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CAPÍTULO IV APROFUNDAMENTO DO CONFLITO: GERAÇÃO

4.3 Visão de mundo dos sujeitos sociais envolvidos

4.3.3 Geradoras

Com relação à presença das centrais hidrelétricas na bacia litorânea e sua atuação como usuárias de recursos hídricos, constata-se que a Companhia Paranaense de Energia – COPEL (proprietária das usinas), atuou, a partir de 1994, de forma a adaptar-se às mudanças do setor elétrico, partindo para um processo de transformação em sociedade anônima de capital aberto, o que lhe alavancou possibilidades de captação dos recursos necessários para os investimentos da empresa (FRANCO, 2002:88).

Este processo de mudança institucional veio a alterar os rumos que vinham sendo dados à COPEL até o final da década de 1980, onde a companhia atuava mais como uma empresa de fomento na área de energia elétrica, com vistas a contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Paraná.

Dado este novo panorama de atuação, a visão da COPEL em relação à água dirige-se a concebê-la como um de seus principais ativos, razão pela qual a companhia adota o sistema de gestão por unidades hidrográficas, na forma das políticas nacional e estadual de recursos hídricos. Na visão do empreendedor, a COPEL alinha-se às diretrizes nacionais e regionais de gestão hídrica e por isso contribui para a melhoria das condições ambientais nas localidades onde atua99.

99 Informação extraída do website da COPEL:

http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2Fd ocs%2F42A6B32C15A530DF032573FB00512750, acesso em 29.06.2009.

Desta feita, sob a óptica da companhia de energia, a mesma está a buscar “Alinhamento às políticas públicas para adoção da gestão por bacias hidrográficas

(COPEL, 2007:2).

Destaca ainda no mesmo ponto que a gestão ambiental na companhia é participativa, contando com a participação de todos os colaboradores da área de meio ambiente da empresa. Verifica-se, assim, que a participação vislumbrada pela empresa neste ponto é dirigida e restrita somente ao seu público interno.

A percepção da água como um ativo econômico demonstra a continuidade de uma visão utilitarista deste bem ambiental, concebido pelo empreendedor como algo passível de simples apropriação para obtenção de resultados financeiros.

Nos relatórios anuais de administração, a Copel Geração S.A. tem exteriorizado para a sociedade que adota uma postura de prevenção e uso racional da água, asseverando que considera “o compromisso com o meio ambiente como de fundamental importância e a necessidade de se respeitar a diversidade de ambientes e ecossistemas do Paraná”, razão pela qual “a Companhia mantém e monitora áreas protegidas e preservadas, principalmente na Serra do Mar.” (COPEL, 2006:1). Além disso, destaca a geradora no seu Relatório de Administração do ano de 2006 que

Visando a gestão eficaz dos reservatórios e suas áreas de influência, está em fase de desenvolvimento um Sistema de Qualidade da Água e Ictiologia, contemplando todos os pontos de coleta monitorados pela Companhia (COPEL, 2006:1).

Isto deu ensejo à implantação de um sistema de monitoramento da qualidade das águas de todos os reservatórios das usinas de sua titularidade100 (COPEL, 2007:1; COPEL, 2008:22), haja vista o compromisso com a necessidade de garantia de uso múltiplo dos reservatórios (COPEL, 2008:24).

Outra ação destacada pela companhia diz respeito à criação, no ano de 2007, de

100 Esta exigência consta como condicionante das licenças ambientais de operação emitidas pelo IAP, em favor das usinas hidrelétricas operadas pela COPEL mencionadas neste estudo.

Comitê de biodiversidade, e de grupos temáticos, para desenvolvimento de ações proativas em florestas ciliares, áreas de preservação permanente e reservas legais, com a meta de estimular parcerias e apoiar pesquisas e projetos de conservação e de recuperação de biodiversidade nas bacias hidrográficas formadoras dos reservatórios (COPEL, 2007:2).

Este fato desencadeou a criação de uma Diretoria de Meio Ambiente e Cidadania Empresarial na companhia, no ano de 2009 (COPEL, 2008:1).

Ademais, na visão da companhia101 “A equipe de recursos hídricos da Copel participa ativamente das definições, tanto no âmbito estadual como no nacional.” Contudo, a atuação da COPEL na bacia litorânea não foi direcionada à implantação da política hídrica na localidade, já que sequer enviou representante para a primeira (e única) reunião que tratou da possibilidade de criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Litoral do Paraná, conforme mencionado anteriormente.

No que alude aos impactos ambientais decorrentes da operação das geradoras na região litorânea do Estado, especialmente no que alude à UHE Governador Parigot de Souza (maior e mais impactante empreendimento hidrelétrico da região) a COPEL entende que o funcionamento da usina não contribui para o assoreamento da Baía de Antonina (ao contrário da produção científica a respeito, já citada anteriormente), afirmando em seu Relatório de Administração e Demonstrações Contábeis de 2007 que

as simulações computacionais de modelagem do transporte de sedimentos na região da Baía de Antonina não detectaram influência da UHE Governador Pedro Viriato Parigot de Souza nos processos de deposição de sedimentos ao longo daquela baía.

Além disso, destaca a Copel (2005:2) que

Considerando a existência de quatro usinas hidrelétricas na Serra do Mar102, tem-se ampliado o número de espécies das Listas Vermelhas com habitats em áreas afetadas pelas operações da Companhia. Dessa forma, estima-se que 48 espécies de vertebrados possuem como habitat a área dessas usinas.

Ao defender a sua atividade de geração hidrelétrica, a companhia de energia destaca nos seus Relatórios de Administração que (COPEL, 2006:1)

101 Informação extraída do website da COPEL:

http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2Fd ocs%2F390B77D531F880EF03257405005B7A4D, acesso em 29.06.2009.

102 As três usinas que são objeto deste trabalho mais a Usina Marumbi, enquadrada como Pequena Central Hidrelétrica.

As atividades desenvolvidas em 2006, nos processos de construção, reforma, operação e manutenção de empreendimentos de geração de energia foram todas acompanhadas por planos ambientais que objetivavam impedir, reduzir, mitigar e compensar possíveis impactos. Portanto, não foram detectados impactos de relevância neste ano,

bem como que (COPEL, 2007:2):

As atividades inerentes aos negócios da Copel Geração e Transmissão não interferem nas áreas úmidas listadas pela Convenção Ramsar (1971), que trata da conservação e uso racional de zonas úmidas, assim como o consumo de água não afeta significativamente ecossistemas e habitats naturais. Do ponto de vista industrial de geração de energia elétrica, ocorre simplesmente turbinamento da água represada nos reservatórios, não sendo considerada, portanto, água consumida.

Vê-se do colacionado que a geradora busca em seus Relatórios de Administração sustentar a inexistência de impactos ambientais negativos decorrentes da operação das hidrelétricas, negando inclusive que haja consumo de água no uso que lança mão para geração de energia elétrica. Isto contraria os estudos já mencionados que apontam para o fato de que a evaporação da água das barragens é considerável a ponto de comprometer a afirmação de que o uso da água para geração de energia, via de regra, não é consuntivo.