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CAPÍTULO IV APROFUNDAMENTO DO CONFLITO: GERAÇÃO

4.3 Visão de mundo dos sujeitos sociais envolvidos

4.3.4 Poder Público

O pensamento hegemônico – manifestado aqui, de forma exemplificada, pela exposição do atual Secretário de Meio Ambiente do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008) – é conduzido no sentido de se afirmar que

O Paraná tem uma política acertada e também conhecida no Brasil pela consolidação dos Comitês de Bacias, em processo descentralizado e participativo. Ou seja, a transferência da responsabilidade hoje apenas do Estado, em cumplicidade com usuários e setores organizados.

Sustentando a mesma posição, o atual presidente da Agência Nacional de Águas, José Machado (PARANÁ, 2008) em entrevista concedida para a equipe de imprensa do Instituto Ambiental do Paraná, asseverou, sobre a política hídrica paranaense, que “Está buscando a implementação da cobrança pelo uso da

água e a instalação dos comitês de bacias. Achamos que este é o melhor caminho é o que prevê a legislação e vamos fortalecer esta política” (MACHADO, 2008).

Além destas manifestações exteriorizadas de modo institucional, digno de observação o movimento encadeado pelo Poder Público para promover a alteração da Política Estadual de Recursos Hídricos, através do Projeto de Lei nº 515/2008 (consubstanciado na Lei Estadual nº 16242/2009), que busca maior centralização do gerenciamento dos recursos hídricos no Estado do Paraná, o que se extrai de informação colhida em 25.05.2009, junto ao Sistema de Acompanhamento e Gerenciamento da Informação (SIAGI, 2009), desenvolvido pela consultoria E.labore, nos termos da qual o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), líder da base governista na Assembleia Legislativa do Paraná, destacou que “Todas as demais modificações aceitas foram consideradas pertinentes e importantes para que o projeto possa alcançar seus objetivos, ou seja, um gerenciamento mais centralizado dos recursos hídricos no estado.”

Merecedor de destaque também o posicionamento marcado pelo Presidente da República em manifestações nas quais critica o suposto atraso e burocracia para o licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas e outras obras estruturais. Para tecer suas críticas, o chefe do Poder Executivo da União tem escolhido animais como símbolo do entrave ao avanço da infra-estrutura do país, como o bagre amazônico (acusado de ser um dos responsáveis pelo entrave da implantação das polêmicas usinas do complexo do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau), que possui grande valor para as populações ribeirinhas dos Estados do Amazonas, Amapá, Pará e Rondônia e em regiões da Colômbia, Bolívia e Peru (SIAGI, 2009a).

Especificamente ainda com relação ao caso da Usina Gov. Parigot de Souza, colhe-se do processo de licenciamento ambiental da mesma que foi expedida declaração da SUDERHSA, no ano de 1999, no sentido de assegurar que não existem usuários significativos de água à jusante do empreendimento, além de ser totalmente desconsiderada pelo Instituto Ambiental do Paraná a área de jusante como impactada pelo empreendimento103. E isso mesmo levando-se em consideração que existem centenas (senão milhares) de moradores no entorno do Rio Cachoeira, à jusante da central hidrelétrica, os quais desenvolvem atividades

103

Procedimento de Renovação de Licença Ambiental de Operação, com protocolo sob nº 4.018.772- 3, que tramitou perante o Instituto Ambiental do Paraná.

significativas para a economia local – como a pesca, turismo, lazer, agricultura e pecuária – e para a conformação da identidade cultural da comunidade da região (BRANCO, 2007:176).

Pode-se retratar do discurso veiculado pelos agentes do Poder Público acima apontados, que, tanto em nível estadual como federal, os representantes governamentais batem na tecla da gestão democrática e participativa, reinante no tema relativo à gestão das águas no Brasil e no Estado do Paraná. E isto foi observado tanto na esfera do Poder Executivo (do Estado e da União) como do Legislativo (do Estado), e na administração direta e indireta (do Estado e da União).

A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Paraná (órgão superior do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos) e a Agência Nacional de Águas, através de seus representantes, manifestam posição institucional dirigida a esta configuração.

Extrai-se assim, que na visão destes sujeitos, a existência de leis que regulamentam a gestão das águas (Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei nº 9433/1997; e Política Estadual de Recursos Hídricos – Lei Estadual nº 12726/1999) é suficiente para se afirmar que o gerenciamento deste bem ambiental se dá de forma democrática e participativa, com a inclusão de todos os segmentos interessados. No entanto, a mera existência de legislação (ou mesmo de Comitê de Bacia Hidrográfica) não garante um gerenciamento equilibrado das águas. Mesmo porque, especificamente em relação à bacia litorânea do Paraná, a política pública voltada aos recursos hídricos se encontra em estágio incipiente de implementação, inexistindo sequer o respectivo Comitê de Bacia, que deve ser o palco da promoção da gestão democrática e participativa da água.

Este ponto reflete uma ação aparentemente contraditória do Poder Público, pois ao mesmo tempo em que seu discurso é voltado à defesa da gestão democrática dos recursos hídricos, sua atuação é dirigida a centralizar a questão, de forma contrária aos preceitos da respectiva política pública.

Adiante, a posição marcada pelo chefe do Poder Executivo Federal, que foi acima consignada, expõe uma tendência do poder público no Brasil, no sentido de prestigiar o crescimento econômico em detrimento do meio ambiente, sob o argumento de que o país precisa de incremento em sua infra-estrutura para que se proporcione o crescimento necessário à geração de riquezas para a população.

No entanto, a atual relação entre crescimento econômico e preservação do meio ambiente passa necessariamente pelo princípio do desenvolvimento sustentável, que suscita a necessidade de conciliação entre estes dois pilares, de modo que a apropriação dos recursos ambientais não comprometa as necessidades das gerações futuras. Ora, o crescimento econômico e a preservação dos bens ambientais representam duas faces da mesma moeda, já que a finalidade de ambos, em suma, é “atender àquele conjunto de atividades e estados humanos substantivos na expressão qualidade de vida” (DERANI, 2008:58), o que denuncia a busca de um aspecto qualitativo (representado pela comunhão do aspecto material com o físico-espiritual) que supera a busca por um incremento quantitativo, baseado apenas por conquistas materiais (DERANI, 2008:59).

CAPÍTULO V – ANÁLISE E CONCLUSÕES: FATORES RESPONSÁVEIS PELA