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CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.4. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL

2.4.5. Competência

A definição da competência se faz por meio de normas constitucionais, de leis processuais e de organização judiciária.

Para tanto, Arruda Alvim (2007, p. 282) define competência como: “a atribuição a um dado do Poder Judiciário daquilo que lhe está afeto, em decorrência de sua atividade jurisdicional específica, dentro do Poder Judiciário, normalmente excluída a competência simultânea de qualquer outro órgão do mesmo poder”.

Dessa forma, a competência é atributo do órgão, seja juízo, tribunal, câmaras, etc., e não do agente, ou seja, do Juiz.

Competência, segundo Montenegro Filho (2006, p. 89), consiste no:

Fracionamento da função jurisdicional, atribuindo-se a cada juiz ou tribunal parcela dessa jurisdição, possibilitando o seu exercício. As regras de competência se justificam por uma questão de racionalização do serviço forense, atribuindo-se a cada órgão judicial parcela do trabalho de distribuir a Justiça em todos os cantos da Federação.

Ao Juiz é atribuída a função jurisdicional, no entanto, só se torna competente no momento em que for exercitado o direito de ação. Logo, todo juiz tem jurisdição, podendo não ter competência, mas não terá competência sem jurisdição.

Machado (2004, p. 121) conceitua competência como: “a relação de adequação entre determinado órgão judiciário e determinada causa; a medida da jurisdição, a quantidade de poder jurisdicional atribuída, em exercício, a determinado órgão judiciário”.

Para Wambier (2002, p. 85) o conceito de competência é diferente ao de jurisdição, apesar da veiculação existente entre eles, contudo, assim a definiu:

São justamente as normas de competência que atribuem concretamente a função de exercer a jurisdição aos diversos órgãos da jurisdição, pelo que se pode conceituá-la como instituto que define o âmbito de exercício da atividade jurisdicional de cada órgão dessa função encarregado.

Deste conceito compreende-se que a competência é a medida da jurisdição, e cabe aos órgãos do Poder Judiciário exercer a jurisdição, uma vez que a competência é atribuição do órgão jurisdicional e não do agente.

Neste entendimento, seguem as lições de Didier Júnior (2008, p. 101) ao definir competência como:

É exatamente o resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição. A competência é o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei. É o âmbito dentro do qual o juiz pode exercer a jurisdição. É a medida da jurisdição.

Theodoro Júnior (1999, p. 153) define competência como “o critério de distribuir entre os vários órgãos judiciários as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição”.

Conseqüentemente, nos dias atuais não mais existe entre os processualistas confusão entre os conceitos de jurisdição e competência. Como visto, a competência é a medida da jurisdição, porquanto determina a esfera de atribuições dos órgãos encarregados da função jurisdicional. Assim, todos os juízes têm jurisdição, contudo, nem todos, porém, têm competência para conhecer e julgar determinado litígio.

Quanto à classificação, a competência ambiental divide-se em: material e legislativa, como bem salienta Fiorillo (2005, p. 77):

Podemos dividir as competências em material e legislativa. A competência material, por sua vez, subdivide-se em:

a) exclusiva: aquela reservada a uma entidade com exclusão das demais. É prevista no art. 21 da Constituição Federal;

b) comum: é a competência atribuída a todos os entes federados, que, em pé de igualdade, exercem-na, sem, todavia, excluir a do outro, porquanto esta competência é cumulativa. É prevista no art. 23 da Constituição Federal.

A competência legislativa subdivide-se em:

a) exclusiva: é a atribuída a um ente com a exclusão dos demais, sendo certo que esta competência é indelegável. É prevista no art. 25, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal;

b) privativa: é a enumerada como própria de uma entidade, todavia passível de delegação e suplementação da competência. É prevista pelo art. 22 e parágrafo único da Constituição Federal;

c) concorrente: é a competência prevista no art. 24 da Constituição Federal, a qual se caracteriza pela possibilidade de União, Estados e Distrito Federal disporem sobre o mesmo assunto ou matéria, sendo que à União caberá legislar sobre normas gerais;

d) suplementar: correlata à concorrente, é a que atribui competência a Estados, Distrito Federal (art. 24, § 2º) e Municípios (art. 30, II) para legislarem sobre normas que suplementem o conteúdo de princípios e normas gerais ou que supram a ausência ou omissão destas.

Ressalte-se também o conteúdo do artigo 24 da Constituição Federal, ex vi:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; [...]

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

[...]

§ 1º. No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar- se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º. A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º. Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4º. A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Diante do exposto, percebe-se que a União traça as diretrizes gerais sobre o meio ambiente; aos Estados e ao Distrito Federal cabe legislar de forma concorrente

sobre matéria ambiental, e aos Municípios cabe legislar questões ambientais de forma suplementar, nos termos do artigo 30, inciso II da Constituição Federal.

Conforme o artigo 2º da Lei nº 7.347/85, a Ação Civil Pública deverá ser proposta no foro do local onde ocorreu o dano; trata de uma competência funcional para processar e julgar o caso concreto. Este critério é utilizado segundo a doutrina, em virtude do princípio do interesse coletivo, bem como pela facilidade de obtenção das provas.

Questiona-se se a regra contida neste artigo é espécie daquelas que delegam à Justiça Estadual competência da Justiça Federal, na forma do artigo 109, § 3º da Constituição Federal. A resposta é negativa; contudo, já foi positiva, conforme súmula 183 do Supremo Tribunal de Justiça: “compete ao Juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo”. No entanto, em razão do julgamento do Recurso Extraordinário nº 228.955-9, proferido pelo Plenário do Superior Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça cancelou esta súmula ao julgar os embargos declaratórios interpostos no CC 27.676-BA, cujo relator foi o Ministro José Delgado, publicado no diário da justiça aos 10/02/2000, p. 195.

O extrato da decisão do Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário nº 228.955-9 – RS, que teve como relator o Ministro Ilmar Galvão, publicado em 10/02/2000, gerou o cancelamento da súmula 183 do Supremo Tribunal de Justiça em novembro de 2000:

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO

PÚBLICO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, I E § 3º, DA CONSTITUIÇÃO. ART. 2º, DA LEI Nº 7.347/85.

O dispositivo contido na do § 3º, dó art. 109 da Constituição é dirigido ao legislador ordinário, autorizando-o a atribuir competência (rectius jurisdição) ao Juízo Estadual do foro do domicílio da outra parte ou do lugar do ato ou fato que deu origem a demanda, desde que não seja sede de Varas da Justiça Federal, para causas específicas dentre as previstas no inciso I do referido artigo 109.

No caso em tela, a permissão não foi utilizada pelo legislador que, ao revés, se limitou, no art. 2º da Lei nº 7.347/85, a estabelecer que as ações nele previstas „serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa’.

Considerando que o Juiz Federal também tem competência territorial e funcional sobre o local de qualquer dano, impõe-se a conclusão de que o afastamento da jurisdição federal, no caso, somente poderia dar-se por meio de referência expressa à Justiça Estadual, como a que fez o constituinte na primeira parte do mencionado § 3º em relação às causas de natureza previdenciária, o que no caso não ocorreu.

Nos casos em que o dano for nacional quanto à competência aplica-se à regra do artigo 93 do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Nestas hipóteses surgem duas linhas de interpretação: a primeira defende a existência de foros concorrentes: capital dos Estados-membros e do Distrito Federal, e a segunda a competência seria exclusiva do foro do Distrito Federal. Ante a controvérsia, o Superior Tribunal de Justiça pacificou no julgamento do conflito de competência nº 26.842 – DF, tendo como relator o Ministro César Asfor Rocha, publicado no diário da justiça da união em 05/08/2002: os foros dos Estados- membros e do Distrito Federal possuem competência concorrente para processar e julgar ações coletivas cujo dano é de âmbito nacional. Em voto contrário, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira entendeu que o foro competente é o Distrito Federal.

Logo, a questão da Justiça competente deve ser solucionada à luz da

Constituição Federal, assim, se a causa é uma das hipóteses do artigo 109 da Constituição Federal, a competência será da Justiça Federal, com exceção dos

casos previstos no artigo 93, inciso I do Código de Defesa do Consumidor que será da competência da Justiça Estadual.

Com relação ao juízo, a competência será definida conforme as leis de organização judiciária. Quando a relação é de consumo e existe uma vara especializada do consumidor, a competência será deste juízo, caso contrário será da competência de alguma vara cível.

Ressalte-se, por fim, que o dano é considerado de âmbito regional quando sua dimensão ou seus reflexos atingem localidades abarcadas pela competência territorial de vários foros, mas pertencentes a um mesmo Estado da federação.

Nos termos do artigo 19 da Lei nº 7.347/85, quando o dano alcançar mais de uma comarca a competência será firmada por prevenção, aplicando-se subsidiariamente o Código de Processo Civil. Também será firmada a competência por prevenção nos casos em que o dano alcance comarcas pertencentes a Estados

diferentes, entre as Justiças Estaduais. Contudo, conforme a doutrina, neste último caso a competência será da Justiça Federal comum.

Portanto, é competente o Juiz do local em que ocorrer o dano ou deveria ocorrer. Souza (2001, p. 28-29) apresenta o seguinte fundamento para esta afirmativa:

O fundamento para a escolha do critério em foco é o da proximidade do juiz: teoricamente, o magistrado da comarca possui melhores condições de avaliar o dano, de obter a prova necessária para o julgamento da ação e, assim, resguardar de forma mais efetiva os interesses da comunidade a que serve.