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CAPÍTULO III AMBIENTE E SOCIEDADE: BACIA HIDROGRÁFICA DO

3.3 Conflitos de uso da água na Bacia Hidrográfica do Litoral

3.3.1 Conflitos aparentes

Neste ponto, cumpre indicar um recorrente conflito pelo uso da água, o qual tem se mostrado presente também em outras bacias hidrográficas brasileiras (CARRERA-FERNANDEZ & GARRIDO, 2003:247). Trata-se da disputa entre os usos para irrigação e geração de energia, já que

A geração de energia elétrica afeta negativamente a atividade agrícola de irrigação ao impor limites à utilização dos recursos do sistema hídrico, principalmente por restrição de vazão e perdas por evaporação. Isso significa que a geração de energia impõe custos sociais à agricultura irrigada, com

75 Informação obtida no website da SEMA/PR:

sérias implicações para toda a sociedade (CARRERA-FERNANDEZ & GARRIDO, 2003:247).

Com base em estudo dos professores Carrera-Fernandez & Garrido (2003:245), pode-se concluir que, em média, cada metro cúbico de água retirado à montante da central geradora acarreta uma minoração de 2,5 MW/ano no potencial de energia gerado, o que induz, via de regra, restrição às atividades agrícolas irrigadas.

E como as grandes hidrelétricas presentes na bacia litorânea do Paraná são anteriores à legislação de recursos hídricos – tanto na esfera federal como na estadual – incide sobre as mesmas, na forma do § 1º, do art. 17, da Lei Estadual nº 12726/1999, dispositivo segundo o qual

Serão respeitados os prazos de vigência de outorgas e autorizações concedidas anteriormente à publicação desta lei, sujeitando-se suas condições de validade à devida adequação aos termos dispostos pelo presente diploma legal e respectivo regulamento.

Com relação a UHE Parigot de Souza, há registros de seus efeitos sobre a atividade agropecuária na bacia litorânea do Paraná (BANDEIRA, 2007:170), mesmo considerando-se que o reservatório da usina fica localizado na bacia hidrográfica do Alto Iguaçu e Afluentes do Ribeira. Somente após a transposição do curso do Rio Capivari para o Rio Cachoeira é que a central hidrelétrica passa a influenciar a região litorânea, a princípio, sem gerar restrição da disponibilidade hídrica para outros usos, já que a localidade se encontra à jusante do barramento. A transposição das águas do Rio Capivari para o Rio Cachoeira tem incrementado a vazão deste e gerado maior disponibilidade quantitativa, o que pode ser prejudicial a outros usos da água como a navegação, a pesca e mesmo às atividades agrícolas, quando da inundação de algumas áreas utilizadas para este fim (BANDEIRA, 2007:170).

Relatou-se no Plano de Manejo da APA de Guaratuba (IAP, 2006:154) que na região das Usinas Guaricana e Chaminé a população residente pratica agricultura familiar, especialmente cultivo de arroz irrigado e banana, extrativismo de não-madeiráveis (extração de espécies ornamentais tais como bromélias, orquídeas e xaxins), e pecuária. E comprovadamente essas atividades

são pressionadas e mantidas em pequena escala, em parte pela reduzida disponibilidade hídrica.

A região das Usinas Guaricana e Chaminé apresenta uma ocupação caracterizada por chácaras de lazer incluindo atividades de pesca amadora, muitas vezes praticada de forma ilegal nos respectivos reservatórios (IAP, 2006;154).

Esta situação gera a exposição da proprietária das geradoras a uma fragilidade no que diz respeito à reparação de eventuais danos ambientais e aplicação de sanções em face de infrações que venham ser apuradas pelos órgãos competentes do SISNAMA. Não se pode perder de vista que, na forma da disposição do art. 2º, da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9605/1998), “Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.”

Frente a este comando normativo, a omissão da COPEL em fiscalizar área de sua propriedade pode ensejar, a critério do órgão ambiental competente, a aplicação das sanções pertinentes76, sem prejuízo da obrigação de reparar o dano ambiental proporcionado e responder por eventual crime ambiental, se configurada conduta delitiva. Ressalte-se que a responsabilidade do proprietário do imóvel pelo dano ambiental causado por terceiros é reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça, como se pode extrair dos seguintes precedentes: AgRg no REsp 471.864/SP; REsp 745.363/PR; REsp 263.383/PR; REsp 195.274/PR; REsp 217.858/PR; EDcl no AgRg no REsp 255.170/SP; REsp 327.254/PR e REsp 343.741/PR, dentre outros.

Com relação à interface entre o uso da água para geração de energia e abastecimento público, denota-se conforme Plano de Manejo da APA de Guaratuba, que a represa Vossoroca, implantada para operação da Usina Chaminé, comporta também um manancial da região metropolitana de Curitiba (IAP, 2006:16). E como já registrado em momento anterior, com base em estudo dos professores Carrera-Fernandez & Garrido (2003:245), pode-se concluir que a retirada de água à

76 Advertência; multa simples; multa diária; apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; destruição ou inutilização do produto; suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de obra; suspensão parcial ou total de atividades ou restritiva de direitos, de acordo com o caso e a gravidade da infração, na forma do art. 72 e seguintes, da Lei nº 9605/1998.

montante da geradora (inclusive em seu reservatório), acarreta uma minoração no potencial gerado pela usina. Desta feita, a captação de água neste corpo hídrico importa em necessidade de compensar a COPEL pela perda de disponibilidade de água para geração de energia.

No que tange à represa do Capivari, seu uso como manancial foi avaliado pela empresa paranaense de saneamento, mediante aproveitamento parcial através da transposição de aproximadamente 1.000 l/s para a bacia do Rio Irai. Caso tal opção venha a ser implementada, a SANEPAR deverá ressarcir a COPEL pela energia que esta deixar de gerar em virtude da água retirada da represa ou ainda lançar água de outra bacia para compensar a retirada de água do Capivari (ANDREOLI, et al., 1999:9).

O represamento do Rio Arraial apresenta uma vazão útil de 6.300 l/s, usada para a geração de energia elétrica pela COPEL e portanto, a sua utilização para fins de abastecimento público depende também de ressarcimento àquela companhia. O modo de utilização seria através da transposição para a bacia do Rio Pequeno ou Piraquara, por um túnel, com a necessidade de investimentos de grande monta (ANDREOLI, et al, 1999:10).

Com relação à interface com as atividades de turismo e lazer, destaque-se que, segundo o Plano da Bacia Hidrográfica do Ribeira do Iguape e Litoral Sul de São Paulo, são proporcionadas pelo reservatório da UHE Parigot de Souza, intensamente aproveitado para natação e pesca esportiva (CBH-RB, 2008:69). O potencial para o turismo sustentável baseado em atrativos naturais e/ou histórico-culturais na APA de Guaratuba é considerável, em função da variedade e beleza cênica das paisagens de serras com campos de altitude, das regiões montanas e submontanas, rios e cachoeiras, as represas Vossoroca e Guaricana, a Baía de Guaratuba, manguezais e sítios arqueológicos (sambaquis e oficinas líticas) – IAP, 2006:19.

Por fim, registre-se o conflito existente entre a geração hidrelétrica e a navegação, cuja tentativa de equalização é objeto do Projeto de Lei Estadual nº 438/2009, de autoria do Deputado Estadual Neivo Beraldin, o qual prevê a necessidade, nos licenciamentos ambientais de empreendimentos hidrelétricos, de consideração da atividade de navegação fluvial nos estudos e projetos ambientais e da implementação de eclusas ou outras obras de transposição para os barramentos

em corpos hídricos estaduais efetiva ou potencialmente navegáveis, de modo a viabilizar a implantação de hidrovias contínuas em toda sua a extensão.