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1 Constituição Federal de 988

1.3 Política de Recursos Hídricos do Estado do Paraná: Le

Foi visto na exposição realizada no tópico acima que a União editou norma geral referente à política de recursos hídricos (Lei nº 9344/1997), cabendo aos Estados a sua suplementação, desde que observados os preceitos trazidos pelo art. 24 e seus parágrafos, da Constituição Federal.

Assim, seguindo a tendência nacional, os Estados brasileiros editaram legislação própria no que alude à gestão das águas de sua titularidade (vide nota de rodapé nº 1).

Alguns Estados, contudo, anteciparam a legislação federal, como São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul, trabalhando em políticas estaduais de recursos hídricos antes mesmo da preocupação nacional acerca do tema.

De toda sorte, as legislações estaduais de recursos hídricos precisam obedecer às normas gerais impostas pela lei nacional (Lei nº 9433/1997), como os seus objetivos, fundamentos, instrumentos e forma de institucionalização.

Realizada esta aproximação preliminar, passa-se a observar de forma rápida a Política de Recursos Hídricos do Estado do Paraná, instituída pela

Lei Estadual nº 12726/1999 e regulamentada por uma série de atos de hierarquia normativa inferior.

Mantendo a estrutura definida pela norma geral da União, a legislação paranaense de recursos hídricos estabelece os objetivos, fundamentos e instrumentos da política hídrica estadual, em consonância com a política nacional, a partir do uso de articulação em três níveis, a saber: comando e controle (fiscalização e monitoramento) pelo setor público; mecanismos econômicos para internalização dos custos sociais da produção e conformação à demanda do mercado que exige tecnologias ambientalmente corretas (CASTRO, 2005:41).

O Sistema de Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Paraná adota linha simétrica àquele implementado pela União, com a instituição de um órgão deliberativo e normativo central do sistema, representado pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH); um órgão executivo gestor e coordenador (Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA); órgãos de bacia regionais e locais, deliberativos e normativos, denominados Comitês de Bacia Hidrográfica e as Unidades Executivas Descentralizadas, constituídos pelas Agências de Bacia ou consórcios intermunicipais ou associações de usuários, que são os braços executivos dos Comitês de Bacia.

No Estado do Paraná ocorre atualmente que as atividades e competências inerentes às Agências de Bacia foram delegadas à SUDERHSA (Superintendência de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos do Estado do Paraná, atualmente substituída no arcabouço institucional estadual pelo Instituto das Águas Paranaense, na forma da Lei Estadual nº 16242/2009), que é uma autarquia estadual vinculada à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos29.

29 Os artigos 2º e 10, do Decreto Estadual nº 2317/2000, dispõe sobre o tema ao asseverar que: “Art.

2º. Nos termos do § 3º do art. 33 da Lei Estadual n.º 12.726/99, ficam delegadas à Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA, as competências relacionadas à formulação e à execução da Política Estadual de Recursos Hídricos, dispostas pelo art. 39 da Lei Estadual n.º 12.726/99 e mencionadas no artigo 1º deste Decreto, em particular no que concerne às atividades relativas ao funcionamento operacional do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SEGRH/PR.”

“Art. 10. Enquanto não estiver criada e em pleno funcionamento a Unidade Executiva Descentralizada – UED, a que se refere o inciso IV do artigo 33 da Lei Estadual n º 12.726/99, os Comitês de Bacia Hidrográfica poderão, mediante expressa aprovação e nos termos de regulamento próprio, delegar tal atribuição à SUDERHSA, que a exercerá em conformidade com a linha de atuação a que se refere o inciso VII do artigo 3º deste Decreto, durante prazo a ser determinado pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERH/PR, prestando apoio técnico, administrativo e financeiro a estes Comitês e pautando suas ações e atividades pelas mesmas normas e disposições regentes da atuação de entidades da sociedade civil no papel de UEDs, inclusive sujeitando-se à avaliação de desempenho e demais procedimentos previstos em decreto especifico sobre a matéria.”

Embora seja considerado um instrumento de grande importância para a gestão hídrica no Paraná, a cobrança da água ainda não foi implantada no Estado, o que gera prejuízos à implementação de todo o sistema de gestão, que tem esvaziada sua fonte de custeio (CASTRO, 2005:47).

Alguns pontos diferenciam a política hídrica estadual da política nacional acerca das águas, na medida em que há previsão, no ordenamento estadual, de um capítulo específico sobre as águas subterrâneas (que são bens dos Estados, na forma do art. 26, I, da CF). Além disso, o regramento estadual possibilita que associações de usuários sejam destinatárias das funções de agência de bacia (o que não encontra similitude na legislação federal).

Importante destacar que a política hídrica do Estado do Paraná reconhece a importância dos Municípios como agentes locais no manejo das águas. Tanto que o art. 42, da Lei Estadual nº 12726/1999 prevê a possibilidade de delegação aos Municípios (que possuírem condições para tanto) da gestão das águas cuja bacia se encontre inteiramente dentro de seus limites territoriais, o que revela ao menos uma tentativa de dar efetividade ao princípio de subsidiariedade, de acordo como qual (BARACHO, 1997:49)

as decisões, legislativas ou administrativas, devem ser tomadas no nível político mais baixo possível, isto é por aquelas [pessoas?] que estão o mais próximo possível das decisões que são definidas, efetuadas e executadas.

Outra relevante observação acerca da política hídrica estadual, diz respeito ao fato de a mesma isentar a cobrança de captação de água destinada à produção agropecuária (art. 53, parágrafo único, da Lei Estadual nº 12726/1999). E isto foi realizado sob a justificativa não onerar mais o setor base da economia do Estado, mas, ao contrário, incentivá-lo.

Contudo, a disposição da lei paranaense cria desequilíbrio entre os usuários de recursos hídricos no Paraná, além de gerar incertezas jurídicas, já que a disposição é passível de questionamento, tanto por violar o princípio constitucional da isonomia (art. 5º, caput, da CF), como por não respeitar a norma geral da União sobre o tema (art. 24 e parágrafos, da CF), que determina que a cobrança seja efetuada em face de todos os usuários, salvo aqueles cujo uso da água é considerado insignificante.

Merece registro ainda a estipulação, na legislação estadual, da criação de um Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FEHIDRO, destinado a prestar suporte financeiro ao sistema estadual de gerenciamento das águas, cuja responsabilidade de operacionalização é da SUDERHSA (substituída no arcabouço estadual pelo Instituto das Águas Paranaense, na forma da Lei Estadual 16242/2009).

A política nacional não prevê instrumento similar, razão pela qual, com relação às águas da União, o valor obtido pela cobrança de seu uso é consignado no Orçamento Geral da União, sem determinação prévia de quem será o responsável pela movimentação dos valores e qual seu destino.

No estado do Paraná, devem integrar o FEHIDRO os valores que serão oriundos dos repasses das contribuições originárias da cobrança pelo uso da água, da arrecadação de dívida ativa, do produto de operações de crédito e financiamento do Estado, receitas de convênios, acordos e ajustes firmados pelo órgão executivo (SEMA/SUDERHSA), que visam atender aos objetivos do fundo, bem como contribuições e doações em geral. O montante levantado deve ser aplicado de forma prioritária na bacia hidrográfica onde foi gerado, respeitado o percentual mínimo de 80% para financiamento de pesquisas, projetos e programas, monitoramento, implantação e custeio dos órgãos e entidades integrantes do sistema (CASTRO, 2005:48).