comunidade, caracterizando-se como dever, não uma mera norma moral de conduta”.

Segundo Granziera (2009, p. 12), os bens ambientais se classificam a luz de seu domínio em:

São bens públicos de uso comum as águas superficiais e subterrâneas, os lagos, assim como as praias. Também o são a fauna e o subsolo. Pertencem a todos, de modo difuso, o ar, os mares, o patrimônio genético. Pertencem ao proprietário, independentemente de sua natureza pública ou particular, o solo e as florestas, respeitada a sua função social.

Assim, o bem jurídico mais importante é o patrimônio ambiental, segundo as lições de Sirvinskas (2004, p. 15):

O bem jurídico mais importante é o patrimônio ambiental; sem essa proteção não há se falar em vida sobre o planeta terra. A água, o solo e o ar são os bens jurídicos mais importantes depois do homem. Este não sobreviveria na lua, por exemplo. Pensar de maneira diferente é inverter os valores sociais mais relevantes. Mudar é preciso para preservar o meio ambiente sem, contudo, ofender as garantias e os direitos alcançados no envolver dos tempos. O homem deve ser o centro das questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Procura-se, atualmente, proteger o meio ambiente, utilizando-se de todos os instrumentos necessários, tendo-se como aliado o próprio direito penal.

O bem ambiental caracteriza-se, de acordo com Fiorillo (2005, p. 60), a saber:

Um bem que tem como característica constitucional mais relevante ser ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA, sendo ontologicamente de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por toda e qualquer pessoa dentro dos limites constitucionais.

Não se pode olvidar que os bens ambientais caracterizam-se por serem bem de uso comum do povo, porque pertence a toda a coletividade, como também bem essencial à sadia qualidade de vida, por serem bens fundamentais à garantia da dignidade da pessoa humana, ou seja, ter uma vida com dignidade que satisfaça valores mínimos assegurados pelo Estado, tais como: educação, saúde, trabalho, moradia, segurança, lazer, etc.

Contudo, a principal característica que diferencia o bem público e do bem difuso é que este não é patrimônio público, tendo em vista que o legislador constituinte distinguiu os bens pertencentes ao patrimônio público dos pertencentes a toda a coletividade. Logo, atualmente existem três categorias de bens: os públicos, os privados e os difusos.

Destarte que mesmo a Constituição Federal determine em vários artigos que os bens tipicamente ambientais pertencem à União ou aos Estados, conforme preceitua o artigo 20, incisos III, IV e V, e artigo 26, incisos I, II e III, trata-se de uma inverdade, visto que os bens ambientais não são propriedades dos entes federados, mas pertencem à coletividade.

Ressalte-se que a natureza jurídica do bem ambiental é o uso comum do povo, criada numa ordem econômica do capitalismo, a fim de atender às relações de consumo, bem como sob uma nova perspectiva constitucional que valoriza a dignidade da pessoa humana.