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CAPÍTULO III AMBIENTE E SOCIEDADE: BACIA HIDROGRÁFICA DO

3.1 Aspectos geográficos

3.1.3 Aspectos econômicos dos municípios do litoral paranaense

Neste tópico, cabe mencionar o ensinamento de Leff (2000:95), para quem a integração do homem com o meio ecológico não decorre de adaptações biológicas diretas, mas sim do exercício da dinâmica do capital para transformação dos ambientes. O caminho da história recente aponta para o fato de a natureza ter deixado de ser símbolo de vida para se converter em matéria-prima, desvalorizada nas trocas de bens primários por equipamentos tecnológicos (LEFF, 2000:96).

Ingressando na aproximação da realidade econômica regional, conforme assevera Denes (2006:47), os municípios do litoral paranaense podem ser classificados em três estratos, de acordo com suas vocações econômicas: portuários, rurais e praiano-turísticos.

Neste prisma, Guaratuba, Matinhos e Pontal do Paraná se enquadram na categoria dos municípios praiano-turísticos (em que pese os planos de implantação de Terminal Portuário em Pontal do Paraná), pois apresentam características de balneabilidade com grande quantidade de domicílios de uso ocasional, utilizados principalmente nas temporadas de verão, determinando a existência de população flutuante deflagradora de uma situação de desequilíbrio na oferta de serviços durante o período de veraneio. A crescente demanda por ocupações de veraneio tem gerado consequências a estes municípios, já que em muitos casos loteamentos, marinas e condomínios vêm adentrando em ambientes vulneráveis como mangues, encostas, restingas e áreas de mata atlântica, contribuindo para o agravamento de problemas no abastecimento de água, cobertura por redes de esgotos, coleta, tratamento e destinação final do lixo, conservação de ruas e estradas, transporte coletivo, dentre outros, contribuintes para o comprometimento ambiental da região (DENES, 2006:49).

Já Paranaguá, onde se situa o maior porto do sul do Brasil e o mais expressivo em exportação de grãos da América do Sul, atrai um grande contingente de pessoas em busca de trabalho e renda, com vistas a esta atividade. As cidades de Morretes e Antonina, que possuem atrativos histórico-culturais apresentam o elemento turístico como carro chefe de suas economias, enquanto que Guaraqueçaba possui sua economia baseada na atividade rural, com crescente ganho de expressão turística (DENES, 2006:47; ESTADES, 2003).

O agente econômico responsável pelo maior volume de captação de recursos hídricos na bacia litorânea do Paraná é a agricultura (mesmo considerada uma atividade inexpressiva se vislumbrado o contexto regional e nacional), responsável pela retirada de 345,54 l/s dos corpos d’água, seguida do consumo residencial urbano, do uso industrial, abastecimento rural, pecuária e mineração (SUDERHSA, 2008). E o uso vinculado à atividade de produção agropecuária, em geral, no Estado do Paraná, não remunera a utilização da água captada, na forma preconizada pelo art. 53, parágrafo único da Lei Estadual nº 12726/1999 e pela Lei Estadual nº 16242/2009 (na versão integral, com os vetos derrubados pela Assembleia Legislativa do Paraná).

Conforme dados extraídos do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná (SEAB, 2009), o núcleo regional administrativo de Paranaguá – que engloba os municípios do litoral paranaense –, teve, nos anos de 2006 a 2007, uma produção de 68.207,43 toneladas de produtos agrícolas, cultivados numa área de 4.980 ha, o que corresponde a uma produtividade de 13.696,27 Kg/ha. Comparativamente com relação ao total do Estado, aufere-se que a região litorânea possui de longe a menor área de cultivo, já que a segunda menor região (União da Vitória) possui área de 175.588 ha destinada a esse fim. No entanto, dentre as 20 regiões em que é dividido o território paranaense para fins de administração e apuração da produção agrícola, verifica-se que a região administrativa de Paranaguá encontra-se em quinto lugar no que diz respeito à produtividade (medida em quilogramas por hectare – Kg/ha), restando superada neste quesito apenas pelas regiões de Paranavaí, Umuarama, Jacarezinho e Maringá. Dessa forma se verifica, em linhas gerais, que a produção agrícola na região litorânea do Estado possui pequenas dimensões, porém boa produtividade. Suas principais culturas, segundo Denes (2006:75), são plantações de banana e mandioca nos piemontes e cana de açúcar e arroz nas planícies.

A atividade pecuária na região do litoral paranaense é de pequena expressividade e considerada de subsistência (DENES, 2006:75), comportando o abate, durante os anos de 2003 a 2007, do total de 3.319 cabeças de boi gordo, 1.314 ovinos e 3.193 suínos, frente a um total estadual de 1.096.282; 239.474 e 5.748.413, respectivamente (SEAB, 2009a).

No que diz respeito à geração hidrelétrica, não existem estudos relativos às perdas hídricas geradas por esta atividade na bacia litorânea do Paraná,

haja vista que este uso da água é tradicionalmente considerado como não consuntivo.

Com relação às Usinas Governador Parigot de Souza, Guaricana e Chaminé, cabe mencionar que as três centrais efetuam o pagamento da compensação financeira, haja vista que as duas primeiras possuem potência superior aos 30 MW e a terceira possui potência de 18 MW, mas entrou em operação bastante tempo antes da vigência da Lei nº 9648/1998 (SUGAI, 2007).

Por outra via, o pesquisador teve acesso à Resolução Homologatória nº 623/2008, da ANEEL, a qual define as áreas inundadas por barramentos para fins de pagamento de compensação financeira aos Municípios atingidos pela perda de disponibilidade territorial, de onde se aufere o seguinte: – Para a UHE Parigot de Souza, o rateio da compensação é realizado da seguinte forma64: Campina Grande do Sul/PR – 46,6118%; Bocaiúva do Sul/PR – 53,3882%; – Para a UHE Guaricana, o rateio da compensação financeira é realizado do seguinte modo: Tijucas do Sul/PR – 50%; São José dos Pinhais/PR – 50%;

– Para a UHE Chaminé, o rateio da compensação financeira aos Municípios é realizado do seguinte modo65: Morretes/PR – 42,6573%; São José dos Pinhais/PR – 57,3427%.

Foram localizados, do mesmo modo, dados relativos aos valores dos pagamentos de compensação financeira por parte das usinas sob foco, relativos ao período de 2002 a 2006, os quais demonstram o seguinte (SUGAI, 2007):

– A Usina Governador Parigot de Souza pagou um total de R$ 15.829.395,00 a título de compensação financeira durante o período identificado;

– A Usina Guaricana pagou um total de R$ 1.999.665,00 a título de compensação financeira durante o período identificado;

64 O Município de Antonina, onde está localizada da casa de força da usina, não é beneficiário da compensação financeira, na forma disposta na Resolução Homologatória nº 623/2008, da ANEEL. 65 O Município de Guaratuba, onde está localizada da casa de força da usina, não é beneficiário da compensação financeira, na forma disposta na Resolução Homologatória nº 623/2008, da ANEEL.

– A Usina Chaminé pagou um total de R$ 1.119.338,00 a título de compensação financeira durante o período identificado.

Dos números acima indicados, aufere-se que as três grandes geradoras situadas na bacia litorânea do Paraná pagaram a título de compensação financeira pelo uso dos potenciais hidráulicos, no período de 2002 a 2006, o montante de R$ 18.948.398,00, dos quais R$ 7.579.359,00 foram repassados ao Estado; R$ 7.579.359,00 repassados aos Municípios66 e o restante destinado à União (SUGAI, 2007).

Do acima referenciado extrai-se que o único município litorâneo paranaense a receber compensação financeira pelas geradoras estudadas é Morretes, sendo que os Municípios de Antonina e Guaratuba, mesmo sendo sede das instalações das casas de força das UHE Governador Parigot de Souza e Guaricana, respectivamente, nada recebem sob esta rubrica. Neste ponto, não se deve confundir as receitas do Fundo de Participação dos Municípios, decorrentes de redistribuição da arrecadação tributária, com a compensação financeira, verba indenizatória devida pela perda de disponibilidade territorial do município atingido por barramento.

Para além destas atividades, a Região Metropolitana Norte- Paranaguá67 apresentou queda na sua participação do total do Valor Agregado Fiscal (VAF) industrial do Estado, passando de 4,9% em 1999 para 4,3% em 2003, o que demonstra a perda de fôlego do pequeno potencial industrial existente na localidade (OLIVEIRA, 2005:18).

Na composição da indústria regional em 2003, os três principais segmentos, em termos de geração de receitas tributárias, foram os ligados à indústria do cimento (44,2% do total do VAF regional); fertilizantes e defensivos (28,1%) e óleos e gorduras vegetais (15,9%), os quais, juntos, perfazem 88,2% do total da arrecadação do setor industrial da região (OLIVEIRA, 2005:18).

66 Na proporção definida na Resolução Homologatória nº 623/2008, da ANEEL.

67 Microrregião constituída por 15 municípios, sendo eles: Adrianópolis, Antonina, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Guaraqueçaba, Guaratuba, Itaperuçu, Matinhos, Morretes, Paranaguá, Pontal do Paraná, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná, que ocupam uma área total de 12.786 km2, assentada na face norte na bacia hidrográfica do rio da Ribeira e, no litoral, na bacia Atlântica (OLIVEIRA, 2005:33).

No entanto, para a interpretação adequada deste dado deve-se trazer à consideração que as cimenteiras acima indicadas, maiores responsáveis pela composição do índice apresentado, se localizam nos Municípios de Rio Branco do Sul, Itaperuçu e Balsa Nova, portanto, sem atividades nos Municípios da Bacia Litorânea paranaense (OLIVEIRA, 2005:18).

Já com relação ao setor de óleos e gorduras vegetais, as unidades da empresa Ceval foram adquiridas pela multinacional Bunge, que desativou a unidade de Paranaguá, além do fechamento, na mesma cidade, das unidades da Brasway e da Refinadora de Óleos Brasil, o que acarretou um grande encolhimento setorial (OLIVEIRA, 2005:18).

No que se refere à mão de obra alocada na indústria, a Região Metropolitana Norte-Paranaguá representou, em 2003, 1,7% do total de trabalhadores industriais empregados no Estado, sendo os setores que mais absorveram estes trabalhadores – totalizando, em 2003, 42,9% do total dos empregos na indústria da região – os de fertilizantes e defensivos (21,9%); desdobramento de madeira (11%), e óleos e gorduras vegetais (10%) – Oliveira (2005:19). Denota-se assim que, mesmo sendo responsável por 4,3% do Valor Agregado Fiscal industrial no Estado do Paraná em 2003, o setor emprega apenas 1,7% da mão de obra que labora na indústria.

No entanto, em que pese os indicadores apontem a baixa dinâmica industrial na região litorânea, Oliveira (2005:21) nos adverte que

o decréscimo nos percentuais das regiões interioranas deve-se muito mais ao crescimento acelerado da região Metropolitana Sul-Curitiba do que à estagnação dessas regiões, que em termos absolutos têm apresentando evolução positiva.

Ainda segundo as informações fornecidas por Oliveira (2005:18), a região detinha, no ano de 2003, a maior produção de pescado do Estado do Paraná, com produção anual de 9,7 mil toneladas, composta principalmente por camarão marinho e pescado de captura.

Continuando no que diz respeito às atividades econômicas tradicionais, o comércio exterior é um dos carros chefes da região litorânea, haja vista a maciça atividade do Porto de Paranaguá, responsável por 26,58% das exportações do Estado, o que no ano de 2008 somou U$ 4.053.285.526,00, quase o dobro das exportações realizadas no Município de Curitiba no mesmo período

(SEIM, 2009). No que alude às importações realizadas no Estado, a cidade de Paranaguá é responsável por 15,5% do total estadual, o que totalizou um montante de U$ 2.265.792.337,00, no ano de 2008.

Com relação ao setor de serviços, este possui a administração pública como o grande ofertante e empregador, condição chave para a mínima qualidade de vida da população permanente da região. Sobressai-se no conjunto o peso deste segmento na oferta de emprego, o qual tem o setor público como principal empregador em quase todos os municípios (exceto Paranaguá, onde a atividade de serviços privados possui maior destaque) – Denes (2006:47).

É merecedor de menção também o fato de que vem se consolidando no litoral paranaense a atividade do turismo, que possui características diferentes de acordo com a região pesquisada, como, por exemplo, em Paranaguá que é o pólo econômico da região e tem sua economia bastante vinculada às atividades portuárias o que acaba por condicionar a atividade turística. Já nas outras regiões litorâneas do Estado, o turismo assume um caráter sazonal, de veraneio, totalmente dependente da região metropolitana da capital do Estado, exceto nas regiões de Antonina e Morretes, onde o turismo é voltado às atividades gastronômicas e ao patrimônio histórico (IPARDES, 2008:51).

Com relação à atividade turística, merece destaque o projeto piloto Montanha Beija-Flor Dourado, situado em uma Zona Laboratório de Educação para o Ecodesenvolvimento, na Microbacia do Rio Sagrado, Município de Morretes-PR, dentro da Área de Proteção Ambiental de Guaratuba, Reserva de Floresta Atlântica (SAMPAIO et al., 2006:251). Trata-se de experiência que trabalha com o conceito de turismo comunitário, concebido como “estratégia que fomenta comunidades tradicionais a protagonizarem seus modos de vida próprios, tornando-se uma alternativa possível ao modo de vida urbano consumista-materialista” (SAMPAIO et

al., 2006:255), mediante o desenvolvimento da atividade turística em uma

comunidade sem contaminá-la com os problemas, via de regra, ocasionados pelo turismo de massa, tais como a ociosidade de mão de obra local durante a maior parte do tempo, aumento anormal de preços, especulação imobiliária, segregação entre “nativos” e visitantes, trânsito e violência, dentre muitas outras possibilidades.

Por fim, destaque-se que a mineração (especialmente extração de areia) é atividade de relevo econômico para os Municípios de Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba, com ocorrência principal na área de entorno do Parque

Estadual Saint-Hilaire/Lange, com a geração de significativos passivos ambientais devido à maneira de utilização do solo, com abertura de lavras e alteração dos corpos hídricos. (DENES, 2006:82).

Em vista do panorama apresentado acima, denota-se que o perfil produtivo mostrado pela região revela uma economia fortemente fundamentada pela circulação de mercadorias no porto de Paranaguá e pelo comércio e serviços destinados aos turistas, com características sazonais (DENES, 2006:48).